Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Poesia. Mostrar todas as postagens

26 abril 2023

Sobre as máximas de Clotilde de Vaux

No dia 3 de César de 169 (25.4.2023) fizemos nossa prédica positiva. Em um primeiro momento, demos continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, abordando o conjunto do dogma positivo, na sexta conferência do livro.

Na seqüência, no sermão, abordamos as máximas de Clotilde Vaux: as anotações que serviram de base para a exposição estão reproduzidas abaixo.

A prédica foi transmitida nos canais Apostolado Positivista (https://l1nk.dev/Pw56R) e Positivismo (https://encr.pw/YI1B8); o sermão pode ser visto a partir de 52' 30".


*   *   *


As máximas de Clotilde

 -        Tratar de Clotilde de Vaux é ao mesmo tempo importantíssimo e um tanto difícil

o   É importante porque ela foi a cofundadora da Religião da Humanidade, nas palavras do próprio Augusto Comte

§  Na verdade, é difícil exagerar essa importância: sem Clotilde, o Positivismo seria apenas um cientificismo; com Clotilde, o Positivismo pôde desenvolver-se até a bela e inspiradora Religião da Humanidade

o   É difícil porque a sua vida, a sua produção literária e a sua relação com Augusto Comte são muito “estranhos” à nossa época

-        Consideremos a sua produção literária: ela era poetisa e romancista

o   A sensibilidade estética de Clotilde era claramente romântica

o   Mas a principal dificuldade não está em sua sensibilidade romântica da época: o problema que se apresenta para nós é que a nossa época é decididamente anti-romântica, ou melhor, é intelectualista e materialista

o   Todo o ciclo romântico integra uma grande tradição de pensar, ou melhor, de raciocinar usando a poesia; assim, os raciocínios estavam intimamente vinculados à expressão artística e, portanto, à manifestação e ao estímulo dos sentimentos

o   A nossa época, ao contrário, é resolutamente intelectualista, materialista e anti-romântica, isto é, antiafetiva

§  É necessário termos clareza a respeito desse traço contemporâneo: o materialismo e o intelectualismo são devidos às metafísicas materialistas (liberalismo e comunismo), ao desprezo intelectualista pelos sentimentos, ao culto (igualmente metafísico) da política e da luta do poder – e, englobando tudo isso mas ajuntando a isso seus próprios erros, devemos também ao desprezo feminista pelos sentimentos e pela cultura aos sentimentos (vistos como “ideologia patriarcal e/ou falocrática” contra as mulheres)

§  É claro que a sensibilidade contemporânea – materialista, anti-romântica, antiafetiva, politicista – tem profundas conseqüências sobre as artes, que se tornaram largamente superficiais e/ou intelectualistas – e mesmo quando se pretendem afetivas, perderam em grande parte seu caráter de elevação moral

-        É necessário, então, insistir: é impossível entender – e sentir – as máximas de Clotilde sem termos clareza de que elas são a expressão poética de sentimentos e de idéias

o   Sem entender esse íntimo vínculo entre expressão poética, demonstração de sentimentos e argumentação filosófica, no fundo também não se pode entender o próprio Positivismo, nem a insistência de Augusto Comte no valor e na importância dos sentimentos e da poesia

o   Duas frases de Augusto Comte ilustram bem essas concepções:

§  A primeira refere-se ao papel das mulheres: “Superiores pelo amor, mais bem dispostas a sempre subordinar ao sentimento a inteligência e a atividade, as mulheres constituem espontaneamente seres intermediários entre a Humanidade e os homens” (Augusto Comte – Política positiva, v. II, p. 63)

§  A segunda é uma tocante declaração de respeito, de veneração e de afeto de Augusto Comte em relação a Clotilde: “Tu foste, sem o saber, como eu o repito cada martedia, a mulher a mais eminente, de coração, de espírito e mesmo de caráter que a história universal apresentou até hoje. O futuro parece-me dificilmente suscetível de um melhor tipo” (Augusto Comte – Confissões anuais)

-        Feitos esses comentários iniciais, apresentamos duas poesias de Clotilde, que ela enviou para Augusto Comte em seu epistolário no final de 1845, após o fundador da Religião da Humanidade já se ter declarado apaixonado pela moça:

 

Os pensamentos de uma flor

(Clotilde de Vaux; tradução de Raimundo Teixeira Mendes)[1]

 

Nasci p’ra ser amada: ó, graças, bom Destino!

Que os soberbos mortais praguejem teus azares!

O vento os arrebate aos pés de teus altares,

Eu tenho o meu perfume e o gozo matutino.

 

Tenho o primeiro olhar do rei da natureza,

Por gala o seu fulgor, seu beijo em chama acesa;

Tenho um sorrir de irmã da juvenil Aurora;

Tenho a brisa nascente a dulcidão que mora

Na gota pendurada à borda do meu cális.

