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25 setembro 2025

Comentários sobre PEC da Blindagem e Leandro Karnal

No dia 14 de Shakespeare de 171 realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos conservadores (em sua Primeira Parte - doutrina destinada aos verdadeiros conservadores).

Comentamos também a chamada "PEC da Blindagem". Da mesma forma, comentamos a polêmica em torno da propaganda comercial estrelada pelo ex-historiador Leandro Karnal.

Começamos a fazer um sermão sobre as "éticas da convicção e da responsabilidade"; mas, devido à instabilidade da internet durante a prédica, tivemos que suspender o sermão e encerrar antecipadamente a prédica. Esse tema de sermão foi transferido para a semana seguinte.


As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.
*   *   *

Comentários sobre PEC da Blindagem e Leandro Karnal

(14.Shakespeare.171/23.9.2025) 

1.       Invocação inicial

2.       Datas e celebrações:

2.1.    Dia 12 de Shakespeare (21.9): nascimento de Luís Lagarrigue (1854 – 171 anos)

2.2.    Dia 13 de Shakespeare (22.9): equinócio da primavera

3.       Comentário sobre a “PEC da Blindagem”

3.1.    No dia 16 de setembro, a Câmara dos Deputados aprovou em regime de urgência, em uma tramitação excepcionalíssima e extremamente suspeita, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n. 3/2021, a “PEC das Prerrogativas”

3.1.1. Embora proposta em 2021, essa PEC foi retomada e, na Câmara dos Deputados, foi estabelecida para blindar os parlamentares contra quaisquer tentativas de investigação criminal; não por acaso, ela foi retomada e aprovada na semana imediatamente posterior à condenação do núcleo duro dos golpistas fascistas pelo Supremo Tribunal Federal, em 11.9.2025

3.1.2. O Deputado Federal Nikolas Ferreira não teve pudor e assumiu que o objetivo dessa PEC é mesmo blindar os deputados contra investigações criminais

3.2.    Como sacerdote da Religião da Humanidade – que é uma religião cívica (embora não uma religião civil) –, manifestamo-nos completamente contrários à PEC da Blindagem, lembrando a observação decisiva de nosso mestre Augusto Comte (Sistema de política positiva, v. IV, 1854, p. 312):

Malgrado as precauções interessadas dos legisladores metafísicos, o instinto ocidental não tardará a ver a publicidade normal dos atos privados como a garantia necessária do verdadeiro civismo. [...] Todos os que se recusarem a viver às claras tornar-se-ão justamente suspeitos não quererem realmente viver para os outros”



4.       Comentário sobre Leandro Karnal como propagandista de banco

4.1.    Desde há algumas semanas o ex-historiador e atual autor de livros de auto-ajuda Leandro Karnal estrela propaganda de banco comercial (Bradesco: “Auto-ajude-se”)

4.1.1. Essa propaganda gerou diversas reações, ao criar a forte impressão de que o ex-historiador vendeu a sua credibilidade

4.2.    Criticado publicamente por degradar a sua atuação como intelectual pela colunista Tati Bernardi, da Folha de S. Paulo (“Karnal pode fazer campanha pra banco?”, 18.9.2025), o propagandista respondeu (1) que se trata de inveja de quem não foi convidado para fazer propagandas e (2) que tais pessoas devem insistir no “desafio do autoconhecimento” (Adrielly Souza, “‘Ressentimento’, diz Leandro Karnal sobre críticas por ter feito propaganda para banco”, Folha de S. Paulo, 21.9.2025)

4.3.    Concordamos com as críticas feitas ao ex-historiador:

4.3.1. O comum das pessoas pode vender sua imagem em propagandas comerciais; mas isso é totalmente inadequado para pessoas que ganham a vida oferecendo conselhos, ao ser incompatível com os fundamentos de suas atividades

4.3.2. Em vez de o ex-historiador assumir honestamente que se cansou de ser um intelectual e que quer ganhar (muito) dinheiro – seja com livros de auto-ajuda, seja com a venda de seu prestígio –, ele resolveu xingar e menosprezar seus críticos

