No dia 23 de Arquimedes de 170 (16.4.2024) realizamos nossa prédica positiva. Demos então continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, concluindo a décima conferência (dedicada ao regime privado) e iniciando a undécima conferência (dedicada ao regime público).
No sermão respondemos a uma questão histórica, filosófica, moral e política: valorizar a Idade Média implica o conservadorismo?
A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/Q5vGG) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/6isxj). O sermão começou aos 47 min 48 s.
As anotações que serviram de base para exposição oral estão reproduzidas abaixo.
* * *
Valorizar a Idade Média implica ser
conservador?
-
A questão que intitula este sermão pode parecer
curiosa, surpreendente e até meio deslocada: de onde teria saído essa relação
entre Idade Média e conservadorismo? Aliás, por que isso seria importante?
o De
fato, essa não é uma questão evidente, nem é evidente as suas respostas, mas,
ainda assim, ela é importante e tem grandes conseqüências intelectuais, morais
e práticas
-
Por que essa questão apresenta-se? Na verdade,
quem a formulou?
o Há
diversos críticos do Positivismo – e mesmo algumas pessoas próximas a ele, não
raras vezes católicos – que afirmam que a valorização da Idade Média por
Augusto Comte implica a valorização das concepções católicas e, portanto,
implica um claro conservadorismo
§ Vale
realçar: essa crítica é feita mesmo por autores católicos – que, de maneira
incoerente, buscando criticar o Positivismo, não hesitam em criticar o
catolicismo
§ A
noção de “conservador”, aqui, significa “retrógrado” e/ou repressor, favorável
à censura, autoritário, fanático, intolerante.
o De
maneira implícita (mas muitas vezes explícita) está o raciocínio de que ser
“progressista” implica desvalorizar a Idade Média e/ou valorizar a Antigüidade
e/ou a modernidade
o Também
está implícita a concepção de que a Idade Média teria sido a “noite dos mil
anos”, um longo período de fanatismo e barbárie
§ A
concepção da “noite dos mil anos” é defendida não somente pelos “progressistas”
anti-históricos como, não por acaso, pelos anglossaxões (ingleses e
estadunidenses em particular), que adotam uma visão protestante e anticatólica
da Idade Média
o Em
suma: como Augusto Comte valorizou a Idade Média, ele teria valorizado a
barbárie, o fanatismo, a estupidez etc., assim como teria desvalorizado o
progresso, as luzes, o esclarecimento etc.
§ De
maneira implícita, Augusto Comte também teria valorizado (ou defendido) algum
“autoritarismo”
·
Essa valorização (ou defesa) de “autoritarismo”
ocorreria porque a valorização da Idade Média, por Augusto Comte, ocorreu a
partir da leitura dos autores católicos José de Maistre e Luís de Bonald
o Comte
valorizava em De Maistre a atuação do papado (e, de modo geral, do sacerdócio) como
intermediário moral das relações sociais medievais, não o irracionalismo
teológico nem o despotismo político
·
A associação maliciosa entre Comte e De
Maistre-De Bonald foi afirmada, por exemplo, pelo ex-frade Roberto Romano –
que, não por acaso, sempre fingiu ignorar que Augusto Comte valorizava Diderot,
D’Alembert, Condorcet etc. e que (como veremos longamente abaixo) a opinião de
Comte sobre a Idade Média era qualquer coisa menos “acrítica”
-
Para limpar o terreno e responder com clareza à
pergunta inicial (“valorizar a Idade Média implica o conservadorismo?”):
o Augusto
Comte afirmou: “Trata-se sobretudo, no fundo, de incorporar
intimamente ao Positivismo, com melhoramentos radicais, tudo quanto o sistema
católico da Idade Média pode realizar ou sequer esboçar de grande e de terno”
(Correspondência Sagrada, 32ª carta,
de Augusto Comte a Clotilde; de 5 de agosto de 1845)
-
Qual a importância, no âmbito do Positivismo, da
valorização da Idade Média?
