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29 abril 2024

Celebração do Dia do Trabalhador

No dia 9 de César de 170 (30.4.2024) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua undécima conferência, dedicada ao regime público.

No sermão fizemos uma pequena celebração do Dia do Trabalhador.

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nk.dev/Xie1E) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://encr.pw/clHMm). O sermão começou aos 54 min 30 s.

As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

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Celebração do Dia do Trabalhador 

-        O tema desta semana refere-se ao trabalho, considerando o Dia do Trabalhador, celebrado em 1º de maio, ou melhor, neste ano (que é bissexto) em 10 de César (dia de Demóstenes, na semana de Alexandre)

o   Na verdade, seguindo o calendário positivista, que é regular e mais racional, o Dia do Trabalhador seria celebrado em 9 de César (dia de Felipe II, na semana de Alexandre)

o   No Brasil, o Dia do Trabalhador foi instituído em 26 de setembro de 1924, pelo Decreto n. 4859, do Presidente Artur Bernardes

§  O texto do decreto é realmente belo: “Artigo único – É considerado feriado nacional o dia 1 de maio, consagrado à confraternidade universal das classes operárias e à comemoração dos mártires do trabalho; revogadas as disposições em contrário”[1]

o   A data de 1º de maio foi proposta pela II Internacional Socialista em 1886, em homenagem à Revolta (ou Massacre) da Praça de Heymarket, em Chicago, em que uma manifestação sindical inicialmente pacífica transformou-se em pancadaria e repressão armada da polícia, após uma bomba explodir em meio aos policiais, já no final do encontro trabalhista

-        O trabalho e os trabalhadores, para o Positivismo, são da maior importância

o   Ao contrário do que muitos afirmam – não somente críticos (como os marxistas), mas também pessoas supostamente próximas ao Positivismo –, os valores, as concepções e as prescrições positivistas em relação ao trabalho e aos trabalhadores não são formas de enganar os trabalhadores e/ou de tapar os buracos sociais, políticos, econômicos e morais causados pelo chamado “capitalismo”

§  Devemos, mais uma vez, lembrar as duríssimas e inequívocas críticas de Augusto Comte à mesquinhez e ao egoísmo da burguesia, feitas desde o início de sua carreira

·         A importância dessas críticas aumenta quando lembramos que muitas delas foram expostas no Apelo aos conservadores (1855)

o   O Apelo foi escrito como uma exposição do Positivismo dirigida aos líderes políticos, sociais e industriais – ou seja, à “burguesia”

§  Aliás, com o necessário fracasso do marxismo e do chamado “socialismo realmente existente”, os herdeiros do marxismo agora se vêem obrigados a recuperar e a valorizar a ação dos positivistas, como no caso de Francisco Quartim de Morais[2]

§  Uma importante exceção – não por acaso brasileira – é a de Leônidas de Resende, que, em 1932, propôs um interessante, mas confuso, marxismo positivista, em seu livro A formação do capital e seu desenvolvimento[3]

o   Os elogios ao trabalho e aos trabalhadores sempre foram reiterados e consistentes da parte de Augusto Comte; não por caso, ele sempre viu nos proletários um dos sustentáculos do Positivismo e, ao mesmo tempo, sempre considerou que o Positivismo deve servir para melhorar as condições de vida dos proletários

o   Augusto Comte desde o início de sua carreira ministrou cursos populares: Astronomia, Filosofia Positiva (isto é, filosofia, ciências, história), História da Humanidade

§  Os primeiros discípulos de Augusto Comte, não por acaso, foram proletários, convencidos da doutrina a partir da audiência do curso popular de Astronomia, como foi belamente narrado por Fabien Magnin, no 21º aniversário de transformação de Augusto Comte[4]

o   Em 1848 Augusto Comte criou a Sociedade Positivista e propôs a “Associação Livre para a Instrução Positiva do Povo em todo o Ocidente Europeu”

