No dia 5 de Gutenberg de 171 (17.8.2025) realizamos uma prédica extraordinária, consistindo exclusivamente na leitura da apresentação pessoal realizada no final do mês de César deste ano.
Com as devidas alterações, essa apresentação pode ser entendida como uma "carta a um aspirante ao sacerdócio positivo", cujo texto está reproduzido abaixo.
A prédica foi transmitida no canal Positivismo (aqui: https://www.youtube.com/live/BHdxB9CeVO0?si=uWvHXJ9D6S8fs386).
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Apresentação pessoal; ou carta a um aspirante ao sacerdócio da Humanidade
O
documento abaixo foi inicialmente redigido para exposição em uma prédica
positiva realizada em 28 de César de 171 (20.5.2025)[1].
Desde o início planejamos elaborar a partir delas uma separata, fosse para
divulgação do texto em si, fosse como roteiro de um vídeo curto unicamente
dedicado à nossa apresentação pessoal.
Entretanto,
em uma conversa pessoal que mantivemos com nosso amigo Hernani Gomes da Costa
logo após a prédica, ele sugeriu que tal separata fosse chamada de “Carta a um
aspirante ao sacerdócio da Humanidade”, na medida em que, na generosa
apreciação de Hernani, nossa exposição, para além da apresentação propriamente
pessoal, reúne e resume alguns dos mais importantes elementos necessários à
preparação e à atuação do sacerdócio da Humanidade.
Dessa
forma, a exposição inicial foi adaptada para transformar-se neste documento. Esperamos
que os comentários abaixo correspondam à gentil e simpática apreciação de nosso
amigo e que possam efetivamente ser úteis a todos aqueles que desejam trilhar o
importante, honroso e árduo caminho do sacerdócio da Humanidade.
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Caras amigas, caros amigos, caras irmãs, caros irmãos na Humanidade:
Escrevo
estas palavras com a esperança de que, a partir da minha experiência e
considerando as exigências morais, intelectuais e práticas, seja mais fácil
para vocês a orientação rumo ao sacerdócio da Humanidade.
Embora
eu estude, defenda, divulgue e aplique o Positivismo há algumas décadas, faz
somente alguns anos que realizo prédicas, em particular na internet; essas prédicas têm sido realizadas em diferentes modelos
e creio ter um reconhecimento crescente de minhas atividades.
Desde o
início eu parti do pressuposto de que, mais que por meio de títulos e pompas, a
minha atuação deveria legitimar-se ao
longo do tempo pela qualidade dessa
atuação, na medida em que eu atuasse como um verdadeiro e efetivo poder Espiritual: assim, eu procuro realizar exposições
claras, honestas, competentes, úteis, informativas, elaboradas com autonomia e
responsabilidade, respeitando e valorizando o público.
Após
alguns anos fazendo as prédicas, eu creio que convém agora fazer uma
apresentação pessoal, para expor os parâmetros que eu adoto em minhas
exposições. O objetivo, no fundo, é bem simples: é ganhar, ou reforçar, a
confiança do público no sacerdócio, sendo que essa confiança tem que ser ao
mesmo tempo no conjunto do sacerdócio
e em cada um dos sacerdotes. Estes
comentários assumem, portanto, ao mesmo tempo um aspecto de apresentação pessoal e também de prestação pública de contas, dentro do
que nosso mestre advogava como sendo o “viver às claras”. De qualquer maneira,
em termos de prestação de contas, esta exposição é complementar às “circulares
anuais” que tenho elaborado para a Igreja Positivista Virtual, dando
continuidade a uma prática iniciada por Augusto Comte e continuada pelos
seguintes grandes sacerdotes e apóstolos da Humanidade, embora lamentavelmente
interrompida nas últimas décadas pelos vários (supostos) órgãos do poder
Espiritual positivo.
Antes
de passar diretamente para a carta, uma última observação preliminar. Como é
natural, nas prédicas eu costumo usar a primeira pessoa do plural (o “nós”),
seja na forma do plural modéstico, seja na forma do plural majestático; mas,
como esta carta consiste em uma apresentação e uma justificativa pessoais, nesta exposição eu usarei a
primeira pessoa do singular (o “eu”).