o São
vários os sentidos; podemos indicar os seguintes: (1) afirmação da continuidade
humana, com o vínculo entre a Antigüidade e a modernidade; (2) estabelecimento
do terceiro termo do progresso; (3) desenvolvimento moral, após os
desenvolvimentos intelectual e social
o Talvez
o aspecto mais importante seja a afirmação
da continuidade humana, com todas as conseqüências disso
§ A
noção de continuidade humana indica que a Idade Média seguiu-se de maneira orgânica
à Antigüidade e que dela seguiu-se a Idade Moderna
§ Lembremos
que a reação à decadência do catolicismo, a partir do século XIV, passou a
desvalorizar a Idade Média com a noção de “renascimento”
§ Essa
concepção foi entronizada mesmo por autores que afirmaram o progresso humano,
como no caso exemplar de Condorcet e seu “Esboço de um quadro histórico dos
progressos do espírito humano”
o Reafirmada
a continuidade humana, Augusto Comte estabelece que a Idade Média é o terceiro
termo de uma série progressiva
§ Uma
progressão, ou, em todo caso, uma série qualquer só pode ser estabelecida
quando há três termos; assim, para que fosse possível realmente afirmar o
progresso humano, a partir do caso exemplar do Ocidente, a apreciação da Idade
Média era necessária
o Deixando
de lado as concepções segundo as quais a Idade Média foi uma “noite de mil
anos”, o seu duplo aspecto católico-feudal constitui para Augusto Comte o
desenvolvimento moral, com conseqüências sociais bem marcadas
§ Assim
como a Idade Média correspondeu ao desenvolvimento moral, a Grécia correspondeu
ao desenvolvimento intelectual e Roma, ao desenvolvimento prático
o Algumas
citações interessantes:
§ Comenta
o Prof. David Carneiro (Civilização
católico-feudal, São Paulo, Athena, 1940; p. 125): “Foi Augusto Comte quem
veio mostrar, contrariando os seus precursores sociológicos, que a Idade Média
não constituía rotura da continuidade humana e que emanava do regime
precedente; que a sua função era provisória e não definitiva e que enfim a
Idade Moderna proveio da Idade Média”
§ Frederic
Harrison (em The New Calendar of Great
Men, 2ª ed., MacMillan, London, 1920; p. 273) resume da seguinte maneira as
missões da Idade Média:
|
Missão
|
Agente principal
|
1)
|
Purificar e
disciplinar as mais ferozes paixões humanas, especialmente a desumanidade, o
orgulho e a luxúria
|
Igreja Católica
|
2)
|
Como meio e
corolário da missão anterior, elevar a posição da mulher
|
3)
|
Proteger os fracos,
dignificar a gentileza e elevar o valor da natureza humana
|
4)
|
Suprimir a
prevalência da guerra universal e transformar a guerra de conquista em guerra
de defesa
|
Feudalidade/cavalaria
|
5)
|
Estabelecer
verdadeiros governos locais, sob a sanção de deveres recíprocos, em vez da
submissão a um império centralizado
|
6)
|
Suprimir a escravidão e
fundar a instituição do trabalho livre
|
§ Ainda observa Harrison: “O resultado foi atingido, é
verdade, muito imperfeitamente: com muita confusão, crueldade e loucura; mas
também com magníficos heroísmo e autodevotamento. Se em última análise [o
esforço da Idade Média] foi um fracasso, isso ocorreu porque o sucesso era
impossível com tão limitado conhecimento e falsas idéias. Mas ela foi o ponto
de virada da história; foi a transição
cardeal e produziu algumas grandes coisas que nunca foram vistas na Terra antes
ou desde então. As memórias amargas que seus fracassos deixaram são devidas a
isto: que nunca se reconheceu quão inteiramente provisório ela foi” (p. 273).
