O vídeo relativo às anotações abaixo encontra-se disponível aqui.
* * *
Roteiro da exposição sobre o segundo mês
dos calendários positivistas
Parte I – Mês concreto: Homero
-
2º mês do calendário positivista concreto
o
Considerando o ano júlio-gregoriano de 2021, o
mês de Homero começa em 29 de janeiro e termina em 25 de fevereiro
o
O segundo mês concreto representa a poesia antiga
§ É
o segundo mês da Antigüidade
§ Ele
é antecedido por Moisés (a teocracia inicial) e seguido pelos outros três meses
da Antigüidade (Aristóteles, Arquimedes e César)
-
A poesia foi o primeiro ramo intelectual a
separar-se da árvore teocrática; não por acaso, a evolução da poesia na Grécia
apresenta o espetáculo de progressiva
humanização de seus temas e, mais ainda, de progressiva especialização das suas formas
o
As poesias mais antigas correspondem aos mitos
de criação e de explicação, de tal sorte que são, ao mesmo tempo, históricas, cosmológicas e literárias:
Hesíodo claramente apresenta esse caráter
o
De qualquer maneira, a poesia antiga apresenta
um forte caráter moral, servindo para refletir sobre a condição humana, as
possibilidades de ação individuais e os destinos coletivos:
§ Ésquilo
era um dramaturgo fortemente moralista (Prometeu
acorrentado, Os persas), ao passo
que em Homero vemos os destinos individuais (Odisséia, Ilíada) e
coletivos (Ilíada) postos em questão
o
Paulatinamente surgiu também espaço para as
críticas de costumes, com Aristófanes (em Atenas) e Plauto e Horácio (em Roma)
-
A poesia antiga surgiu de poetas que iam de
cidade a cidade cantando os feitos míticos e heroicos da cultura comum; do
culto a Dionísio surgiu o teatro; o politeísmo também incentivou as artes
plásticas, especialmente com a escultura, a arquitetura e a pintura
o
Os romanos compartilhavam esse fundo comum de
cultura, ao mesmo tempo em que herdaram a cultura grega; ainda assim, eles
produziram seus próprios grandes poetas e artistas, de que Virgílio é o grande
representante
-
Uma última observação: conforme nota Frederic
Harrison, a poesia antiga é mais homogênea que a moderna, em termos de valores
compartilhados e de estabilidade da ordem social
o
Como “o progresso é o desenvolvimento da ordem”,
a poesia antiga pôde desenvolver-se bastante e, em certo sentido, até mais que
a poesia moderna; ela atinge altos píncaros com facilidade
-
Homero e Ésquilo integram o “triângulo dos poetas”
(Catecismo, p. 455):
-
O mês e as semanas do mês de Homero correspondem
ao seguinte:
o
Homero – representa a poesia antiga, em seus
variados aspectos, especialmente em termos de idealizar a moralidade individual
e coletiva
o
Ésquilo – congrega os grandes dramaturgos e os
poetas moralistas
o
Fídias – reúne os artistas plásticos, ou seja,
pintores, escultores e arquitetos
o
Aristófanes – reúne os poetas fabulistas e os
moralistas satíricos e de costumes
o
Virgílio – reúne os poetas romanos, nos seus
variados aspectos (dramaturgia, poesia épica, fábulas, poesia de costumes,
poesia lírica) – em particular com a previsão da Humanidade em paz
Parte II – Mês abstrato: o casamento
-
O segundo mês do calendário positivista abstrato celebra o casamento
o
É o primeiro mês que celebra os laços fundamentais, em número de cinco: casamento, paternidade, filiação,
fraternidade e domesticidade
-
Ao mesmo tempo em que é um dos laços
fundamentais, o casamento também é um dos sacramentos positivistas (que são em
número de nove)
1)
Apresentação
2)
Iniciação
3)
Admissão
4)
Destinação
5)
Casamento
6)
Madureza (ou maturidade)
7)
Retiro
8)
Transformação
9)
Incorporação
o
O casamento é o sacramento mais importante de todos
o
Como todos os demais sacramentos, ele é de
caráter facultativo (em particular, ele não pode ter caráter de imposição
legal) – embora, é claro, a sua aceitação indica o grau de comprometimento com
a moralidade humana e altruísta
-
O casamento é importante porque (1) funda uma nova família, o que implica
todos os encargos morais e materiais daí decorrentes; assim, (2) institui-se a
relação inicial e original entre homem e mulher: o Positivismo vem “[...]
