Este blogue é dedicado a apresentar e a discutir temas de Filosofia Social e Positivismo, o que inclui Sociologia e Política. Bem-vindo e boas leituras; aguardo seus comentários! Meu lattes: http://lattes.cnpq.br/7429958414421167. Pode-se reproduzir livremente as postagens, desde que citada a fonte.
17 agosto 2025
22 maio 2025
João Montenegro Cordeiro: "O Apóstolo Teixeira Mendes (Narração aos moços)"
1855-1927
João Montenegro Cordeiro
O APÓSTOLO TEIXEIRA MENDES
(Narração aos moços)
Vi-o no albor da vida, em sôfregos elances,
Matemática ler como outros lêem romances...
Fervoroso, entretanto, olhos levar e ouvidos
Ao quadro de aflições, ao coro de gemidos
Que o Mundo ora apresenta em seu vasto recinto,
E em vez de se perder no icário labirinto
Das ciências sem termo e sem continuidade,
Mais alto o arrebatar o anseio da verdade
Para a Concórdia humana!
Ardego
vi-o então
O rumo demandar que lhe apontava a mão
Destra e forte e leal do gênero que primeiro
A estrela da manhã, perspícuo, alvissareiro,
Lobrigou entre nós.
Sem
falsos tateamentos,
O ímpeto a refrear dos pessoais intentos,
Alheio a glórias vãs, a mundanos agrados,
Pelos firmes degraus dos volumes sagrados,
Vi-o a escada subir – lógico moralista! –
Que do número leva à síntese altruísta.
E a luta começou!... Luta antiga, porém
Sempre nova e sem fim; luta entre o Mal e o Bem.
Luta entre o Anjo e o Demônio; a alma livre e a alma
escrava,
Que em torrentes de sangue e lágrimas se trava
Fora e dentro de nós, sem tréguas, noite e dia,
Em busca do equilíbrio, em prol da simpatia.
Do norte ao sul vi neste país inteiro,
Trêmulo de emoção vi também no estrangeiro.
Sua alma, confundida à do maior Andrada,
Palpitar na bandeira aos ventos desfraldada.
E em meio ao turbilhão efêmero e cambiante
Onde se agita e passa a turba delirante
Grandezas desejando e misérias sofrendo
Num choque de ambições desesperado e horrendo,
Nesse culto ideal de pureza e bondade,
Feito com devoção no altar da Humanidade,
Quem viu um facho igual, de tamanho fulgor,
Sem esmorecimento a irradiar o Amor,
Qual possante farol na escuridão cerrada
Ao náufrago, indicando o porto de chegada?!...
Exultante de fé vi-o na praça pública
O monumento erguer do obreiro da República
Onde à população se ostenta, soberana,
A estátua universal a Providência humana!
Velho, mas sempre moço, eu vi-o finalmente
Reacender entre nós a um público descrente,
A leiga admiração ao católico santo
Cuja feição moral ele nos lembra tanto.
Graças a isso o homem triste, arrastando o seu tédio
P’las ruas da cidade em busca de remédio,
Vai d’ora avante achar, como fonte de alívio
As males da consciência, em afável convívio,
S. Francisco de Assis aos pés de Santa Clara,
Cheio de meiga unção e na atitude cara,
No cérebro extasiado ouvindo murmurar
Prelúdios do Hino ao
Sol, místico e popular...
Curado o enfermo aí do estéril desalento,
Renascendo ao Amor pelo apaziguamento
De instintos pessoais, de errôneas opiniões,
Herdeiro sentir-se-á das idas gerações
Compreendendo enfim que às gerações futuras
Algo cumpre legar de inefáveis venturas,
E alegre, ao assumir uma nova conduta,
O homem regenerado antes de entrar na luta,
Bendirá certamente o apóstolo moderno
Que esse marco plantou no transitar eterno.
Em nume subjetivo o transformando a Morte,
O Mundo a levantar com seu ânimo forte,
Vejo-o hoje ancião glorioso, e entanto, pobre e humilde,
Mas filho espiritual de Comte e de Clotilde!