Tenho o raio que brinca a se abismar nos vales;

Tenho o mago painel, a sena inigualada,

Do universo entreabrindo as portas da alvorada.

 

Jamais frio mortal haurir-me deve a vida:

No seio da volúpia a manso me adormeço;

Me guarda a natureza o esplêndido adereço;

Em seu festim de amor desperto embevecida.

 

Muita vez embelezo a formosura;

Num puro seio o meu candor se côa;

Enlaça-me o prazer n’alegre cr’ao,

E a seu lado me prende alma ventura.

 

                Quanto o rouxinol s’inspira

No meu talo em doce enleio,

Para não turvar-lhe o gorjeio

                               A natura inteira espira.

 

Amor me diz seus votos mais secretos;

Abrigo de seus ais grata saudade;

Dos seus mistérios zelo a f’licidade;

A chave sou dos corações secretos.

 

Ó! Doce Destino, se as leis que nos baixas

Suspiros profanos pudessem mudar,

Só eu haveria, nas diáfanas faixas,

De amor aos bafejos à vida tornar.

 

Da tempestade sombria

Poupa-me o horrendo furor;

Dá que sempre a leda flor

Nas tuas festas sorria.

 

A infância

(Clotilde de Vaux; tradução de Raimundo Teixeira Mendes)[2]

 

Vem, criança gentil, mais perto... que m’encanta

Ver-te a madeixa loura, o meigo olhar formoso,

As graças naturais que têm tanto invejoso,

A fonte onde arde a inocência o templo seu levanta.

 

Vem, qu’eu gosto de ver-te o velho pai prezando

Mais que o ledo brincar que os anos seus molesta;

Gosto de ver fugir, dos beijos teus à festa,

A nuvem que, no olhar materno, ia assomando.

 

Gosto de ver o ancião que vai, a lento passo,

O humilde lar buscando, apoiado ao teu braço;

Gosto de ver-te a mão encheres, com carinho,

Do pobre que se senta à borda do caminho.

 

Por que se hão de ir embora encantos dessa idade,

Graças que as nossas mães com tanto amor afagam?

Os sonhos do porvir, por que se nos apagam?

Ah! Sim! É que é preciso um dia de saudade!

 

-        Indo às máximas de Clotilde:

o   Elas foram recolhidas e estabelecidas por Augusto Comte a partir das obras literárias, das cartas e das conversas em visitas que eles mantiveram durante 1845 e 1846

o   Elas foram formalmente apresentadas no Testamento de Augusto Comte e, a partir daí, reproduzidas nos mais variados livros

o   Seja porque foram estabelecidas por Augusto Comte, seja porque, evidentemente, elas apresentam valor por si sós, elas integram o conjunto de máximas e fórmulas próprias à Religião da Humanidade

§  Convém termos clareza de que elas não têm as características sistemáticas e sintéticas das máximas elaboradas por Augusto Comte: mas, por outro lado, são observações morais agudas e profundas, verdadeiramente dignas de um espírito feminino profundo[3]

 

As sete máximas de Clotilde de Vaux (T, p. 99)[4]

1)      É indigno dos grandes corações derramar as perturbações que sentem. (Lúcia, 7ª carta)

a.       Os “grandes corações”, ou seja, as pessoas que buscam aperfeiçoar-se moralmente, devem evitar descontroles e explosões afetivas, especialmente em público: saber manter a reserva e até o autocontrole é uma virtude moral e prática

b.      Essa máxima evidentemente não quer dizer que as pessoas não devam manifestar seus sentimentos, ou que não devam chorar em momentos de grande tristeza (ou de grande alegria): o que está em questão é o descontrole do comportamento a partir dos sentimentos, especialmente quando somos tomados por sentimentos muito intensos

c.       Há um aspecto de exemplo e de liderança subjacente à expressão “grande coração”

2)      Que prazeres podem exceder os da dedicação? (Lúcia, 8ª carta)

a.       Essa máxima evidencia que a fórmula da felicidade pessoal é a destinação altruística dos egoísmos e, mais do que isso, que quando o altruísmo passa a ser verdadeiramente o parâmetro de nossas condutas, a dedicação aos demais (o altruísmo) quase que eclipsa a satisfação pessoal (egoística) dessa ação

3)      Eu compreendi, melhor que ninguém, a fraqueza de nossa natureza quando ela não é dirigida para um objetivo elevado e que seja inacessível às paixões (T, p. 333)

a.       As nossas condutas têm que se basear e orientar em símbolos, objetivos e metas que, morais por si sós, não se submetam às disputas cotidianas; esse afastamento das disputas cotidianas implica que os símbolos, os valores e as metas que nos orientam não se corromperão e poderão manter-se como metas morais, práticas e intelectuais efetivas

b.      É claro que isso não implica que essas metas não possam ser avaliadas em termos de exeqüibilidade, de moralidade, de positividade etc.

