No dia 16 de São Paulo de 170 (4.6.2024) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua undécima conferência (dedicada ao regime público).
No sermão abordamos os conceitos de antropocentrismo, indicando em particular a passagem das concepções antropocêntricas teológicas para a positiva.
A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/pYrMT) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://acesse.one/ONHAK).
O sermão iniciou-se em 1h 00 min 42 s.
As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.
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Do antropocentrismo teológico ao antropocentrismo positivo
- A prédica de hoje abordará um tema por assim dizer “transversal”, que é a concepção que temos do ser humano no mundo
o A reflexão sobre isso em si mesma é relativamente simples, mas, em todo caso, ela é plena de conseqüências e, mais importante, ela costuma ser mais implícita que explícita
§ Assim, vale a pena refletirmos explicitamente sobre isso e examinarmos algumas dessas conseqüências
o Mesmo para quem não conhece muito o Positivismo parece bastante claro que Augusto Comte propôs um novo, ou um renovado, antropocentrismo; assim, esse tema é realmente importante
o Além disso, a noção – ou melhor, uma determinada noção – de antropocentrismo foi recentemente retomada e criticada
§ Como veremos, essa retomada foi feita pela igreja católica, pelo Papa Francisco, em 2015
- Comecemos pelo início: antes de mais nada, o que é o antropocentrismo?
o De uma forma bem simples e direta, o antropocentrismo consiste em considerar que o ser humano é o centro ou está no centro de alguma concepção
o Mas é necessário definir os parâmetros de tal centralidade:
§ O ser humano é o centro efetivamente do quê: das reflexões, do Universo...?
§ Também é necessário determinar se essa centralidade é entendida em termos objetivos ou subjetivos
§ Por fim, é necessário determinar em quais âmbitos tal centralidade atua principal ou primeiramente: moral, intelectual, prático
- Utilizando esses parâmetros e aplicando-os à história da humanidade, vemos que de modo geral o antropocentrismo sempre esteve em vigor – pelo menos em termos morais e subjetivos
o No fetichismo, o ser humano não é entendido objetivamente como o centro do universo, além de não se adotar um antropocentrismo prático; mas como no fetichismo o ser humano atribui a todos os corpos – animados ou inanimados – as mesmas qualidades morais e intelectuais próprias ao ser humano, o que há é um antropocentrismo “epistemológico”, em que a natureza humana é disseminada e, daí, o ser humano não é exatamente o centro da existência
§ Uma conseqüência dessa “generalização do ser humano” e do entendimento de que tudo é dotado da afetividade e da inteligência humanas é que os seres humanos tendem a respeitar as coisas e o meio ambiente
§ Augusto Comte observava que o fetichismo é espontâneo e até ingênuo; assim, esse antropocentrismo epistemológico é altamente implícito
o Com a passagem do fetichismo para a teologia propriamente dita, o tipo humano é claramente eleito como o parâmetro de avaliação e de entendimento do mundo; ao mesmo tempo, como o movimento do mundo passa a ser causado pela vontade dos deuses, os corpos naturais passam a ser entendidos como desprovidos de movimento e, para o que nos interessa, também deixam de compartilhar conosco nossa afetividade e nossa inteligência
§ No politeísmo o ser humano é o centro da existência, seja porque, no âmbito da narrativa teológica, considera que o ser humano foi feito pelos deuses à sua semelhança, seja porque, em termos sociológicos, os deuses refletem – em graus pronunciados e sem controle – os traços da natureza humana e nossas atividades
· No politeísmo o mundo é entendido como estando em interação com o ser humano; nós somos centrais, mas disso não se segue que devamos acabar com os recursos naturais – aliás, não há nem mesmo as condições técnicas e sociais para isso
o Evidentemente, em diversos momentos ocorreram esgotamentos locais de recursos naturais, como nos casos de esgotamentos de minas, devastações de florestas ou esgotamento de solos