Rio de Janeiro, 2 de Dante de
139
17
de julho de 1927
Montenegro Cordeiro.
11 maio 2025
Diálogo sobre o sincretismo no Positivismo 2
Dando continuidade à postagem do dia 7 de maio (“Diálogo sobre o sincretismo no Positivismo 1“), apresentamos uma outra resposta sobre o mesmo tema, de nossa autoria e de caráter mais filosófico-intelectual e dada no dia 11.5.2025.
* * *
Estudante
Uma pergunta, que pode parecer
bobagem. Nas religiões afro-brasileiras é comum o sincretismo dos santos
católicos com os orixás (São Jorge = Ogum etc.) por questões históricas. No
Positivismo em algum momento houve o sincretismo da Humanidade com a Virgem
Maria? Os positivistas podem associar os dois símbolos (Humanidade e Maria) nos
cultos? Seja em particular, seja em público – por exemplo, fazendo um altar
positivista com a imagem de Maria.
Gustavo
Caro ***: tudo bem? Bom dia.
A sua pergunta dá o que pensar. Eu
estava redigindo uma resposta mas, à medida que escrevia, dava-me conta de
outros aspectos, em particular em termos do significado do “sincretismo”.
Veja só: o sincretismo significa a
mistura de cultos e dogmas distantes, na verdade incompatíveis entre si: os
cultos afro-brasileiros, por exemplo, misturam cultos fetichistas e politeístas
(de origem africana e mesmo indígena) com cultos monoteístas (o mais das vezes
católico, mas também islâmicos). No final das contas, o monoteísmo é absorvido
pelo politeísmo; de outra maneira, não seria possível essa incorporação; além
disso, para empregar a expressão que você usou, trata-se mesmo de uma
“ressignificação” do monoteísmo nos termos do politeísmo.
A incompatibilidade dos dogmas – na
verdade, trata-se disso, mais que de incompatibilidade dos cultos –, no caso
dos cultos afro-brasileiros, resolve-se pela absorção dos monoteísmos pelos
politeísmos. Isso é próprio à natureza dos politeísmos, em que, no sincretismo,
as grandes divindades monoteístas simplesmente passam a integrar o panteão; já
os monoteísmos até aceitam integrar a si os politeísmos, na forma de seres
inferiores à deidade principal (anjos, dervixes, demônios e até santos).
Insisto na noção de sincretismo como
incorporação de um dogma a outro porque, no fundo, o problema consiste muito
mais em problemas de dogma que de culto; trata-se de incorporar a lógica de um
sistema à do outro, embora sejam práticas cultuais. Mas enquanto na teologia os
dogmas submetem-se a partir da modificação de sua própria lógica, no
Positivismo nós aplicamos o relativismo e, ao mesmo tempo, (1) positivamos o
que há de positivável nos demais dogmas e, de qualquer maneira, (2)
reconhecemos a origem histórica (no caso, teológica) desses demais dogmas.
Assim, se for o caso de compartilharmos um determinado culto (e é claro que nem
todos os cultos podem nem devem ser compartilhados), ele será positivado e sua
origem será reconhecida e valorizada. O exemplo dado antes pelo Hernani, de
Prometeu, é realmente um ótimo exemplo, assim como os demais tipos mitológicos
(ou míticos) do mês de Moisés, incluindo aí o próprio Moisés.
O relativismo positivista permite,
então, a incorporação de todos os cultos (o que, insisto, não significa a
incorporação da totalidade de todos os cultos), mas sempre com a condição de
sua positivação, isto é, de sua relativização. Esse procedimento, que é o
sincretismo em ação – pelo menos, uma concepção positiva do sincretismo –, é a
única forma possível de ao mesmo tempo respeitar todos os cultos e de
incorporá-los à vida religiosa da Humanidade, sem injustiça para os cultos
anteriores e sem incoerência para conosco. Sendo mais direto e mais claro: o sincretismo positivo é a única forma de
praticar um verdadeiro universalismo religioso; todas as outras formas incorrem
nos defeitos moral, intelectual e prático (1) de exclusão, ou (2) de
deturpação, ou (3) de incoerência (ou uma combinação deles).