Então,
vamos lá. Eu sou Gustavo Biscaia de Lacerda; sou sacerdote da Religião da
Humanidade e Diretor e fundador da Igreja Positivista Virtual. Sou sacerdote da
Humanidade porque sou oficiante da Religião da Humanidade; além disso, sou
apóstolo da Humanidade, pois sou difusor da Religião da Humanidade; nas duas
situações, minha preocupação, minha pretensão é a de ser um órgão do poder
Espiritual positivo.
Para cumprir
essas atribuições, procuro seguir as orientações da Igreja e Apostolado
Positivista do Brasil, conforme as disposições de 1881 (na época da fundação da
IPB) e os Expedientes de 1917/1927 (estabelecidos nas transformações de Miguel
Lemos e R. Teixeira Mendes), que, por sua vez, basearam-se nas orientações de
Augusto Comte. Ainda assim, é claro que as disposições que adoto consideram a
história do Positivismo, ou seja, as inúmeras experiências concretas do Positivismo,
bem como a situação moral, social e intelectual em que vivemos atualmente.
Procuro
filiar-me à tradição moral e prática estabelecida pela Igreja Positivista do
Brasil: a tradição oral das práticas
efetivas da IPB é importante, mas em última análise a mera repetição oral de
tradições é insuficiente e tem que
ser lastreada em documentos públicos,
que assumem o aspecto de documentos escritos
e publicados. Esses documentos, que
realizam o “viver às claras”, garantem a realidade, a certeza e a clareza das informações
e permitem que evitem e/ou resolvam ambiguidades, dificuldades, incertezas,
além de oferecerem parâmetros para aplicação concreta do Positivismo.
Uma
preocupação constante de minha atuação é com a “atualização” do Positivismo. Eu
já dediquei algumas prédicas a esse tema; considero que atualizar o Positivismo
consiste em adaptá-lo à realidade em que vivemos, utilizar os meios adequados e
disponíveis à sua difusão e aplicá-lo à realidade concreta vivida pelos seres
humanos. Há aspectos específicos da doutrina positivista que podem, e até
devem, ser revistos, em face de desenvolvimentos posteriores às elaborações de
Augusto Comte: entretanto, por um lado são aspectos muito pontuais (geralmente
relativos a questões especificamente científicas) e, por outro lado e mais
importante, o conjunto da obra de nosso mestre e a quase totalidade de suas
concepções mantêm-se relativisticamente inalteradas, em particular em termos
sociológico-morais, filosóficos, cultuais e de regime.
Em
particular, eu rejeito a tendência, muito própria aos hábitos mentais
contemporâneos – profundamente marcados pela metafísica e por sua criticidade
destruidora –, segundo os quais a “atualização” do Positivismo na prática consistiria
em “rever”, negar, desprezar a obra de Augusto Comte, sem nenhuma preocupação
com relativismo, simpatia, organicidade e veneração. Esses hábitos mentais (mais
uma vez: profundamente metafísicos) são particularmente ativos no jornalismo
diário e nas academias, ambientes nos quais o novidadismo destruidor, antiorgânico
e antissimpático apresenta-se como virtuoso e progressista; isso tudo com
freqüência é esgrimido por pessoas que se aproximam do Positivismo mas
desconhecem a doutrina e, em particular, não entendem seus sentimentos, suas
idéias e suas preocupações práticas.
Voltando
às diretrizes estabelecidas pela Igreja Positivista do Brasil e o respeito que
tenho por elas. Eu tenho, por um lado, um respeito geral a essas diretrizes e um
respeito à autoridade moral e espiritual – subjetiva
– de Miguel Lemos e Teixeira Mendes; por outro lado, como órgão empírico da
Religião da Humanidade, mantenho autonomia objetiva
em minhas atividades e decisões. Dessa forma, em última análise, a responsabilidade por minhas ações é minha,
sendo pessoal e intransferível. (O sacerdócio empírico é aquele que surge espontaneamente em algum lugar, a
partir das necessidades sociais e das vocações individuais; o sacerdócio sistemático é aquele que se perpetua ao
longo do tempo, que se constitui, prepara-se e legitima-se de acordo com os
parâmetros positivos, especialmente os da hereditariedade sociocrática.)
