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30 abril 2025

Prédica positiva: Apelo aos Conservadores

No dia 7 de César de 171 (29.4.2025) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos conservadores (em sua Primeira Parte, dedicada à doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores).


As anotações que serviram de base para a exposição estão reproduzidas abaixo.

*   *   *

Prédica simples – leitura comentada do Apelo aos conservadores

(7.César.171/29.4.2025) 

1.       Invocação inicial

2.       Exortações iniciais

2.1.    Sejamos altruístas!

2.2.    Façamos orações!

2.3.    Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

2.4.    Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

3.       Datas e celebrações:

3.1.    Dia 27 de Arquimedes (21.4): transformaçãodo Papa Francisco

3.2.    Dia 2 de César (24.4): nascimento de Jean-François Robinet (1825 – 200 anos)

3.3.    Dia 9 de César (1.5): Dia do Trabalhador

3.4.    Dia 12 de César (4.5): transformação de Jorge Lagarrigue (1894 – 131 anos); comemoração de J. Lagarrigue, T. Carson, R. Congreve, A. Crompton e outros apóstolos positivistas

3.5.    Dia 13 de César (5.5): nascimento de Cândido Rondon (1865 – 160 anos)

4.       Leitura comentada do Apelo aos conservadores

4.1.    Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

4.1.1. O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

4.1.1.1.             O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

4.1.1.2.             Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

4.2.    Outras observações:

4.2.1. Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

4.2.2. O capítulo em que estamos é a “Primeira Parte”, cujo subtítulo é “Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores”

4.3.    Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

5.       Exortações finais

5.1.    Sejamos altruístas!

5.2.    Façamos orações!

5.3.    Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

5.4.    Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

6.       Invocação final

 

Referências

Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores.

Hector Juan Fiorini (port.), Teoria e técnica de psicoterapias (São Paulo, WMF Martins Fontes, 2013).

Valdir José Morigi, Samile Andréa S. Vanz e Karina Galdino (port.), O bibliotecário e suas práticas na construção da cidadania (Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 7, n. 1, p. 134-147, 2002): https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/390.

18 abril 2025

Livro disponível na internet: "A mulher"

Está disponível no Internet Archive o famoso e importante opúsculo de Raimundo Teixeira Mendes intitulado A mulher. Ele documento integra a coleção da Igreja Positivista do Brasil sob o número 273 e corresponde à versão escrita de uma conferência feita pelo apóstolo da Humanidade em 26 de Frederico de 54/110 (30.11.1908).

A publicação está disponível aqui: https://archive.org/details/n.-273-a-mulher.



16 abril 2025

A expressão "Conciliante de fato, inflexível em princípio"

No dia 21 de Arquimedes de 171 (15.4.2025) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos Conservadores (em sua Primeira Parte, dedicada à doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores).

Na parte do sermão apresentamos e explicamos a expressão "Conciliante de fato, inflexível em princípio), que é tanto um conselho prático-político quanto uma recomendação de sabedoria e de espiritualidade positiva.

Nessa ocasião também inauguramos o nosso canal no Instagram, neste endereço: Instagram.com/IgrejaPositivistaVirtual.

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://youtube.com/live/fuNp6YqUOLE) e Igreja Positivista Virtual.

As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

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A expressão “Conciliante de fato, inflexível em princípio”

(21.Arquimedes.171/15.4.2025) 

1.       Invocação inicial

2.       Exortações iniciais

2.1.    Sejamos altruístas!

2.2.    Façamos orações!

2.3.    Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

2.4.    Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

3.       Datas e celebrações:

3.1.    Dia 22 de Arquimedes (16.4): nascimento de Ivan Lins (1904 – 121 anos)

3.2.    Dia 25 de Arquimedes (19.4): Dia do Índio

3.3.    Dia 27 de Arquimedes (21.4): Dia de Tiradentes

3.4.    Dia 28 de Arquimedes (22.4): Descoberta do Brasil (1500)

3.5.    Dia 28 de Arquimedes (22.4): sem prédica, devido ao evento organizado em parceria com a Igreja Positivista do Rio Grande do Sul: Abdon Nascimento: “Turismo paleontológico”

