31 janeiro 2011

Último texto de Moisés Westphalen: resumo do Positivismo

O presente texto é o último escrito por Moisés Westphalen, positivista que por muitos anos foi o responsável pela Capela Positivista de Porto Alegre. Esse texto é um belo e conciso resumo da Religião da Humanidade; obtive-o por intermédio de Afrânio Capelli (atual responsável pela Capela de P. Alegre) e este, por sua vez, obteve graças ao neto de Moisés Westphalen, Cristiano Westphalen.

Nosso correligionário Afrânio Capelli pôs à disposição o texto originalmente aqui: http://positivismors.blogspot.com/2011/01/ultimo-texto-do-mestre-moises.html?showComment=1296499722757#c8445136413764502889.


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A intervenção direta do indivíduo desaparece com a morte, mas a memória dos feitos, opiniões e sentimentos, prolonga a sua existência subjetiva, assegurando o progresso social.

Assim se transmitem atravéz das gerações as conquistas úteis e convergentes, morais, intelectuais e práticas alcançadas no passado e no presente, e se estabelece a continuaidade social.

Este elo subjetivo liga os indivíduos às gerações seguintes e permite conceber a Humanidade com ente supremo, perceptível e eterno, representado pelos seres humanos convergentes, que constantemente nos melhora, guia e sustenta.

Em qualquer estágio da civilização, a existência humana consiste sempre no estado de plena harmonia social. A solidariedade social funde-se nos laços afetivos das famílias afins, sob o princípio da cooperação. Os sentimentos, pensamentos e atos convergentes instituem a unidade social. O progresso humano corresponde ao aperfeiçoamento de nossa unidade.

Assim, a unidade só pode se conhecida através de um suficiente exercício coletivo. O sentimento é o motor supremo da existência humana. Sob inspirações dos sentimentos desenvolvemos a atividade e a inteligência, que por sua vez provocam reações afetivas, o aperfeiçoamento moral. O amor é assim o princípio e o destino do desenvolvimento humano.

A inteligência deve assessorar a atividade para servir o sentimento.

08 janeiro 2011

Comemorações e selos

Texto publicado em 14.3.2011 na Gazeta do Povo (Curitiba) e disponível aqui

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Comemorações e selos

O ser humano é um ser social, histórico e simbólico: isso significa que só pode viver em sociedade, cujos resultados acumulam-se ao longo do tempo e que têm importância material e também cultural. Assim, como dizem, “recordar é viver”: nossas famílias, nossos concidadãos, os grandes nomes da Humanidade.

Os selos postais foram inventados no século XIX para facilitar as trocas comerciais e epistolares; começaram indicando apenas os valores monetários e logo passaram a homenagear valores, pessoas, datas e invenções: essa foi uma forma simples, barata e popular de cada país realizar sua historicidade.

O Brasil não é exceção e tem uma programação anual de selos oficiais comemorativos, lançados pela Empresa de Correios e Telégrafos, em comissão do Ministério das Comunicações. Não apenas figuras nacionais já foram homenageadas – o inventor Santos Dumont ou o time Corinthians, por exemplo –, mas também personagens mais distantes no tempo e no espaço – como o infante Dom Henrique, príncipe português do século XV que favoreceu as grandes navegações, e Santa Clara de Assis, companheira de São Francisco. Ao fazê-lo, os Correios e o Ministério das Comunicações realizam obra cultural importante, de amplo alcance humano.

Desde 2005, todavia, o Ministério das Comunicações do Brasil estabeleceu que, nos selos referentes a pessoas, somente se pode comemorar o nascimento, nunca a morte dos indivíduos. Na verdade, o item V.II da Portaria 500/2005 estabelece que “Selo homenageando personalidade deverá ser emitido, preferencialmente, no aniversário de nascimento do homenageado, evitando-se referência à data fúnebre”. Como já tive ocasião de comprovar, o “preferencialmente” é tomado ao pé da letra e lido como “unicamente”.
Essa decisão, tão simples, é tola, ingênua e contraproducente. Recusar a “referência à data fúnebre” parece medida de grande humanismo, mas é apenas demagogia barata, adotando a visão simplista e piegas (por sugestão de “marqueteiros”?) de que a morte é “ruim” e, como tal, deve ser “evitada”.