o Tais esgotamentos locais deveram-se à finitude dos recursos (minas), à imprevidência (florestas) ou à ignorância das leis naturais (solos)
· Vale lembrar que, claro, há vários politeísmos: os mesopotâmicos, o egípcio, o hindu, o grego, o romano e muitos outros
o Nossa reflexão concentra-se na Grécia e em Roma
· A centralidade moral e prática do ser humano no antropocentrismo politeísta apresenta-se com clareza na fórmula de Terêncio: “Homo sum; humani nil a me alienum puto” (“Sou humano, nada do que é humano me é estranho”)
· Do ponto de vista intelectual, o politeísmo pode permitir um afastamento do antropocentrismo, no sentido da objetividade: as pesquisas científicas gregas ilustram bem isso, como comprovam os cálculos de Eratóstenes sobre a medida da circunferência da Terra (e, antes, também sobre o caráter esférico da Terra)
· Disso resulta que no politeísmo o antropocentrismo basicamente é implícito, mas às vezes pode tornar-se explícito e até ser posto de lado
· Vale notar que esse “pôr de lado” o antropocentrismo corresponde ao desenvolvimento do método objetivo
§ No monoteísmo o antropocentrismo curiosamente assume um grau máximo
· Antes de mais nada: consideramos que, basicamente, há três monoteísmos (judaico, católico, islâmico)
o Nossas reflexões concentrar-se-ão no catolicismo
· Esse antropocentrismo, todavia, é tanto subjetivo quanto, principalmente, objetivo: atribui-se ao ser humano a centralidade do Universo, no sentido de que o Universo foi criado por uma divindade objetiva para usufruto humano
· Assim, no monoteísmo, o antropocentrismo é fortemente implícito e atua nos âmbitos moral, intelectual e prático; além disso, ele é entendido como objetivo
· Como, a partir da Bíblia, considera-se que a Terra foi feita para o ser humano, a conseqüência é que os recursos naturais podem ser utilizados à vontade, sem limitações
o A noção de “esgotamento dos recursos” (além de não ocorrer com facilidade na prática) não se apresenta por definição, na medida em que a divindade provê ao ser humano tudo de que ele precisa
o Além disso, também se considera que, no caso do esgotamento dos recursos e/ou dos desastres naturais, essas adversidades correspondem à vontade divina, seja porque a divindade “escreve reto por linhas tortas”, seja porque se trata de punições por algum pecado
· Esse antropocentrismo objetivo também separa radicalmente o ser humano do resto dos animais (somente o ser humano teria “alma”) e considera que, literalmente, o ser humano é o centro do Universo (concepção geocêntrica)
o Saindo da teologia e considerando o desenvolvimento do espírito positivo, este implica diversas mudanças, cujo resultado geral vai na direção do relativismo, do pacifismo e da noção de Humanidade
§ Esse desenvolvimento, como sabemos, com freqüência deu-se por meio da crítica destrutiva das concepções e da sensibilidade teológica – e, portanto, com o rompimento e a crítica dos antropocentrismos próprios à teologia
§ As centralidades moral e prática do ser humano permanecem constantes
§ Já a centralidade intelectual do ser humano sofre sucessivos abalos, na medida em que a postulação de que o Universo e a Terra foram criados exclusivamente para o ser humano é criticada
· Como notava Augusto Comte, a hipótese heliocêntrica de Copérnico desferiu no século XVI o mais duro e mortal golpe contra esse antropocentrismo teológico
o Quase como um jogo de dominó, a partir do heliocentrismo (por mais que ele teórica e empiricamente seja errado) todas as concepções teológicas ruíram
o Não por acaso Galileu foi perseguido pela Igreja Católica: os inquisidores, especialmente os jesuítas, perceberam com clareza que a hipótese heliocêntrica, esposada por Galileu (aliás, propositalmente de maneira ruidosa) não era apenas uma hipótese científica, mas que tinha amplas e devastadoras conseqüências intelectuais e morais para a teologia e, por extensão, para a própria Igreja
· A outra série de críticas ao dogma teológico foi desferida no âmbito biológico, referente à natureza humana