A responsabilidade pessoal e intransferível
pelas opiniões e ações do poder Espiritual é uma característica inerente a
todos os servidores da Humanidade, quer sejam espirituais, quer sejam temporais;
em qualquer caso, essa responsabilidade é condição e garantia da confiança
depositada pelo público no servidor da Humanidade. Se isso é válido para
qualquer servidor da Humanidade, é ainda mais válido para o sacerdócio
positivo, cuja atuação baseia-se essencialmente na confiança depositada em si
pelo público. Além disso, a responsabilidade pessoal e intransferível também se
verifica na medida em que, conversando com outros positivistas, pedindo
esclarecimentos e sugestões – em particular de nosso amigo de longa data,
Hernani Gomes da Costa –, as opiniões expostas e as ações tomadas são sempre
decididas e assumidas em última análise por mim. Isso não é personalismo, que seria incompatível com
o altruísmo positivista, mas de responsabilização
clara, consciente e pública do servidor da Humanidade por suas ações.
Nascido
no ano 113 da era normal (1977), atualmente eu tenho 48 anos de idade e sou
positivista desde os 16 anos; nasci e vivo em Curitiba, capital do Paraná;
minha profissão é de sociólogo, que exerço na Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Olhando para trás, posso dizer que, desde que conheci o Positivismo e
mesmo antes, sempre me orientei para o
sacerdócio da Humanidade, valorizando o conhecimento do ser humano,
valorizando a moral e a moralidade, assim como valorizando o conhecimento
positivo de modo geral. Em termos de carreira acadêmica e profissional, fiz
graduação em Ciências Sociais (na UFPR), mestrado em Sociologia (na UFPR) e
doutorado em Sociologia Política (na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC));
também fiz um pós-doutorado em Teoria Política (na UFSC) e um em Filosofia das
Ciências (na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)); desde 2004 sou
sociólogo profissional na UFPR.
Eu sou
(1) positivista (2) religioso e (3) sacerdote da Humanidade. Para mim, cada um
desses aspectos significa o seguinte.
Como positivista, entendo que a obra de
Augusto Comte é uma única, embora evidentemente ela tenha passado por
diferentes fases, que correspondem a um longo, importante e necessário processo
de amadurecimento moral e intelectual. Esse processo teve um ponto de inflexão
particularmente importante durante o belo “ano sem par”, quando nosso mestre
conheceu e apaixonou-se pela angélica Clotilde de Vaux, mulher de qualidades
superiores, à altura do amor e da missão de nosso mestre. Isso culminou na
criação da Religião da Humanidade, que, por seu turno, teve precisa e
necessariamente como primeiro
sacerdote – mas não único sacerdote –
Augusto Comte. Em face da Religião da Humanidade, procuro ser um positivista completo, também chamado de “ortodoxo”
ou, mais corretamente, de “religioso”, ao mesmo tempo em que me distancio dos
positivistas incompletos, ou heterodoxos, que são meramente cientificistas e
com freqüência anticlericais e/ou ateus.
Como
positivista completo, ou ortodoxo, e
ainda mais como sacerdote e apóstolo, procuro conhecer a obra de Augusto Comte
diretamente na fonte, além de conhecer a obra de outros positivistas. É claro
que “conhecer a obra” inclui não somente conhecer os livros canônicos (a Política positiva, o Catecismo positivista, a Síntese subjetiva etc.), mas também as cartas
e as ações concretas (conforme expostas em relatos de discípulos, parentes e
amigos) de Augusto Comte. De modo central, além de conhecer, é claro que também
me esforço para aplicar essas
concepções.
Sendo
um positivista religioso e tendo a pretensão de ser um sacerdote e um apóstolo da Humanidade, não apenas correspondo à
exigência intelectual fundamental – conhecer a obra de Augusto Comte e ser
capaz de expor e explicar com autonomia e responsabilidade pessoal o Catecismo positivista e as últimas
concepções de nosso mestre –, como também procuro cumprir as exigências morais,
sociais e práticas correspondentes, em particular no sentido da separação entre
os dois poderes. Sou (1) um apóstolo
porque difundo a Religião da Humanidade e
tenho conhecimento da doutrina; sou (2) um sacerdote porque atuo (ou
procuro atuar) como um representante do poder Espiritual positivo e, além
disso, ministro os sacramentos da Religião da Humanidade; em ambos os
casos, (3) cumpro os requisitos exigidos para
cada uma dessas atuações.
