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09 julho 2024

Sobre os manuais de autoajuda

No dia 23 de Carlos Magno de 170 (9.7.2024) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua duodécima conferência, dedicada ao exame da evolução histórica da Humanidade, em particular do fetichismo e do politeísmo.

No sermão apresentamos algumas considerações filosóficas, morais e sociológicas sobre os chamados "manuais de autoajuda".

Antes do sermão insistimos que na semana passada o nosso canal Positivismo, no Youtube, foi censurado. (Ver aqui e aqui.)

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/sxcYl) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/05OYN).

Os horários de cada parte são os seguintes:

0 min 0 s: início 

14 min 40 s: indicação das efemérides

18 min 10 s: aviso de férias

19 min 41 s: notícia sobre a censura sofrida

30 min 21 s: leitura comentada do Catecismo Positivista

1 h 05 min 57 s: início do sermão 

2h 15 min 28 s: exortações finais

2 h 23 min 10 s: término

As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas (e atualizadas) abaixo.

*   *   *

Sobre os manuais de autoajuda

(Prédica de 23 de Carlos Magno de 170/9.7.2024) 

1.      Exortações e comentários iniciais:

1.1.   Exortações:

1.1.1.     Sejamos altruístas!

1.1.2.     Façamos orações!

1.1.3.     Façamos trocas:

1.1.3.1.           Idéias, sentimentos, experiências: conversemos!

1.1.3.2.           Façam o Pix da Positividade! (Chave pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

1.2.   Efemérides:

1.2.1.     28 de Carlos Magno: 14 de julho, início da grande crise ocidental (Revolução Francesa)

1.3.   Aviso: férias entre 24 de Carlos Magno (10 de julho) e 22 de Dante (5 de agosto)

2.      Censura do canal Positivismo (Youtube.com/ThePositivism), pelo Youtube

2.1.   Ocorrida nos dias 2 e 3 de julho, em um total de 18 vídeos e proibindo também a realização de eventos ao vivo

2.2.   Aparentemente, foi uma censura automática, realizada pela suposta “inteligência artificial”

2.2.1.     Alegadamente, porque os nossos vídeos infringiram os “parâmetros da comunidade”

2.2.2.     Os parâmetros alegados para censura são: estímulo à violência, estímulo a crimes, instruções para violência e para crimes, pornografia infantil, estímulo à violência autoinflingida: evidentemente, nenhum desses parâmetros aplica-se ao nosso canal

2.2.3.     Mas como se trata de um processo obscuro, em que não se sabe como começa nem como é processado, infelizmente não se pode descartar censura realizada por adversários (retrógrados e/ou revolucionários)

3.      Leitura comentada do Catecismo positivista

3.1.   “Conclusão” do livro, duodécima conferência: evolução histórica da religião, em particular do fetichismo e do politeísmo

4.      Sermão da semana: sobre os manuais de autoajuda

4.1.   Esse tema foi sugerido por diversos motivos, que aparentemente são díspares mas que, bem vistas as coisas, estão estreitamente relacionados:

4.1.1.     Por um lado, os chamados “manuais de autoajuda” são uma forma de literatura que há algumas (duas ou três) décadas faz muito sucesso e que, ao fazer sucesso, indica uma necessidade coletiva e individual – o que exige considerações da parte da Religião da Humanidade

4.1.2.     Por outro lado, muitos livros sugeridos para leitura pelo Positivismo já foram considerados como sendo de “autoajuda” – o que, evidentemente, também deve ser motivo de reflexão

4.2.   O que são os chamados “manuais de autoajuda”?

4.2.1.     São livros escritos basicamente por estadunidenses (ou por autores influenciados pela mentalidade própria aos Estados Unidos) que buscam oferecer orientação para a vida dos leitores

4.2.2.     Como o rótulo geral sugere, é uma literatura que pretende fornecer orientação individual, em que os leitores não precisam interagir com ninguém e podem atuar com autonomia; além disso, essa orientação individual é dada na forma de conselhos, regras, procedimentos etc.

4.2.3.     Esses conselhos são para as mais variadas áreas: sentimentos e emoções, carreiras e negócios, condução de relacionamentos e criação de filhos, administração financeira etc.

