-
A visão de conjunto permite que se entenda a
realidade
o
A visão de conjunto tem conseqüências morais,
intelectuais e sociais:
§ A
visão de conjunto oferece sentido ao mundo e à vida
§ É
somente por meio da visão de conjunto que se pode explicar a sociedade e os
indivíduos, ao inseri-los em “contextos”
·
Ao entendermos a totalidade, sabemos onde fica
cada coisa e, portanto, sabemos onde cada um de nós fica, está e como se
relaciona com os demais
§ A
verdadeira moralidade só é possível com base na visão de conjunto:
·
Somente a partir da visão de conjunto é possível
definir o que é bom e o que é ruim, o que é justo e o que é injusto
o
Inversamente, a ausência de visão de conjunto,
ou a negação da visão de conjunto, resulta em que a realidade torna-se
incoerente e irracional e qualquer discussão sobre o que é certo e o que é
justo torna-se impossível (quando não irrelevante)
§ A
irracionalidade e a incoerência resultantes da ausência de síntese tem
resultados muito claros: a perda do sentido da vida, a confusão mental, a perda
de referências morais (em termos individuais e coletivos)
§ As
consequências acima resultam, por sua vez, em aumento dos conflitos sociais e
da violência social e política, em guerras (internacionais e/ou civis), no
fanatismo e na intolerância, no adoecimento mental e físico
§ A rejeição da visão de conjunto, portanto, é
ao mesmo tempo imoral, irracional e antissocial (e antipolítica)
-
Afirmar a possibilidade, a necessidade e até
mesmo a indispensabilidade da visão de conjunto torna-se ainda mais urgente
desde os anos 1960-1970 no Ocidente, com o desenvolvimento do pós-modernismo
o
O pós-modernismo foi elaborado na França mas
logo foi importado pelos Estados Unidos; na França ele manteve-se como uma
modinha academicista, mas nos EUA ele desenvolveu-se, aprofundou-se e derivou
para a prática política, na forma da política identitária
o
O pós-modernismo nega, rejeita, despreza, impede
as visões de conjunto, que ele chama de “visões totalizantes” ou de “grandes
narrativas”
§ Os
historiadores também desenvolveram suas próprias formas de desprezo pelas
visões de conjunto
o
De acordo com esses pensadores, não há motivo
para elaborar-se visões de conjunto, pois objetivamente
elas seriam impossíveis e, além disso, elas seriam desnecessárias
o
Para eles, portanto, o bom é a fragmentação das
idéias, a justaposição incoerente e irracional de concepções puramente
subjetivas
§ A
partir desse ultrassubjetivismo, o pós-modernismo afirma que não existe
realidade objetiva, mas apenas “narrativas”
o
Essa é a própria definição e afirmação do que
Augusto Comte chamava de “anarquia”, ou seja, a ausência de valores e concepções
compartilhados
-
Ao longo de toda a história da Humanidade, o ser
humano procurou elaborar visões de conjunto, ou sínteses
o
Essas sínteses foram chamadas inicialmente de
“religiões” e, depois, também (ou apenas) de “filosofias”
o
Como se sabe, as metafísicas sempre atuaram como
corrosivas das sínteses anteriores, mas, entre cada grande transição, a
metafísica do momento já introduzia elementos da nova síntese
§ Com
o início da mais recente grande fase de transição (após a Idade Média), a
metafísica introduziu a sua corrosão, mas apresentando um caráter ambíguo: por
um lado, auxiliando a ciência; por outro lado, desenvolvendo a pura corrosão
§ No
século XVIII, algumas filosofias que tinham ainda um pé na metafísica afirmaram
o espírito positivo e a visão de conjunto: foram os enciclopedistas, especialmente na França e na Escócia
§ Vale
notar que mesmo algumas metafísicas modernas sem muito espírito positivo e/ou
com forte espírito corrosivo (“crítico”) estimularam a visão de conjunto: Hegel
e até Marx tiveram essa preocupação
o
Entretanto, algumas ciências – não por acaso, as
ciências superiores – exigem a visão de conjunto
§ Essa
exigência é inaugurada pela Biologia, seja em termos globais, com a Ecologia,
seja em termos individuais, com o estudo da inserção dos órgãos no corpo
§ A
Sociologia e a Moral também exigem a visão de conjunto
§ Vale
lembrar, entretanto, que a ciência é ambígua: se por um lado há ciências que
exigem a visão de conjunto, por outro lado a ciência entregue a si mesma tende
ao absoluto e, como a ciência é pelo detalhe, por si mesma ela vai contra a
visão de conjunto
-
A metafísica que rejeita a visão de conjunto,
não por acaso, vincula-se à concepção individualista do ser humano: toda a
tradição liberal é individualista e contrária à visão de conjunto
o
Para os liberais (progressistas ou
conservadores; ingleses ou alemães ou estadunidenses ou austríacos), a visão de
conjunto equivale sempre à opressão da sociedade sobre o indivíduo
§ O