· A noção de que apenas o ser humano tem “alma” foi duplamente destruída pelas pesquisas biológicas e “neurocientíficas” de Bichat e Gall-Spurzheim, na passagem do século XVIII para o XIX, quando eles desenvolveram uma teoria unificada da vida, indicaram que a “alma” é o conjunto das funções cerebrais e que os animais possuem essas funções tanto quanto o ser humano (apenas com importantes diferenças de grau)
o Vale notar que, embora em si mesma a teoria de Darwin tenha contribuído bem pouco para esse desenvolvimento científico, a fortíssima resistência que ele enfrentou na Inglaterra vitoriana indica o quanto ainda a teologia era forte naquele país e o evidente estrago que o antropocentrismo teológico sofreria com essas concepções
· A rejeição do antropocentrismo teológico implícito passou a dar lugar a um antropocentrismo positivante explícito, como as artes do chamado Renascimento indicam: pensemos na cena da Capela Sixtina pintada por Miquelângelo e no desenho do “Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vinci
o Considerando diretamente a ciência: em si mesma, ela tende a rejeitar o antropocentrismo, em nome de uma objetividade naturalizante
§ A rejeição cientificista do antropocentrismo segue o impulso do desenvolvimento das ciências inferiores (ou seja, das chamadas “ciências naturais”) e do método objetivo, em que de fato é necessário que se examinem as coisas como elas são e não como gostaríamos que elas fossem
§ Esse objetivismo baseia-se, sem dúvida, em necessidades intelectuais imperiosas, mas ao mesmo tempo estimula tendências muito daninhas
· Por um lado, esse objetivismo que rejeita o antropocentrismo é a idéia da “ciência neutra”, ou da “ciência sem valores”
· Por outro lado, ao necessário afastamento do antropocentrismo teológico uniu-se um espírito crítico, destruidor, anti-histórico e antifilosófico, que postula que qualquer antropocentrismo seria necessariamente do tipo teológico
· Além disso, exagerando não a duração da destruição, mas, sim, a necessidade de objetividade, há muitos que consideram que a ciência tem que ser neutra, não pode ter valores etc.
o Esse erro verifica-se mesmo nas ciências superiores, ou seja, na Sociologia (Durkheim, Weber) e na “Psicologia” (B. Skinner)
· Uma outra forma de verificar-se a recusa do antropocentrismo nas ciências é o impulso “antissocial”, no sentido de que se busca uma ciência despreocupada de sua utilidade
o Esse caráter “antissocial” da ciência verifica-se nas postulações de uma ciência “pura”; solidifica-se na famosa “torre de marfim”; é comprovada pelas reiteradas cobranças de que os projetos de pesquisa têm que indicar a... sua utilidade social
o O resultado disso tudo é que, contemporaneamente, conforme o caráter anárquico da nossa época (ou seja, sem um parâmetro geral dominante), convivem parâmetros opostos, contraditórios e incoerentes de antropocentrismo, às vezes afirmando o seu viés teológico, às vezes recusando qualquer antropocentrismo em nome da objetividade etc. etc.
- Após essa breve retrospectiva histórico-filosófica, passemos diretamente para o Positivismo: o Positivismo claramente restabelece o antropocentrismo em termos morais, intelectuais e práticos
o Esse renovado, ou novo, antropocentrismo positivista é explícito mas é subjetivo
§ Na verdade, é um antropocentrismo inicialmente explícito que, sendo adotado como parâmetro, logo e propositalmente se converte em implícito
§ A subjetividade do antropocentrismo positivista é dupla: por um lado, assumimos que o ser humano é o centro da realidade em termos intelectuais e morais; por outro lado, reconhecemos que, sendo nós humanos, temos necessariamente que ser o centro de nossas atenções
o A subjetividade do antropocentrismo positivista significa também que ele não é objetivo (como é o antropocentrismo teológico); em outras palavras, reconhecemos que não somos donos do planeta, nem que o mundo (e o meio ambiente) existem apenas para nós
o Portanto, o antropocentrismo positivista é relativo: nós reconhecemos e afirmamos nossas limitações e a necessidade de vincular o ser humano a inúmeros outros aspectos da realidade