4.3.3. A réplica do ex-historiador é uma tergiversação grosseira do problema; ele foge da crítica atribuindo o problema aos seus críticos, por meio de variadas formas do sofisma ad hominem (seus críticos não teriam razão e seriam apenas motivados pela inveja; dessa forma, deveriam calar-se e examinar suas motivações)

4.4.    A referência ao “desafio do autoconhecimento” é uma referência canhestra à fórmula do oráculo de Delfos celebrizada por Sócrates, o “conhece-te a ti mesmo”

4.4.1. Mas mesmo o procedimento moral e intelectual desonesto do ex-historiador indica a grave limitação do preceito socrático: como indicou Augusto Comte, não basta conhecer a si mesmo, pois é necessário usar esse conhecimento para o aperfeiçoamento (“conhece-te a ti mesmo a fim de te melhorares”) – coisa que evidentemente o ex-historiador não fez

4.5.    A cínica resposta do ex-historiador e seu desprezo tanto pelos críticos quanto pelos motivos que originaram as críticas tornam-se mais claros ao sabermos que, não por acaso, quando era professor da USP, o propagandista esmerava-se com orgulho em empregar bravatas tipicamente academicistas para os positivistas

4.5.1. Um desses xingamentos foi o de que os positivistas seríamos “idólatras de Clotilde de Vaux” (Leandro Karnal, Teatro da fé, São Paulo, Hucitec, 1998)

4.6.    Com essa bravata contra o Positivismo e seu desprezo pelos críticos à propaganda comercial, o ex-historiador cometeu de uma única vez uma quantidade enorme de graves defeitos:

4.6.1. Desprezou o Positivismo

4.6.2. Desprezou um culto humanista

4.6.3. Desprezou um culto apenas porque esse culto não é o que ele pessoalmente respeita (ou seja, cometeu o crime moral e jurídico da intolerância religiosa)

4.6.4. Baseou sua moralidade ao academicismo

4.6.5. Atuando de maneira exemplarmente academicista, demonstrou a característica coragem de gabinete própria aos literatos

4.6.6. Desprezou a separação entre o poder temporal e o poder espiritual

4.6.7. Desprezou também as inúmeras e importantíssimas exigências morais e sociais da atuação do sacerdócio (isto é, dos “intelectuais”)

4.7.    O problema com a propaganda estrelada pelo ex-historiador que se comprazia em evidenciar coragem de gabinete não é que ele ganhou dinheiro com um banco comercial; o problema é que, de fato, ele vendeu sua credibilidade

4.7.1. A resposta dada aos críticos evidencia que o ex-historiador não assume seu erro e que faz questão de desprezar sua condição de “intelectual”

4.7.2. Antes ainda, o desprezo academicista pelo Positivismo manifestado pelo ex-historiador evidencia que ele despreza igualmente a separação entre os dois poderes e, daí, as exigências morais, intelectuais e práticas específicas ao poder Espiritual

4.7.3. O poder Espiritual muda o comportamento humano a partir do aconselhamento; o aconselhamento, por sua vez, baseia-se na confiança depositada nele pelo público; isso implica que os membros do poder Espiritual não podem mandar (daí o que se chama vulgarmente de “laicidade do Estado”) e não podem vender sua imagem

4.7.4. O verdadeiro problema da propaganda estrelada pelo ex-historiador não é que ele, em particular, vendeu sua credibilidade: o problema é que, agindo assim, ele prejudica o poder Espiritual em geral; em outras palavras, não é um problema pessoal, mas um problema geral

4.7.5. Em face desse problema geral, há apenas duas possibilidades para o comportamento do ex-historiador:

4.7.5.1.             Ou ele sabe que esse problema existe, mas escolhe desprezá-lo

4.7.5.2.             Ou ele não sabe que esse problema existe, e escolhe ignorá-lo

4.7.5.3.             A imagem pública do ex-historiador, nos últimos anos, é o de uma pessoa “sábia”; é esse o fundamento dos seus livros de autoajuda; assim, ele supostamente deve conhecer o problema: mas se conhece, ele decidiu desprezá-lo