Assim, a questão que se apresenta é ao mesmo tempo bastante filosófica e de interesse público: o que é mais importante homenagear, o nascimento ou o falecimento? Ora, é evidente que todos os indivíduos que vivem ou viveram nasceram em algum momento; isso é algo para comemorar-se, sem dúvida. Mas um nascimento é apenas uma promessa, uma grande esperança, que pode realizar-se ou pode frustrar-se. A todo instante vemos pessoas que tinham “tudo para dar certo” mas que erraram e falharam, ou cujas decisões foram desastrosas; vemos políticos, artistas, pensadores, industriais e cidadãos comuns cujos comportamentos conduziram ao desastre não apenas as próprias vidas como as vidas dos demais indivíduos. Ou, inversamente, pessoas cujos nascimentos não prenunciavam muito mas cujas vidas foram plenas de significação e realizações.

Em outras palavras, avaliar de fato a vida de cada um só é possível no final dela, freqüentemente após vários anos (mesmo décadas ou séculos) do falecimento. Definir se alguém merece alguma forma de homenagem – com selo, estátua, nome de ruas, avenida, museu, cidade etc. – só é possível após o falecimento.

Essa perspectiva não guarda relações com a visão macabra sugerida pela Portaria do Ministério das Comunicações; em vez de centrar-se em indivíduos que vivem em si e para si, comemorar as datas dos falecimentos é afirmar que o ser humano é social, histórico e simbólico, isto é, que vive para os outros e nos outros e que, quando sua vida realmente valeu a pena, merece ser eternizada, inclusivamente nos pequenos adesivos que facilitam as comunicações humanas.

Comemorações de 223 (2011)

Comemorações do ano 223 (2011)

Tipo*

Vida

CALENDÁRIOS

Wikipédia**

Positivista

júlio-gregoriano

Antonino Pio

86-161

25.César

17.maio

http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonino_Pio

FRANCIS BACON

1561-1626

14.Descartes

21.outubro

http://en.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon

Henry Briggs

1561-1631

4.Gutenberg

16.agosto

http://en.wikipedia.org/wiki/Henry_Briggs_(mathematician)

Defoe

1661-1731

6.Dante

21.julho

http://en.wikipedia.org/wiki/Daniel_Defoe

John Dollond

1706-1761

11.Gutenberg

23.agosto

http://en.wikipedia.org/wiki/John_Dollond

Quinto Ênio

239-169

22.Homero

19.fevereiro

http://pt.wikipedia.org/wiki/Quinto_%C3%8Anio

GUTENBERG

1400-1661

13.agosto-9.setembro

http://pt.wikipedia.org/wiki/Johannes_Gutenberg

DAVID HUME

1711-1776

28.Descartes

4.novembro

http://pt.wikipedia.org/wiki/David_hume

São Leão o Grande

390-461

15.Carlos Magno

2.julho

http://en.wikipedia.org/wiki/Pope_Leo_I

Mazzarino

1602-1661

17.Frederico

21.novembro

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mazarino

Plínio o Moço

61-116

18.Aristóteles

15.março

http://fr.wikipedia.org/wiki/Pline_le_Jeune

Samuel Richardson

1689-1761

20.Shakespeare

29.setembro

http://en.wikipedia.org/wiki/Samuel_Richardson

Tácito

61-120

20.Aristóteles

17.março

http://fr.wikipedia.org/wiki/Tacite

FONTE: “Apêndice” de Apelo aos conservadores (autoria de Augusto Comte; Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1899), organizado por Miguel Lemos.

NOTAS:

  1. Os nomes em itálico indicam os tipos adjuntos, considerados titulares nos anos bissextos.
  2. Os nomes em letras maiúsculas indicam chefes de semana ou de mês.
  3. As datas de vida reproduzem as indicadas por Miguel Lemos no “Apêndice” ao Apelo aos consevadores; algumas delas podem ter sofrido correção desde 1899, a partir de pesquisas historiográficas.
  4. Os artigos da Wikipédia foram selecionados basicamente em português, mas em diversos casos ou só havia em outra(s) língua(s) ou eram melhores em outra(s) língua(s) (francês e inglês, mas também espanhol e italiano).

02 janeiro 2011

1º de janeiro - Festa da Humanidade

A Humanidade

Autor: Eduardo Sá.

Fonte: Auguste Comte et le Positivisme (http://membres.lycos.fr/clotilde/images/humanity.jpg).


O ano novo não é apenas a mudança de ano, alterando um pouco nosso calendário. O dia 1º de janeiro é mais que isso: é o dia da fraternidade universal, a Festa da Humanidade.


O ano novo faz-nos pensar no que fizemos e no que podemos fazer. Conhecendo o passado, preparamos o futuro, ao melhorar o presente.


Assim, desejo um 2011 com paz, justiça e prosperidade: com amor, ordem e progresso.