o Em
suma: a valorização da Idade Média por Augusto Comte assume pelo menos dois
aspectos: (1) afirmação da continuidade histórica (em que a Idade Média é uma
transição orgânica e necessária entre a Antigüidade e a Idade Moderna) e (2)
desenvolvimento moral (ocorrido necessariamente após e a partir dos
desenvolvimentos anteriores, intelectual e prático)
o Todos
esses aspectos evidenciam com uma clareza ofuscante que a valorização da Idade
Média por Augusto Comte foi sempre no sentido do progresso
§ O
progresso aí é tanto o desenvolvimento do ser humano quanto a regulação dos
atributos humanos
§ Para
quem conhece o Positivismo e a Religião da Humanidade, é tão evidente que chega
a ser escandaloso que digam ou sugiram o contrário, mas, ainda assim, é
necessário reafirmá-lo: todo progresso implica, como pré-condição, a liberdade,
que, aliás, é condição da ordem e não do progresso
-
A valorização da Idade Média e da continuidade
histórica não é algo secundário, não é detalhe nem é mero ornamento:
o O
Positivismo não pode desprezar ou negligenciar as religiões preliminares,
devendo incorporar seus avanços: “o Positivimso não poderia ser a verdadeira
religião se ele não pudesse sempre aceitar plenamente a sucessão do teologismo,
e mesmo do fetichismo, que devem ser, em todos os aspectos, os seus precursores
naturais ” (Política, II, p. 346)
o Nesse sentido, vale lembrar adicionalmente
que há um impulso contemporâneo em favor da valorização de todas as religiões e
perspectivas; esse impulso tem um aspecto multicultural e, nesse sentido, é
pleno de problemas e incoerências, mas, de qualquer maneira, ele visa a de fato
fazer respeitar todas as religiões: em face desse impulso, por que estaria
errado o Positivismo?
-
Exposta a parte negativa deste sermão (em que
demonstramos que é falsa e de má fé a acusação de conservadorismo feita a
Augusto Comte devido ao seu elogio da Idade Média), podemos passar para a parte
positiva do sermão, examinando rapidamente como de fato Augusto Comte apreciava
a Idade Média
o Faremos
na seqüência várias citações indiretas de Augusto Comte, tanto para apresentar
o seu pensamento a respeito da Idade Média quanto para indicar o quanto é
errada e maliciosa a crítica de que o Positivismo seria conservador ao avaliar
a Idade Média
-
Em primeiro lugar, Augusto Comte considera que a
Idade Média durou 900 anos, entre os séculos V e XIII, ou, grosseiramente,
entre os anos 400 e 1300
o A
Idade Média divide-se, então, em três fases, cada uma de três séculos de
duração:
§ “Estabelecimento
fundamental”: dispersão política, com
ênfase na autonomia local; séculos V a VII
§ “Guerras
defensivas contra os politeístas do Norte e sua incorporação pela força e pela
religião”: coordenação
central: séculos VII a X
§ “Guerra
defensiva contra o monoteísmo islâmico, em que há o estabelecimento do papado
como maior poder e em que o poder temporal se distingue do espiritual”: conjugação
da autonomia local com a coordenação central: séculos XI a XIII
-
Como vimos, a Idade Média apresentava um duplo
aspecto: o católico e o feudal
o Ambos
esses elementos foram responsáveis por um dos mais importantes resultados da
Idade Média: a preponderância dos sentimentos sobre a ação e sobre a inteligência
(Apelo, p.