4.7.6. Em suma, é inaceitável – por ser imoral e antissocial – o comportamento do ex-historiador

5.       Leitura comentada do Apelo aos conservadores

5.1.    Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

5.1.1. O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

5.1.1.1.             O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

5.1.1.2.             Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

5.2.    Outras observações:

5.2.1. Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

5.2.2. O capítulo em que estamos é a “Primeira Parte”, cujo subtítulo é “Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores”

5.3.    Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

6.       Exortações

6.1.    Sejamos altruístas!

6.2.    Façamos orações!

6.3.    Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

6.4.    Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

7.       Invocação final

 

Referências

- Augusto Comte (franc.), Sistema de filosofia positiva (Paris, Société Positiviste, 5e ed., 1893)

- Augusto Comte (franc.), Sistema de política positiva (Paris, L. Mathias, 1851-1854)

- Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores.

- Augusto Comte (port.), Catecismo positivista (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 4ª ed., 1934).

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), As últimas concepções de Augusto Comte (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-i e https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-ii.

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), O ano sem par (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1900): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-o-ano-sem-par-portug._202312/page/n7/mode/2up.

17 setembro 2025

Ordem e Progresso contra o fascismo

No dia 7 de Shakespeare de 171 (16.9.2025) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos conservadores (em sua Primeira Parte - doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores).

Também manifestamos apoio à decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal em 2 de Shakespeare de 171 (11.9.2025) que condenou o núcleo duro da organização fascista que, a partir da Presidência da República, tentou (mas felizmente fracassou) um golpe de Estado.

Da mesma forma, também lemos um artigo de nossa autoria que explica o "Ordem e Progresso" e como ele pode e deve ser aplicado para combater ao mesmo tempo o fascismo e o identitarismo.

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://youtube.com/live/takXxHZBrf0) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://www.facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual/videos/1518644569156731).

As anotações que serviram de base para a noss exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

*   *   *

Leitura comentada do Apelo aos conservadores

(7.Shakespeare.171/16.9.2025) 

1.      Invocação inicial

2.      Datas e celebrações:

2.1.   Dia 1º de Shakespeare (10.9): início do mês de Shakespeare, dedicado ao drama moderno

2.2.   Dia 5 de Shakespeare (14.9): nascimento de Sofia Bliaux (1804 – 221 anos)

2.3.   Dia 6 de Shakespeare (15.9): transformação de Paulo de Tarso Monte Serrat (2014 – 11 anos)

2.4.   Dia 8 de Shakespeare (17.9): transformação de Rodolfo Paula Lopes (1984 – 41 anos)

3.      Apoio à condenação, realizada pelo Supremo Tribunal Federal, de Jair Bolsonaro e seus asseclas, por tentativa de golpe de Estado, para instauração de um Estado fascista, autoritário e, portanto, extremamente violento

3.1.   O julgamento terminou em 2 de Shakespeare de 171 (11.9.2025)

3.2.   Apesar de a condenação em si ser motivo de comemoração, no final das contas isso é motivo de grande tristeza e lamento

3.2.1.     O golpe de Estado tentado mas felizmente fracassado resultaria, conforme as previsões mais serenas dos golpistas, em guerra civil, assassinatos, censura, perseguições, atentados etc. Tudo isso é chocante, desprezível e a condenação foi correta

3.2.2.     É importante lembrar que todo o processo ocorreu seguindo o devido processo legal, com direito ao contraditório, acesso às provas etc.

