No dia 1º de Moisés de 170 (1.1.2024) celebramos a Festa da Humanidade.
Tal celebração foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/Jxnmz) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/60V4k).
As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.
* * *
Celebração da Festa da Humanidade – 170
(2024)
-
Ela é a mais importante festa do Positivismo,
celebrando o verdadeiro ser supremo, a nossa verdadeira providência, o objeto
contínuo de nossa devoção, nossos pensamentos e nossas ações
o
A celebração da Festa da Humanidade é ao mesmo
tempo fácil e difícil
o
Há muito a ser falado em homenagem à nossa deusa
– e, por isso mesmo, corremos o risco de sermos ingratos ao deixarmos de
mencionar algum aspecto mais ou menos central, ou mesmo algum aspecto
secundário
o
A data específica da Festa da Humanidade – dia
1º de Moisés, primeiro dia do ano – também é plena de referências e
possibilidades:
§ Após
a celebração da Festa Geral dos Mortos, na véspera, em que celebramos a
subjetividade que vem antes de nós, celebramos hoje a grande continuidade
humana
§ No
calendário positivista concreto, o dia de hoje é consagrado a Prometeu, figura
mitológica que, embora mitológica, integrando o panteão grego, aceitou
sacrificar-se pelo bem da Humanidade
·
Com Prometeu temos o culto fetichista do fogo –
culto que é espontaneamente rememorado todos os anos, com os fogos de artifício
celebrando a esperança, a renovação e a permanência da vida, a busca de paz e
prosperidade
·
Além disso, cada vez mais o espetáculo dos fogos
de artifício assumem um caráter mais de luzes e menos de barulho, indicando ao
mesmo tempo a iluminação e o respeito aos nossos auxiliares animais e aos seres
humanos mais frágeis (os autistas)
§ No
calendário positivista abstrato, hoje se inicia o mês dedicado precisamente à
Humanidade, com o vinculo mais universal possível, o religioso
o
Em face das inúmeras possibilidades, temos que
nos resignar em falar de algumas coisas e em deixar algumas outras de lado
§ Aquilo
que não citamos, não é citado por desleixo, mas por impossibilidade prática
-
Comecemos então nossa pequena celebração
relembrando as palavras pronunciadas pelo apóstolo positivista inglês Richard
Congreve na Igreja Positivista de Londres em todas as suas Festas da Humanidade
– palavras repetidas por Miguel Lemos aqui no Brasil e, depois, também por
Alfredo de Moraes Filho, de modo que nos orgulhamos de restabelecer e integrar
uma tradição cultual que tem mais de 150 anos:
Prece à
Humanidade (Richard Congreve)
Com todos os centros de
nossa fé onde quer que existam, com todos os seus discípulos esparsos, com os
fiéis de todas as outras religiões ou crenças quaisquer, monoteístas,
politeístas ou fetichistas, subordinando todas as distinções secundárias ao
laço exclusivo de uma aspiração religiosa comum; com toda a raça humana, isto
é, com o homem, onde quer que se ache e qualquer que seja a sua condição,
subordinando também todas as distinções secundárias ao laço único de nossa
comum Humanidade; com as raças animais que foram, durante a longa e trabalhosa
ascensão humana, os nossos companheiros e auxiliares, como ainda o são; —
estejamos hoje, nesta festa da Humanidade, unidos por uma consciente simpatia.
E não somente com os
nossos contemporâneos que devemos hoje estar em comunhão simpática, mas também
e sobretudo com essa parte preponderante de nossa espécie que representa o
Passado. Comemoramos com reconhecimento os serviços de todas essas gerações que
nos legaram o fruto de seus labores, desejando transmitir esta herança
aumentada aos nossos sucessores. Nós aceitamos o jugo dos mortos.
Comemoramos também com
gratidão todos os serviços de nossa Mãe comum, a Terra, o planeta que nos serve
de morada, e com ela o orbe que forma o Sistema Solar, o nosso Mundo. Não
separemos desta última comemoração a do meio em que colocamos esse sistema, o
Espaço, que foi sempre tão propício ao homem, e que está destinado, mediante
uma sábia aplicação, a prestar-lhe ainda maiores serviços, pois que ele se
torna a sede reconhecida da abstração, a sede das leis superiores que
coletivamente constituem o Destino do homem, e como tal introduzido em toda a
nossa educação intelectual e moral.