30)
o Cada
um desses elementos foi o responsável principal – mas não único, nem exclusivo
– por alguns desenvolvimentos ocorridos durante o período
o A
ação do catolicismo deveu-se em parte à sua doutrina, mas em parte muito maior
à ação de seu sacerdócio
§ A
doutrina católica foi importante para
a afirmação do universalismo doutrinário; para a afirmação direta da moralidade
humana; de maneira um tanto confusa, para a separação dos dois poderes
(Temporal e Espiritual)
§ A
emancipação feminina e a valorização das mulheres; a emancipação dos
trabalhadores; a adoçamento dos hábitos; a separação entre os dois poderes:
isso foi obra do sacerdócio
·
Como observa Augusto Comte, a sabedoria prática
do sacerdócio, a começar pelo papado, foi a principal responsável por alguns
dos mais importantes progressos ocorridos na Idade Média
·
O sacerdócio, além disso, foi o responsável pela
aplicação atenuada, racional e relativa do dogma católico; sem essa sabedoria
prática, o dogma seria aplicado em sua inteira irracionalidade, com os
previsíveis piores resultados possíveis (como, diga-se de passagem, em escala
muito aumentada e piorada, vê-se hoje em dia)
§ Outros
aspectos importantes sobre a ação social e moral do catolicismo indicados por
Augusto Comte, em particular em relação
às limitações e aos defeitos da doutrina católica:
·
A moral universal baseada nos deveres é instituição
católica (Política, II, p. 120)
·
A transição realizada pelo Positivismo visa a reconstruir,
melhor que na Idade Média, a República Ocidental (Política, IV, p. 501)
·
O catolicismo fez prevalecer a repressão do egoísmo,
mas o desenvolvimento do altruísmo é mais eficaz, pois a melhor restrição de um
impulso é o desenvolvimento de seu antagonista, como feito pela cavalaria na Idade
Média (Política, IV, p. 282)
·
O catolicismo não produziu as mudanças medievais,
mas apenas as consagrou (Política, II, p. 109)
·
O catolicismo é incapaz de regular a vida pública,
limitando-se à doméstica (Política, II,
p. 112)
·
Na Idade Média, embora a vida privada fosse regrada
pelo viver às claras, a vida pública continuava regrada pelos mistérios e pelas
intrigas (Política, IV, p. 460)
·
Além disso, há a necessidade de uma concepção geral
do futuro para que se possa efetivamente viver às claras – algo que só o Positivismo
pode fazer (Política, IV, p. 460)
·
O catolicismo foi contraditório ao querer sistematizar
a moral mas retirando o homem do mundo (Apelo,
p. 30-31)
·
O Positivismo deve reparar os estragos católicos,
em particular ao afirmar a existência natural do altruísmo (Apelo, p. 31)
§
Retomando o tema da crítica católica à
valorização positivista da Idade Média:
·
No final das contas, isso não é casual
·
Vale notar que foram as reflexões da reação católica
à Revolução Francesa que permitiram a Augusto Comte apreciar a Idade Média (Discurso preliminar sobre o conjunto do
Positivismo, p. 421)
o
Mas – o que é notável e que era notável no
século XIX como, de modo geral, ainda o é hoje em dia – o Positivismo faz mais justiça
a De Maistre que o catolicismo (Discurso
preliminar sobre o conjunto do Positivismo, p. 87)
o O
Positivismo é a única religião capaz de glorificar sem incoerência todas as etapas
preliminares da Humanidade (Apelo, p.
85-86)
o Ainda
assim, os retrógrados (e os revolucionários) são ingratos em relação ao Positivismo,
não retribuindo a justiça praticada pela religião positiva (Apelo, p. 86)
o O
Positivismo deve obter apoios entre os retrógrados, desde que isso não seja entravado por fanatismos que realcem os meios
em vez dos fins (Apelo, p. 86)
o A retrogradação não possui nunca um caráter orgânico
(Apelo, p. 87)
o Os
retrógrados são contraditórios, pois exigem a unidade mas não cumprem as suas principais
condições da unidade (Apelo, p. 87)
o Os
retrógrados concebem o século XIX isolando-o do século XVIII, assim como concebem
a Idade Média sem a filiar à Antigüidade: sem considerarem a totalidade histórica
(ou seja, do passado), são incapazes de conceber o futuro e elaboram uma síntese
parcial, local e temporária (Apelo, p.