3.2.3.     Mas: os fatos de ter-se tentado um golpe de Estado no Brasil e de tanto o Brasil como o mundo indicam que se vive uma situação social, política, filosófica – religiosa, em uma palavra – que permite não apenas que o fascismo e o identitarismo surjam, mantenham-se, desenvolvam-se e prosperem mas que, no caso do fascismo, chegue a quase ter êxito em um golpe de Estado violento e fratricida. Isso é motivo de tristeza e grande preocupação

3.2.4.     O livro de nosso mestre, Apelo aos Conservadores, cuja leitura comentada estamos realizando, e o nosso artigo que leremos daqui a pouco tratam exatamente das situações sociais, políticas e filosóficas que permitiram e mantêm o fascismo e o identitarismo, bem como da única solução real e possível para esses problemas, dada exclusivamente pelo Positivismo e pela Religião da Humanidade

4.      Leitura do artigo “Ordem e Progresso” em tempos de fascismo e identitarismo, publicado em 8.9.2025 no Monitor Mercantil

4.1.   Disponível aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/09/ordem-e-progresso-em-tempos-de-fascismo.html

4.2.   Como indicamos há pouco, o livro de nosso mestre, Apelo aos Conservadores, cuja leitura comentada estamos realizando, e o esse nosso artigo tratam exatamente das situações sociais, políticas e filosóficas que permitiram e mantêm o fascismo e o identitarismo, bem como da única solução real e possível para esses problemas, dada exclusivamente pelo Positivismo e pela Religião da Humanidade

5.      Exortações

5.1.   Sejamos altruístas!

5.2.   Façamos orações!

5.3.   Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

5.4.   Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

6.      Leitura comentada do Apelo aos conservadores

6.1.   Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

6.1.1.     O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

6.1.1.1.           O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

6.1.1.2.           Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

6.2.   Outras observações:

6.2.1.     Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

6.2.2.     O capítulo em que estamos é a “Primeira Parte”, cujo subtítulo é “Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores”

6.3.   Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

7.      Invocação final

 

Referências

- Augusto Comte (franc.), Sistema de filosofia positiva (Paris, Société Positiviste, 5e ed., 1893).

- Augusto Comte (franc.), Sistema de política positiva (Paris, L. Mathias, 1851-1854).

- Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores.

- Augusto Comte (port.), Catecismo positivista (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 4ª ed., 1934).

- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), “Ordem e Progresso” em tempos de fascismo e identitarismo (Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 8.9.2025): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/09/ordem-e-progresso-em-tempos-de-fascismo.html.

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), As últimas concepções de Augusto Comte (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-i e https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-ii.

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), O ano sem par (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1900): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-o-ano-sem-par-portug._202312/page/n7/mode/2up.



04 setembro 2025

A frase "fazer o bem, não importa a quem"

No dia 21 de Gutenberg de 171 (2.9.2025) realizamos nossa prédica, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos conservadores (em sua Primeira Parte - doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores).

No sermão abordamos a frase popular "fazer o bem, não importa a quem", indicando que, se ela tem bons sentimentos, sua orientação é cega e tem resultados daninhos e injustos.

No final do sermão apresentamos trechos do belíssimo poema de Raimundo Teixeira Mendes, Exortação à Fraternidade.


As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

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A expressão “Fazer o bem, não importa a quem”

(21.Gutenberg.171/2.9.2025) 

1.       Invocação inicial

2.       Datas e celebrações:

2.1.    Dia 23 de Gutenberg (4.9): nascimento de Richard Congreve (1818 – 207 anos)

2.2.    Dia 24 de Gutenberg (5.9): transformação de Augusto Comte (1857 – 168 anos); comemoração de Sofia Bliaux

2.3.    Dia 25 de Gutenberg (6.9): nascimento de Henrique Oliveira (1908 – 117 anos)

2.4.    Dia 26 de Gutenberg (7.7): Independência do Brasil (1822 – 203 anos); glorificação de José Bonifácio

3.       Leitura comentada do Apelo aos conservadores

3.1.    Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

3.1.1. O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

3.1.1.1.             O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

3.1.1.2.             Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

3.2.    Outras observações:

3.2.1. Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

3.2.2. O capítulo em que estamos é a “Primeira Parte”, cujo subtítulo é “Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores”