4.3.   É importante indicar a origem estadunidense devido a alguns traços gerais bastante salientes

4.3.1.     Esses traços não estão sempre presentes, mas são muito comuns

4.3.2.     Esses traços são pelo menos três:

4.3.2.1.           Por um lado, o já indicado elemento individualista da literatura: os conselhos dados são não somente para indivíduos consumirem, mas o viés adotado é especificamente individualista, no sentido de que se busca a satisfação estritamente individual, egoísta, apesar e mesmo contra a sociedade e a sociabilidade

4.3.2.1.1.                A felicidade individual é um objetivo supremo e em desconsideração com o bem comum

4.3.2.1.2.                Da mesma forma, a noção de self-made man com frequência é subjacente (ou até explícita)

4.3.2.1.3.                Nesse sentido, aliás, é uma pequena contradição o nome geral dado a essa literatura – “manuais de autoajuda” –, na medida em que a própria noção de manual, que são livros escritos por outros para auxiliar coletivamente, é contrária à idéia de individualismo egoísta

4.3.2.2.           Por outro lado, o aspecto comercial dos conselhos dados: os conselhos dados são vendidos

4.3.2.2.1.                O caráter comercial disso é tão intenso que, com freqüência, considera-se que quanto mais caros, melhores seriam tais conselhos

4.3.2.3.           Em terceiro lugar, seja como parte das técnicas de venda, seja como integrante da mentalidade teológica geral da cultura estadunidense, há com frequência também um forte elemento miraculoso nos conselhos dados: são sempre conselhos “revolucionários”, com efeitos milagrosos ou mágicos

4.4.   Como indicamos antes, muitos dos livros recomendados por Augusto Comte para leitura apresentam um aspecto que, por vezes, são entendidos como sendo de “autoajuda”

4.4.1.     Em que consiste essa “autoajuda”? Consiste nas sugestões, nas recomendações, nos conselhos práticos dados pelo autor para a condução cotidiana da vida do leitor

4.4.1.1.           Quais livros da Biblioteca Positivista apresentam esse aspecto? Podemos indicar pelo menos os seguintes:

4.4.1.1.1.                A arte de amar, de Ovídio

4.4.1.1.2.                A imitação de Cristo, de Tomás de Kempis

4.4.1.1.3.                Autobiografia, de Benjamin Franklin

4.4.1.1.4.                Máximas e reflexões, de Vauvenargues

4.4.1.1.5.                Da sobriedade, de Cornaro

4.4.1.1.6.                A arte de prolongar a vida, de Hufeland

4.4.1.2.           A recomendação de livros assim e a consideração de que eles seriam livros de autoajuda sugerem, ou exigem, reflexões tanto sobre esses livros quanto sobre a literatura de autoajuda em geral

4.4.2.     O objetivo da inclusão desses livros na Biblioteca Positivista é bastante claro: trata-se de oferecer conselhos e orientações práticos para que os indivíduos possam conduzir suas vidas e que possam lidar com questões cotidianas; em outras palavras, trata-se de ser útil, em um sentido bem prosaico

4.4.3.     Em outras palavras, essas recomendações são (1) feitas pelo sacerdócio positivo (2) para estimular e auxiliar a reflexão individual

4.4.4.     Vale a pena entender essa “utilidade individual”:

4.4.4.1.           Por um lado, isso evidencia que a Religião da Humanidade reconhece e busca satisfazer também as necessidades individuais

4.4.4.2.           Por outro lado, essa “utilidade” não esgota o conceito de utilidade para o Positivismo: como sabemos, ela refere-se às necessidades humanas em sentido amplo, começando pelas mais gerais (morais e coletivas), passando pelas intelectuais e chegando às mais específicas (materiais e individuais)

4.4.4.3.           Além disso, esse “individual” não é entendido como isolado ou contrário à noção de coletividade; aliás, bem ao contrário, trata-se de entender que, se a felicidade individual é legítima, sua satisfação só resultará em harmonia coletiva (e individual!) se for entendida como complementar ao bem-estar coletivo – e, como sabemos, essa complementaridade justamente só ocorre quando a felicidade individual é orientada para o bem-estar coletivo, ou seja, quando é orientada pelo altruísmo