Se minha pretensão é aceitável, estes meus comentários são uma formulação mais intelectual e filosófica e, espero, equivalente, das reflexões mais cultuais e religiosas feitas anteriormente pelo Hernani.
07 maio 2025
Diálogo sobre o sincretismo no Positivismo 1
O texto
abaixo corresponde a uma versão editada de um diálogo que ocorreu no dia 6 de
maio de 2025, em um grupo do Whattsapp que trata do Positivismo e da Religião
da Humanidade. Esse diálogo foi motivado por um participante do grupo, um jovem
estudante interessado no Positivismo, que, em meio às conversas do grupo, teve
uma dúvida sobre o sincretismo religioso. As respostas foram dadas por Hernani
Gomes da Costa. Esse diálogo foi tão esclarecedor que julgamos valer a pena
publicá-lo.
O diálogo foi
editado com dois objetivos principais: por um lado, adequar a conversa a uma
versão publicada; por outro lado, preservar a privacidade do estudante.
* * *
Estudante
Uma pergunta,
que pode parecer bobagem. Nas religiões afro-brasileiras é comum o sincretismo
dos santos católicos com os orixás (São Jorge = Ogum etc.) por questões
históricas. No Positivismo em algum momento houve o sincretismo da Humanidade
com a Virgem Maria? Os positivistas podem associar os dois símbolos (Humanidade
e Maria) nos cultos? Seja em particular, seja em público – por exemplo, fazendo
um altar positivista com a imagem de Maria.
Hernani
Excelente
pergunta! O Positivismo procura antes de tudo compreender qual foi o processo
de construção dos símbolos, bem como as razões pelas quais eles se tornam
populares durante um tempo e são em seguida substituídos por outros.
Nesse
sentido, interpretamos a Virgem Mãe como representando o ideal humano que
consiste no máximo de pureza e de ternura juntos. A pureza significa a
compressão do egoísmo e é representada pela idéia da Virgem; a ternura é a
expansão do altruísmo, representada, no caso, pela idéia da mãe. A necessidade
sociológica e moral que criou esse símbolo obedeceu inconscientemente a uma
tentativa de conjugar a pureza e a ternura numa só imagem.
O sincretismo
operou-se em todas as religiões de modo inconsciente e espontâneo, mediante as
associações formadas entre as idéias de vários deuses que se assemelhavam em
seus papéis e personalidade. A proposta do Positivismo é a de tornar esse
processo sincrético algo consciente e deliberado, de modo a assim
sistematizá-lo.
Augusto Comte
manifestou o desejo de que as futuras representações de imagens da Humanidade
tivessem os traços de Clotilde de Vaux. Mas ele também elegeu uma imagem
católica de sua preferência.
Tudo quanto
importa no caso, portanto, é que não haja confusão entre as crenças. Qualquer
símbolo que estimule o amor pode integrar o altar. Seja de que religião for. Mas
esse culto se tornará de fato sobrenatural se os símbolos que adotarmos ainda
se referirem às crenças originais correspondentes aos mitos, tais como eles
foram a princípio imaginados.
Estudante
Compreendo. Então
o sincretismo dentro do positivismo pode ser benéfico se não misturamos os
significados. É necessário ressignificar o símbolo.
Hernani
Sim! O
símbolo pode ser ressignificado de pelo menos duas formas. Mantendo sua identidade original e mudando seu modo de sua existência; de objetiva para
subjetiva. Ou então cultuando-o segundo uma interpretação
nova. Vejamos um exemplo. Podemos historicamente cultuar Prometeu na
qualidade de uma criação mítica da Humanidade que veio a compor certa religião.