§  Nas décadas seguintes outras associações positivistas proletárias também foram criadas, como a Sociedade Positivista para o Ensino Popular (1876) e a Sociedade Positivista para o Ensino Popular Superior (1876)

o   Também em 1848 Augusto Comte escreveu o Discurso sobre o conjuntodo Positivismo, dirigido para os proletários e com um extenso capítulo sobre os proletários

o   Vários positivistas foram sindicalistas e/ou apoiaram os sindicalistas: Frederic Harrison, Auguste Keufer, os irmãos Lagarrigues, Miguel Lemos e Teixeira Mendes

o   Rodolfo Paula Lopes, filho de também Rodolfo Paula Lopes, trabalhou na Organização Internacional do Trabalho, elaborando relatórios sociológicos e econômicos sobre o desemprego e, depois, também organizou um livro chamado O proletariado na sociedade moderna (1946), da coleção “Arquivos Positivistas” (em francês)

-        Em termos filosóficos e sociológicos, eis o que o Positivismo tem a dizer a respeito dos trabalhadores e do trabalho:

o   Os trabalhadores, ou melhor, os proletários constituem a providência geral da sociedade, no sentido de que eles são os responsáveis pelo conjunto das atividades práticas que mantêm a sociedade

§  Do ponto de vista político e moral, os proletários devem atuar como apoio do sacerdócio, fornecendo energia e força ao caráter moral do poder Espiritual

§  Os proletários também devem fiscalizar o poder Temporal, inspirados e orientados pelo sacerdócio; essa fiscalização é-lhes tão mais fácil quanto eles são os principais destinatários das ações dos patrícios

o   Os proletários, com suas famílias, correspondem na prática ao conjunto da sociedade e, dessa forma, a política positiva deve basicamente se dirigir a eles

§  Isso significa que o conjunto dos esforços sociais deve visar a satisfazer as necessidades dos proletários, em termos materiais, intelectuais e morais

·         É necessário insistir: as necessidades dos proletários não são principal nem exclusivamente materiais, mas são também intelectuais e morais

o   Embora sejam auxiliares do poder Espiritual, os proletários atuam em termos práticos no poder Temporal, correspondendo à força dispersa (cujo poder provém da sua união), em contraposição complementar com o patriciado, que corresponde à força concentrada (na forma do capital) e que é propriamente o poder Temporal

-        Temos que ter clareza de que a valorização do trabalho, e, por extensão, dos trabalhadores, é fruto de um longo desenvolvimento histórico

o   Esse desenvolvimento segue a lei dos três estados práticos, segundo a qual a atividade é inicialmente militar conquistadora, depois militar defensiva, enfim pacífica e industrial

§  Nessa evolução, as atividades produtivas são sempre realizadas pelos proletários, mas, como sabemos, nem sempre eles são valorizados

§  O que mudou ao longo do tempo, então, foi a estrutura social geral, a principal atividade da sociedade e, daí, a situação específica dos trabalhadores

o   Na Antigüidade, as atividades socialmente valorizadas eram a guerra e/ou o ócio com vistas à produção intelectual; elas eram reservadas à elite da sociedade; o trabalho era considerado degradante e, portanto, relegado aos escravos

§  Enquanto os escravos – tornados cativos devido às guerras, às dívidas e/ou a um assujeitamento “tradicional” (como no caso do mito da escravidão hebréia no Egito) – eram propriedade móvel dos seus senhores, a consolidação do sistema de conquistas (correspondente à fase imperial de Roma) conduziu à fixação dos trabalhadores nos territórios

§  Os antigos escravos tornaram-se assim servos da gleba

o   Na Idade Média, a atividade era ainda era militar, mas tinha cada vez mais um caráter defensivo; a cavalaria moderava a violência e estimulava o respeito para com os humildes; o trabalho não era mais degradante, mas continuava sendo relegado ao setor social mais baixo

§  Os servos da gleba, de qualquer maneira, embora não fossem livres e estivessem ligados aos territórios de seus senhores, tinham condições sociais superiores às dos escravos

§  Desde meados da Idade Média, os burgos mais prósperos caracterizavam-se pela atividade pacífica e produtiva e pelo trabalho livre; esses burgos, concomitantemente, passaram a buscar a libertação em relação aos grande senhores, transformando-se em cidades livres, cidades reais (isto é, sob a proteção dos reis) ou em repúblicas (como Florença, Gênova, Genebra, até mesmo Veneza)

·         O trabalho nos burgos, ou nas comunas, não se constituiu diretamente como trabalho livre: organizaram-se as guildas, que serviam como mecanismos de proteção, treinamento e reserva e controle de mercado

