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18 agosto 2020

Roteiro da exposição sobre o oitavo mês dos calendários positivistas (Dante e politeísmo)

O roteiro abaixo consiste na estrutura escrita de uma exposição oral, que, por sua vez, encontra-se disponível aqui.

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Roteiro da exposição sobre o oitavo mês dos calendários positivistas


Dante, em lâmina da Igreja Positivista do Brasil


Parte I – Mês concreto: Dante

-        8º mês do calendário positivista concreto
o   Considerando o ano júlio-gregoriano de 2020 (ano bissexto), o mês de Dante começa em 15 de julho e termina em 11 de agosto
o   O oitavo mês concreto representa a epopéia moderna
§  É o primeiro mês da modernidade
·         Após os meses da Antigüidade e da Idade Média, começa agora a modernidade, com seis meses (Dante, Gutenberg, Shakespeare, Descartes, Frederico, Bichat)
§  Augusto Comte dedica dois meses à arte moderna, Dante (epopéia moderna) e Shakespeare (drama moderno)
·         De acordo com Frederic Harrison, esses dois meses devem ser entendidos em conjunto, representando a poesia (incluídas aí a literatura em prosa e o teatro), a música, a pintura, a arquitetura e a escultura
o   Eles constituem um total de 49 nomes, que vão do século XII ao XIX
·         Essa grande quantidade de tipos artísticos deve-se à ampliação das possibilidades e dos temas passíveis de serem tratados pela arte, na modernidade
·         A arte na Antigüidade referia-se a valores e a uma estrutura social mais aceitas, de modo que ela atingiu formas mais perfeitas
·         Em contraposição, a modernidade apresenta um movimento mais contraditório, mais conflitos e valores menos aceitos, o que torna a sua arte menos capaz de idealizar a realidade; mas, ao mesmo tempo, torna-a mais variada e mais audaciosa
o   O mês e as semanas correspondem ao seguinte:
§  Dante – representa a poesia que idealiza e julga (de maneira crítica) os homens e as situações, ou seja, idealiza e julga tanto os indivíduos quanto as sociedades
§  Ariosto – poetas em verso ou prosa que idealizam a natureza e a conduta humanas
§  Rafael – autores de obras “plásticas” (pintores, arquitetos, escultores); o que importa são as escolas e os estilos representados, não propriamente os autores de obras-primas
§  Tasso – autores de obras sobre a cavalaria e os valores cavalheirescos, além de romances históricos
§  Milton – literatura religiosa e afetiva, incluindo os místicos e os panteístas
-        Vale notar que Dante é um dos nomes mais importantes para Augusto Comte:
o   No Catecismo, ele é citado 12 vezes (subindo para 20 se considerarmos as notas de Miguel Lemos, na edição brasileira)
o   Dante integra o quadro de predecessores filosóficos (e sociológicos) de nosso mestre e, portanto, da própria Religião da Humanidade:
§  Antigüidade: Aristóteles
§  Idade Média: São Tomás de Aquino, Rogério Bacon e Dante
§  Modernidade: Bacon, Descartes e Leibniz; Hume (e Kant), Condorcet (e De Maistre), Bichat (e Gall)
o   Dante é considerado por nosso mestre como o maior poeta moderno e integra o triângulo dos 13 grandes poetas ocidentais:


Parte II – Mês abstrato: politeísmo

-        O oitavo mês do calendário positivista abstrato celebra o politeísmo
o   O politeísmo é a segunda fase das fases sociológicas históricas (dinâmicas) preparatórias; as demais são: o fetichismo (antes) e o monoteísmo (depois)
o   O politeísmo corresponde à “teologia” propriamente dita; por meio da astrolatria, ele surge do processo de abstração da realidade, em que a atividade dos corpos deixa de ser espontânea (no fetichismo) e passa a ser devida a causas externas – inicialmente os astros e depois os deuses
o   Essa passagem foi historicamente necessária para que o processo de abstração tivesse lugar – e, portanto, a constituição da própria ciência
§  Enquanto o fetichismo baseia-se na lógica afetiva diretamente, o politeísmo institui a lógica das imagens
§  A astrolatria surge naturalmente da aparente fixidez dos corpos celestes, além dos movimentos repetitivos dos dois grandes e impressionantes corpos, o Sol e a Lua
§  O politeísmo em sua forma conservadora, dominado pelos sacerdotes, constitui a teocracia propriamente dita
·         A teocracia inicial, além disso, busca regular toda a natureza humana, em um equilíbrio que só é possível por meio do seu caráter estático
·         Uma das formas mais estáveis de organizar a sociedade na teocracia é por meio das castas, nas quais as profissões assumem um caráter hereditário
§  Quando o equilíbrio sacerdotal é quebrado, o politeísmo passa de conservador para progressista (sob os guerreiros) – e, no caso do Ocidente, teve aí início a nossa longa tríplice transição (Grécia, Roma, Idade Média)
§  O politeísmo progressista tem uma característica social importante, que é sua “plasticidade”: o panteão de um povo sempre podia ser incorporado aos de outros povos, fosse por meio da assimilação pura e simples (como a egípcia Ísis, que foi integrada como deusa dos mensageiros ao panteão romano), fosse por meio da equiparação entre panteões (como o grego ao romano)
·         Essa plasticidade do politeísmo foi um dos fatores que permitiu a expansão dos impérios na Antigüidade, com uma correlata tolerância religiosa
·         Mas, por outro lado, o politeísmo guardava ainda um caráter de religião nacional, o que dificultava sua difusão à o monoteísmo, embora evidentemente seja muito menos “plástico” que o politeísmo, tem a vantajosa característica de ser mais universalizável que o politeísmo
o   São quatro as modalidades determinadas por nosso mestre no politeísmo, com as respectivas festas:
1)      Politeísmo conservador – Festa das castas
2)      Politeísmo intelectual (Salamina) – Estético (Homero, Ésquilo, Fídias)
3)      Politeísmo intelectual (Salamina) – Teórico (Tales, Pitágoras, Aristóteles; Hipócrates, Arquimedes; Apolônio, Hiparco)
4)      Politeísmo social (Cipião, César, Trajano)
-        Ao longo das obras de Augusto Comte as observações ao politeísmo são inúmeras, ocupando centenas de páginas, tanto em termos abstratos (avaliação do politeísmo em si) quanto em termos concretos (avaliação das fases e dos tipos ligados ao politeísmo)

 

Parte III – Comemorações de aniversários

-        Em termos de aniversários, comemoramos neste mês as seguintes figuras:
o   Em 1º de Dante (15 de julho):
§  Nascimento de Jean-Pierre Fili (1820-1892)
o   Em 14 de Dante (28 de julho)
§  Morte de Rafael (1483-1520)
o   Em 27 de Dante (10 de agosto)
§  Morte de Miguel Lemos (1854-1917)

Estátua de Dante em Florença

Dante, em ilustração de Gustavo Doré

Rafael Sanzio - Autorretrato com um amigo (c. 1580)
Auto-retrato de Rafael com um amigo

Rafael

Medalhão com efígie de Miguel Lemos

Miguel Lemos

Miguel Lemos, em foto oficial da Igreja Positivista do Brasil

Placa da rua Miguel Lemos, no Rio de Janeiro
Placa da rua Miguel Lemos, na cidade do Rio de Janeiro

Referências bibliográficas

Raimundo Teixeira Mendes: As últimas concepções de Augusto Comte
João Pernetta: Os dois apóstolos (2 v.)
David Carneiro: História da Humanidade através dos seus grandes tipos, v. 6
Ivan Lins: História do Positivismo no Brasil
Ângelo Torres: Calendário Filosófico
Diane Dosso: Comité destravaux historiques et scientifiques, « Sociétés savantes »