4.       Início da transmissão no Instagram

4.1.    Endereço: Instagram.com/IgrejaPositivistaVirtual

4.2.    As transmissão via Instagram ocorrerão em substituição às ocorridas no Facebook; ainda assim, é claro que o canal no Facebook permanece existindo

5.       Leitura comentada do Apelo aos conservadores

5.1.    Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

5.1.1. O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

5.1.1.1.             O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

5.1.1.2.             Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

5.2.    Outras observações:

5.2.1. Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

5.2.2. O capítulo em que estamos é a “Primeira Parte”, cujo subtítulo é “Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores”

5.3.    Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

6.       Sermão: a expressão “conciliante de fato, inflexível em princípio”

6.1.    Como sabemos e como afirmamos sempre, o Positivismo é uma religião, ou seja, um sistema geral de regulação do conjunto da existência humana

6.1.1. Assim, ele não somente explica a existência humana, mas, mais importante, oferece parâmetros e princípios para a condução das nossas vidas

6.1.2. Além das regras gerais, elaboradas a partir do estudo da realidade humana, Augusto Comte oferece inúmeros conselhos específicos, práticos, para vários aspectos das nossas vidas

6.1.3. Entre esses conselhos específicos está a máxima “conciliante de fato, inflexível em príncípio”

6.1.4. Essa máxima tem aplicação direta na vida de cada um de nós, não somente em termos políticos, mas em termos gerais

6.1.4.1.             Assim, ela é um ótimo conselho prático, ou seja, ela é um exemplo da sabedoria prática valorizada e estimulada pelo Positivismo

6.2.    Em algum lugar, Augusto Comte afirmou: “Conciliant en fait, inflexible en principe

6.2.1. Eu procurei em várias obras de Augusto Comte essa citação, seja nas minhas anotações pessoais, seja em arquivos PDF: mas não consegui encontrar a citação original

6.2.2. A única citação mais ou menos textual que consegui obter foi na coletânea de Georges Duherme, Pensamentos e preceitos de Augusto Comte (Paris, Bernard Grasset, 1924, 5ª ed., p. 18): entretanto, o autor apenas colecionou citações, organizadas por grandes áreas (filosofia, política, moral), sem indicar a origem das citações

6.3.    Para tratarmos dessa máxima, convém notarmos que, em português, há uma diferença entre “em princípio” e “a princípio”; assim, para os lusofalantes, essa diferença é muito importante:

6.3.1. “A princípio” significa “no começo”: “ela começou a correr a princípio”

6.3.2. Já “em princípio” significa “por uma questão de princípios, por uma questão de valores fundamentais”: “não bebo em princípio”

6.4.    A fórmula “Conciliante de fato, inflexível em princípio”, então, conjuga duas concepções, duas exigências:

6.4.1. Por um lado, nós, positivistas, temos nossas concepções e nossos valores e não os sacrificamos de um ponto de vista teórico;

6.4.2. Por outro lado, a vida social exige compromissos, aceitação de limitações, acordos variados

6.4.3. Em outras palavras, a fórmula “Conciliante...” indica que não abrimos mão de nossos valores e de nossas concepções mas, considerando as necessidades sociais e políticas concretas, podemos – até devemos – aceitar na prática compromissos concretos

6.5.    A fórmula “Conciliante...” corresponde à aplicação prática do aspecto orgânico do Positivismo

6.5.1. Isso se dá porque temos uma preocupação em sermos convergentes, em colaborarmos (ativa ou passivamente) para a melhoria social, nos mais variados ambientes

6.5.2. De um ponto de vista filosófico, o aspecto orgânico opõe-se ao crítico; na prática política, isso se contrapõe à oposição sistemática, à oposição pela oposição

6.6.    Alguns exemplos bastante simples, diretos e importantes da aplicação do princípio “Conciliante...”:

6.6.1. No início da República brasileira, Miguel Lemos e Teixeira Mendes propuseram leis e projetos de leis, incluindo para a separação entre a igreja e o Estado e para a constituição federal: muitas dessas sugestões foram aceitas, mas outras não; sem deixar de criticar (e de justificar as críticas), eles acabaram apoiando em termos gerais as leis aprovadas (fosse o Decreto n. 119-A, de 7 de janeiro de 1890, que estabeleceu a separação entre igreja e Estado, fosse a Constituição Federal de 24 de fevereiro de 1891)

