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22 maio 2025

João Montenegro Cordeiro: "O Apóstolo Teixeira Mendes (Narração aos moços)"



O APÓSTOLO TEIXEIRA MENDES

1855-1927

João Montenegro Cordeiro                    

  

O APÓSTOLO TEIXEIRA MENDES

(Narração aos moços)


Vi-o no albor da vida, em sôfregos elances,

Matemática ler como outros lêem romances...

Fervoroso, entretanto, olhos levar e ouvidos

Ao quadro de aflições, ao coro de gemidos

Que o Mundo ora apresenta em seu vasto recinto,

E em vez de se perder no icário labirinto

Das ciências sem termo e sem continuidade,

Mais alto o arrebatar o anseio da verdade

Para a Concórdia humana!

 

                        Ardego vi-o então

O rumo demandar que lhe apontava a mão

Destra e forte e leal do gênero que primeiro

A estrela da manhã, perspícuo, alvissareiro,

Lobrigou entre nós.

 

                        Sem falsos tateamentos,

O ímpeto a refrear dos pessoais intentos,

Alheio a glórias vãs, a mundanos agrados,

Pelos firmes degraus dos volumes sagrados,

Vi-o a escada subir – lógico moralista! –

Que do número leva à síntese altruísta.

 

E a luta começou!... Luta antiga, porém

Sempre nova e sem fim; luta entre o Mal e o Bem.

Luta entre o Anjo e o Demônio; a alma livre e a alma escrava,

Que em torrentes de sangue e lágrimas se trava

Fora e dentro de nós, sem tréguas, noite e dia,

Em busca do equilíbrio, em prol da simpatia.

 

Do norte ao sul vi neste país inteiro,

Trêmulo de emoção vi também no estrangeiro.

Sua alma, confundida à do maior Andrada,

Palpitar na bandeira aos ventos desfraldada.

 

E em meio ao turbilhão efêmero e cambiante

Onde se agita e passa a turba delirante

Grandezas desejando e misérias sofrendo

Num choque de ambições desesperado e horrendo,

Nesse culto ideal de pureza e bondade,

Feito com devoção no altar da Humanidade,

Quem viu um facho igual, de tamanho fulgor,

Sem esmorecimento a irradiar o Amor,

Qual possante farol na escuridão cerrada

Ao náufrago, indicando o porto de chegada?!...

 

Exultante de fé vi-o na praça pública

O monumento erguer do obreiro da República

Onde à população se ostenta, soberana,

A estátua universal a Providência humana!

 

Velho, mas sempre moço, eu vi-o finalmente

Reacender entre nós a um público descrente,

A leiga admiração ao católico santo

Cuja feição moral ele nos lembra tanto.

Graças a isso o homem triste, arrastando o seu tédio

P’las ruas da cidade em busca de remédio,

Vai d’ora avante achar, como fonte de alívio

As males da consciência, em afável convívio,

S. Francisco de Assis aos pés de Santa Clara,

Cheio de meiga unção e na atitude cara,

No cérebro extasiado ouvindo murmurar

Prelúdios do Hino ao Sol, místico e popular...

 

Curado o enfermo aí do estéril desalento,

Renascendo ao Amor pelo apaziguamento

De instintos pessoais, de errôneas opiniões,

Herdeiro sentir-se-á das idas gerações

Compreendendo enfim que às gerações futuras

Algo cumpre legar de inefáveis venturas,

E alegre, ao assumir uma nova conduta,

O homem regenerado antes de entrar na luta,

Bendirá certamente o apóstolo moderno

Que esse marco plantou no transitar eterno.

 

Em nume subjetivo o transformando a Morte,

O Mundo a levantar com seu ânimo forte,

Vejo-o hoje ancião glorioso, e entanto, pobre e humilde,

Mas filho espiritual de Comte e de Clotilde!