regenerar o casamento humano, concebendo-o doravante como destinado sobretudo ao aperfeiçoamento mútuo dos dois sexos, abstraindo
de toda sensualidade” (Catecismo,
p. 338)
o
Assim, o casamento positivista afirma a
importância da moral e do altruísmo, substituindo as concepções profundamente
egoístas próprias à teologia, para quem o casamento tem por objetivo meramente
a reprodução humana
o
A relação entre o casal é tanto objetiva quanto
subjetiva e deve manter-se por toda a vida e até além da morte de um dos
cônjuges
§ Em
virtude disso, isto é, da importância subjetiva do casamento, o casamento
positivista tem a particularidade do voto obrigatório da viuvez eterna
§ “Uma
vida inteira é insuficiente para que um casal conheça-se suficientemente”
§ Segundas
núpcias são uma forma subjetiva de poligamia – em outras palavras, o casamento
deve ser rigorosamente monogâmico
§ Os
positivistas que não quiserem realizar o casamento positivista (com a viuvez
eterna) não podem, entretanto, prescindir do casamento civil, necessário de
qualquer maneira
§ Evidentemente,
a importância subjetiva do casamento estende-se para além da morte dos dois
cônjuges, sobre os filhos e demais descendentes do casal
o
É no casamento que se verifica de maneira direta
e imediata a influência moral da mulher sobre o homem
§ Essa
influência moral da mulher sobre o homem é da mesma natureza, embora de caráter
privado, que a realizada pelo sacerdócio sobre a opinião pública e o governo no
âmbito público
§ A
influência moral da mulher, além disso, evidentemente, também se verifica
também sobre os filhos
§ A
influência moral da mulher sobre o homem baseia-se na superioridade moral da mulher sobre o homem – que, em contrapartida,
apresenta outros tipos de superioridade em relação à mulher, gerando-se
complementaridades
o
A reprodução humana é importante, não há dúvida,
mas casais que não tenham filhos nem por isso deixam de ter seus casamentos
validados; em tais casos, é claro que a adoção pode suprir a ausência de filhos
próprios (com a vantagem de desonerar casais que não tenham condições de criar
seus filhos): “[...] a teoria positiva da união conjugal, em que as relações
sexuais não são diretamente necessárias” (Catecismo,
p. 340)
o
Os sacerdotes positivistas devem
obrigatoriamente se casar, a fim de sofrerem a influência moral das mulheres
-
São quatro as modalidades determinadas por nosso
mestre no casamento, com as respectivas festas semanais:
1)
Completo – celebra o vínculo em sua inteireza,
tanto objetiva quanto (sobretudo) subjetiva: “glorifica a união conjugal em
toda a sua plenitude, ao mesmo tempo exclusiva e indissolúvel, mesmo pela
morte” (Catecismo, p. 158)
2)
Casto – celebra as uniões em que, por qualquer
motivo (moral ou físico), um casal não consiga ter filhos; nesse caso, a
castidade até certo ponto impõe-se, o que evidencia o caráter subjetivo do
casamento; as adoções podem suprir essa lacuna
3)
Desigual – celebra os casamentos, de caráter
excepcional, em que houver desigualdades muito acentuadas entre os cônjuges,
especialmente em termos de idades
4)
Subjetivo – celebra o caráter moral, mais puro e
mais afetivo do casamento; é a parte que se evidencia e que se fortalece na
viuvez eterna
Parte III – Comemorações de aniversários e feriados cívicos
-
Em termos de aniversários, comemoramos neste mês
as seguintes figuras:
o
Louis Mignien (1823-1871) – morte (8.Homero –
5.fev.)
o
Paulo de Tarso Monte Serrat (1923-2014)
– nascimento (10.Homero – 7.fev.)
o
Georges
Audiffrent (1823-1909) – morte (17.Homero – 14.fev.)
o
Agliberto Xavier (1869-1952) – nascimento
(20.Homero – 17.fev.)
o
Paulo Carneiro (1901-1982) – morte (20.Homero
– 17.fev.)
o
Pierre Laffitte (1823-1903) – nascimento (24.Homero
– 21.fev.)
o
Teófilo Braga (1843-1924) – nascimento
(27.Homero – 24.fev.)
Referências bibliográficas
Augusto Comte: Sistema
de filosofia positiva,
Sistema de política positiva, Catecismo
positivista, Síntese subjetiva
Frederic Harrison: O novo
calendário dos grandes homens
Raimundo Teixeira Mendes: As últimas concepções de Augusto Comte
David Carneiro: História da Humanidade através dos seus grandes tipos, v. 1
Ângelo Torres: Calendário Filosófico
Comité des travaux historiques et scientifiques: Sociétés savantes de France