6.6.2. Em 18 de outubro de 2022 lançamos o manifesto “A bandeira nacional republicana não é fascista” (https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR127657); em 28 de agosto de 2024 lançamos o manifesto “Programa republicano mínimo – Orientações para o voto no dia 6 de outubro” (https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2024/08/programa-republicano-minimo-orientacoes.html): em ambos os casos, como se pode comprovar diretamente nos textos, fizemos críticas à chamada “democracia”, devido aos graves problemas morais, filosóficos e políticos que ela apresenta; mas as críticas à chamada democracia jamais nos conduziu a defender o autoritarismo e/ou a negar as liberdades e as garantias legais atualmente existentes

6.6.3. Por motivos similares, em janeiro de 2025 solicitamos adesão à rede “Pacto pela Democracia” (https://www.pactopelademocracia.org.br/)

6.6.3.1.             Entretanto, talvez porque somos um canal pequeno, até o momento não tivemos nenhuma resposta

6.7.    A fórmula “Conciliante...” aplica, então, o relativismo do Positivismo; aliás, ao contrário do que os críticos afirmam, é exatamente devido a esse relativismo, é exatamente devido à preocupação em sermos conciliantes que não somos fanáticos, nem intolerantes, nem “inflexíveis”

6.8.    Mas é necessário notar que a conciliação de fato tem seus próprios limites, dados pela natureza dos princípios que defendemos:

6.8.1. Os princípios são os do altruísmo, da tolerância, do respeito ao ser humano, da não violência, do pacifismo, da dignidade humana

6.8.2. Dessa forma, situações que frontalmente ferirem nossos princípios e, em particular, a dignidade humana são inaceitáveis: a promoção do ódio e da violência, as guerras de conquista, a promoção e a prática da escravidão; humilhações diversas; a censura; o colonialismo, o genocídio e explorações; mas também o academicismo, o cientificismo, a subserviência

6.8.3. Nos casos em que a dignidade humana é desrespeitada, a atitude dos positivistas – como órgãos e representantes de um poder Espiritual – varia entre a crítica aberta e a cessação do concurso, incluindo aí as greves, a desobediência civil e até o martírio

6.9.    Ainda a respeito do relativismo, devemos notar que a fórmula “Conciliante” não se baseia em cálculos políticos de conveniência – cálculos que geralmente se transformam, ou que se disfarçam, em preocupações mesquinhas e egoístas –: o nosso relativismo baseia-se na preocupação em unir (em “conciliar”) a ordem e o progresso

6.9.1. A união da ordem com o progresso é possível porque nós, positivistas – e somente nós, positivistas –, reconhecemos ao mesmo tempo as necessidades da ordem e as exigências do progresso, unidas pelo amor

6.9.2. Uma outra forma de entender a conciliação entre a ordem e o progresso é o reconhecimento da legitimidade de determinadas concepções das perspectivas que defendem a ordem e o progresso

6.9.3. Em outras palavras, ao adotarmos uma perspectiva global, uma visão de conjunto, rejeitamos os particularismos e os vieses unilaterais

6.10.                     A fórmula “Conciliante de fato, inflexível em princípio” representa, no fundo, a distinção entre teoria e prática:

6.10.1.   A teoria corresponde aos princípios gerais e abstratos, válidos em todas as situações abstratas

6.10.2.   A prática corresponde à aplicação dos princípios em casos concretos

6.10.3.   A diferença entre a teoria abstrata e a prática concreta não é somente de abstração, mas tem a ver com as características da abstração: ela é sempre parcial e ignora as particularidades de cada caso; em oposição a isso, os casos concretos são totais e sofrem a influência simultânea de inúmeros fatores

6.11.                     Uma última observação, referente à política atual

6.11.1.   De modo geral, ao propor os temas das prédicas, faço considerações gerais, mais ou menos abstratas; com freqüência comento aspectos atuais, mas são comentários feitos de passagem e de improviso

6.11.2.   Contudo, no presente caso, convém ser explícito a respeito de um problema concreto, para evitar qualquer ambigüidade a respeito

6.11.3.   Consideramos que a fórmula “Conciliante de fato, inflexível em princípio” nominalmente não se aplica à articulação em curso, especialmente entre partidos políticos “do Centrão”, a favor da suposta anistia aos participantes da tentativa de golpe de Estado ocorrida entre novembro de 2022 e janeiro de 2023