§  De qualquer maneira, a Idade Média legou à modernidade a valorização do trabalho produtivo e a libertação dos trabalhadores

o   Na modernidade, a atividade socialmente valorizada é a produção pacífica; os trabalhadores são livres

o   O trabalho produtivo e pacífico é a única atividade que pode ser plenamente universalizável, tanto em termos de extensão geográfica quanto em termos sociais; isso significa que só a paz garante o trabalho livre e que, inversamente, o trabalho livre exige a paz

o   Entretanto, um dos maiores sinais da “anarquia moderna” é que a emancipação dos trabalhadores não correspondeu à valorização dos trabalhadores

§  Os trabalhadores ficaram livres, mas a ausência de doutrinas socialmente compartilhadas – e de doutrinas socialmente responsáveis compartilhadas – também implicou que os trabalhadores ficariam sem amparo social (em contraposição, na Idade Média, bem ou mal os senhores feudais e a cavalaria reconheciam alguns deveres para com os servos)

§  A exploração do proletariado, ou o chamado “capitalismo”, portanto, é um dos maiores e piores sintomas da “anarquia moderna”

·         A solução da anarquia moderna não é diretamente “acabar com o capitalismo” (embora o chamado capitalismo tenha que acabar); a solução da anarquia moderna acabará também, e naturalmente, com o capitalismo

§  Um aspecto agravante da anarquia moderna, especialmente em comparação com a atividade militar, é que as qualidades necessárias para conduzir os empreendimentos industriais não são nem tão evidentes, nem tão precisas, nem tão simples quanto qualidades as militares; isso dificulta a determinação dos respectivos deveres

-        É necessário dizermo-lo com todas as letras: restabelecer valores e concepções compartilhados; reafirmar os deveres; afirmar o altruísmo; combater o egoísmo como padrão de moralidade e de relacionamento humano: essa é a única solução efetiva para a anarquia moderna e, daí, para o “capitalismo”

o   O Positivismo, portanto, não propõe os deveres sociais compartilhados como um tapa-buraco superficial para os agressivos males do capitalismo; os deveres sociais compartilhados não são uma desculpa para uma filantropia hipócrita, “alienadora” e “acrítica”

o   Os deveres sociais exigem uma alteração profunda na sensibilidade, nas idéias e, daí, nas práticas sociais

§  Isso equivale a dizer que as propostas sociais e políticas do Positivismo não podem ser apresentadas isoladamente da Religião da Humanidade, pois isoladamente elas não fazem sentido

o   Em termos de doutrinas sociais, convém considerarmos rapidamente o catolicismo

§  O catolicismo é extremamente ambíguo a respeito:

·         Sua doutrina é radicalmente egoísta, anti-humana e antissocial; a sua decadência necessária é o que alimentou diretamente a anarquia moderna e com freqüência conduz ao reforço do “capitalismo”, com ou sem a filantropia superficial e hipócrita

o   Esses traços também com freqüência são seguidos, no que têm de pior, pelos protestantes

·         Mas atualmente há algumas correntes católicas que mais ou menos deixam de lado a doutrina e seguem inspirações medievais, no que estas têm de melhor

o   É importante insistirmos neste aspecto: o caráter basicamente moral das soluções positivistas não o transforma em “moralista”

§  A esse respeito, antes de mais nada é necessário termos clareza de dois aspectos:

·         (1) Embora afirmemos com todas as letras a importância dos aspectos morais e intelectuais, nunca os positivistas deixaram de afirmar também a necessidade de propostas concretas, práticas, de curto e longo alcance, para remediar e/ou solucionar os problemas dos trabalhadores

o   Sendo mais específico: não somente não deixamos de afirmar essa necessidade como, mais importante, nunca deixamos de propor efetivamente medidas concretas

·         (2) Quem afirma que o Positivismo é “moralista” adota uma perspectiva materialista, que nega a importância da moralidade na vida humana e que reduz o ser humano e a sociedade às questões e às disputas econômicas e políticas

o   Assim, a defesa do materialismo implica a ignorância e a alienação profundas

§  O que o Positivismo faz é evidenciar que os grandes problemas econômicos atuais só admitem, no fundo, soluções morais, na medida em que esses problemas originam-se de problemas, desvios e aberrações morais

