28 setembro 2020

Roteiro da exposição sobre o décimo mês dos calendários positivistas (Shakespeare e Mulher (providência moral))

Roteiro da exposição sobre o décimo mês dos calendários positivistas


As anotações abaixo consistem no roteiro da celebração gravada do nono mês dos calendários positivistas, que abordam Shakespeare (o drama moderno, no calendário concreto) e a mulher, ou providência moral (no calendário abstrato).

A gravação encontra-se disponível aqui.

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Parte I – Mês concreto: Shakespeare




 -        10º mês do calendário positivista concreto

o   Considerando o ano júlio-gregoriano de 2020 (ano bissexto), o mês de Shakespeare começa em 9 de setembro e termina em 6 de outubro

o   O oitavo mês concreto representa o drama moderno

§  É o terceiro mês da modernidade

·         Após os meses da Antigüidade e da Idade Média, a modernidade apresenta-se com seus seis meses (Dante, Gutenberg, Shakespeare, Descartes, Frederico, Bichat)

§  Augusto Comte dedica dois meses à arte moderna, Dante (epopéia moderna) e Shakespeare (drama moderno)

·         De acordo com Frederic Harrison, esses dois meses devem ser entendidos em conjunto, representando a poesia (incluídas aí a literatura em prosa e o teatro), a música, a pintura, a arquitetura e a escultura

o   Eles constituem um total de 49 nomes, que vão do século XII ao XIX

·         Essa grande quantidade de tipos artísticos deve-se à ampliação das possibilidades e dos temas passíveis de serem tratados pela arte, na modernidade

·         A arte na Antigüidade referia-se a valores e a uma estrutura social mais aceitas, de modo que ela atingiu formas mais perfeitas

·         Em contraposição, a modernidade apresenta um movimento mais contraditório, mais conflitos e valores menos aceitos, o que torna a sua arte menos capaz de idealizar a realidade; mas, ao mesmo tempo, torna-a mais variada e mais audaciosa

o   O mês e as semanas correspondem ao seguinte:

§  Shakespeare – representa as obras literárias que retratam a variedade de costumes e de tipos humanos, com diferentes graus de idealização e de profundidade

§  Calderón – reúne os dramaturgos moralistas

§  Corneille – reúne os dramaturgos  históricos

§  Molière – representa as obras em prosa (isto é, os romances), especialmente aqueles que expõem os costumes, além de obras satíricas e de comédia

§  Mozart – as grandes composições de música orquestral, que se aliam ao drama (óperas, sinfonias, músicas sacras)

-        Shakespeare integra o triângulo dos 13 grandes poetas ocidentais:

 


Parte II – Mês abstrato: a mulher (providência moral)

-        O décimo mês do calendário positivista abstrato celebra a mulher, responsável pela providência moral

o   A providência moral, corporificada nas mulheres, é a primeira das funções normais; as demais são: o sacerdócio (providência intelectual), o patriciado (providência material), o proletariado (providência geral)

o   A “providência moral” consiste no grupo e nas pessoas que continuamente nos lembram de que o ser humano é afetivo e que devemos sempre “viver para outrem”; em outras palavras, a providência moral lembra-nos continuamente que devemos sempre ser altruístas

§  Há uma correspondência entre a providência moral, das mulheres, e a providência intelectual, do sacerdócio: ambos direcionam-nos para o “viver para outrem” à mas enquanto o sacerdócio realiza essa função no âmbito público, as mulheres fazem-no no âmbito privado (isto é, doméstico)

o   Entre homens e mulheres há igualdades, superioridade e inferioridade:

§  Homens e mulheres têm igualmente sentimentos, inteligência e atividade

§  As mulheres são mais afetivas que os homens; isso não quer dizer que elas são menos inteligentes que os homens, mas quer dizer, sim, que elas são mais clara, direta e facilmente altruístas que os homens;

·         Como a origem e o objetivo da vida humana – que constituem a felicidade – são os sentimentos altruístas, torna-se claro que as mulheres são superiores aos homens nesse sentido

§  Em contraposição os homens são mais fortes e mais ativos que as mulheres

§  Outra dupla de contraposições entre homens e mulheres, que corresponde à anterior, dá-se nos tipos de inteligência preponderantes em cada um: os homens são mais analíticos, as mulheres são mais sintéticas

·         A conseqüência dessa variedade de tipos de inteligência preponderante em cada um dos sexos é que os homens tendem a preferir as ciências naturais (que são mais analíticas) e as mulheres, as ciências humanas e as artes (que são mais sintéticas)

§  As diferenças entre homens e mulheres não deve ser vista em termos de competição entre ambos, mas em termos de complementaridades

§  O resultado das diferenças complementares entre homens e mulheres é que o papel da providência moral é, antes e acima de tudo, um papel de educação – para maridos, filhos e parentes, que atuarão na vida pública

·         Assim, quando Augusto Comte afirma que as mulheres devem atuar no âmbito doméstico, ele não está escravizando-as sob o rótulo de “rainhas do lar”: ele está afirmando sua importância e sua dignidade intelectual, social e, acima de tudo, moral