 

Rio de Janeiro, 2 de Dante de 139

                                    17 de julho de 1927

 

Montenegro Cordeiro.

11 maio 2025

Diálogo sobre o sincretismo no Positivismo 2

Dando continuidade à postagem do dia 7 de maio (“Diálogo sobre o sincretismo no Positivismo 1“), apresentamos uma outra resposta sobre o mesmo tema, de nossa autoria e de caráter mais filosófico-intelectual e dada no dia 11.5.2025. 

*   *   *


Estudante

Uma pergunta, que pode parecer bobagem. Nas religiões afro-brasileiras é comum o sincretismo dos santos católicos com os orixás (São Jorge = Ogum etc.) por questões históricas. No Positivismo em algum momento houve o sincretismo da Humanidade com a Virgem Maria? Os positivistas podem associar os dois símbolos (Humanidade e Maria) nos cultos? Seja em particular, seja em público – por exemplo, fazendo um altar positivista com a imagem de Maria.

Gustavo

Caro ***: tudo bem? Bom dia.

A sua pergunta dá o que pensar. Eu estava redigindo uma resposta mas, à medida que escrevia, dava-me conta de outros aspectos, em particular em termos do significado do “sincretismo”.

Veja só: o sincretismo significa a mistura de cultos e dogmas distantes, na verdade incompatíveis entre si: os cultos afro-brasileiros, por exemplo, misturam cultos fetichistas e politeístas (de origem africana e mesmo indígena) com cultos monoteístas (o mais das vezes católico, mas também islâmicos). No final das contas, o monoteísmo é absorvido pelo politeísmo; de outra maneira, não seria possível essa incorporação; além disso, para empregar a expressão que você usou, trata-se mesmo de uma “ressignificação” do monoteísmo nos termos do politeísmo.

A incompatibilidade dos dogmas – na verdade, trata-se disso, mais que de incompatibilidade dos cultos –, no caso dos cultos afro-brasileiros, resolve-se pela absorção dos monoteísmos pelos politeísmos. Isso é próprio à natureza dos politeísmos, em que, no sincretismo, as grandes divindades monoteístas simplesmente passam a integrar o panteão; já os monoteísmos até aceitam integrar a si os politeísmos, na forma de seres inferiores à deidade principal (anjos, dervixes, demônios e até santos).

Insisto na noção de sincretismo como incorporação de um dogma a outro porque, no fundo, o problema consiste muito mais em problemas de dogma que de culto; trata-se de incorporar a lógica de um sistema à do outro, embora sejam práticas cultuais. Mas enquanto na teologia os dogmas submetem-se a partir da modificação de sua própria lógica, no Positivismo nós aplicamos o relativismo e, ao mesmo tempo, (1) positivamos o que há de positivável nos demais dogmas e, de qualquer maneira, (2) reconhecemos a origem histórica (no caso, teológica) desses demais dogmas. Assim, se for o caso de compartilharmos um determinado culto (e é claro que nem todos os cultos podem nem devem ser compartilhados), ele será positivado e sua origem será reconhecida e valorizada. O exemplo dado antes pelo Hernani, de Prometeu, é realmente um ótimo exemplo, assim como os demais tipos mitológicos (ou míticos) do mês de Moisés, incluindo aí o próprio Moisés.

O relativismo positivista permite, então, a incorporação de todos os cultos (o que, insisto, não significa a incorporação da totalidade de todos os cultos), mas sempre com a condição de sua positivação, isto é, de sua relativização. Esse procedimento, que é o sincretismo em ação – pelo menos, uma concepção positiva do sincretismo –, é a única forma possível de ao mesmo tempo respeitar todos os cultos e de incorporá-los à vida religiosa da Humanidade, sem injustiça para os cultos anteriores e sem incoerência para conosco. Sendo mais direto e mais claro: o sincretismo positivo é a única forma de praticar um verdadeiro universalismo religioso; todas as outras formas incorrem nos defeitos moral, intelectual e prático (1) de exclusão, ou (2) de deturpação, ou (3) de incoerência (ou uma combinação deles).