6.11.3.1.          Esse é um dos citados casos em que a dignidade humana, o altruísmo, o relativismo exigem que não se aceitem compromissos

6.12.                     Em suma:

6.12.1.   A fórmula “Conciliante de fato, inflexível em princípio” corresponde ao mesmo tempo à força das nossas convicções e ao esforço em favor da convergência

6.12.2.   Essa fórmula tem uma inspiração geral política, mas pode e deve ser aplicada a todos os âmbitos da nossa vida social; assim, ela é mais um bom exemplo da espiritualidade positiva

6.12.3.   A “conciliação de fato” não corresponde, de maneira nenhuma, a transigirmos com situações imorais e indignas (humilhações, explorações, genocídios etc.)

6.12.4.   A fórmula consiste na aplicação da organicidade e do relativismo e também representa a distinção entre a teoria e a prática

7.       Exortações finais

7.1.    Sejamos altruístas!

7.2.    Façamos orações!

7.3.    Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

7.4.    Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

8.       Invocação final

 

Referências

Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

Georges Duherme (franc.), Pensamentos e preceitos de Augusto Comte (Paris, Bernard Grasset, 1924, 5ª ed.): https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k30755817?rk=107296;4

Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), “Augusto Comte – A positividade filosófica como quarto estágio intelectual” (Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 27, n. 2): https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/80260/42103

Manifesto “A bandeira nacional republicana não é fascista”, de 18 de outubro de 2022: https://peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR127657

Manifesto “Programa republicano mínimo – Orientações para o voto no dia 6 de outubro”, de 28 de agosto de 2024: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2024/08/programa-republicano-minimo-orientacoes.html


14 abril 2025

Monitor Mercantil: A validade do "Ordem e Progresso"

No dia 14.4.2025 o jornal carioca Monitor Mercantil publicou o nosso artigo "A validade do 'Ordem e Progresso'".

A versão eletrônica do texto encontra-se disponível aqui: https://monitormercantil.com.br/a-validade-do-ordem-e-progresso/.

A versão original do texto está reproduzida abaixo.

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A validade do “Ordem e Progresso”

 

A ninguém escapa o aspecto profundamente dividido da sociedade e da política atuais; essa divisão por vezes é afirmada na oposição “direita-esquerda”, mas ela também pode ser estabelecida como “reacionários vs. revolucionários”. Esses vários termos descrevem clivagens profundas, sem oferecerem soluções para o problema de fundo. Ora, é nesse quadro que se justifica e ganha renovada relevância a fórmula positivista “Ordem e Progresso”.

Quando Augusto Comte (1798-1857) – o fundador da Sociologia, da História das Ciências e do Positivismo – propôs a fórmula “Ordem e Progresso”, no início do século XIX, o quadro que ele tinha à sua frente era muito parecido com o que vivemos atualmente. Por um lado, ocorriam profundas e necessárias mudanças sociais, que eram tanto uma questão de fato (as mudanças ocorriam de qualquer maneira) quanto uma questão de valores (as mudanças eram desejadas): esses processos foram resumidos nos debates e nos choques da Revolução Francesa (1789-1798). Por outro lado, havia resistências às mudanças – e essas resistências aconteciam também como realidades sociopolíticas e como valores. Os defensores das mudanças eram revolucionários; os resistentes às mudanças eram reacionários.

Para o liberalismo político, a disputa entre revolucionários e reacionários era, e é, apenas a disputa entre “situação” e “oposição”, que devem alternar-se no poder do Estado e na direção geral da sociedade. A idéia da alternância entre situação e oposição tem um aspecto central e importantíssimo de civilizar a disputa, impedir a violência e estimular a tolerância; mas essa idéia serve apenas para isso: ela não explica a origem do problema nem propõe nenhuma solução efetiva de longo prazo.