4.4.5.     Assim, embora até se possa considerar que alguns livros recomendados pelo Positivismo sejam de “autoajuda”, tais livros não têm em si mesmos os aspectos individualistas, egoístas, antissociais próprios à atual literatura de autoajuda, nem são recomendados com esse espírito

4.4.5.1.           Aliás, também não recomendamos livros a partir de um espírito comercialista, nem espetacular nem miraculoso

4.5.   Convém entendermos sociologicamente o surgimento dos livros de autoajuda, isto é, da literatura que atualmente é assim denominada e que se apresenta dessa forma

4.5.1.     Antes de mais nada, temos que ter em mente que todo sistema filosófico, moral, religioso precisa de livros de divulgação e vulgarização, não somente para exposição popular e simplificada da doutrina, mas também para aplicação prática das suas idéias

4.5.1.1.           Assim, não somente é correta, mas, mais do que isso, é necessária a elaboração de livros, documentos e manuais práticos para a aplicação cotidiana de princípios

4.5.1.2.           Dessa forma, bem vistas as coisas, toda doutrina tem livros desse tipo, desde sempre: pensemos nos relatos mais antigos, seja de Direito, como o Código de Hamurábi, seja de... Matemática, como as tabuletas e os papiros egípcios, babilônicos, hindus etc.; ou Como tirar proveito dos seus inimigos e Como distinguir um bajulador de um amigo, ambos de Plutarco; ou, então, na chamada literatura “espelho do príncipe”, que eram conselhos dados pelos sacerdotes católicos para orientação prática dos governantes; ou então, ainda no âmbito do catolicismo, livros como os Exercícios espirituais, de Santo Inácio, ou A arte de aproveitar-se das próprias faltas, segundo São Francisco de Sales, de José Tissot

4.5.1.3.           Talvez seja um sinal muito ruim considerarmos que esses livros de aplicação prática individual sejam atualmente considerados de autoajuda, devido ao intelectualismo e ao hermetismo que se considera que devem ter os “verdadeiros” livros filosóficos e morais

4.5.2.     Indicamos antes que a atual literatura de autoajuda é de origem estadunidense e que, em virtude disso, ela apresenta pelo menos três características muito marcantes, o individualismo antissocial do self-made man, o comercialismo e o caráter espetacular

4.5.2.1.           Todavia, esses três aspectos, embora sejam de fato caracteristicamente estadunidenses, é importante indicar que eles são contemporâneos; assim, eles são característicos do que se chama própria e especificamente de “literatura de autoajuda”

4.5.2.2.           Os Estados Unidos têm uma tradição de obras de orientação pessoal, como a já clássica Autobiografia de Benjamin Franklin – que, aliás, como indicamos, também está na Biblioteca Positivista – e os livros de Orison Swett Marden

4.5.2.2.1.                No caso do livro de Franklin, é notável que ele tenha sido escrito sem referências teológicas, o que indica a emancipação do antigo embaixador dos Estados Unidos

4.5.2.2.2.                Já os livros de Orison Marden combinam bom senso comum e forte teologismo

4.5.3.     Como indicamos há pouco, os livros de regras e conselhos pessoais, então, apresentam desde sempre o caráter de complementos de atuação do sacerdócio, no sentido claro de oferecer sugestões práticas para o dia-a-dia das pessoas

4.5.4.     A atual literatura de autoajuda, todavia, inverte e rejeita esse caráter de complementaridade com o sacerdócio: claramente esses livros desconsideram o fato de que são, e devem ser, apenas apoios, apenas secundários

4.5.4.1.           A separação dos livros de autoajuda em relação ao sacerdócio tem que ser entendida em relação com a decadência (necessária) do sacerdócio teológico, por um lado, e com a constituição do que se pode chamar de “sacerdócio cientificista/metafísico” (que, por sua vez, ocorre na forma das universidades, por um lado, e, por outro lado, da psiquiatria, das psicoterapias e, ainda pior, das psicosseitas (como no caso exemplar da psicanálise))

4.5.4.2.           Embora os antigos sacerdócios tivessem o grave defeito de basearem-se na teologia, suas recomendações eram gratuitas e abertas a todos e as falhas decorrentes da teologia eram corrigidas pelo bom senso prático do sacerdócio

4.5.4.3.           As universidades ambigüamente rejeitam o antigo sacerdócio, mas, ao mesmo tempo, rejeitam e impedem a constituição de um novo sacerdócio positivo