3.3.    Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

4.       Exortações

4.1.    Sejamos altruístas!

4.2.    Façamos orações!

4.3.    Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

4.4.    Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

5.       Sermão: a fórmula “fazer o bem, não importa a quem”

5.1.    O sermão de hoje abordará alguns temas que se referem a situações com que todos nós defrontamo-nos todos os dias e que, além disso, também se referem diretamente à Religião da Humanidade: a obrigação de sermos corteses, a tolerância mútua como base da fraternidade

5.2.    Comecemos com a máxima popular “fazer o bem, não importa a quem”

5.2.1. Essa fórmula apresenta um imperativo que, a princípio, é convergente com a Religião da Humanidade: nossa obrigação de sermos altruístas

5.2.2. Todavia, essa fórmula é extremamente vaga – e essa vagueza é fatal

5.2.3. Adiantando o tema, convém desde já reconhecer que, apesar da vagueza da fórmula, ainda assim ela procura resolver uma condição que é difícil por si só

5.3.    Ainda antes de seguirmos adiante, também vale a pena indicar que esse tema na verdade foi-me perguntado pelo nosso correligionário Eugênio Macedo

5.3.1. A dúvida do Eugênio era pessoal, dele, mas evidentemente ela pode e deve ser tratada de maneira mais ampla, na medida em que afeta todos nós e que, de qualquer maneira, mesmo que não fosse comum a todos nós, poderia interessar a outras pessoas

5.3.1.1.             É claro que essa dúvida pode ser tratada publicamente sem dificuldades, isto é, sem criar nenhum constrangimento

5.3.1.2.             O “viver às claras” refere-se aos nossos atos, mas também às motivações de nossas ações; a publicidade de nossas vidas não pode corresponder a indiscrições nem a situações vexaminosas

5.3.2. Transformar dúvidas individuais de nossos correligionários em temas de sermões é uma forma simples e eficiente de ajudar as pessoas e de demonstrar que o Positivismo é, e deve ser, útil

5.3.2.1.             Dessa forma, fica aqui o convite e o estímulo: quem tiver dúvidas, questões, comentários, apresente-os sem medo, que procuraremos responder, orientar e aconselhar

5.4.    A Religião da Humanidade proclama que a lei do dever e a fórmula da felicidade são uma única: é o “viver para outrem”

5.4.1. Devemos notar que a fórmula positivista tem um imperativo geral – devemos ser altruístas e dedicarmo-nos aos demais –, mas não é um imperativo vago; além disso, ela pressupõe o cuidado com nós mesmos e veda a autoimolação

5.5.    O problema da vagueza da fórmula popular é que ela não faz distinções de merecimento das pessoas que receberão o benefício, nem afirma os cuidados com nós mesmos

5.5.1. No que se refere ao mérito dos beneficiários: devemos, sim, considerar quem recebe o bem, pois diferentes pessoas têm diferentes comportamentos, diferentes necessidades, diferentes possibilidades; evidentemente, algumas são melhores que outras, enquanto algumas são piores que outras: tudo isso deve necessariamente ser levado em conta

5.5.2. O nosso dever de altruísmo não é unilateral; na verdade, como se trata de um dever, é uma relação, ou seja, é uma obrigação mútua: assim como cada um de nós deve ser altruísta, os demais também devem ser altruístas; a reciprocidade deve ser levada em conta e valorizada

5.5.2.1.             O “fazer o bem, não importa a quem”, especialmente na parte do “não importa a quem”, deixa de lado o aspecto relacional da vida humana; portanto, ele ignora de verdade o seu caráter de dever, apenas criando direitos para os outros, sem lhes impor também deveres mútuos

5.5.3. Devemos considerar também a justiça de nossas ações: pessoas boas que sofrem injustiças devem ser bem tratadas; pessoas que erraram mas que manifestam desejar melhorar também devem ser valorizadas; a quem errou deve ser dada a oportunidade real de emendar-se; mas quem errou, persistiu no erro e rejeitou a emenda, qual o sentido de fazer indefinidamente o bem para ela?

