Muitas pessoas estão afirmando que a violenta patada que o
Ministro da Educação (!!!) deu foi “correta” ou “adequada” ou “justa”. Isso
está errado, qualquer que seja o critério que se adote; infelizmente, muitas
pessoas não percebem o erro. Assim, é necessário ser didático a respeito.
O Ministro da Educação não é um simples particular; aliás,
por definição, ele não é “particular”, pois ocupa um eminente cargo público.
Participando do segundo escalão da República, ele é um dos líderes do país. Se
ele não gostou do comentário da moça – e, evidentemente, ele tem todo o direito
de não gostar –, o que ele deveria ter feito era manter-se em silêncio ou
simplesmente dito à moça: “você tem todo o direito de manifestar as suas
opiniões”.
Em outras palavras, ele deveria ter agido conforme exige o
decoro do alto cargo que ocupa. Ele não é um torcedor de time de futebol em um
estádio durante uma partida; ele é chefe de uma das mais importantes
burocracias do país, com caráter estratégico e um orçamento gigantesco.
A resposta do Ministro evidencia – mais uma vez – o seu
caráter e a baixa qualidade do governo de que participa. A resposta do Ministro
revela – mais uma vez – uma falha brutal no seu caráter. Quem considera que a
resposta dele foi “adequada” não percebe que há diferenças substanciais entre
os cidadãos comuns e os líderes políticos, entre o âmbito privado e a atividade
pública.
No fundo, tanto o Ministro (e seu chefe, o Presidente da República) quanto todos aqueles que apoiam, aceitam e justificam a patada não entendem que vivemos em sociedade, ou melhor, que vivemos em uma República e que não somos apenas “indivíduos”, mas somos cidadãos. Dito de outra maneira, aceitar, apoiar e justificar a violenta grosseria do Ministro evidencia que seus apoiadores entendem as pessoas como particulares, como indivíduos fechados em seus mundinhos privados e que ignoram, quando não desprezam, a atuação pública, a atuação cívica. Em outras palavras, elas são individualistas, mesquinhas e egoístas.