4.5.4.3.1.                Essa rejeição/impedimento ocorre na forma da rejeição de afirmarem-se como sacerdócio, na forma da cultura especializante, na forma do absolutismo cientificista

4.5.4.4.           Em relação à psiquiatria: ela não é metafísica, pelo menos não em princípio; sendo um ramo da Medicina, ela tem um forte aspecto científico; entretanto, falta-lhe com freqüência a consideração e o respeito ao aspecto humano da prática, seja em termos de respeito à subjetividade, seja em termos de respeito à dignidade humana

4.5.4.4.1.                Esse é um problema geral da Medicina contemporânea – aspecto que, aliás, Augusto Comte criticava e lamentava

4.5.4.5.           Da mesma forma, as psicoterapias, por si sós, não são necessariamente metafísicas, embora um simples exame das teorias psicoterápicas evidenciem com rapidez e clareza que muitas – muitas! – delas são extremamente metafísicas

4.5.4.5.1.                Muitas psicoterapias, apesar de suas concepções metafísicas, apresentam práticas concretamente positivas, o que acaba tornando-as mais aceitáveis (ou menos criticáveis)

4.5.4.5.2.                Nas últimas décadas tem-se estabelecido um consenso no sentido de que a psiquiatria e as psicoterapias devem andar de mãos dadas, ou seja, que a parte farmacológica e a parte “empática” são complementares

4.5.4.6.           Já as psicosseitas constituem-se em grupos esotéricos e exotéricos, ou seja, são grupos restritos aos iniciados, com procedimentos demorados, com resultados totalmente incertos e, ainda pior, muitas vezes conscientemente caros

4.5.5.     Um aspecto muito saliente na atuação do que chamamos aqui de sacerdócio metafísico – à parte o fato de que muitos deles são, efetivamente, metafísicos – é que só acorre a ele quem está doente ou com problemas

4.5.5.1.           Importa reforçar: o antigo sacerdócio tinha uma atuação universal e gratuita; ele foi substituído por grupos profissionais que cobram por suas atuações mas que restringem essa atuação a quem enfrenta problemas (e problemas “clínicos”)

4.5.6.     Ora, como deveria ser evidente, a atuação do sacerdócio não pode limitar-se a quem tem problemas

4.5.6.1.           Inversamente, é necessário que médicos e psicoterapeutas reconheçam adequadamente sua integração ao sacerdócio (e que, a partir daí, orientem suas condutas profissionais)

4.5.6.2.           Um sinal bastante claro dessa rejeição (ou, talvez, apenas incompreensão) do caráter sacerdotal dos “profissionais da mente” é o fato de que muitos deles criticam os manuais de autoajuda (1) pensando apenas em quem tem problemas e (2) considerando que apenas os próprios “profissionais da mente” são capazes de oferecer orientação

4.5.6.2.1.                Dito isso, convém lembrarmos que há pessoas que realmente precisam de auxílio profissional

4.5.6.3.           Por outro lado, bem vistas as coisas, temos que reconhecer que o nosso comentário acima se defronta com uma ambigüidade: por um lado, muitos “profissionais da mente” exigem de fato um exclusivismo daninho; mas por outro lado, é necessário insistir muito que os livros de autoajuda são apenas auxiliares do sacerdócio

4.5.6.3.1.                Importa insistir: a atual literatura de autoajuda – ao basear-se no comercialismo, no individualismo extremo, em garantias mágicas de solução – nega o caráter social e histórico do ser humano e rejeita a atuação do sacerdócio

4.5.7.     Não somente a atuação do sacerdócio não pode limitar-se a quem tem problemas como há muitas pessoas – na verdade, bem vistas as coisas, a maior parte das pessoas e/ou na maior parte de suas vidas – que buscam orientação a partir da reflexão pessoal, da leitura filosófica e/ou literária

4.5.7.1.           Além disso, há outras tantas pessoas que não desejam ter que ir a um médico ou a um terapeuta – ou, então, que não têm dinheiro e/ou tempo para isso

4.5.8.     O resultado geral do que comentamos até agora é o seguinte: trata-se de uma desarticulação geral e necessária do antigo sacerdócio, sem que ele tenha sido adequadamente substituído pelo novo; nesse sentido, a passagem da teologia para a ciência limitou-se ao aspecto destruidor da metafísica e até da ciência, sem que a atual constituição dos “profissionais da mente” seja realmente adequada às necessidades sociais