c.       A Humanidade, claramente e não por acaso, é um desses ideais superiores inacessíveis às paixões

4)      São necessários à nossa espécie, mais que às outras, deveres para fazer sentimentos. (T, p. 374)

a.       Essa máxima indica que nós precisamos de deveres, de relações mútuas obrigatórias de uns para com os outros, e que essas relações desenvolvem por seu turno sentimentos apropriados a essas relações

b.      O que se afirma aí é a necessidade primária de sairmos de qualquer egoísmo e/ou de qualquer imobilismo e/ou de qualquer isolamento para lançar-nos em relações com outras pessoas, outros grupos, outras idéias

c.       Além de tirar-nos de nossos egoísmos, nossos isolamentos, nossos imobilismos e nossos individualismos, essas relações obrigam-nos a considerar, de maneira cada vez mais sistemática, as concepções, os valores, os sentimentos de outras pessoas e outros grupos: isso significa que desenvolvemos a empatia, que se torna cada vez mais generalizada (de outras pessoas específicas para outros grupos em geral)

5)      Não há na vida nada de irrevogável senão a morte. (T, p. 419)

a.       Essa máxima indica que quase tudo na vida pode ser desfeito; mas a única coisa que, com toda a certeza, não pode ser desfeita, é a morte (individual, em particular)

6)      Todos temos ainda um pé no ar sobre o limiar da verdade. (T, p. 484)

a.       Essa máxima tem um caráter mais filosófico e epistemológico que propriamente moral: ela sugere a cautela e a humildade nas ações e em nossos conhecimentos; assim, ela também evita o absolutismo filosófico

7)      Os maus têm com freqüência maior necessidade de piedade que os bons. (T, p. 537)

a.       Essa máxima é bastante direta e clara, embora sugira uma reflexão que nem sempre é entendida e seguida com clareza na prática: para avaliarmos quem age de maneira errada e/ou má, com freqüência precisamos ser mais altruístas que com aqueles que agem de maneira correta, a fim de não sermos injustos

b.      Além disso, em um sentido mais profundo, essa máxima indica que não podemos entregar-nos ao ódio e à raiva ao tratarmos (de maneira ocasional ou permanente) de e/ou com pessoas, grupos ou assuntos que despertem o ódio ou a raiva: afinal, como se diz, apenas o amor constrói



[1] Carta de Clotilde a Comte, de 30.11.1845 (109ª carta do epistolário).

Fonte: Raimundo Teixeira Mendes, Comte e Clotilde, Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1903, p. 49-50. Edição eletrônica em francês de 1916: https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/f3d104ea-4350-4a3d-a58a-63ec4a10fc54.

[2] Carta de Clotilde a Comte, de 5.12.1845 (113ª carta do epistolário).

Fonte: Raimundo Teixeira Mendes, Comte e Clotilde, Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1903, p. 60. Edição eletrônica em francês de 1916: https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/f3d104ea-4350-4a3d-a58a-63ec4a10fc54.

[3] O seguinte trecho do Catecismo positivista é elucidativo a respeito: “Se as teorias morais fossem tão cultivadas como o são as outras, sua complicação superior expô-las-ia, dada essa indisciplina especial, a divagações mais freqüentes e mais nocivas. Mas o coração vem, então, guiar melhor o espírito, recordando com mais força a subordinação universal da teoria à prática, em virtude de um título felizmente ambíguo. Os filósofos devem, com efeito, estudar a moral com a mesma disposição com que as mulheres a estudam, a fim de haurir nela as regras de nossa conduta. Somente a ciência dedutiva deles proporciona às induções femininas uma generalidade e uma coerência que estas não poderiam adquirir por outro modo, e que entretanto se tornam quase sempre indispensáveis à eficácia pública, ou mesmo privada, dos preceitos morais” (Augusto Comte, Catecismo positivista, 2ª ed., Rio de Janeiro: Igreja Positivista do Brasil, 1895, p. 218-219; versão eletrônica disponível aqui: https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/7f269639-d637-40eb-9ba9-d15010dab59f).

[4] Aqui e nas citações abaixo, o “T” refere-se ao Testamento de Augusto Comte. Além disso, “Lúcia” foi uma novela escrita por Clotilde, com um caráter parcialmente autobiográfico e altamente valorizada por Augusto Comte. Uma versão eletrônica do Testamento pode ser lida aqui: https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/510b1daa-24d3-48e3-a1ed-ddce5191ee5a.