§  De modo geral, a teologia sempre encarou a mulher como inferior ao homem em todos os sentidos, sendo mesmo culpada pelos sofrimentos humanos (como no mito de Eva e da maçã); já a metafísica afirma ou que as mulheres são superiores ao homem em tudo ou, então, afirma pura e simplesmente que homens e mulheres são iguais em tudo: em ambos os casos, o resultado é opressão e/ou disputas sem fim

§  Como se viu, o Positivismo afirma diferenças complementares, em que a dignidade de homens e mulheres é afirmada e, em particular, a mulher tem que ser ouvida e respeitada

o   A afirmação da mulher como providência moral lembra-nos de que a família é a célula da sociedade à mas, ao mesmo tempo, a destinação pública da família é o melhor e mais importante corretivo para os desvios da família (em particular, a opressão masculina e marital)

§  A mulher como providência moral também indica que relações sociais mais fraternas exigem um órgão contínuo que atue precisamente nesse sentido, que seja respeitado e preservado das pressões e das agressões externas da vida

o   São quatro as modalidades determinadas por nosso mestre na providência moral, com as respectivas festas semanais:

1)      Mãe (a veneração)

2)      Esposa (o apego)

3)      Filha (a bondade)

4)      Irmã (o apego)

-        Vale lembrar que as mulheres são celebradas em duas outras ocasiões, de maneiras diretas e indiretas:

o   O primeiro mês do ano é dedicado à Humanidade, a nossa deusa, que é representada por uma mulher (com as feições de nossa cofundadora, Clotilde de Vaux), tendo em seus braços um bebê, isto é, o futuro

o   Além disso, nos anos bissextos, o último dia do ano, após a festa geral dos mortos, é dedicado às mulheres santas

-        É importante ressaltar: o Grande Ser do Positivismo é um tipo feminino

o   A representação feminina do Grande Ser é uma clara afirmação do altruísmo

o   Clotilde de Vaux era inicialmente percebida por Augusto Comte como esposa (subjetiva), mas, somando-se a diferença inicial de idade entre ambos (17 anos) e o tempo que transcorreu após a morte de Clotilde (em 1846), o próprio Comte observou que, paulatinamente, ela era vista como filha

o   Na vida de Comte, ele passou a celebrar os seguintes tipos femininos:

§  Mãe (a veneração): Rosália Boyer

§  Esposa (o apego): Clotilde

§  Filha (a bondade): Clotilde e Sofia Thomas

 

Parte III – Comemorações de aniversários

-        Em termos de aniversários, neste ano lamentavelmente não temos nenhuma comemoração














Referências bibliográficas

Augusto Comte: Sistema de filosofia positiva, Sistema de política positiva, Catecismo positivista, Síntese subjetiva

Frederic Harrison: O novo calendário dos grandes homens

Raimundo Teixeira Mendes: As últimas concepções de Augusto Comte

Raimundo Teixeira Mendes: A mulher (3ª ed.: 1958)

David Carneiro: História da Humanidade através dos seus grandes tipos, v. 6

Ângelo Torres: Calendário Filosófico

25 setembro 2020

Agustín Aragón: "Sobre a Guerra Hispano-Americana"

O destacado positivista mexicano Agustín Aragón y Léon (1870-1954) publicou em 1898 um interessante livro sobre a Guerra Hispano-Americana (ou, mais corretamente nomeada em espanhol, Guerra Hispano-Estadunidense - 1898).

Para avaliar esse conflito, o autor examina as histórias da Espanha e dos Estados Unidos, bem como os valores e as práticas culturais e políticas de ambos os países, inserindo-os na evolução histórica da civilização ocidental. A conclusão a que chega é que esse conflito foi uma injustificável agressão dos Estados Unidos contra a Espanha (ainda que, por sua vez, a independência cubana - que foi a desculpa dada pelos EUA para o conflito - fosse, por sua vez, necessária e justificada).

Assim, o livro é uma interessantíssima aplicação prática do Positivismo, isto é, da Religião da Humanidade à política internacional, combinando relato histórico, análise sociológica, perspectivas "realistas" e perspectivas "idealistas".

O livro pode ser lido aqui.



Conversa com Érlon Jacques sobre Positivismo, Sociologia e Filosofia

No dia 18.8.2020 o positivista gaúcho Érlon Jacques de Oliveira participou de uma conversa à distância, com o prof. Pedro Júnior dos Santos Silva, da Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul) sobre a "interação entre Sociologia e Filosofia" e, de modo mais específico, sobre o Positivismo e sua teoria do conhecimento.

Essa conversa, que durou cerca de uma hora e foi gravada, está disponível aqui.

23 setembro 2020

Luís Lagarrigue, um positivista indicado ao Prêmio Nobel da Paz

Em 1928 o positivista chileno Luís Lagarrigue publicou o belíssmo livro Política internacional (que pode ser lido e baixado aqui e aqui).

