Mostrando postagens com marcador Martins Fontes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Martins Fontes. Mostrar todas as postagens

06 dezembro 2023

Martins Fontes: Spiritualis pudor

Spiritualis pudor

A honestidade é um íntimo prazer
Que nos eleva à comunhão divina;
Mas louvar essa graça feminina
Ninguém, jamais, o deverá fazer.

Não pelo que se diga ou possa haver, 
Não pelo que se sabe ou se imagina,
Prezemos a pureza peregrina
Pelo próprio respeito do dever.

Do homem honrado ou da mulher honesta
Não se gabe a virtude: é obrigação
Que não se patenteia ou manifesta.

Exaltemos, porém, a devoção
Que transparece no segredo desta
Prova terrestre de Incorporação.

(Fonte: José Martins Fontes. Nos jardins de Augusto Comte. São Paulo: Comissão Glorificadora de Martins Fontes, 1938, p. 77.)

29 novembro 2023

Martins Fontes: "Ao maior dos filósofos"

Ao maior dos filósofos

Da vida ascendente, criador de uma religião demonstrável

A Graco Silveira

Augusto Comte foi o primeiro romântico.
E, ao render-lhe meu culto, honrando o romantismo,
Bendigo o criador da palavra - Altruísmo -
Na Mátria espiritual que há para além do Atlântico.

Amando o Grande-Ser e o feitiço geomântico,
Se angeliza a Mulher, praticando o lirismo,
Bem merece esse amor feito do fanatismo,
Com que os crentes a um Deus rezam, erguendo um cântico!

Nada mais belo sei do que o seu testamento,
No qual se vê que a vida é na verdade ideal,
E a civilização nasce do sentimento.

Sentiu, mostrou, provou, máximo cerebral,
Que vem do coração todo bom pensamento,
E que a vida, a ascender, se traduz na espiral!


(Fonte: José Martins Fontes. Nos jardins de Augusto Comte. São Paulo: Comissão Glorificadora de Martins Fontes, 1938, p. 163.)

20 setembro 2023

Martins Fontes: "O homem se agita e a Humanidade o conduz"

O homem se agita e a Humanidade o conduz

 

No contínuo eferver das paixões, no tumulto

Trágico da existência, em qualquer circunstância,

Ninguém pode insular-se, ou ficar à distância,

Nem, egoísta, observar, conservando-se oculto.

 

Deve agitar-se, sempre, em social concordância,

Mirando o bem comum, como o quer nosso Culto;

Acima do momento e até do insulto,

Demonstrando, em parcela, o poder da constância.

 

Glória àquele que fez da sua vida um poema,

E tombou no combate, a cantar, a sentir

Que está no sacrifício a grandeza suprema.

 

Nossa benção fraterna há de ter no porvir,

Quem sofreu e se impôs, mas cumpriu este lema:

“Agir por afeição e pensar, para agir”.

 

(Fonte: José Martins Fontes. Nos jardins de Augusto Comte. São Paulo: Comissão Glorificadora de Martins Fontes, 1938, p. 173.)

Martins Fontes: "Viver às claras"

Viver às claras

 

Declara-te, não só no íntimo, como

Publicamente. No recolhimento,

Redestilando o teu discernimento

Vence os impulsos do menor assomo.

 

Faze o que dizes. E o teu pensamento,

Que entre os modelos do critério tomo,

Amadureça, equivalente ao pomo,

Porém nasça da flor do sentimento.

 

Exposto à luz solar, visto por fora,

Se torne evidentíssimo, insuspeito,

Teu humanismo, que te condecora:

 

Ostenta o coração, livre e perfeito,

Em toda a limpidez, brilhando agora,

Como um emblema de cristal no peito.

 

(Fonte: José Martins Fontes. Nos jardins de Augusto Comte. São Paulo: Comissão Glorificadora de Martins Fontes, 1938, p. 172.)

12 setembro 2023

Martins Fontes: "O perfume da flor"

O perfume da flor

Sim, a Razão não basta. Para os povos
Para a celebração dos tempos novos, 
Sementeiras em flor, verdes renovos,
É indispensável qualquer cousa mais.

E este milagre, este deslumbramento,
Se opera, apenas, pelo Sentimento,
Pois vem do coração o pensamento
Que glorifica as fases imortais.

Ai, quantas vezes, estudando, cismo,
Quanta poesia se contém
Quanta beleza há no Positivismo!

Para este sonho ser o que é, porém,
Faltou-lhe um Poeta, apenas... E, em lirismo,
Augusto Comte o foi, como ninguém!


(Fonte: José Martins Fontes. Nos jardins de Augusto Comte. São Paulo: Comissão Glorificadora de Martins Fontes, 1938, p. 121.)


06 julho 2023

Martins Fontes: "Pétalas soltas do rosal pensante"

Falecido o médico e poeta positivista Martins Fontes em 1937, em 1938 o também positivista Ivan Lins publicou uma coletânea póstuma intitulada Nos jardins de Augusto Comte. Essa coletânea reúne dezenas de poesias positivistas, isto é, inspiradas por motivos, personagens e acontecimentos celebrados pela Religião da Humanidade.

Entre as inúmeras pérolas dessa coletânea está o duplo soneto intitulado "Pétalas soltas no rosal pensante", que consiste no versejamento das máximas de Clotilde de Vaux. (Pode-se consultar essas máximas aqui, aqui, aqui e aqui.)

Devido à beleza, à engenhosidade e à profundidade desses versos, reproduzimo-los abaixo.


Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Martins_Fontes


*    *   *


Pétalas soltas do rosal pensante

José Martins Fontes[1]             

 

Mais do que as outras, nossa espécie deve

Ter tais obrigações e tais intentos

Que, segundo Clotilde nos prescreve,

            Produza sentimentos

 

* * *

 

Que prazeres na vida, que venturas,

Para nosso consolo, excederão

As secretas, as íntimas e puras,

            Incomparáveis da dedicação?

 

* * *

 

Melhor do que ninguém, sinto a fraqueza

            Da nossa natureza

Quando não se dirige às soberanas

            Amplidões da pureza,

Inacessíveis às paixões humanas.

 

* * *

 

Quanto mais analiso, estudo e penso,

Mais sinto, porque a dúvida me invade,

Que temos, todos nós, um pé suspenso

            Sobre a soleira da verdade.

 

* * *

 

Tudo, tudo no mundo é perdoável,

E relativo como a própria sorte:

Não há nada na vida irrevogável,

            Senão a morte.

 

* * *

 

Muitas vezes, na minha soledade,

Ouço do coração íntimos sons:

Os maus, conforme os casos, de piedade

Precisam mais ainda do que os bons.

 


[1] Fonte: Martins Fontes, Nos jardins de Augusto Comte (São Paulo, Comissão Glorificadorfa de Martins Fontes, s/n, 1938). A grafia foi atualizada.