Clotilde de Vaux: "A infância"

A infância

(Clotilde de Vaux; tradução de Raimundo Teixeira Mendes)[1]

 


Vem, criança gentil, mais perto... que m’encanta

Ver-te a madeixa loura, o meigo olhar formoso,

As graças naturais que têm tanto invejoso,

A fonte onde arde a inocência o templo seu levanta.

 

Vem, qu’eu gosto de ver-te o velho pai prezando

Mais que o ledo brincar que os anos seus molesta;

Gosto de ver fugir, dos beijos teus à festa,

A nuvem que, no olhar materno, ia assomando.

 

Gosto de ver o ancião que vai, a lento passo,

O humilde lar buscando, apoiado ao teu braço;

Gosto de ver-te a mão encheres, com carinho,

Do pobre que se senta à borda do caminho.

 

Por que se hão de ir embora encantos dessa idade,

Graças que as nossas mães com tanto amor afagam?

Os sonhos do porvir, por que se nos apagam?

Ah! Sim! É que é preciso um dia de saudade!



[1] Carta de Clotilde a Comte, de 5.12.1845 (113ª carta do epistolário).

Fonte: Raimundo Teixeira Mendes, Comte e Clotilde, Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1903, p. 60. Edição eletrônica em francês de 1916: https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/f3d104ea-4350-4a3d-a58a-63ec4a10fc54.

Clotilde de Vaux: "Os pensamentos de uma flor"

Os pensamentos de uma flor

(Clotilde de Vaux; tradução de Raimundo Teixeira Mendes)[1]

 


Nasci p’ra ser amada: ó, graças, bom Destino!

Que os soberbos mortais praguejem teus azares!

O vento os arrebate aos pés de teus altares,

Eu tenho o meu perfume e o gozo matutino.

 

Tenho o primeiro olhar do rei da natureza,

Por gala o seu fulgor, seu beijo em chama acesa;

Tenho um sorrir de irmã da juvenil Aurora;

Tenho a brisa nascente a dulcidão que mora

Na gota pendurada à borda do meu cális.

Tenho o raio que brinca a se abismar nos vales;

Tenho o mago painel, a sena inigualada,

Do universo entreabrindo as portas da alvorada.

 

Jamais frio mortal haurir-me deve a vida:

No seio da volúpia a manso me adormeço;

Me guarda a natureza o esplêndido adereço;

Em seu festim de amor desperto embevecida.

 

Muita vez embelezo a formosura;

Num puro seio o meu candor se côa;

Enlaça-me o prazer n’alegre cr’ao,

E a seu lado me prende alma ventura.

 

                Quanto o rouxinol s’inspira

No meu talo em doce enleio,

Para não turvar-lhe o gorjeio

                               A natura inteira espira.

 

Amor me diz seus votos mais secretos;

Abrigo de seus ais grata saudade;

Dos seus mistérios zelo a f’licidade;

A chave sou dos corações secretos.

 

Ó! Doce Destino, se as leis que nos baixas

Suspiros profanos pudessem mudar,

Só eu haveria, nas diáfanas faixas,

De amor aos bafejos à vida tornar.

 

Da tempestade sombria

Poupa-me o horrendo furor;

Dá que sempre a leda flor

Nas tuas festas sorria.



[1] Carta de Clotilde a Comte, de 30.11.1845 (109ª carta do epistolário).

Fonte: Raimundo Teixeira Mendes, Comte e Clotilde, Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1903, p. 49-50. Edição eletrônica em francês de 1916: https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/f3d104ea-4350-4a3d-a58a-63ec4a10fc54.

25 novembro 2015

Volumes da Biblioteca Positivista

Eis abaixo a relação dos volumes indicados por Augusto Comte para a Biblioteca Positivista, a partir de sua indicação em francês. 

Hoje, mais de 150 anos após sua propositura, muitos desses livros são raros, embora não impossíveis de serem obtidos em suas versões impressas: por exemplo, na Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br), na Amazon (www.amazon.com) e no Abebooks (www.abebooks.com) é possível encontrá-los.

Mas, para quem tiver interesse em obter e ler os volumes em inglês ou francês no computador ou nos aparelhos de leitura (tablets), também é possível obter esses volumes no projeto Archive (https://archive.org/), que digitalizou centenas de milhares de livros sobre os quais já não incidem direitos autorais; assim, são volumes gratuitos.

Sobre a Biblioteca Positivista: é necessário notar que os títulos indicados por Augusto Comte são, o mais das vezes, apenas indicações dos títulos ou, em muitos casos, indicações gerais das obras. 

Alguns exemplos: 

1) de modo geral não há, comercialmente, os "teatros escolhidos", pois a seleção seria feita justamente por A. Comte ou por outros positivistas. 