5.5.4. Assim, há um aspecto de valorizar a bondade e de punir a maldade – sem que haja injustiça, crueldade nem que se vede a possibilidade de emendar-se o mal

5.6.    À parte esses graves problemas de mérito e de justiça – que a fórmula popular “fazer o bem, não importa a quem” é incapaz de enfrentar –, devemos convir que a dificuldade prática nessa condição é que, qualquer que seja a fórmula – “viver para outrem”, ou “fazer o bem, não importa a quem” –, desejamos ser altruístas e generosos, mas defrontamo-nos com a necessidade concreta de limitarmos esse altruísmo e mesmo de fazermos valer o nosso egoísmo

5.6.1. Indiscutivelmente, essa é uma situação frustrante; não há como a evitar

5.6.2. Um aspecto que se evidencia a partir dela é que o também altruísmo deve ser bem orientado

5.6.2.1.             Na verdade, a correta orientação do altruísmo foi afirmada por Augusto Comte quando ele apreciou o comunismo, que, para ele, consistia em uma orientação incorreta do altruísmo e que, mesmo por isso, era superior ao individualismo liberal-burguês, que consiste no exagero do egoísmo

5.6.3. A solução para esse problema, parece-me, consiste em que devemos ser generosos, tolerantes e ter uma orientação altruísta geral; além disso, devemos considerar que todos a princípio merecem nosso respeito, nossa estima, nosso altruísmo; mas essa estima básica também deve ser confirmada cotidianamente, especialmente lembrando que o viver para outrem é uma obrigação mútua

5.6.4. O “fazer o bem, não importa a quem” tenta lidar com o egoísmo por meio da sua negação; mas, ao negar, ele não lida de verdade com ele e, em particular, ele não regula o egoísmo: mas a questão, no caso, é exatamente essa: é necessário ao mesmo tempo estimular o altruísmo e regular (pelo altruísmo) o egoísmo

5.7.    Um outro aspecto que devemos considerar é que, se devemos viver para outrem, o nosso altruísmo não se desenvolve nem se mantém no vazio, como pura abstração: ele exige objetos concretos, relações reais

5.7.1. Em outras palavras, o desenvolvimento e a manutenção iniciais do altruísmo necessitam de focalização e personalização

5.7.2. Nosso mestre indicou com clareza, na parte do culto, os objetos de nosso altruísmo; eles são ascendentes, passando de relações pessoais para relações familiares, então para relações cívicas e daí para relações universais

5.7.3. Em outras palavras, começamos com nossas mães, nossos cônjuges, nossos filhos, pais e irmãos; seguimos para nossas famílias ampliadas; então vamos para as relações cívicas (colegas de trabalho, chefes, subordinados, concidadãos, líderes); ampliamos então para a Humanidade; tudo isso começando com relações objetivas mas logo devendo estender-se também para as relações subjetivas

5.7.4. Bem vistas as coisas, essa seqüência ascendente corresponde a uma aplicação da terceira lei dos três estados, ou seja, da lei afetiva (de que tratamos em uma prédica anterior)

5.7.5. Esse desenvolvimento progressivo do altruísmo, para o que estamos tratando aqui, consiste também na ampliação progressiva do “fazer o bem” – mas que, como estamos afirmando, não pode ser “não importa a quem”

5.8.    Um problema relacionado com o do “fazer o bem, não importa a quem” é: como estimular o altruísmo?

5.8.1. A teologia e a metafísica prometem recompensas ou punições; em qualquer caso, os móveis são sempre egoístas

5.8.2. A Religião da Humanidade, a partir da experiência cotidiana e multimilenar, afirma que o altruísmo é a própria recompensa

5.8.3. Como sintetizou com beleza Clotilde de Vaux, “Não há prazeres maiores que os da dedicação”

5.9.    Para concluir estes comentários, quero aproveitar para referir-me a um poema de Teixeira Mendes

5.9.1. Trata-se do Exortação à Fraternidade, que foi composto no aniversário de transformação de Clotilde, ou seja, em 5 de abril de 1911