máximo de “sociedade” que os liberais concebem é a justaposição de indivíduos e
dos seus respectivos egoísmos
o
O individualismo que descamba no liberalismo é o
resultado da secularização da teologia: sai a divindade, mantém-se o egoísmo e
rejeita-se a perspectiva social
o
O liberalismo é uma degradação do
republicanismo, em particular na perda do sentido coletivo da vida humana
o
Mas é importante indicar que o liberalismo,
apesar de seus defeitos intelectuais e morais, concebe ainda uma visão de
conjunto em termos de leis válidas para todos (os indivíduos) – a isonomia
o
Da mesma forma, ainda que limitado pelo
individualismo, o liberalismo reconhece a importância da ciência
-
O pós-modernismo (com sua conseqüência prática,
a política identitária) é uma filosofia especificamente academicista e consiste no desenvolvimento
sem freios da metafísica, isto é, do seu espírito corrosivo
o
O pós-modernismo e a política identitária
aprofundam os aspectos críticos, isto é,
corrosivos da metafísica (da mesma metafísica que resultou no liberalismo e,
paradoxalmente, também no marxismo)
o
O pós-modernismo e a política identitária
rejeitam (1) a ciência, (2) a visão de conjunto, (3) os valores compartilhados,
(4) o universalismo nas políticas públicas
o
De maneira correlata, o pós-modernismo e a política
identitária defendem (1) o particularismo, (2) o irracionalismo anticientífico,
(3) o exclusivismo e a exclusão de quem não é do grupo identitário, (4) as “narrativas”
identitárias exclusivas e excludentes
§ Ao
longo da história já tivemos exemplos concretos de tais “narrativas” identitárias:
foram a “ciência proletária” de Stálin e a “ciência ariana” de Hitler;
atualmente há as “epistemologias negras”, “epistemologias queer”, “epistemologias feministas” etc. etc. etc. – tudo isso
devidamente identitário, antiuniversalista, particularista, sectário
§ Duas
aplicações práticas do sectarismo pós-moderno-identitário:
·
A defesa de discriminações “positivas”: “racismo
inverso” (dos “negros” contra os “brancos”), “sexismo inverso” (das mulheres
contra os homens) etc.
o Uma
consequência institucional das discriminações positivas são as cotas de vagas
·
A afirmação do “lugar de fala”, que consiste na
defesa, no âmbito da retórica, de cotas exclusivas para os membros dos grupos
identitários, de tal maneira que só podem falar sobre esses grupos os membros do
próprio grupo, excluindo da possibilidade de falar desses grupos quem não os
integrar
o Versões
mais suaves do “lugar de fala” até admitem que não-membros dos grupos identitários
possam falar sobre os grupos identitários – mas sempre de maneira subordinada
-
É fundamental ter-se clareza de que não é necessário ser identitário para
combater-se o racismo e promover a integração “racial”; para valorizar as
mulheres e combater as discriminações e as violências contra elas; para valorizar
os homossexuais e combater as discriminações e as violências contra eles
etc.
o
A associação (interessada) entre determinadas
pautas sociais e políticas e o identitarismo prejudica as próprias pautas
o
É possível e necessário encampar essas pautas sem recorrer ao identitarismo e
aos seus profundos vícios morais, intelectuais e políticos
o Ao reconhecermos a justiça das pautas defendidas pelo identitarismo mas recusarmos seus defeitos morais, intelectuais e políticos, cada uma das políticas identitárias em particular deve ser entendida como um "grito dos excluídos"
-
Insistimos: em contraposição à rejeição
intelectual, moral e política da visão de conjunto realizada pelos pós-modernos,
é necessário reafirmar a possibilidade e a necessidade das visões de conjunto,
ou melhor, das sínteses
o
A visão de conjunto tem aspectos objetivos e
subjetivos:
§ Ela
é subjetiva na medida em que é o ser
humano (o sujeito) quem elabora e a quem se direciona a síntese
§ Ela
é objetiva na medida em que se baseia
em elementos objetivos, sejam eles cósmicos, sejam eles humanos (históricos e
morais)
§ Deixando
de lado o escandaloso (mas “charmoso”!) elogio da irracionalidade feito pelos
pós-modernos, é questão de perguntarmos com clareza e de respondermos com ainda
maior clareza: qual o problema com que a síntese seja subjetiva? Ora, nenhum!
o
O Positivismo, a Religião da Humanidade afirma a
visão de conjunto e a síntese:
§ A
moralidade e a racionalidade estabelecidas por meio da subordinação progressiva
de indivíduos e grupos a coletividades e perspectivas cada vez maiores: família,
mátria, Humanidade atual (objetiva), Humanidade histórica (subjetiva)
o
Apenas por meio da visão de conjunto e da síntese
propostas pela Religião da Humanidade é possível realizar com êxito a busca da
harmonia individual, do bem-estar coletivo, do sentido da vida, da felicidade