Pois bem: em virtude dessa publicação extremamente oportuna (tanto na época em que veio a lume quanto atualmente), o governo chileno decidiu sugerir o nome de Luís Lagarrigue para o Prêmio Nobel da Paz de 1928. Não deixa de ser triste, e talvez revelador, o fato de que nesse ano ninguém recebeu de fato esse prêmio (como se pode conferir aqui).

De qualquer maneira, com essa indicação Luís Lagarrigue integra a seleta lista de positivistas que receberam prêmios Nobel (Marie Curie, que recebeu dois) ou que a ele foram indicados (no caso de nosso grande Rondon).

A notícia abaixo foi extraída do jornal chileno La Nación de 7.2.1928, cujo original encontra-se disponível aqui.



Luís Lagarrigue: "Política internacional"

Em 1928 o positivista chileno Luís Lagarrigue publicou um interessante e belíssimo opúsculo intitulado Política internacional

Escrito em francês, ele dirigia-se ao público ocidental daquele momento (e das gerações futuras, é claro), afirmando que a paz era uma necessidade política e moral, isto é, que a paz deve reger as relações internacionais tanto devido a motivos de conveniência prática quanto devido a considerações morais. 

Dito de outra forma, ele argumenta e demonstra que embora a guerra tenha sido inevitável e mesmo historicamente necessária, na atualidade (isto é, desde pelo menos o século XIX) ela já é errada, desnecessária e evitável.

Esse inspira-se e baseia-se nas vistas históricas, sociológicas, políticas e morais do Positivismo, ou melhor, da Religião da Humanidade, fundada por Augusto Comte (1798-1857) e Clotilde de Vaux (1815-1846).

Como se pode ver em outra postagem deste blogue (disponível aqui), por este livro Luís Lagarrigue foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz para o ano de 1928.

O livro está disponível aqui.



Luís Lagarrigue: "Quadros da Religião da Humanidade (síntese subjetiva)"

 Em 1939 o positivista chileno Luís Lagarrigue (1864-1949) publicou uma pequena edição com vários quadros, tabelas e informações, de caráter sintético e sinóptico, da Religião da Humanidade, isto é, do Positivismo, fundado por Augusto Comte (1798-1857).

Embora em si mesma essa publicação não seja explicativa - ela não tem essa intenção -, ela fornece de maneira resumida e prática vários elementos da Religião da Humanidade, o que é extremamente útil, não há dúvida.

O caráter belamente ortodoxo e pio dessa publicação já se verifica no seu título: Quadros do culto e do dogma da Religião Universal, instituída por Clotilde de Vaux e Augusto Comte.

Essa publicação está disponível aqui.



22 setembro 2020

Richard Congreve: "Prece à Humanidade"

Está disponível no portal Archive.org o opúsculo comemorativo intitulado Prece à Humanidade, escrito pelo positivista inglês e apóstolo da Humanidade Richard Congreve (1818-1899), juntamente com uma prece do também positivista e apóstolo da Humanidade, o brasileiro Miguel Lemos (1854-1917).

Essa edição foi publicada em 1936; as preces foram elaboradas para serem lidas publicamente na Festa da Humanidade, que ocorre sempre no dia 1º de Moisés (a que corresponde o dia 1º de janeiro, no calendário júlio-gregoriano).

São dois belos exemplos de uma espiritualidade humanista e secular.

O opúsculo pode ser lido aqui.


Richard Congreve


Miguel Lemos


Manuel de Almeida Cavalcanti: "Introdução à síntese subjetiva"

Está disponível no portal Archive.org o livro Iniciação filosófica, do engenheiro e professor positivista Manuel de Almeida Cavalcanti (nascido em 11.12.1865, no estado de Alagoas). Foi publicado em 1914 e é uma exposição didática da síntese subjetiva positivista, elaborada por Augusto Comte (1798-1857) ao longo de sua carreira, especialmente após 1848.

A síntese subjetiva positivista é, do ponto de vista filosófico, a condensação do Positivismo, em que culminam as reflexões científicas, epistemológicas, sociológicas, políticas e morais de Augusto Comte. Com a síntese subjetiva, a Religião da Humanidade torna-se plenamente compreensível, aceitável e aplicável. 

O relativismo, a historicidade, a subjetividade humana são plenamente afirmados e aplicados na síntese subjetiva, ou, em outras palavras, são aplicadas em toda a sua extensão possível. Com isso, o Positivismo, na forma da Religião da Humanidade, mantendo o realismo e o respeito às leis naturais, ultrapassou em muito o cientificismo, o utilitarismo estreito, a arte pela arte, o academicismo: essa ultrapassagem esteve muito à frente do que era considerado aceitável no século XIX e está também muito à frente do que se considera hoje, no século XXI, possível.

Assim, não é coincidência que justamente a síntese subjetiva seja ao mesmo tempo ignorada e desprezada pelo comum dos comentadores de Augusto Comte. Isso pode parecer incoerente, mas ocorre de fato, a partir do mito do "Comte maluco", que justifica a postura do "não li e não gostei".

O livro de Almeida Cavalcanti pode ser consultado e baixado aqui.