Em face da dramática disputa política, social e moral entre revolucionários e reacionários, Comte percebeu que ela é devido a uma dinâmica histórica mais ampla e mais profunda, decorrente de processos contados em séculos e vinculada a necessidades humanas efetivas. Com um orgulho estranho e chocante, muito da sociologia atual afirma que despreza as teorias gerais da sociedade e as concepções históricas amplas. À parte a irracionalidade radical desse desprezo, isso impede que se entenda de maneira profunda e cuidadosa o ser humano em geral e o Ocidente em particular. Ora, as investigações de Comte (1) evidenciaram que toda sociedade conjuga instituições que mantêm a unidade social ao longo do tempo e que permitem que ocorram mudanças ao longo do tempo (são a Estática e a Dinâmica sociais); (2) Comte descobriu que ao longo do tempo o Ocidente desenvolveu a filosofia, a política e a afetividade mas que, desde a Idade Média, desenvolvem-se processos intensos opondo a ordem ao progresso (incluindo aí a ciência, a tecnologia, o “capitalismo” etc.).

Esse entendimento conduziu o fundador da Sociologia a reconhecer de uma única vez vários aspectos importantes:

(1) a mera justaposição liberal entre revolucionários e reacionários não resolve nada e, considerando as possibilidades de choques, violências etc., com freqüência essa justaposição serve apenas para estimular as disputas;

(2) embora os termos empregados pelos próprios grupos revolucionários e reacionários para exprimir suas concepções políticas, morais e filosóficas sejam com freqüência equivocados, essas concepções apresentam aspectos importantes e verdadeiros;

(3) sem ignorar que as sociedades têm sempre aspectos de disputas políticas e sociais, o fato é que a oposição entre revolucionários e reacionários é mais profunda que as disputas políticas habituais e sua solução envolve a ultrapassagem simultânea das pressões contraditórias entre revolucionários e reacionários, por meio do reconhecimento dos aspectos legítimos de seus programas e da rejeição de seus extremismos e seus erros.

Em outras palavras, o “Ordem e Progresso”, então, surge como um programa múltiplo: ao mesmo tempo ele é a afirmação de aspectos sociológicos (as condições de ordem, as exigências do progresso), o reconhecimento da legitimidade de perspectivas divergentes (reacionários e revolucionários) e a afirmação de que a solução do problema exige a ultrapassagem conjunta das perspectivas opostas, reconhecendo-se o que elas têm de real, útil, relativista e orgânico.

Basta um pouco de atenção e honestidade para perceber-se que o quadro descrito por A. Comte no início do século XIX é, infelizmente, ainda o nosso no início do século XXI. Por certo que muitas coisas mudaram, alguns problemas surgiram e outros agravaram-se: mas a dinâmica social fundamental, baseada em problemas profundos, ainda é exatamente a mesma indicada pelo fundador da Sociologia. Mais do que isso: não apenas o diagnóstico proposto por ele é o mesmo como, ainda mais importante, a solução proposta é a mesma. Frente a tal programa, os pares direita-esquerda, situação-oposição e até revolucionários-reacionários tornam-se banais, mesmo simplistas e esquemáticos. É claro que no dia a dia esses pares são operacionais: mas elas são úteis exatamente porque são superficiais.

Para concluir, dois comentários da política atual.

As explicações correntes que direita e esquerda dão do “Ordem e Progresso” ignoram totalmente as reflexões acima e evidenciam os seus próprios preconceitos. A direita costuma desprezar o progresso, visto como ateísmo ou revolucionarismo: o marxismo é o grande símbolo desses traços, mas isso nada tem a ver com A. Comte. Já a esquerda entende a ordem como capitalismo, paz de cemitério, violência autoritária: novamente o marxismo é o grande promotor dessas concepções, que, novamente, nada têm a ver com Augusto Comte. A direita quer a ordem, sacrificando o progresso; a esquerda quer o progresso, sacrificando a ordem: em ambos os casos, suas concepções são estreitas e enviesadas, suas propostas são contraditórias, parciais e desastrosas.

Além disso, vários artistas brasileiros, bem intencionados mas ignorantes, têm difundido nos últimos anos o mito de que o “Ordem e Progresso” sacrifica o “Amor”, afirmado por Augusto Comte na expressão “O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim”. Esperamos ter deixado claro que isso é um erro; são fórmulas distintas, com objetivos diferentes. Mas o amor não está ausente do “Ordem e Progresso”: a superação das perspectivas parciais e contraditórias só é possível com e pelo amor: a palavra “E”, que liga a ordem ao progresso, subentende o amor.

 

Gustavo Biscaia de Lacerda é sociólogo da UFPR e doutor em Sociologia Política.