Nesse caso mantivemos o conteúdo original da idéia de Prometeu, e apenas
mudamos sua existência, de objetiva para subjetiva. Mas podemos também ver
Prometeu como símbolo que representa o primeiro ser humano a obter fogo através
de fricção. Nesse último caso o símbolo de Prometeu sofreu uma mudança de
significado, passando a representar uma outra idéia. (Citei Prometeu pelo fato
de ele representar o primeiro dia do ano no Calendário Positivista concreto).
13 novembro 2024
Comemorações de 171-237 (2025)
COMEMORAÇÕES DE 171-237 (2025)
Centenários
|
Nome |
Vida |
Comemoração |
Calendário |
J.-G. |
1.
|
535 ac-475 ac |
2500 anos morte |
3.Aristóteles |
28.fev. |
|
2.
|
1625-1672 |
400 anos nasc. |
11.Frederico |
15.nov. |
|
3.
|
125-181 |
1900 anos nasc. |
20.Homero |
17.fev. |
|
4.
|
1525-1594 |
500 anos nasc. |
22.Shakespeare |
1.out. |
|
5.
|
1225-1274 |
800 anos nasc. |
7.Descartes |
14.out. |
“Cinqüentenários”
|
Nome |
Vida |
Comemoração |
Calendário |
J.-G. |
6.
|
92-175 |
1850 anos morte |
19.Aristóteles |
16.mar. |
|
7.
|
1313-1375 |
650 anos morte |
2.Dante |
17.jul. |
|
8.
|
1675-1751 |
350 anos nasc. |
11.Gutenberg |
23.ago. |
|
9.
|
1475-1564 |
550 anos nasc. |
9.Dante |
24.jul. |
|
10.
|
475-545 |
1550 anos nasc. |
22.Carlos Magno |
9.jul. |
|
11.
|
1802-1875 |
150 anos morte |
9.Gutenberg |
21.ago. |
Positivistas
brasileiros
N. |
Nome |
Vida |
Comemoração |
Calendário |
J.-G. |
12.
|
1875-1974 |
150 anos nasc. |
13.Carlos Magno |
30.jun. |
|
13.
|
1901-1975 |
50 anos morte |
27.São Paulo |
16.jun. |
Positivistas não
brasileiros
N. |
NOME |
VIDA |
COMEMORAÇÃO |
CALENDÁRIO |
J.-G. |
14.
|
1823-1875 |
150 anos morte |
10.São Paulo |
30.maio |
|
15.
|
1825-1910 |
200 anos nasc. |
7.Bichat |
9.dez. |
|
16.
|
1875-1946 |
150 anos nasc. |
27.São Paulo |
16.jun. |
|
17.
|
1825-1899 |
200 anos nasc. |
2.César |
24.abr. |
|
18.
|
1825-1890 |
200 anos nasc. |
22.Shakespeare |
1.out. |
|
19.
|
1848-1925 |
100 anos morte |
7.Arquimedes |
abr. |
|
20.
|
1825-1902 |
200 anos nasc. |
19.Homero |
16.fev. |
|
21.
|
?-1925 |
100 anos morte |
4.Homero |
fev. |
FONTES:
Wikipédia; “Apêndice” de Apelo aos
conservadores (autoria de Augusto Comte; Rio de Janeiro: Igreja Positivista
do Brasil, 1899), organizado por Miguel Lemos; Comité des travaux historiques
et scientifiques (http://cths.fr/).
NOTAS:
1)
As
datas de vida foram pesquisadas na internet (basicamente na wikipédia),
considerando que esse procedimento permitiria obter o que há de mais atualizado
a respeito das diversas biografias; além disso, cotejaram-se essas datas com as
disponíveis no “Apêndice” do Apelo aos
conservadores.
2)
Letras
maiúsculas em negrito: nomes de meses.
3)
Letras
maiúsculas simples: chefes de semanas.
4)
Letras
em itálico: tipos adjuntos, considerados titulares nos anos bissextos.
5) Os artigos da Wikipédia foram selecionados basicamente em português, mas em diversos casos ou só havia em outra(s) língua(s) ou eram melhores em outra(s) língua(s) (espanhol, francês, inglês).