Se minha pretensão é aceitável, estes meus comentários são uma formulação mais intelectual e filosófica e, espero, equivalente, das reflexões mais cultuais e religiosas feitas anteriormente pelo Hernani.

07 maio 2025

Diálogo sobre o sincretismo no Positivismo 1

 


O texto abaixo corresponde a uma versão editada de um diálogo que ocorreu no dia 6 de maio de 2025, em um grupo do Whattsapp que trata do Positivismo e da Religião da Humanidade. Esse diálogo foi motivado por um participante do grupo, um jovem estudante interessado no Positivismo, que, em meio às conversas do grupo, teve uma dúvida sobre o sincretismo religioso. As respostas foram dadas por Hernani Gomes da Costa. Esse diálogo foi tão esclarecedor que julgamos valer a pena publicá-lo.

O diálogo foi editado com dois objetivos principais: por um lado, adequar a conversa a uma versão publicada; por outro lado, preservar a privacidade do estudante.

 

*   *   *

 

Estudante

Uma pergunta, que pode parecer bobagem. Nas religiões afro-brasileiras é comum o sincretismo dos santos católicos com os orixás (São Jorge = Ogum etc.) por questões históricas. No Positivismo em algum momento houve o sincretismo da Humanidade com a Virgem Maria? Os positivistas podem associar os dois símbolos (Humanidade e Maria) nos cultos? Seja em particular, seja em público – por exemplo, fazendo um altar positivista com a imagem de Maria.

 

Hernani

Excelente pergunta! O Positivismo procura antes de tudo compreender qual foi o processo de construção dos símbolos, bem como as razões pelas quais eles se tornam populares durante um tempo e são em seguida substituídos por outros.

Nesse sentido, interpretamos a Virgem Mãe como representando o ideal humano que consiste no máximo de pureza e de ternura juntos. A pureza significa a compressão do egoísmo e é representada pela idéia da Virgem; a ternura é a expansão do altruísmo, representada, no caso, pela idéia da mãe. A necessidade sociológica e moral que criou esse símbolo obedeceu inconscientemente a uma tentativa de conjugar a pureza e a ternura numa só imagem.

O sincretismo operou-se em todas as religiões de modo inconsciente e espontâneo, mediante as associações formadas entre as idéias de vários deuses que se assemelhavam em seus papéis e personalidade. A proposta do Positivismo é a de tornar esse processo sincrético algo consciente e deliberado, de modo a assim sistematizá-lo.

Augusto Comte manifestou o desejo de que as futuras representações de imagens da Humanidade tivessem os traços de Clotilde de Vaux. Mas ele também elegeu uma imagem católica de sua preferência.

Tudo quanto importa no caso, portanto, é que não haja confusão entre as crenças. Qualquer símbolo que estimule o amor pode integrar o altar. Seja de que religião for. Mas esse culto se tornará de fato sobrenatural se os símbolos que adotarmos ainda se referirem às crenças originais correspondentes aos mitos, tais como eles foram a princípio imaginados.

 

Estudante

Compreendo. Então o sincretismo dentro do positivismo pode ser benéfico se não misturamos os significados. É necessário ressignificar o símbolo.

 

Hernani

Sim! O símbolo pode ser ressignificado de pelo menos duas formas. Mantendo sua identidade original e mudando seu modo de sua existência; de objetiva para subjetiva. Ou então cultuando-o segundo uma interpretação nova. Vejamos um exemplo. Podemos historicamente cultuar Prometeu na qualidade de uma criação mítica da Humanidade que veio a compor certa religião. Nesse caso mantivemos o conteúdo original da idéia de Prometeu, e apenas mudamos sua existência, de objetiva para subjetiva. Mas podemos também ver Prometeu como símbolo que representa o primeiro ser humano a obter fogo através de fricção. Nesse último caso o símbolo de Prometeu sofreu uma mudança de significado, passando a representar uma outra idéia. (Citei Prometeu pelo fato de ele representar o primeiro dia do ano no Calendário Positivista concreto).