A minha
condição de apóstolo e, principalmente, de sacerdote vincula-se também à
necessidade urgente de reconstituição dos quadros positivistas, especialmente
em termos práticos. A esse respeito, é necessário afirmar que a concepção de
que só houve um único sacerdote da Humanidade – Augusto Comte –, sem a
possibilidade de haver nenhum outro, embora em si mesma seja generosa, é uma
concepção radicalmente equivocada,
baseada em uma devoção mal orientada, ignorante da doutrina e daninha para a
prática religiosa.
A
reconstituição atual dos quadros positivistas é um objetivo real e ocorre de
fato por diferentes meios. Para nossa felicidade, podemos dizer com segurança
que não apenas a Igreja Positivista Virtual é uma realidade concreta como
também o Templo Positivista de Porto Alegre é atuante e, além disso, há alguns
anos fundou-se o Apostolado Positivista da Itália. Saímos, portanto, das
angustiantes situações, vividas até algumas décadas atrás, em que não havia
mais núcleos positivistas atuantes ou em que havia somente um único.
Também
é fundamental lembrar e afirmar que não basta alguém querer ser líder espiritual
apenas devido a uma pretensão de ser líder espiritual; a mera pretensão, se for
uma pretensão vazia, baseia-se em vaidade e resulta em prepotência, enganos e
equívocos. Embora a vaidade e o orgulho sejam motivadores até importantes e embora eles impressionem bastante os ignorantes
e os incautos, eles são insuficientes como fundamentos para a vida
sacerdotal/apostólica e, ao longo do tempo, como já tivemos inúmeras ocasiões
de comprová-lo (no Brasil e em outros países), são desastrosos para o
Positivismo. Para a liderança espiritual, é necessário conhecer a doutrina,
praticá-la, viver conforme seus parâmetros, difundi-la e ser um exemplo dela;
em outras palavras, realmente é necessário cumprir inúmeros requisitos morais,
intelectuais, práticos e sociais.
Seja
por temperamento, seja devido ao Positivismo, entendo os títulos e a pompa como
formas que a vaidade mais tola e mais superficial tem para justificar-se e
impor-se, especialmente quando essa vaidade é ignorante e sem méritos
verdadeiros, ou seja, quando ela é vazia. Lembro que os sacerdotes, assim como
os integrantes do poder Espiritual de modo geral, têm que ter uma certa
vaidade, na medida em que a vaidade é o instinto egoísta que busca a aprovação
alheia; mas as atividades sacerdotais não podem resumir-se a satisfazer essa
vaidade, pois isso no final das contas tem como resultado a degradação da doutrina e do sacerdócio,
muito mais que a degradação do próprio vaidoso. Da mesma forma, embora a pompa
estimulada pela vaidade impressione bastante o comum das pessoas, ela resulta
em apoios equívocos e equivocados. Dessa forma, nossa missão como poder
Espiritual positivo consiste também em, por um lado, rejeitar a pompa, a
vaidade vazia, a ignorância e, por outro lado, em valorizar a visão de
conjunto, a existência real de atributos morais, intelectuais e práticos, a
atuação social e individual efetiva.
Em vez
de perseguir a satisfação da vaidade e/ou do orgulho, o poder Espiritual deve
manter uma relação de responsabilidade, seja para com a Humanidade em geral,
seja para a sociedade particular em que vive, seja para com os membros de sua
igreja. Em outras palavras, em vez de o apóstolo e/ou o sacerdote buscar uma
satisfação infantil ao ser ouvido e/ou obedecido pelos demais, o parâmetro que
deve guiar a sua atuação é a responsabilidade decorrente da confiança depositada
nele, como representante sistemático ou empírico da Humanidade, e que em termos
concretos consiste em que o público que ouve o sacerdote e/ou apóstolo confia
em seus conselhos e leva-os a sério.
Mudando
um pouco de âmbito, passando para o da separação entre os dois poderes: não sou filiado a nenhum partido político;
nunca concorri a nenhum cargo público eletivo; não pratico o jornalismo como
profissão; não uso o Estado para difundir a doutrina. Essas restrições não
têm nada de excepcionais e são elementares para o sacerdócio da Humanidade. Na
verdade, considerando as exigências próprias a cada um dos dois poderes
fundamentais (o poder Espiritual, que esclarece e aconselha, e o poder
Temporal, que manda), tenho clareza de que quem pretende ser apóstolo da
Humanidade (ou sacerdote de qualquer doutrina) não pode nunca concorrer a
cargos e, inversamente, quem concorre não pode nunca ser apóstolo e/ou
sacerdote. Além disso, não promovo outras
doutrinas nem outras associações que possam concorrer, direta ou indiretamente,
com o Positivismo. Na verdade, explicitamente rejeito qualquer ambigüidade a esse respeito: quando eu
manifesto-me, procuro sempre deixar claro que é com base no Positivismo, quer
seja em termos estritamente pessoais, quer seja quando falo em termos mais
gerais.