·         É evidente que as questões trabalhistas exigem soluções “econômicas”; mas o tipo de soluções varia de acordo com parâmetros morais; além disso, a própria exigência de tais soluções é de caráter moral

·         Nesta exposição não apresentaremos as propostas concretas feitas pelos positivistas (a começar por Augusto Comte!) porque são muitas e muitas propostas, feitas nos mais diferentes contextos

§  Quem nega o caráter moral dos problemas econômicos de modo geral é cego para a realidade e estimula a piora desses problemas

§  A “Economia Política” clássica reconhecia o caráter moral dos problemas econômicos: Adam Smith, David Hume, Charles Dunoyer

§  De maneira exemplar, o marxismo, sendo materialista, despreza a perspectiva moral, reduzindo a sociedade ao poder e à economia, donde ele percebe apenas conflitos

·         Contra a inspiração marxista, outras tradições socialistas anteriores, concomitantes e posteriores ao marxismo adotaram concepções morais: exemplo notável disso são as propostas atuais da chamada “economia solidária” (embora ela confusamente mantenha ideais e perspectivas marxistas)

-        Agora é necessário comentar diretamente a luta de classes:

o   A vida prática estimula por si só o egoísmo e as vistas parciais; isso significa que o poder Temporal, os patrícios e os proletários tendem a prestar atenção aos seus próprios interesses, desconsiderando (ou desprezando) a sociedade em geral e os outros grupos

§  Entretanto, o poder Temporal propriamente dito (o Estado) tem que ter vistas gerais (no espaço); de modo similar, os proletários, na medida em que não têm responsabilidades na mesma medida que os patrícios e em que sua força provém da sua união, tendem a desenvolver vistas gerais e sentimento generosos

§  O egoísmo social tende a concentrar-se no patriciado – que, assim, converte-se em (ou mantém-se como) “burguesia”

o   Os egoísmos de classe, ou mesmo os egoísmos de empresas, tendem a desenvolver-se com grande facilidade – e, daí, surgem os conflitos sociais

o   A luta de classes, portanto, não é uma característica inerente a toda e qualquer sociedade; ela consiste no sintoma da desregulação social, o que significa que no Ocidente ela é um sintoma da anarquia moderna

§  Novamente: pode-se considerar que a luta de classes é inerente à sociedade capitalista apenas no caso específico em que se considere que o capitalismo corresponde, precisamente, à sociedade desregulada, à anarquia moderna

o   Apesar de rejeitar em geral qualquer conflito, ou melhor, qualquer violência, Augusto Comte percebia na luta de classes um potencial positivo, ao indicar precisamente a desregulação social e a concomitante necessidade de regulação social (moral e intelectual)

§  Evidentemente, a luta de classes só é aceitável na medida em que se realizar pacificamente, ou seja, por meio das greves pacíficas, rejeitando-se expressamente tanto a revolução social (projeto acalentado pelos marxistas e por quase todos os socialistas) quanto a repressão ao sindicalismo

§  Deve-se notar, então, que a luta de classes não é um ideal moral, social e político, a ser acalentado, estimulado e buscado

§  Além disso, o fim da luta de classes não é o fim das classes, mas o fim da luta – e o fim da luta, quase sempre, por meio do reconhecimento da justiça das reivindicações dos proletários

o   É notável que o que a direita vê como “revolucionário” e a esquerda vê como “progressista”, para o Positivismo trata-se apenas de satisfação das condições da ordem social: o respeito aos trabalhadores, a garantia de manutenção das famílias, o auxílio na fiscalização do poder Temporal pelo poder Espiritual

-        Está subentendido no que comentamos até agora, mas vale a pena dizermos com clareza: a valorização dos proletários, dos trabalhadores, implica também a valorização do trabalho

o   No âmbito do Positivismo, isso equivale à dignificação do trabalho: trabalhar não é um castigo divino, mas fonte de valor para o ser humano: de fato, trabalhar enobrece os homens

o   Todos devem trabalhar, todos devem contribuir para a Humanidade; todos devem retribuir para a Humanidade aquilo que continuamente recebem dela: trabalhar é um dever moral

§  O trabalho livre, então, não é tornar-se livre do trabalho

§  Os mendigos devem ser objeto de respeito e de cuidados, mas é necessário entendê-los como casos extremos e excepcionais

o   Em sentido semelhante, a valorização e a dignificação do trabalho implicam não entender o trabalho como uma mercadoria