4.5.9.     Os livros de autoajuda devem ser entendidos, então, como o resultado da degradação extrema do antigo sacerdócio sem que o sacerdócio positivo tenha tido ainda condições de estabelecer-se amplamente

4.5.9.1.           É claro que as características mais negativas corretamente criticadas nos livros de autoajuda – comercialismo, individualismo antissocial e até um mecanicismo mágico – integram plenamente essa decadência do antigo sacerdócio sem substituição pelo novo

4.6.   Em suma:

4.6.1.     Os livros de autoajuda correspondem a uma versão contemporânea de uma literatura historicamente muito comum, necessária e assessória da atuação sacerdotal

4.6.1.1.           Essa literatura consiste em aplicações práticas e em exemplos concretos de regras gerais, servindo para orientar a conduta cotidiana dos indivíduos

4.6.1.2.           Devemos repetir o óbvio: todos nós precisamos de orientações desse tipo

4.6.1.3.           É devido a essa necessidade que os livros de autoajuda têm tanto sucesso

4.6.2.     Os livros de autoajuda – ao basearem-se no comercialismo, no individualismo extremo, em promessas mágicas de solução – negam o caráter social e histórico do ser humano e rejeitam a atuação do sacerdócio positivo: esses defeitos, por si sós, já bastam para vermos com maus olhos essa literatura

4.6.3.     Além disso, o sucesso contemporâneo dos livros de autoajuda – incluindo aí os seus aspectos negativos, que infelizmente são parte importante de seu atrativo – corresponde à degradação extrema do sacerdócio teológico, sem que o sacerdócio positivo tenha ainda conseguido estabelecer-se plenamente (e, claro, por definição, sem que o sacerdócio cientificista/metafísico tenha condições de realizar essa tarefa)

04 julho 2024

O canal Positivismo foi - mais uma vez - censurado!

O CANAL POSITIVISMO FOI - MAIS UMA VEZ - CENSURADO!


Fonte: https://marceloauler.com.br/abi-e-abraji-protestam-contra-a-censura-imposta-ao-blog/
Fonte:
https://marceloauler.com.br/abi-e-abraji-protestam-contra-a-censura-imposta-ao-blog/