O
sofrimento não é mérito, mas às vezes ele pode evidenciar compromissos íntimos,
especialmente por meio do martírio. Nesse sentido, a minha vinculação, a minha
identificação e a minha vida conforme o Positivismo são suficientemente grandes
e são atestadas por dificuldades e exclusões que sofri ao longo dos anos exatamente
porque sou positivista. Um exemplo claro é a censura sofrida em concurso
público para professor de Ciência Política na UFSC, em 2011, quando a banca,
presidida por um liberal católico, proibiu-me de lecionar lá porque sou
positivista – embora, em contraposição, feministas, marxistas, liberais,
anarquistas etc. etc. tenham permissão para lecionar nas universidades públicas
e para usar essas instituições como púlpitos em vez de cátedras. Vale notar que
o uso que se faz das universidades como púlpitos e não como cátedras (1)
despreza a separação entre o poder Espiritual e o poder Temporal, (2) confunde
e degrada o poder Espiritual, (3) atrapalha, dificulta e, no limite, impede a
reorganização espiritual e (4) justifica, mais uma vez, muitas das críticas de
Augusto Comte às instituições acadêmicas. Além disso, com freqüência comento
nas prédicas que o ambiente metafísico atualmente reinante na sociedade (ocidental)
e na universidade gera equívocos e u’a mentalidade contrária ao Positivismo,
que nos impede de falar, ao mesmo tempo em que se mente a nosso respeito e
difundem-se doutrinas e “ideologias” daninhas à sociedade e ao ser humano.
Como é
natural, os caminhos que levam ao Positivismo são muito variados; há quem
chegue a ele pela filosofia, há quem
chegue pela política, há quem chegue
pelo coração, ou seja, pela
inteligência, pela atividade prática e/ou pelos sentimentos. Conforme eu
entendo a Religião da Humanidade, ela satisfaz e deve satisfazer cada um desses
caminhos, ou melhor, cada um desses aspectos, ao mesmo tempo em que a Religião
da Humanidade evidencia que os outros aspectos da vida humana também devem ser,
necessariamente, satisfeitos.
O meu
caminho foi basicamente intelectual e moral: adolescente, eu procurava uma
orientação na vida, mas também me preocupava com a política. Chegando ao
Positivismo, obtive essa orientação moral, intelectual e prática de que
precisava; mas, para mim muito mais importante que isso, eu descobri e
reconheci cada vez mais a importância do coração, que no fundo é o aspecto
principal da Religião da Humanidade. Além disso, outros aspectos fundamentais
do Positivismo – a afirmação da visão de conjunto e da realidade da totalidade
humana – são concepções que cada vez mais aplico no conjunto da minha vida.
Como
sacerdote e como apóstolo da Humanidade, entendo o aspecto de aconselhador do poder Espiritual: isso
implica não somente que devo rejeitar a imposição das minhas crenças pelo
Estado – bem como de qualquer outra crença –, mas que também devo ser um bom conselheiro para quem
precisa de conselhos. Ora, o aconselhamento próprio ao poder Espiritual é coletivo – em termos políticos, sociais
e morais – e também individual – em
termos igualmente políticos, sociais e morais.
O
aconselhamento coletivo dá-se por
meio da apreciação de temas de interesse público e realiza-se na leitura
comentada das obras de Augusto Comte, nos sermões das prédicas e quando elaboramos
“manifestos” políticos e sociais. Já o aconselhamento privado ocorre tanto por meio das prédicas em geral – que, afinal,
são vistas e acompanhadas por indivíduos
– quanto por meio de aconselhamentos especificamente pessoais.