2) Os Elogios dos cientistas (Éloges des savants) de Fontenelle e de Condorcet são nomes gerais: Fontenelle, que foi secretário da Academia de Ciências da França, proferia discursos sobre as vidas e as obras dos membros da Academia; assim, a busca deve ser feita por meio do nome do autor, não da obra. 

3) Da mesma forma, quando A. Comte recomenda a leitura dos Mondes (Mundos), também de Fontenelle, ele refere-se ao livro Entretiens sur la pluralité des mondes (Diálogos sobre a pluralidade dos mundos) - de que há edições comerciais em português, aliás.

Por fim, deve-se notar que essa relação é ao mesmo tempo teórica e histórica; os livros indicados servem para permitir ao seu leitor ter uma compreensão geral da realidade, tanto humana quanto cósmica. No caso dos livros da quarta seção ("Síntese" - Filosofia, Moral e Religião), o aspecto histórico fica bastante evidente, pois A. Comte recomenda livros que vêm desde a Antigüidade até os temos atuais, passando pela Idade Média.

Da mesma forma, convém notar que tais livros são para a instrução do proletariado europeu, e especificamente francês; nos dias correntes, além da inclusão de livros mais atuais, seria necessária a introdução de textos sobre outras civilizações, de modo a acompanharmos a feliz ampliação das perspectivas para todo o globo.

De qualquer maneira, esses livros compõem um curso geral para qualquer ser humano. Aquilo que se cobra do Ensino Médio - perspectivas gerais sobre a realidade - está aí indicado com clareza.

*   *   *


BIBLIOTECA DO PROLETÁRIO
NO SÉCULO XIX[1]

Aconselhada pelo autor do Sistema de filosofia positiva e do Sistema de política positiva

150 VOLUMES
EQUIVALENTES AOS DA COLEÇÃO CHARPENTIER

(EM FRANCÊS)
(EM PORTUGUÊS)
1º POÉSIE  (trente volumes).
1º POESIA (30 volumes)


L'ILIADE et l'ODYSSÉE (traduction Bitaubé), réunies en un même volume, sans aucune note.
Ilíada e Odisséia, reunidas em um único volume, sem nenhuma nota
ESCHYLE (traduction de La Porte du Theil) et ARISTOPHANE (traduction Artaud), idem.
Ésquilo e Aristófanes, reunidas em um único volume, sem nenhuma nota
L'OEDIPE-Roi de Sophocle.
Édipo-rei, de Sófocles
THÉOCRITE (traduction F. Didot), suivi de DAPHNIS et CHLOÉ (traduction Amyot et Courier), idem.
Teócrito, seguido de Dafne e Cloé, reunidos em um único volume, sem nenhuma nota
PLAUTE (traduction Naudet) suivi de TÉRENCE (traduction Dacier) sans aucune note.
Plauto, seguido de Terêncio, sem nenhuma nota
VIRGILE (traduction Delille) suivi d'HORACE choisi (traduction Vanderburg) sans aucune note.
Virgílio, seguido de Horácio escolhido, sem nenhuma nota
OVIDE (traduction Saint-Ange), TIBULLE (traduction Panckouke), et JUVÉNAL (traduction Fabre), idem.
Ovídio, Tibulo e Juvenal, sem nenhuma nota
FABLIAUX DU MOYEN AGE, recueillis par Legrand d'Aussy.
Fábulas da Idade Média, recolhidas por Legrand d’Aussy
DANTE, ARIOSTE, TASSE, et PÉTRARQUE choisi (réunis en un seul volume italien).
Dante, Ariosto, Tasso e Petrarca escolhido (reunidos em um único volume italiano)
Les THÉÂTRES choisis de Métastase et d'Alfieri (dans un même volume italien).
Os teatros escolhidos de Metastásio e Alfieri (em um mesmo volume italiano)
LES FIANCÉS, par Manzoni (un seul volume italien).
Os noivos, de Manzoni (um único volume italiano)
Le DON QUICHOTTE et les NOUVELLES de Cervantes (dans un même volume espagnol).
Dom Quixote e Novelas exemplares, de Cervantes (em um mesmo volume espanhol)
Le THÉÂTRE ESPAGNOL choisi (recueil à former convenablement, en un seul volume espagnol).
Teatro espanhol escolhido (seleção a compor convenientemente, em um único volume espanhol)
Le ROMANCERO ESPAGNOL choisi (en un seul volume espagnol).
O romanceiro espanhol escolhido (em um único volume espanhol)
Le THÉÂTRE choisi de P. Corneille.
Teatro escolhido de Pierre Corneille
MOLIÈRE Complet.
Molière completo
Les THÉÂTRES choisis de Racine et de Voltaire (réunis en un seul volume).
O teatro escolhido de Racine e de Voltaire (reunidos em um único volume)
Les FABLES de La Fontaine, suivies de quelques FABLES de Florian.
As fábulas de La Fontaine, seguidas de algumas fábulas de Florian
GIL BLAS, par Lesage.
Gil Blás, de Lesage
LA PRINCESSE DE CLÈVES, PAUL ET VIRGINIE, et LE DERNIER ABENCERRAGE (à réunir en un seul volume).
A princesa de Clèves (de Mme. La Fayette), Paulo e Virgínia (de Saint-Pierre) e O último abencerage (de Chateaubriand) (a reunir em um único volume)
LES MARTYRS, par Chateaubriand.
Os mártires, de Chateaubriand
Le THÉÂTRE choisi de Shakespeare.
Teatro escolhido de Shakespeare
LE PARADIS PERDU et les POÉSIES LYRIQUES de Milton.
Paraíso perdido e poesias líricas de Milton
ROBINSON CRUSOÉ, et LE VICAIRE DE WAKEFIELD (à réunir en un seul volume).
Robinson Crusoé (de Daniel Defoe) e O vigário de Wakefield (de Oliver Goldsmith) (a reunir em um único volume)
Tom JONES, par Fielding (en anglais, ou traduit par Chéron).
Tom Jones, de Henri Fielding
Les sept chefs-d'œuvre de Walter Scott.
IVANHOÉ, QUENTIN DURWARD, LA JOLIE FILLE DE PERTH, L'OFFICIER DE FORTUNE, LES PURI­TAINS, LA PRISON D'ÉDIMBOURG, L'ANTI­QUAIRE.
As sete obras-primas de Walter Scott: Ivanhoé, Quentin Durward, A alegre filha de Perth, O oficial da fortuna, Os puritanos, A prisão de Edinburgo, O antiquário
Les Oeuvres choisies de Byron (en supprimant surtout le DON JUAN).
Obras escolhidas de Byron (suprimindo sobretudo o Don Juan).
Les Oeuvres choisies de Goethe.
Obras escolhidas de Goethe
LES MILLE ET UNE NUITS.
As mil e uma noites