13 novembro 2024

Comemorações de 171-237 (2025)

COMEMORAÇÕES DE 171-237 (2025)

Centenários

 

Nome

Vida

Comemoração

Calendário

J.-G.

1.           

Heráclito

535 ac-475 ac

2500 anos morte 

3.Aristóteles

28.fev.

2.           

Johan de Witt

1625-1672

400 anos nasc.

11.Frederico

15.nov.

3.           


Luciano

125-181

1900 anos nasc.

20.Homero

17.fev.

4.           

Palestrina

1525-1594

500 anos nasc.

22.Shakespeare

1.out.

5.           

S. TOMÁS DE AQUINO

1225-1274

800 anos nasc.

7.Descartes

14.out.

“Cinqüentenários”

 

Nome

Vida

Comemoração

Calendário

J.-G.

6.           

Arriano

92-175

 1850 anos morte

19.Aristóteles

16.mar.

7.           

Bocácio

1313-1375

650 anos morte 

2.Dante

17.jul.

8.           

Graham

1675-1751

 350 anos nasc.

11.Gutenberg

23.ago.

9.           

Miguel Ângelo

1475-1564

550 anos nasc. 

9.Dante

24.jul.

10.         

Sta. Clotilde

475-545

1550 anos nasc. 

22.Carlos Magno

9.jul.

11.         

Wheatstone

1802-1875

150 anos morte 

9.Gutenberg

21.ago.

Positivistas brasileiros

N.

Nome

Vida

Comemoração

Calendário

J.-G.

12.          

Carlos Torres Gonçalves

1875-1974

150 anos nasc.

13.Carlos Magno

30.jun.

13.          

Ivan Lins

1901-1975

50 anos morte

27.São Paulo

16.jun.

Positivistas não brasileiros

N.

NOME

VIDA

COMEMORAÇÃO

CALENDÁRIO

J.-G.

14.         

Pedro Contreras Elizalde

1823-1875

150 anos morte

10.São Paulo

30.maio

15.         

Philémon Deroisin

1825-1910

200 anos nasc.

7.Bichat

9.dez.

16.         

Paul Edger

1875-1946

150 anos nasc.

27.São Paulo

16.jun.

17.         

J.-F. E. Robinet

1825-1899

200 anos nasc.

2.César

24.abr.

18.         

Joseph Lonchampt

1825-1890

200 anos nasc.

22.Shakespeare

1.out.

19.         

Gaston Prunières

1848-1925

100 anos morte

7.Arquimedes

abr.

20.         

Charles Ritter

1825-1902

200 anos nasc.

19.Homero

16.fev.

21.         

Auguste Vorbe

?-1925

100 anos morte

4.Homero

fev.

FONTES: Wikipédia; “Apêndice” de Apelo aos conservadores (autoria de Augusto Comte; Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1899), organizado por Miguel Lemos; Comité des travaux historiques et scientifiques (http://cths.fr/).

NOTAS:

1)    As datas de vida foram pesquisadas na internet (basicamente na wikipédia), considerando que esse procedimento permitiria obter o que há de mais atualizado a respeito das diversas biografias; além disso, cotejaram-se essas datas com as disponíveis no “Apêndice” do Apelo aos conservadores.

2)    Letras maiúsculas em negrito: nomes de meses.

3)    Letras maiúsculas simples: chefes de semanas.

4)    Letras em itálico: tipos adjuntos, considerados titulares nos anos bissextos.

5)    Os artigos da Wikipédia foram selecionados basicamente em português, mas em diversos casos ou só havia em outra(s) língua(s) ou eram melhores em outra(s) língua(s) (espanhol, francês, inglês).