Após a censura sofrida no dia 16 de Carlos Magno de 170 (2.7.2024), o canal Positivismo (Youtube.com/ThePositivism) sofreu mais um ataque de censura no dia seguinte, ou seja, em 17 de Carlos Magno de 170 (3.7.2024). Novamente um lote de nove vídeos sofreu a censura, com prédicas do primeiro semestre de 170 (2024), consideradas "impróprias" para os "padrões da comunidade"!
Reafirmamos agora o que dissemos antes: 1) Nossas prédicas apresentam e debatem valores, idéias e sentimentos, com vistas ao comportamento convergente, construtivo, altruísta; isso significa que somos contra o ódio, a destruição, a intolerância, a violência; assim, não violamos, nunca, "padrões de comunidade". 2) Na medida em que apresentamos e discutimos sentimentos, idéias, valores e comportamentos, muito, muito raramente abordamos comportamentos específicos de pessoas concretas; quando o fazemos - isto é, nas raríssimas vezes em que o fazemos -, tratamos de pessoas específicas apenas em reação a comportamentos negativos dirigidos por essas pessoas contra nós. 3) Os "padrões da comunidade" infelizmente têm um caráter vago, evidentemente são manipuláveis com facilidade por pessoas de má-fé e ainda são geridos por mecanismos eletrônicos por definição irresponsáveis e inidentificáveis. 4) Os positivistas, seguidores da Religião da Humanidade, seguimos a regra do "viver às claras", responsabilizando-nos publicamente por nossos sentimentos, nossas idéias e nossos comportamentos; assim, por definição somos totalmente contrários à censura. 5) O fato de termos sido censurados, embora indique que uma, ou algumas, pessoa(s) temem o Positivismo e vê(em) com temor a difusão da Religião da Humanidade, no final das contas evidencia que estamos no rumo certo e que nossa atividade deve ser mantida e ampliada - e que, em face de nossos sentimentos, de nossos princípios e de nossas atitudes, a única via que se encontra para combater-nos é por meio da censura. Apresento abaixo um pequeno relatório dos nossos vídeos que foram censurados em 17.Carlos Magno.170 (3.7.2024) Prédicas censuradas, por ordem de censura: 1) Live AOP com Ricardo Cortez Lopes (11.Carlos Magno.170/27.6.2024): Apresentando a Represontologia – https://youtube.com/live/P3LbsTHQMXc 2) Prédica positiva (23.César.170/14.5.2024): regime público; liberdade absoluta de consciência – https://youtube.com/live/OqTbUjoY7hs 3) Prédica positiva (9.Aristóteles.170/5.3.2024): regime privado; significado da palavra “positivo” – https://youtube.com/live/eNYEBXOJoeY 4) Prédica positiva (2.São Paulo.170/21.5.2024): regime público; positivismo leninista – VÍDEO COMPLETO – https://youtu.be/gkpEI6tK7Jg 5) Prédica positiva (2.São Paulo.170/21.5.2024): regime público; positivismo leninista – VÍDEO PARCIAL – https://youtube.com/live/Nrewv2N_Gok 6) Prédica positiva (9.César.170/30.4.2024): regime público; Dia do Trabalhador – https://youtube.com/live/ySnpMAAfQnQ 7) Prédica positiva (16.Aristóteles.170/12.3.2024): regime positivo; relações altruísmo/egoísmo – https://youtube.com/live/Qvi40MDEHjc 8) Prédica positiva (2.César.170/23.4.2024): regime público; ideal vs. real – https://youtube.com/live/xF2iomI6q9w 9) Prédica positiva (9.Carlos Magno.17/25.6.2024): regime público – https://youtube.com/live/CoOXI4Hgh5I Temas censurados das conferências do Catecismo positivista: 1) (Um evento foi uma Live AOP, ou seja, sem leitura comentada do Catecismo positivista) 2) Regime positivo 3) Regime privado 4) Regime público 5) Regime público 6) Regime público 7) Regime público 8) Regime público 9) Regime público Datas das prédicas censuradas: 1) 9.Aristóteles.170/5.3.2024 2) 16.Aristóteles.170/12.3.2024 3) 2.César.170/23.4.2024 4) 9.César.170/30.4.2024 5) 23.César.170/14.5.2024 6) 2.São Paulo.170/21.5.2024 7) 2.São Paulo.170/21.5.2024 8) 9.Carlos Magno.170/25.6.2024 9) 11.Carlos Magno.170/27.6.2024 Sermões censurados: 1) (Uma prédica censurada não teve sermão) 2) Dia do Trabalhador 3) Ideal vs. real 4) Liberdade absoluta de consciência 5) Live AOP com Ricardo Cortez Lopes: Apresentando a Represontologia 6) Positivismo leninista – VÍDEO COMPLETO 7) Positivismo leninista – VÍDEO PARCIAL 8) Relações altruísmo/egoísmo 9) Significado da palavra “positivo”

03 julho 2024

Trechos da correspondência Comte-Clotilde

No dia 16 de Carlos Magno de 170 (2.7.2024) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, agora começando a "Conclusão" do livro, dedicada à exposição da evolução histórica das religiões, em particular iniciando a leitura da duodécima conferência, relativa ao fetichismo e ao politeísmo.

Na parte do sermão lemos alguns trechos da belíssima correspondência entre Augusto Comte e Clotilde de Vaux, em particular aqueles que o próprio Comte selecionou para suas orações cotidianas (como se vê nesta postagem: Orações cotidianas de Augusto Comte).

Como o canal Positivismo (Youtube.com/ThePositivism) foi CENSURADO nesse dia, vimo-nos obrigados a transmitir a prédica apenas pelo canal Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/Hdu6L). Ainda assim, carregamos o vídeo no canal Positivismo (aqui: https://l1nq.com/Z1xHG).

A leitura comentada começou aos 37 min; o sermão começou em 1h 04 min.