§ Nós reconhecemos e valorizamos a frase de Francis Bacon: nós modificamos a natureza submetendo-nos a ela
o Desenvolvendo e aprofundando o subjetivismo e o relativismo do antropocentrismo positivista, Augusto Comte afirmou que seria necessário que o positivismo final incluísse conscientemente o fetichismo inicial
§ Com a incorporação do fetichismo no Positivismo, ao mesmo tempo desenvolvemos mais e melhor nossos sentimentos, regulamos nossos pensamentos e aperfeiçoamos nossas atividades
§ A incorporação do fetichismo permitiu a elaboração da Trindade Positiva, que é composta pelo Grão Meio (o Espaço), o Grão Fetiche (a Terra) e o Grão Ser (a Humanidade)
§ Cumpre lembrar que a noção de Humanidade implica, necessariamente, também a participação dos animais úteis (em particular os domésticos)
· Assim, o antropocentrismo positivo, além de ser subjetivo e relativo, é não exclusivista, na medida em que reconhecemos e valorizamos inúmeros outros âmbitos da realidade além do próprio ser humano
o O antropocentrismo positivista fica evidente na expressão “Religião da Humanidade” e, como vimos acima, no conjunto das nossas concepções
o Além disso, o antropocentrismo positivista condensa-se no “método subjetivo”, que consiste precisamente na aplicação de parâmetros humanos (relativos, subjetivos, altruístas) ao conjunto de nossa existência (moral, intelectual, prática – ou seja: sentimentos, filosofia, ciência, arte, política, economia, relações familiares, relações profissionais, relações gerais)
- Podemos passar agora para uma outra ordem de considerações, relativa a uma passagem concreta mas altamente implícita, do antropocentrismo teológico para o antropocentrismo positivo
o Isso se deu em uma encíclica do atual papa, Francisco, intitulada Laudato Si’, de 2015
o Francisco afirma que é necessário abandonarmos os vícios do “antropocentrismo” e da “tecnocracia” e adotarmos uma “ecologia integral”
§ No pólo positivo, a “ecologia integral” significa o respeito ao meio ambiente, à flora, à fauna e também aos povos indígenas
§ No pólo negativo, o “antropocentrismo” e a “tecnocracia” correspondem à idéia de que o ser humano é dono do universo e que pode, com o uso da tecnologia, destruir o meio ambiente e esgotar os recursos naturais; a tecnocracia também significa o capitalismo e os cálculos que desprezam a realidade e consideram que tudo (seres humanos, meio ambiente) são apenas insumos para serem manipulados com vistas ao lucro
o Essa proposta de Francisco é absolutamente inovadora; por assim dizer, é o primeiro manifesto ecológico da Igreja Católica
§ Não por acaso o jesuíta Jorge Mario Bergoglio escolheu Francisco de Assis como seu patrono
§ Isso é de uma importância suprema, em particular quando se nota que, com esse tipo de pregação, Francisco afirma o papado em sua função de poder espiritual, isto é, de educador e conselheiro
· Seguindo a orientação católica, Francisco definiu os crimes ambientais como pecados
o Ao mesmo tempo, além do ineditismo da proposta, vale notar que Francisco exorta a Igreja, na prática, a repudiar a concepção de mundo que orientou a existência da própria igreja em seus 1.700 anos
§ Essa concepção, vigente entre os católicos até há dez anos, é a que prevalece entre inúmeros grupos protestantes e que, assim, ajuda a apoiar o negacionismo climático, as devastações de florestas etc., no Brasil, nos Estados Unidos e em outros lugares
o Entretanto, devemos notar que, se os traços gerais da proposta de Francisco são totalmente admiráveis e respeitáveis, os termos específicos que ele escolheu são bastante ruins:
§ A “ecologia integral” é uma expressão que impressiona e que evidencia e propõe com clareza o respeito a fauna, flora e povos indígenas, mas, no final das contas, é uma concepção meramente científica, ou melhor, cientificista, sem caráter moral e que propositalmente deixa de lado o papel do ser humano – incluindo aí a solução dos problemas ambientais que põem em xeque a sobrevivência do ser humano
· Se tiver algum sentido que ultrapasse o cientificismo, a “ecologia integral” acaba assumindo um aspecto necessariamente abstrato e vago, ou seja, místico