§  Não há dúvida de que o trabalho é a garantia de manutenção e continuidade da sociedade; também é a condição de aumento da riqueza

§  Mas é necessário ter clareza a respeito de um aspecto central e fundamental: o trabalho é a fonte de sustento das famílias

§  Novamente: o trabalho não é mercadoria, pois sua falta implica impossibilidade de sustento de famílias

§  A responsabilidade dos patrícios, então, é com a preservação e o aumento da riqueza social; mas isso só se dá por meio da geração de trabalho – e de trabalho de qualidade, em condições salubres, com salários adequados

§  Para o Positivismo, rigorosamente o salário não é a paga pelo trabalho executado, mas a contrapartida material pelos recursos empregados nas atividades constantes

·         Se o trabalho não é mercadoria, ele não pode ser “pago”; a retribuição pelo trabalho é a satisfação individual pelo bem prestado à coletividade e pela retribuição pela generosidade da Humanidade

o   Uma decorrência disso é que Augusto Comte adota a teoria do valor-trabalho, ou seja, a riqueza é gerada pelo trabalho realizado, pelo empenho coletivo em cada atividade

§  Essa é a concepção “econômica” decorrente da idéia de que a riqueza é socialmente produzida e, portanto, tem que ter uma destinação social

§  É bem verdade que há produtos cujo “valor” é dado por sua raridade relativa; mas a única forma de valorizar socialmente o trabalho; ou melhor, a única forma básica de entender sociologicamente a produção do “valor” é por meio do valor-trabalho: concepções que negam o valor-trabalho, como se sabe e não por acaso, postulam concepções egoísticas



[2] QUARTIM DE MORAES, F. As lutas pelos direitos trabalhistas do Positivismo. In: CONGRESSO DE HISTÓRIA ECONÔMICA, 11, São Paulo, 2020. Anais. São Paulo: USP, 2020. Disponível em: https://congressohistoriaeconomica.fflch.usp.br/sites/congressohistoriaeconomica.fflch.usp.br/files/publicacoes/XI-congresso-2020-anais-eletronicos-Francisco-Quartim-de-Moraes.pdf. Acesso em: 18.1.2023.

[3] Leônidas de Resende, A formação do capital e seu desenvolvimento, Brasília, Senado Federal, 2011. A “Apresentação” dessa edição, profundamente enviesada, é do lamentável liberal conservador Antônio Paim. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/574643/000943472_Formacao_capital_desenvolvimento.pdf.

[4] Anexo IV do Discurso sobre o espírito positivo (ed. Martins Fontes, São Paulo, 1990).

26 outubro 2023

Augusto Comte: sobre o progresso; proletários no poder

Três citações de Augusto Comte que valem a difusão direta e a reflexão: a primeira trata dos tipos de progresso e da subjetividade dessa noção; as outras duas citações tratam das qualidades morais e intelectuais próprias ao proletariado e que justificam que a chefia dos governos esteja em suas mãos. 

(As duas últimas citações foram traduzidas do francês por mim.)

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Sobre tipos de progresso e sobre a subjetividade da noção de progresso

“Distinguem-se, assim, duas espécies de progresso, um exterior, outro humano. Embora ambos se refiram finalmente a nós mesmos, só o último diz respeito à nossa própria natureza, e o primeiro limita-se à nossa situação, que ele melhora reagindo sobre todas as existências capazes de afetar a nossa. É por isso que esse progresso exterior é habitualmente qualificado de material, se bem que se estenda à ordem vital propriamente dita [ou seja, aos seres vivos], mas apenas em relação às espécies que nos servem de provisões ou de instrumentos. O ponto de vista do progresso sendo necessariamente mais subjetivo que o da ordem, a uniformidade da linguagem nem sempre corresponde, nele, à identidade de noções” (Augusto Comte, Catecismo positivista, São Paulo, editora Nova Cultural, 1996, p. 252; sem itálico no original).