Do presente e do passado
estendamos as nossas simpatias ao porvir, às gerações futuras que com sorte
mais feliz nos sucederão sobre a Terra; tenhamo-las sempre presentes ao nosso
espírito a fim de completar a concepção da Humanidade, tal como nos foi
revelada pelo Fundador de nossa Religião, pela plena aceitação da continuidade
que constitui o seu mais nobre característico.
A memória, do maior dos
servidores da Humanidade, Augusto Comte, e a dos seus três anjos – Rosália,
Clotilde e Sofia – ocorre naturalmente nesta sua máxima festa, consagrada à
glorificação de todos os que a têm servido.
Oh! O mais sábio e o mais
nobre dos Mestres! Possamos nós, que nos proclamamos teus discípulos, animados
pelo teu exemplo, sustentados pela tua doutrina, guiados pelas tuas teorias,
vencer todos os obstáculos, que a indiferença ou a hostilidade semeia no nosso
caminho; possamos nós no meio desta época revolucionária, sem nos deixar
degradar por qualquer esperança de recompensa, nem nos desviar por qualquer
insucesso dos nossos esforços, num espírito de submissa veneração, levar por
diante a grande empresa a que consagraste a tua vida, a empresa da regeneração
humana, por meio e no seio do culto sistemático da Humanidade.
-
Como observou com grande simplicidade e correção
o Almirante Moraes, “A concepção religiosa da Humanidade supõe duas noções
fundamentais – a teoria dos entes coletivos e a personificação suprema da
Humanidade no tipo materno, a fim de que o mesmo se torne um verdadeiro centro
de nossa unidade moral e social”
o
A teoria dos entes coletivos indica que a
Humanidade é um ser composto e que, como tal, ela desenvolveu-se ao longo do
tempo
§ Os
primeiros embriões da Humanidade aconteceram – como acontecem continuamente,
todos os dias – nas famílias, que criaram as condições de existência dos seres
humanos, proporcionando o abrigo material, intelectual e, acima de tudo, moral
e afetivo
§ Com
o aumento do tamanho das famílias e suas contínuas inter-relações, surgiram
associações maiores, como as tribos e os clãs, passando afinal para as pátrias
§ As
pátrias, por sua vez, têm por base a divisão do trabalho prático
§ À
medida que as pátrias cresceram e desenvolveram-se, seus grandes pensadores
sempre prenunciaram os vínculos universais, independentemente de tempo e
espaço, de nacionalidade e de etnia
§ Depois
dos tempos das guerras, em que as famílias e as pátrias bateram-se longamente,
o tempo da paz universal, da cooperação e da convergência chegou há cerca de
170 anos, quando se afirmou afinal a plena universalidade humana,
necessariamente pacífica
o
Por outro lado, embora a Humanidade seja
verdadeiramente a única realidade para o ser humano, ela só pode existir e
atuar por meio de agentes concretos, os seus servidores
§ Assim,
a Humanidade é o conjunto dos seres humanos convergentes passados, futuros e
presentes
§ A
Humanidade atua e beneficia todos, mas nem todos os seres humanos integram-na
efetivamente: aqueles que não são convergentes, aqueles que não cooperam de
fato para o benefício coletivo não integram, ou melhor, não podem ter a
esperança de um dia merecerem integrar a Humanidade
o
Um ser digno de veneração, de conhecimento, de
atividade, de gratidão tem que ser, por si só, moralmente superior
§ Para
o ser humano, a moralidade é maior e mais elevada nas mulheres, que, a esse
respeito (como em muitos outros), são superiores aos homens
§ A
definição positiva de moralidade é o desenvolvimento da ternura, isto é, o
desenvolvimento do altruísmo, do amor, e a pureza, ou seja, a compressão do
egoísmo
§ Assim,
a figura da Humanidade é necessariamente de uma mulher, o que equivale a dizer
que o Grão Ser positivo é uma deusa