o A igreja católica, seguindo o caráter do seu dogma, considera que o misticismo é algo bom – o que, evidentemente, prejudica bastante suas concepções e sugere, mais uma vez, a necessidade de ultrapassar e deixar de lado a teologia, seu absolutismo e sua vagueza
§ Por outro lado, as palavras “antropocentrismo” e “tecnocracia” têm múltiplos sentidos:
· De fato, há a crítica ao antropocentrismo teológico e à exploração capitalista do mundo
· Mas a referência ao antropocentrismo refere-se diretamente ao ser humano, ou seja, é uma crítica ao humanismo
o Não há como diminuir o erro, a má vontade, a má fé dessa crítica intencional e inequívoca
· Além de criticar o humanismo e o ser humano, a igreja católica critica o antropocentrismo em geral e com isso finge que a concepção que critica não é o antropocentrismo teológico, defendido pela própria igreja e pelo monoteísmo cristão
o Insistamos: a encíclica omite, proposital e conscientemente, o fato de que é o antropocentrismo teológico que deve ser duramente criticado, rejeitado e superado (e, como vimos antes, superado em favor de um renovado antropocentrismo, de caráter positivo)
o Além disso, a despeito da crítica venenosa feita ao “antropocentrismo”, a encíclica propositalmente não reconhece que a concepção que ela defende, na verdade, é a concepção humanista, subjetiva, relativa e altruísta, ou seja, é a concepção positivista
· Da mesma forma, a referência crítica e genérica ao antropocentrismo e à “tecnocracia” implica também uma crítica à secularização, ou melhor, à positivação do mundo, realizada em parte importante pelos conhecimentos técnico-científicos
· Assim, ao usar as expressões “antropocentrismo” e “tecnocracia”, o que Francisco deseja fazer, no fundo, é criticar a decadência irrevogável da teologia, a afirmação da Humanidade e o papel da ciência nesse processo – e, pior, vincula-os à exploração da natureza e do ser humano
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Em suma:
o O antropocentrismo considera que o ser
humano é o centro das concepções
o Ao longo da história, o ser humano sempre
foi o centro moral e intelectual de suas concepções, em termos subjetivos e de
maneira pelo menos implícita
o Há concepções objetivistas do
antropocentrismo:
§ Em um gênero delas, considera-se o ser
humano como o centro do Universo, dando uma suposta permissão para a destruição
do meio ambiente: esse é o caso do antropocentrismo teológico
§ Um outro gênero de objetivismo é afirmado
pela ciência: embora ela tenha-se constituído seguindo o desenvolvimento do
método objetivo, a afirmação exagerada e “acrítica” da objetividade conduz a
propostas de uma ciência “neutra” e “sem valores”, além da ciência
despreocupada de fins sociais – tudo isso em nome da rejeição do
antropocentrismo, em que se subentende ao mesmo tempo que o antropocentrismo é
subjetivista (portanto, seria arbitrário e incoerente) e que todo
antropocentrismo seria teológico
o É imperativo afirmar um renovado, ou um novo, antropocentrismo, necessariamente
subjetivo, altruísta, relativo – ou seja, trata-se precisamente da proposta
positivista, corporificada na Religião da Humanidade e no método subjetivo
o A igreja católica recentemente rejeitou uma
das conseqüências nefastas do seu antropocentrismo teológico, ao afirmar que o
meio ambiente não existe para ser explorado, esgotado e desprezado pelo ser
humano
§ Entretanto, embora tenha criticado algumas
das conseqüências nefastas do seu antropocentrismo teológico, na encíclica Laudato
Si’ a igreja católica omite o fato de que
essas conseqüências derivam precisamente de suas concepções fundamentais
§ Ao mesmo tempo, a igreja católica atribui ao
antropocentrismo em geral, ou seja, em seu esquema mental, ela atribui às
concepções humanistas e positivas a origem dos problemas que critica
§ Em outras palavras: os problemas criticados pela igreja católica são corretamente criticados; mas a origem desses problemas a igreja finge que não é culpa dela mesma e da teologia, atribuindo essa responsabilidade a quem busca de fato evitá-los e resolvê-los