2º SCIENCE  (trente volumes).
2º CIÊNCIA (30 volumes)


L'ARITHMÉTIQUE de Condorcet, l'Algèbre et la Géométrie de Clairaut, plus la TRI­GONOMÉTRIE de Lacroix ou de Legendre (à réunir en un seul volume).
A Aritmética de Condorcet, a Álgebra e a Geometria de Clairaut, mais a Trigonometria de Lacroix ou de Legendre (a reunir em um único volume)
La GÉOMÉTRIE ANALYTIQUE d'Auguste Comte, précédée de la GÉOMÉTRIE de Descartes.
A Geometria Analítica de Augusto Comte, precedida pela Geometria de Descartes
La STATIQUE de Poinsot, suivie de tous ses mémoires sur la mécanique.
A Estática de Poinsot, seguida de todas as suas memórias sobre a Mecânica
Le COURS D'ANALYSE de Navier à l'École Polytechnique, précédé des RÉ­FLEXIONS SUR LE CALCUL INFINITÉSIMAL, par Carnot.
O Curso de Análise de Navier na Escola Politécnica, precedido das Reflexões sobre o cálculo infinitesimal, de Carnot
Le COURS DE MÉCANIQUE de Navier à l'École Polytechnique, suivi de l'ESSAI SUR L'ÉQUILIBRE ET LE MOUVEMENT, par Carnot.
O Curso de Mecânica de Navier na Escola Politécnica, seguido do Ensaio sobre o equilíbrio e o movimento, de Carnot
La THÉORIE DES FONCTIONS, par Lagrange.
A Teoria das funções, de Lagrange
L'ASTRONOMIE POPULAIRE d'Auguste Comte, suivie des MONDES de Fontenelle.
A Astronomia popular de Augusto Comte, seguido dos Mundos de Fontenelle
La PHYSIQUE MÉCANIQUE de Fischer, traduite et annotée par Biot (dernière édition).
A Física Mecânica de Fischer, traduzida e anotada por Biot
L'ABRÉGÉ ALPHABÉTIQUE DE PHILOSOPHIE PRATIQUE, par John Carr.
O Resumo alfabético de filosofia prática, de John Carr
La CHIMIE de Lavoisier.
A Química, de Lavoisier
La STATIQUE CHIMIQUE, par Berthollet.
A Estática química, de Berthollet
Les ÉLÉMENTS DE CHIMIE, par James Graham.
Os Elementos de Química, de James Graham
Le MANUEL D'ANATOMIE, par Meckel.
O Manual de Anatomia, de Meckel
L'ANATOMIE GÉNÉRALE de Bichat, précédée de son TRAITÉ SUR LA VIE ET SUR LA MORT.
A Anatomia Geral, de Bichat, precedida de seu Tratado sobre a vida e a morte
Le premier volume du TRAITÉ de Blainville SUR L'ORGANISATION DES ANI­MAUX.
O primeiro volume do Tratado de Blainville sobre a Organização dos animais
La PHYSIOLOGIE de Richerand (dernière édition, annotée par Bérard).
A Fisiologia de Richerand (última edição, anotada por Bérard)
La PHYSIOLOGIE de Cl. Bernard, précédée de l'ESSAI SYSTÉMATIQUE SUR LA BIOLOGIE, par Segond.
A Fisiologia de Claude Bernard, precedida do Ensaio sistemático sobre a Biologia, de Segond
La PHILOSOPHIE ZOOLOGIQUE de Lamarck.
A Filosofia zoológica, de Lamarck
L'HISTOIRE NATURELLE de Duméril (dernière édition).
A História natural, de Duméril (última edição)
Les DISCOURS SUR LA NATURE DES ANIMAUX, par Buffon.
O Discurso sobre a natureza dos animais, de Buffon
L'ART DE PROLONGER LA VIE HUMAINE, par Hufeland, précédé du TRAITÉ SUR LES AIRS, LES FAUX, ET LES LIEUX, par Hippocrate, et suivi du livre de Cornaro SUR LA SOBRIÉTÉ (à réunir en un seul volume).
A arte de prolongar a vida humana, de Hufeland, precedida do Tratado sobre os ares, os fogos e os lugares, de Hipócrates, e seguido do livro de Cornaro Sobre a sobriedade (a reunir em um único volume)
L'HISTOIRE DES PHLEGMASIES CHRONIQUES, par Broussais, précédée de ses PROPOSITIONS DE MÉDECINE.
A História das flegmasias crônicas, de Broussais, precedida de suas Proposições de Medicina
Les ÉLOGES DES SAVANTS, par Fontenelle et Condorcet.
Os Elogios dos cientistas, de Fontenelle e Condorcet