§ A
Humanidade é uma mulher na faixa de 30 anos, carregando em seu colo um bebê, ou
seja, o futuro
§ Com
isso, todos temos uma figura amorosa facilmente reconhecível, capaz de
organizar e orientar nossos sentimentos, nossos pensamentos e nossas atividades
-
Do que vimos rapidamente, a Humanidade é uma
concepção intelectual e moral; ela é nossa verdadeira
providência
o
A Humanidade é nossa verdadeira providência
porque é ela que fornece tudo ao ser humano em todos os momentos de suas vidas:
sentimentos, idéias, colaboração no tempo, colaboração no espaço, recursos
variados
§ Os
seres humanos individuais restituem à Humanidade muito pouco do que recebem ao
longo de suas vidas – e só se pode falar de verdade em restituições se elas
forem úteis
§ A
Humanidade, então, é a verdadeira “filha de seu filho”: cada um de nós só
existe devido a ela, mas, inversamente, ela precisa dos esforços (altruístas)
de cada um de nós para existir, manter-se e desenvolver-se
o
A providência humana atua sempre cada vez mais
ao longo do tempo, na continuidade, que meramente na colaboração simultânea da
solidariedade
o
A providência humana é múltipla:
§ Acima
de tudo, ela é moral, ao dar-nos valores,
ao indicar-nos o que é bom e correto
§ Ela
é afetiva, ao dar-nos os sentimentos
que constituem o fundo de nossas existências e que tornam nossas vidas dignas
de serem vividas
§ Ela
é intelectual, ao fornecer-nos idéias
e conceitos, conhecimentos e habilidades, a começar pelas línguas com que nos
comunicamos e todas as concepções que permitem que entendamos o mundo e atuemos
nele
§ Ela
é artística, ao oferecer-nos as
imagens e as idealizações que sugerem e indicam como e quanto o ser humano e o
mundo podem e devem ser melhores
§ Ela
é prática, ao oferecer-nos a
infraestrutura de que desfrutamos, as técnicas que empregamos para melhorar o
mundo
o
Assim, é à Humanidade que devemos todos nós ser
gratos
§ Quem
agradece às divindades temporárias exercita a gratidão, o que é um exercício
moral importante em si mesmo
§ Mas
quem atualmente agradece às divindades temporárias na prática comete o erro
moral e intelectual da ingratidão, ao desconsiderar (ou desprezar) a verdadeira
providência e valorizar seres fictícios, para quem, aliás, o ser humano de nada
vale
-
Para concluir esta celebração da Festa da
Humanidade, as invocações lidas na Igreja Positivista do Brasil são mais uma
vez tão belas quanto oportunas:
Em nome da Humanidade:
O amor por princípio, e a
ordem por base; o progresso por fim.
Tens, Senhora, tão grande
potestade,
Que quem a graça quer e a
Ti não corre
Sem asas voar lhe quer a
vontade.
A tua benignidade não
socorre
A quem T’implora só; com
caridade
Freqüentemente à súplica
precorre.
Em Ti misericórdia;
Em Ti piedade;
Em Ti magnificência;
Em Ti concorre
Tudo quanto no mundo
Há de bondade.
Ó Virgem-mãe, filha do teu
filho!
A Ti, mais do que a nós
mesmos,
Amemos sem cessar;
E a nós somente
O puro amor de Ti
Nos faça amar.
Ergamos os nossos corações
à Humanidade e lhe testemunhemos o reconhecimento de que nos sentimos repletos
pelos ensinamentos que acabamos de receber. Que estes frutifiquem em nossas
almas e que, ao deixarmos esta prédica, levemos a resolução feita de dedicar
todos os nossos esforços a auxiliar em nós e nos outros a vitória final do
altruísmo sobre o egoísmo.
Rendamos graças especiais
ao nosso Mestre, Augusto Comte, e à sua imaculada inspiradora, Clotilde de
Vaux, aos quais devemos a sistematização da Humanidade e de sua sublime
doutrina.
Que a tua palavra de vida,
ó santa Humanidade, seja não somente bem aceita e compreendida, mas antes de
tudo aplicada com zelo a todos os atos de nossa vida privada e pública.
Assim seja.