“Se estivéssemos no parlamentarismo,
Bolsonaro já teria caído”. Essa frase impressiona, mas é mera mistificação
parlamentarista e, sendo mistificação, não nos ajuda em nada.
Hitler foi primeiro-ministro alemão
no parlamentarismo durante 12 anos. Sua insanidade era visível para quem
quisesse ver e teve um custo altíssimo, não apenas para suas vítimas mas também
para o povo alemão de modo geral. Como se sabe, Hitler não “caiu” – e muito
menos por virtude do parlamentarismo –; ele matou-se quando percebeu que não
tinha mais futuro nenhum.
A Itália, como se sabe, tem
primeiros-ministros com mandatos menores que um ano, desde 1945!
A Inglaterra parlamentarista, após
aprovar em referendo a tolice nativista e xenófoba do Brexit, teve que fazer três
ou quatro eleições gerais em dois anos para que o grupo no poder e favorável ao
Brexit conseguisse elaborar internamente uma proposta aceitável por esse mesmo
grupo no poder e favorável ao Brexit. Em outras palavras, o parlamentarismo
criou e alimentou uma crise burra que durou mais de dois anos e, agora, esse
mesmo parlamentarismo corre atrás da reversão prática do Brexit.
Israel – um país parlamentarista – vive
uma crise de governabilidade semelhante à da Inglaterra parlamentarista.
Assim, surgem as perguntas: onde
estão as apregoadas virtudes de responsabilidade e estabilidade, misticamente
atribuídas ao parlamentarismo? A resposta é clara: o parlamentarismo não é nem
estável nem responsável.
Em suma: o problema não é o
presidencialismo, é o Presidente (e também o descrédito geral da política, em
grande parte causada pelos mesmos políticos que sempre defenderam o
parlamentarismo, como Aécio Neves, ou que sempre se esconderam atrás do
parlamento, como o atual Presidente).
Dito isso, é importante notar que insistir
na tolice do parlamentarismo – que, aliás, para ser implantado, teria que ser
via (mais um) golpe – é fazer um desserviço para o país, atrapalhar os debates
nacionais e, por tudo isso, ajudar o fascismo nacional.
Ao contrário do que dizem os
defensores-mistificadores do parlamentarismo (e, em menor proporção, da
monarquia), o presidencialismo é o verdadeiro regime de responsabilidade e
responsabilização política. Basta minimamente não ser um fanático para
perceber-se com clareza que Jair Bolsonaro é um incompetente e um irresponsável;
não por acaso, ele é um produto acabado do parlamento e do parlamentarismo,
onde sempre pode esconder-se e esconder sua podridão moral e sua
insignificância política atrás de 512 outros deputados.