As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

*   *   *



Extrato da correspondência Comte-Clotilde

(Prédica de 16.Carlos Magno.170/2.7.2024) 

1.       Exortações

1.1.    Sejamos altruístas!

1.1.1. “30 atos de bondade” (Sociedade do Bem, Portugal – https://sociedadedobem.org/2016/02/25/30-atos-de-bondade/)

 


1.2.    Façamos orações!

1.3.    Façamos trocas:

1.3.1. Pensamentos, idéias, sentimentos: conversemos!

1.3.2. Façam o Pix da Positividade!

2.       Efemérides

2.1.    Dia 19 de Carlos Magno (5.7): transformação de Richard Congreve (1899)

2.2.    Dia 4 de Carlos Magno (21.6), dia de Santo Henrique: nascimento de Kasparas Leona, filho da nossa amiga, a antropóloga Vaida Norvilaite

3.       Indicação de livro:

3.1.    Gestos de bondade, de Maladee McCarthy

4.       Explicação sobre o sinal positivista

4.1.    Amor (sentimentos): bondade

4.2.    Ordem (inteligência): dedução

4.3.    Progresso (atividade prática): perseverança

5.       Orações transcritas:

5.1.    Publicação no blogue Filosofia Social e Positivismo (https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/)

5.2.    A partir do opúsculo Comte e Clotilde (organizado por Teixeira Mendes, em 1903, originalmente em francês)

5.3.    Orações:

5.3.1. Orações cotidianas de Augusto Comte

5.3.2. Orações para as refeições (Teixeira Mendes)

5.3.3. Hino ao amor (Teixeira Mendes)

6.       Leitura comentada do Catecismo positivista

7.       Extrato da correspondência entre Augusto Comte e Clotilde de Vaux

7.1.    Os trechos reproduzidos abaixo foram extraídos do opúsculo Comte e Clotilde; como comentado acima, esse livrinho foi organizado por Teixeira Mendes em 1903 (originalmente em francês e, em 1936, traduzido para o português)

7.2.    A correspondência completa possui 181 cartas, trocadas entre 30.4.1845 e 18.3.1846 e publicadas no Testamento de Augusto Comte

7.2.1. O testamento de nosso mestre é de 22 de Bichat de 67 (24.12.1855)

7.2.2. Também publicadas no Testamento de nosso mestre estão as suas orações cotidianas (bem como os acréscimos, as peças justificativas, as confissões anuais e a adição secreta)

7.2.3. Também no Testamento lemos como, segundo as próprias palavras de nosso mestre, como é difícil passar da mudança de idéias (do absoluto para o relativo, da criticidade metafísica para as construções positivas) para a mudança de sentimentos (da violência, da beligerância, do egoísmo e do individualismo para a simpatia, para o amor, para a sociabilidade) e daí para a mudança de comportamentos (do reacionarismo e do revolucionarismo para a construtividade)

7.3.    Os trechos abaixo compõem as orações cotidianas de Augusto Comte, ou seja, foram selecionados por nosso mestre para suas efusões matinais

8.       Essa correspondência é belíssima e exemplar

8.1.    Ela evidencia todas as qualidades morais e intelectuais que Augusto Comte atribuía a Clotilde: sensibilidade, refinamento, entendimento do ser humano

8.2.    Ela evidencia a superioridade moral de Clotilde, que aliava a ternura à pureza

8.3.    Ela indica o quanto Clotilde era u’a moça sofrida na vida e oprimida pela família

8.4.    Ela indica o profundo respeito de Augusto Comte para com Clotilde

8.4.1. Aliás, mais do que isso: essa correspondência indica que os sentimentos de amor entre ambos eram verdadeiros, recíprocos e profundos

8.5.    Ela evidencia o quanto a superioridade moral afirmada e proposta pela Religião da Humanidade não é uma idealização ingênua nem uma pieguice tola

8.6.    Em contraste com o item anterior, ela evidencia o quanto a nossa moralidade contemporânea, em particular a afirmada pelo feminismo, é vulgar, banal e grosseira

8.6.1. Nesse sentido, essa correspondência indica o quanto atualmente se considera que as relações entre os sexos limitam-se ao sexo e, de modo degradantemente pior, à violência entre os sexos

9.       Vejamos, então, os trechos selecionados por nosso mestre para suas efusões.

 

Vim agradecer-vos, Senhor, o vosso encantador mimo. (A sua visita do lunedia[1] 2 de junho de 1845, com a sua mãe e o seu irmão.)