Proletários como chefes políticos superiores devido às suas qualidades morais e intelectuais

“Rejeitando todo prestígio pedantocrático ou aristocrático, um exame racional mostra facilmente [...] que, entre o povo, a generalidade dos pensamentos e a generosidade dos sentimentos são mais fáceis e mais diretos que em qualquer outra parte. Uma falta ordinária de noções e de hábitos administrativos tornaria nossos proletários pouco próprios aos diversos ofícios especiais do governo prático. Mas disso não resulta nenhuma exclusão quanto à autoridade suprema, nem a respeito de todas as altas funções temporais que exigem uma verdadeira generalidade sem supor nenhuma especialidade” (Augusto Comte, Discurso preliminar sobre o conjunto do Positivismo, 5ª ed., Paris, L. Mathias, 1929, p. 200; sem itálico no original).

 “A razão pública repudiará doravante, como sendo ao mesmo tempo perturbador e atrasado, todo doutor que pretenda comandar e todo governante que deseje ensinar” (Augusto Comte, Discurso preliminar sobre o conjunto do Positivismo, 5ª ed., Paris, L. Mathias, 1929, p. 202).

29 janeiro 2017

Dados e membros do Círculo de Proletários Positivistas

Uma entidade francesa chamada Comitê de Trabalhos Históricos e Científicos (Comité des Travaux Historiques et Scientifiques) realizou um interessante trabalho de arrolamento dos dados do Círculo de Proletários Positivistas, entidade criada em 1865, reunindo os proletários parisienses com objetivos políticos, intelectuais e morais, de acordo com as prescrições políticas feitas por Augusto Comte para o proletariado. Fundado por Fabien Magnin, foi levada a cabo depois por Isidore Finance. 