3º HISTOIRE  (soixante volumes).
3º HISTÓRIA (60 volumes)


L'ABRÉGÉ DE GÉOGRAPHIE UNIVERSELLE, par Malte-Brun.
O Resumo de Geografia universal, de Malte-Brun
Le DICTIONNAIRE GÉOGRAPHIQUE de Rienzi.
O Dicionário geográfico, de Rienzi
Les VOYAGES de Cook, et ceux de Chardin.
As Viagens de James Cook e as de Chardin
L'HISTOIRE DE LA RÉVOLUTION FRANÇAISE, par Mignet.
A História da Revolução Francesa, de Mignet
Le MANUEL DE L'HISTOIRE MODERNE, par Heeren.
O Manual de História moderna, de Heeren
Le SIÈCLE DE Louis XIV, par Voltaire.
O Século de Luís XIV, de Voltaire
Les MÉMOIRES de Mme de Motteville.
As Memórias, de Mme. Motteville
Le TESTAMENT POLITIQUE de Richelieu, et la VIE DE  CROMWELL (à réunir en un seul volume).
O Testamento político de Richelieu e a Vida de Cromwell (a reunir em um único volume)
Les MÉMOIRES de Benvenuto Cellini (en italien).
As Memórias de Benvenuto Cellini
Les MÉMOIRES de Commines.
As Memórias de Commines
L'ABRÉGÉ DE L'HISTOIRE DE FRANCE, par Bossuet.
O Resumo da História da França, de Bossuet
Les RÉVOLUTIONS D'ITALIE, par Denina.
As Revoluções da Itália, de Denina
L'ABRÉGÉ DE L'HISTOIRE D'ESPAGNE, par Ascargorta.
O Resumo da História da Espanha, de Ascargorta
L'HISTOIRE DE CHARLES-QUINT, par Robertson.
A História de Carlos V, de Robertson
L'HISTOIRE D'ANGLETERRE, par Hume.
A História da Inglaterra, de David Hume
L'EUROPE AU MOYEN AGE, par Hallam.
A Europa na Idade Média, de Hallam
L'HISTOIRE ECCLÉSIASTIQUE, par Fleury.
A História eclesiástica, de Fleury
L'HISTOIRE DE LA DÉCADENCE ROMAINE, par Gibbon.
A História da decadência romana, de Gibbon
Le MANUEL DE L'HISTOIRE ANCIENNE, par Heeren.
O Manual de História Antiga, de Heeren
TACITE complet (traduction Dureau de La Malle).
Tácito completo
THUCYDIDE ET HÉRODOTE (à réunir en un seul volume).
Tucídides e Heródoto (a reunir em um único volume)
Les VIES de Plutarque (traduction Dacier).
As Vidas de Plutarco
Les COMMENTAIRES de César, et l'ALEXANDRE d'Arrien (à réunir en un seul volume).
Os Comentários de César e o Alexandre de Arrien (a reunir em um único volume)
Le VOYAGE D'ANACHARSIS, par Barthélemy.
A Viagem de Anarcarsis, de Barthélemy
L'HISTOIRE DE L'ART CHEZ LES ANCIENS, par Winckelmann.
A História da arte entre os antigos, de Winckelmann
Le TRAITÉ DE LA PEINTURE, par Léonard de Vinci (en italien).
O Tratado da pintura, de Leonardo da Vinci
Le COURS DE DESSIN, par A. Etex.
O Curso de desenho, de A. Etex
Les MÉMOIRES SUR LA MUSIQUE, par Grétry.
As Memórias sobre a música, de Grétry