89)
·
A anarquia metafísica nega a influência histórica
(Apelo, p. 43)
·
O espírito revolucionário devastou o sentido de continuidade,
especialmente a partir da Idade Média e em relação a ela (Apelo, p. 43)
·
O catolicismo negou a continuidade, ao repudiar seus
antecessores (Apelo, p. 44)
·
O catolicismo é tão culpado disso quanto o protestantismo
ou o deísmo, pois foi o primeiro a romper a cadeia da continuidade, ao negar seus
antepassados antigos (Política, IV,
p. 371)
·
Depois do catolicismo, foram os protestantes e os
deístas que negaram seus antecessores, cometendo a mesma injustiça em relação ao
catolicismo que este cometera em relação ao seu próprio passado (Apelo, p. 44)
·
A Idade Média tendia, em termos espirituais
(catolicismo), para a teocracia, ao passo que, em termos temporais
(feudalidade/cavalaria), tendia para a modernidade (Apelo, p. 47)
·
Os únicos que são capazes de compreender a Idade
Média são os positivistas, ao ligá-la aos seus antecedentes e aos seus sucessores
(Apelo, p. 95)
o O
elemento feudal desenvolveu outros traços importantes:
§ Desenvolveu
a cavalaria e os hábitos sistemáticos de gentileza, cuidado com os fracos e os
pobres, veneração e dedicação às mulheres
§ Também
desenvolveu o governo local, com a necessária coordenação com o poder central
·
Esse traço, importante por si só, também
resultou em hábitos de autogoverno e na chamada “emancipação das comunas”, que
foram os germes das cidades industriais e republicanas posteriores
-
Sobre a cavalaria, Augusto Comte observa o
seguinte:
o O
catolicismo desenvolveu a pureza, mas foi
a cavalaria que desenvolveu a ternura (Apelo, p. 53-54)
o A
cavalaria é que operou empiricamente a conciliação entre a espiritualidade católica
e a temporalidade feudal (Apelo, p.
94)
o O
impulso regenerador da cavalaria foi interrompido bruscamente pelo protestantismo
(Apelo, p. 117)
§ Os
ideais cavaleirescos ainda eram vivos e pulsantes no século XVI, como ilustra a
vida e a atuação de Pierre Terrail, o Cavaleiro Baiardo (1473-1524)
o A
cavalaria manteve e desenvolveu o preceito de subordinar dignamente a vida privada
à pública, como indicado pela Antigüidade (Política, IV, p. 292)
o Inácio
de Loiola buscou retomar os esforços da cavalaria, além do culto à Virgem; mas seus
esforços fracassaram e sua tentativa transformou-se em uma hipocrisia opressiva
e degradante (Apelo, p. 117)
o Vale
lembrar que os cruzados (atuantes na terceira fase medieval) paulatinamente substituíram
a ficção extra-humana de deus pela idealização humana da Virgem Maria (Apelo, p. 118)
o Uma
prova de que o culto da Virgem Mãe é mais devido à ternura feudal que à pureza católica
é o fato de ele não se ter desenvolvido entre os bizantinos, a despeito da identidade
doutrinária (Política, IV, p. 412)
o Sem
o instinto cavalheiresco, isto é, sem a atuação da cavalaria, a Idade Média teria
entravado o dogma do Grande Ser (Apelo,
p. 37-38)
-
Em suma:
o A valorização da Idade Média por Augusto
Comte assume pelo menos dois aspectos:
§ (1) afirmação da continuidade histórica (em
que a Idade Média é uma transição orgânica e necessária entre a Antigüidade e a
Idade Moderna)
§ (2) Desenvolvimento moral (ocorrido
necessariamente após e a partir dos desenvolvimentos anteriores, intelectual e
prático)
§ Todos esses aspectos evidenciam com uma
clareza ofuscante que a valorização da Idade Média por Augusto Comte foi sempre
no sentido do progresso, não no do “conservadorismo”
§ A valorização da Idade Média por Augusto
Comte implicava necessariamente a seleção dos aspectos positivos desse período,
que devem ser incorporados com “melhorias radicais”
o A Idade Média constituiu-se pela fusão do
catolicismo e do feudalismo
§ O catolicismo teve aspectos positivos
principalmente devido à atuação prática do seu sacerdócio, que regulou
principalmente a vida privada e estimulou a pureza (a contenção, ou, no caso, a
repressão do egoísmo)
§ O feudalismo teve efeitos positivos
principalmente devido à cavalaria, estimulando a ternura (o estímulo direto do
altruísmo) e subordinando a vida privada à vida pública
Augusto Comte, Apelos aos conservadores. Rio
de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1899.