Os dados obtidos pelo CTHC seguem abaixo; eles incluem algumas categorias gerais, o endereço da instituição, o ano da fundação e os seus diversos membros. É um material interessantíssimo e riquíssimo.
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Cercle des prolétaires positivistes
10, rue Monsieur le Prince
75006 Paris
Année de creation : 1865 ?
Présentation de la société :
F. Magnin, ouvrier menuisier, sensibilise le premier les positivistes sur la question du travail. Il appelle à la création d’un Mouvement prolétaire positiviste au début des années 1860, sans qu’aucun document n’établisse clairement la fondation d’un groupe. Laffitte atteste une première réunion d’un « groupe de prolétaires positivistes » autour de Magnin, premier président du Cercle, en 1865. On trouve la première trace concrète du Cercle dans une intervention du prolétaire positiviste Gabriel Mollin dans le courant de l’année 1869 au Congrès Ouvrier de Bâle, dans lequel il intervient « au nom du cercle des prolétaires positivistes de Paris », sans doute délégué par Magnin. Il semble que les prolétaires positivistes interviennent régulièrement au nom de ce Cercle entre 1872 et 1878 dans les congrès ouvriers et y soient très actifs. 
Magnin est alors désigné comme « Président du Cercle des prolétaires positivistes de Paris ». En 1878, sur l’initiative d’Isidore Finance et d’E. Laporte, le Cercle des prolétaires positivistes de Paris décide de créer en son sein un « Cercle d’études sociales des prolétaires positivistes », afin d’approfondir les solutions envisagées par le positivisme concernant les diverses questions sociales et de les faire connaître au public via les publications assurées par les délégations ouvrières. 
En octobre 1878, le Cercle des prolétaires positivistes délègue les pleins pouvoirs à Finance pour le représenter au Congrès ouvrier de Lyon, en lieu et place de Magnin, de plus en plus malade. Finance est alors président du cercle, E. Laporte en est le secrétaire et A. Keufer le trésorier.
Après la mort de Magnin en 1884, Finance décide de reconstituer le Cercle « sur de nouvelles bases ». La première réunion du Cercle a lieu le vendredi 25 septembre. Le cercle a pour but : « de mettre ses membres au courant (...) de tous les faits se rattachant directement aux rapports du capital et du travail ; ensuite, des principales études faites sur ce sujet par les différentes écoles socialistes et économistes. 2° De rechercher les solutions fournies par le Positivisme pour les questions sociales sur lesquelles l’attention générale est attirée, soit par les faits eux-mêmes, soit par l’action de la presse, soit par l’action gouvernementale ; 3° De porter à la connaissance du public les solutions positivistes au moyen de circulaires, brochures, affiches, pétitions, correspondances et délégations aux réunions ouvrières. » 
Pour être reçu comme membre du Cercle, le postulant doit adhérer sans réserve à la doctrine positiviste et estimer : « que les phénomènes sociaux et moraux sont soumis (...) à des lois naturelles qui sont indépendantes de toute volonté arbitraire, divine, royale ou populaire ». Les membres du Cercle doivent ainsi être émancipés de toute théologie et de toute idée métaphysique, suivant ainsi les préceptes d’Auguste Comte. Le Cercle n’admet en outre que les « ouvriers manuels et employés » et exclut ainsi les « marchandeurs et membres d’associations coopératives ». Il admet en tant que membres correspondants, des ouvriers « de la province et de l’étranger qui désirent être tenus au courant de ses travaux et y participer ».
Le Cercle est administré par un président, un vice-président, un secrétaire et un trésorier. Les réunions se déroulent le dernier samedi de chaque mois. En 1886, le Cercle compte 31 membres, 49 en 1887, 55 en 1888, au moment de son apogée. Bien qu’il ait eu des ramifications en Province (Lyon, Clermont-Ferrand, Le Havre notamment), il n’a jamais eu une grande envergure du fait de l’initiation préalable et obligatoire au positivisme pour les futurs adhérents. A l’époque de Magnin, le cercle était constitué uniquement de travailleurs manuels mais s’ouvre progressivement à partir de 1885. Le Cercle fonctionne comme un groupe de réflexion et de propositions essayant le plus possible d’être en phase avec les différents mouvements ouvriers des années 1880-1890. Après Finance (1884-95), c’est Auguste Keufer qui prend la direction du Cercle à partir de 1895. Ils ouvrent le Cercle vers les Internationales ouvrières.
Bien que participant à des congrès d’envergure comme ceux de Paris en 1889 et de Zurich en 1893, le Cercle se marginalise par son idéologie libérale et moralisante et son influence décline. Le Cercle établit tout de même des rapports annuels réguliers entre 1885 et 1900. Le Cercle semble alors cesser progressivement son activité (vers 1905).
Fiches prosopographiques : 
ALLEGRE Jules (1854-1891) - Membre (1887)
BESSOT Emile (1841-1891) - Membre en 1869.
BODIN Edmond (1860-1928) - Membre (1887)
BRECVILLE Félix (1851-1904) - Membre (1885)
BRIAS Eugène (1858-1911) - Membre (1885)
BRUHAY Auguste (1835-1912) - Membre (à partir de 1878); Trésorier (1885)
CLAIR Arsène (1859-1887) - Membre (1886-87)
COTARD Jules (1840-1889) - Membre honoraire
DELPEY Henri (1848- ) - Membre 
DESCHAMPS Paul (1857-1840) - Membre (1880)
FAGNOT François (1866-1939) - Membre (1890)
FINANCE Isidore (1848-1918) - Président (1885-1895)
FOUCART Paul (1848-1902) - Membre (1887)
GAZE Amable (1824-1882) - Membre (1879- ??)
GIMOT Pierre (1845-1904) - Membre (1878)
GRANJON Léopold (1845-1874) - Membre
KEUFER Auguste (1851-1924) - Membre (1878-1900), Trésorier (1878-1895) puis Président (1895-1900)
KIN Arsène (1822-1890) - Membre (1881-1890)
LAPORTE Emile (père) (1840-1890) - Membre (1870-1890)
MACHY Edouard (1858-1886) - Membre (1878-1886); secrétaire (1880)
MAGNIN Fabien (1810-1884) - Membre fondateur, Président (1865-1884)
MICHAULT Jules - Membre
MORLOT Eugène ( -1885) - Membre
PELLETAN Edouard (1854-1912) - Membre (1885)
PIERREDON (1859- ) - Membre (1885)
REHM Jules (1833-1907) - Membre (1880-1900)
RENY Emile (1841-1895) - Membre (1878)
ROBINET Gabriel (1849-1887) - Membre (1886-89)
ROUSSEAU Fernand (1860-1940) - membre (1890- 1900), secrétaire (1890-1900)
SAINT DOMINGUE Antoine (1845-1902) - Membre (1885)
SAINT DOMINGUE Jean-Baptiste (1854-1932) - Membre (1885)
TINAYRE Julien (1859-1923) - Membre (1885)