4º PHILOSOPHIE, MORALE ET RELIGION
(trente volumes).
4º FILOSOFIA, MORAL E RELIGIÃO (30 volumes)


LA POLITIQUE d'Aristote, et sa MORALE (à réunir en un seul volume).
A Política de Aristóteles e sua Moral (a reunir em um único volume)
La BIBLE Complète. Le CORAN complet.
A Bíblia completa. O Alcorão completo
LA CITÉ DE DIEU, par saint Augustin.
A Cidade de deus, de Santo Agostinho
LES CONFESSIONS de saint Augustin, suivies du TRAITÉ SUR L'AMOUR DE DIEU, par saint Bernard.
As Confissões de Santo Agostinho, seguidas do Tratado sobre o amor de deus, de São Bernardo
L'IMITATION DE JÉSUS-CHRIST (l'original et la traduction en vers de Corneille).
A Imitação de Jesus Cristo
Le CATÉCHISME DE MONTPELLIER, précédé de l'EXPOSITION DE LA DOCTRINE CATHOLIQUE par Bossuet, et suivi des COMMENTAIRES SUR LE SERMON DE J.-C., par saint Augustin.
O Catecismo de Montpellier, precedido pela Exposição da doutrina católica de Bossuet e seguido dos Comentários sobre o sermão de J.-C., de Santo Agostinho
L'HISTOIRE DES VARIATIONS PROTESTANTES, par Bossuet.
A História das variações protestantes, de Bossuet
Le DISCOURS SUR LA MÉTHODE, par Descartes, suivi du Novum ORGANUM de Bacon.
O Discurso sobre o método, de Descartes, seguido do Novum Organum, de Bacon
Les PENSÉES de Pascal, suivies de celles de Vauvenargues, et des CONSEILS D'UNE MÈRE, par Mme de Lambert.
Os Pensamentos de Pascal, seguidos pelos de Vauvenargues e dos Conselhos de u’a mãe, de Mme. de Lambert
Le DISCOURS SUR L'HISTOIRE UNIVERSELLE, par Bossuet, suivi de l'ESQUISSE HISTORIQUE, par Condorcet.
O Discurso sobre a História universal, de Bossuet, seguido do Esboço histórico de Condorcet
Le TRAITÉ DU PAPE, par de Maistre, précédé de la POLITIQUE SACRÉE, par Bossuet.
O Tratado sobre o papa, de de Maistre, precedido pela Política sagrada, de Bossuet
Les RAPPORTS DU PHYSIQUE ET DU MORAL DE L'HOMME, par Cabanis.
As Relações entre o físico e o moral do homem, de Cabanis
Le TRAITÉ SUR LES FONCTIONS DU CERVEAU, par Gall, précédé des LETTRES SUR LES ANIMAUX, par Georges Leroy.
O Tratado sobre as funções do cérebro, de Gall, precedido pelas Cartas sobre os animais, de Georges Leroy
La PHILOSOPHIE POSITIVE d'Auguste Comte (six volumes), et sa POLITIQUE POSITIVE (quatre volumes), plus son CATÉCHISME POSITIVISTE.
A Filosofia positiva de Augusto Comte (seis volumes) e sua Política positiva (quatro volumes), mais seu Catecismo positivista
L'HISTOIRE DE LA PHILOSOPHIE, PAR G. H. Lewes.
A História da filosofia, de G. H. Lewes


N. B.: Esta biblioteca será redutível a 100 volumes após a regeneração da educação ocidental.

Augusto COMTE,
(rua Monsieur le Prince, 10)
Paris, 24 de Gutemberg de 64 (sábado, 4 de setembro de 1852)





[1] Fonte: Auguste Comte, Catéchisme positiviste, p. 22. Disponível em: http://classiques.uqac.ca/classiques/Comte_auguste/catechisme_positiviste/catechisme_positiviste.html; acesso em: 24.11.2015.