5.9.2. Esse poema tem o seguinte comentário explicativo: “Ensaio de uma paráfrase positivista do Capítulo XVI, Livro I, da Imitação de Tomás de Kempis, segundo a tradução em verso de Corneille: Como se deve sofrer os defeitos de outrem

5.9.3. Em outras palavras, Teixeira Mendes afirma, ou lembra, que a fraternidade exige que todos tenhamos paciência uns com os outros, pois todos temos defeitos

5.9.4. É claro que o poema todo vale a pena; mas citaremos só as partes III e IV

III. Queremos cada qual sujeito à disciplina,

            Sofrendo a necessária correção;

Revolta-nos, porém, se alguém nos examina,

E à conduta nossa o seu valor assina,

            Realçando qualquer imperfeição.

 

Exprobramos aos mais o quanto d’indulgência

            Consigo têm e o que se dão de gozos;

E é ofensa atroz não ter-se a complacência

De nada recusar, com suma deferência,

            Aos nossos movimentos caprichosos.

 

Estatutos prendendo em rigoroso laço

            Severamente aos outros desejamos;

E, seja de quem for, o mais ligeiro traço,

Ao nosso bel-prazer, criando um embaraço

            D’império absoluto, a mal levamos.

 

Onde se esconde, pois, o férvido Altruísmo,

            Que Viver para outrem nos sugere?

E como então sentir que, ou seja no heroísmo,

Ou na dedicação comum, ou no ascetismo,

            Prazer algum não há que os seus supere.

 

No Mundo, a imperfeição por toda parte abunda,

            A jerarquia eterna acompanhando,

Que, sob a mais grosseira, a lei mais nobre funda;

Somente a paciência, em méritos fecunda

            Essa ordem fatal vai mitigando.

 

IV. É pois na sujeição qu’ensina a Humanidade

            O aperfeiçoamento basear-se;

Não há beleza inteira, ou íntegra bondade;

Assim é dever nosso e nossa felicidade

            Uns aos outros o fardo aliviar-se.

 

Ninguém é sem senão, ninguém é sem fraqueza;

            Ninguém sem precisar d’algum amparo;

Ninguém tem de ciência, em si, assaz riqueza;

Ninguém é forte assaz com a própria fortaleza.

            Para não sentir faltar-lhe apoio caro.

 

Urge pois entre-amar-se, urge pois entre-instruir-se

            Urge pois, em tudo, entre-auxiliar-se;

Urge entre-prestar-se o olhar a dirigir-se;

Urge entre-estender-se a mão conduzir-se;

            Urge um ao outro dar com quem curar-se.

 

Quanto maior a dor, mais fácil prova of’rece

            Até que ponto fora alguém perfeito;

E os golpes mais cruéis que uma alma então padece

Não são que a fazem fraca; apenas se conhece

            Assim o que ela vale com efeito.

6.       Invocação final

 

Referências

- Augusto Comte (franc.), Sistema de filosofia positiva (Paris, Société Positiviste, 5e ed., 1893)

- Augusto Comte (franc.), Sistema de política positiva (Paris, L. Mathias, 1851-1854)

- Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores.

- Augusto Comte (port.), Catecismo positivista (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 4ª ed., 1934)

- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), Prédica "O início do Positivismo: as três leis dos três estados" (Curitiba, Igreja Positivista Virtual, 26.8.2025): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/08/o-inicio-do-positivismo-as-tres-leis.html

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), As últimas concepções de Augusto Comte (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-i e https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-ii.

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), O ano sem par (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1900): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-o-ano-sem-par-portug._202312/page/n7/mode/2up.

- Raimundo Teixeira Mendes (port.): Exortação à Fraternidade (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1911; opúsculo n. 316): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/08/teixeira-mendes-exortacao-fraternidade.html