Se é
verdade que os indivíduos só existem como abstrações, também é verdade que a
Humanidade é um ser composto, que existe em última análise pelos indivíduos; da
mesma forma, a ação sacerdotal modifica a sociedade também pela modificação dos
indivíduos: não podemos deixar de lado o aconselhamento, o apoio, a valorização
dos membros individuais de nossa igreja e, de modo mais amplo, da Humanidade. É
importante eu notar que, enquanto eu preparei-me de modo especial ao longo de
minha carreira em particular para o aconselhamento coletivo, o sacerdócio da Humanidade não pode nunca descuidar do
aconselhamento individual: por esses motivos, e por muitos outros ainda,
tenho-me dedicado cada vez mais a conhecer como lidar e como auxiliar de fato
os indivíduos que acorrem ao
Positivismo. A preocupação com o aconselhamento individual tem-se desenvolvido
ao longo das prédicas, como resultado das interações ocorridas nas prédicas e
também como resultado do amadurecimento de minhas atividades como sacerdote e
apóstolo.
O
último aspecto que quero comentar é que as prédicas têm evoluído ao longo do
tempo. Minha atuação na Igreja Positivista Virtual dá-se basicamente pelas
prédicas, que realizo toda terça-feira a partir das 19h, nos canais Positivismo (Youtube.com/ThePositivism) e Igreja Positivista Virtual (Facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual
e Instagram.com/IgrejaPositivistaVirtual).
Quando
eu iniciei as minhas prédicas à distância, já ocorriam nas manhãs de domingo as
reuniões realizadas pelo Guardião do Templo Positivista de Porto Alegre, Érlon
Jacques de Oliveira: com a especial e consciente preocupação de não o
atrapalhar nem criar uma concorrência com ele – concorrência que seria
desnecessária, desleal, contraproducente e antipositivista –, decidi realizar
as minhas prédicas no meio da semana e à noite.
Sendo o
progresso o desenvolvimento da ordem correspondente, creio que, aos poucos e
cada vez mais, modifiquei e incrementei as prédicas, no sentido de torná-las
mais sintéticas, mais orgânicas e mais simpáticas, ou seja, mais úteis, mais
claras, mais interessantes, mais responsáveis e mais abertas ao diálogo. Esse
progresso paulatino e incremental dá-se por meio de ajustes em meus procedimentos;
no aumento de atividades; na diversificação das atividades; na mudanças
de canais para transmissão; no estudo e no aperfeiçoamento das condições e
das práticas de aconselhamento. O progresso
paulatino e incremental também se dá, na medida de minhas possibilidades, por
meio do estudo e da pesquisa sobre tudo quanto é dito e comentado nas prédicas,
especialmente em termos de observações e dúvidas manifestadas pelo público;
esse estudo é feito para que eu possa responder e comentar satisfatoriamente o
que é dito pelo público e possa, portanto, aconselhar e orientar adequadamente.
Assim,
sem pretender que o formato atual das prédicas seja excelente ou final, tenho
certeza de que elas são hoje muito melhores do que eram no início – e isso não
porque tenho agora maior desenvoltura na exposição, mas porque as prédicas
estão melhor estruturadas, com mais elementos que indicam melhor o seu aspecto
religioso e que satisfazem melhor as necessidades coletivas e as individuais.
Nesta
carta eu comentei vários aspectos; a respeito de alguns eu aprofundei-me um
pouco, a respeito de outros eu só fiz breves comentários; além disso, muitas
outras questões não foram abordadas. O que eu abordei foi o que me pareceu – no
momento em que redigi esta carta – mais relevante para apresentar as principais
características e diretrizes da minha atuação como sacerdote e apóstolo da
Religião da Humanidade. Alguns aspectos eu expus explicitamente, mas muitos
outros eu deixo para que vocês, que têm interesse no sacerdócio positivo,
procurem por si mesmos as indicações; é claro que as melhores exposições
doutrinárias a respeito estão nas obras de Augusto Comte e de vários apóstolos
da Humanidade (a começar pelos nossos Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes).
No final das contas, espero que esta carta tenha sido clara, útil e estimulante.
Saúde e fraternidade,
Gustavo Biscaia de Lacerda
Curitiba,
5 de Gutenberg de 171 (17.8.2025).
[1] As anotações originais da prédica estão disponíveis aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/05/apresentacao-pessoal-formula-destinacao.html; já o vídeo dessa prédica pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/live/wE5V1Z59bV8?si=Pn5x9RyN69sYKKCx. Acesso em 21.5.2025.