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22 maio 2025

Mais alguns livros positivistas disponíveis na internet

Mais alguns livros e publicações positivistas foram recentemente incluídos no repositório eletrônico Internet Archive:


- Juillerat – “Notícia sobre a vida e os escritos de Daniel Encontre” (1898); disponível aqui: https://archive.org/details/n.-178-noticia-sobre-vida-e-escritos-de-daniel-encontre

- Raimundo Teixeira Mendes – “Comte e Clotilde” (1903); disponível aqui: https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-comte-e-clotilde

- IPB - Expedientes (1924); disponível aqui: https://archive.org/details/expedientes-da-ipb-1919

- J. Montenegro Cordeiro – “O apóstolo Teixeira Mendes” (1927); disponível aqui: https://archive.org/details/j.-montenegro-cordeiro-o-apostolo-teixeira-mendes 

João Montenegro Cordeiro: "O Apóstolo Teixeira Mendes (Narração aos moços)"



O APÓSTOLO TEIXEIRA MENDES

1855-1927

João Montenegro Cordeiro                    

  

O APÓSTOLO TEIXEIRA MENDES

(Narração aos moços)


Vi-o no albor da vida, em sôfregos elances,

Matemática ler como outros lêem romances...

Fervoroso, entretanto, olhos levar e ouvidos

Ao quadro de aflições, ao coro de gemidos

Que o Mundo ora apresenta em seu vasto recinto,

E em vez de se perder no icário labirinto

Das ciências sem termo e sem continuidade,

Mais alto o arrebatar o anseio da verdade

Para a Concórdia humana!

 

                        Ardego vi-o então

O rumo demandar que lhe apontava a mão

Destra e forte e leal do gênero que primeiro

A estrela da manhã, perspícuo, alvissareiro,

Lobrigou entre nós.

 

                        Sem falsos tateamentos,

O ímpeto a refrear dos pessoais intentos,

Alheio a glórias vãs, a mundanos agrados,

Pelos firmes degraus dos volumes sagrados,

Vi-o a escada subir – lógico moralista! –

Que do número leva à síntese altruísta.

 

E a luta começou!... Luta antiga, porém

Sempre nova e sem fim; luta entre o Mal e o Bem.

Luta entre o Anjo e o Demônio; a alma livre e a alma escrava,

Que em torrentes de sangue e lágrimas se trava

Fora e dentro de nós, sem tréguas, noite e dia,

Em busca do equilíbrio, em prol da simpatia.

 

Do norte ao sul vi neste país inteiro,

Trêmulo de emoção vi também no estrangeiro.

Sua alma, confundida à do maior Andrada,

Palpitar na bandeira aos ventos desfraldada.

 

E em meio ao turbilhão efêmero e cambiante

Onde se agita e passa a turba delirante

Grandezas desejando e misérias sofrendo

Num choque de ambições desesperado e horrendo,

Nesse culto ideal de pureza e bondade,

Feito com devoção no altar da Humanidade,

Quem viu um facho igual, de tamanho fulgor,

Sem esmorecimento a irradiar o Amor,

Qual possante farol na escuridão cerrada

Ao náufrago, indicando o porto de chegada?!...

 

Exultante de fé vi-o na praça pública

O monumento erguer do obreiro da República

Onde à população se ostenta, soberana,

A estátua universal a Providência humana!

 

Velho, mas sempre moço, eu vi-o finalmente

Reacender entre nós a um público descrente,

A leiga admiração ao católico santo

Cuja feição moral ele nos lembra tanto.

Graças a isso o homem triste, arrastando o seu tédio

P’las ruas da cidade em busca de remédio,

Vai d’ora avante achar, como fonte de alívio

As males da consciência, em afável convívio,

S. Francisco de Assis aos pés de Santa Clara,

Cheio de meiga unção e na atitude cara,

No cérebro extasiado ouvindo murmurar

Prelúdios do Hino ao Sol, místico e popular...

 

Curado o enfermo aí do estéril desalento,

Renascendo ao Amor pelo apaziguamento

De instintos pessoais, de errôneas opiniões,

Herdeiro sentir-se-á das idas gerações

Compreendendo enfim que às gerações futuras

Algo cumpre legar de inefáveis venturas,

E alegre, ao assumir uma nova conduta,

O homem regenerado antes de entrar na luta,

Bendirá certamente o apóstolo moderno

Que esse marco plantou no transitar eterno.

 

Em nume subjetivo o transformando a Morte,

O Mundo a levantar com seu ânimo forte,

Vejo-o hoje ancião glorioso, e entanto, pobre e humilde,

Mas filho espiritual de Comte e de Clotilde!

 

Rio de Janeiro, 2 de Dante de 139

                                    17 de julho de 1927

 

Montenegro Cordeiro.