Iniciação fundamental

Junho – Estima. Deixai-me livremente trabalhar no vosso aperfeiçoamento, pois que é a minha principal maneira de ocupar-me com a vossa felicidade, que me será sempre cara, sejam quais forem o grau e a forma pelos quais possa concorrer para ela. (A minha carta de 6 de junho.)

É indigno dos grandes corações derramar as perturbações que sentem. (A sua Lúcia, publicada a 20 de junho.)

Julho – Confiança. O meu coração vê finalmente em vós, na realidade presente, uma perfeita amiga, e, nos meus sonhos de futuro, uma santa esposa. (A minha carta de 3 de julho.)

Eu vos estendo a mão bem sinceramente, eu vos sou ternamente devotada, e terei sempre prazer em proporcionar-vos, nas nossas relações, toda a felicidade de que posso dispor: vossa de coração. (A sua carta de 4 de julho.)

Agosto – Afeição. O meu surto direto do amor universal se consuma sob a estimulação contínua do nosso puro apego. (A minha carta de 5 de agosto.)

Adeus, caro e digno amigo; vedes que eu vos aprecio e creio em vós: contai com o coração de Clotilde de Vaux. (A sua carta de 11 de agosto.)

A cada suspensão do meu trabalho, a vossa cara imagem volta docemente a apoderar-se de mim: longe de prejudicar depois a minha meditação, ela a sustenta e a anima. (A minha carta de 26 de agosto.)

Crise decisiva

Setembro. Se credes poder aceitar todas as responsabilidades que se prendem à vida de família, dizei-mo, e decidirei da minha sorte... Eu vos confio o meu resto de vida. (A sua carta de 5 de setembro.)

Eis o meu plano de vida: a afeição e o pensamento. (A sua carta de 6 de setembro.)

Sinto-me ainda desgraçadamente impotente para o que ultrapassa os limites da afeição. Ninguém apreciar-vos-á como eu o faço; e o que não me inspirais, nenhum homem mais mo inspira; porém o passado faz-me ainda mal, e foi um erro meu querer arrostá-lo. Sede generoso a todos os respeitos, como o sois a certos. Deixai-me o tempo e o trabalho, expor-nos-íamos agora a cruéis pesares. (A sua carta de 8 de setembro.)

Desde a Santa Clotilde, verdadeiro início das nossas relações seguidas, nenhum pensamento carnal tinha até então, quer na vossa presença, quer mesmo na vossa ausência, jamais perturbado a minha íntima adoração. Retomo pois, sem esforço, os meus caros hábitos de ternura cavalheiresca. (A minha carta de 10 de setembro.)

Sinto quanto vos amo de coração vendo-vos sofrer. (A sua carta de 13 de setembro.)

Compreendi, melhor do que ninguém, a fraqueza da nossa natureza, quando ela não é dirigida para um alvo elevado, que seja inacessível às paixões... Restam-me aos menos fontes de ensinamento para os outros; é ainda um interesse real na minha vida; quero explorá-lo... Contai com tudo que eu tenho de bom e de afetuoso no coração. (A sua carta de 14 de setembro.)

Envio-vos o dom do coração com simples atavios que lhe deu a natureza; o pensamento é o único artista capaz de ornar semelhantes nadas. O meu proveito próprio está em ser-vos agradável, e compenetrar-me da sinceridade do vosso apego, ao qual ligo todo o apreço que merece. (A sua carta de 25 de setembro.)

Não encontrei ainda senão em vós a eqüidade unida a amplas exigências do coração... Por que não vos conheci mais cedo? (A sua carta de Garges[2]!)

Amemo-nos profundamente, cada um à sua maneira, e poderemos ainda ser verdadeiramente felizes um pelo outro. (A minha carta de 2 de outubro.)

Transição Final

Outubro – Expansão total. Caminhemos apoiados um ao outro, meu caro filósofo, deixemos que o tempo nos guie e nos forme. (A sua carta de 2 de outubro.)

As vossas cartas causam-me sempre prazer e sempre me fazem bem... Adeus, caro homem, amai-me e ficai certo que vo-lo retribuo bem. (A sua carta de 18 de outubro.)

A nossa espécie, mais do que as outras, precisa de deveres para fazer sentimentos. (A sua carta de 25 de outubro.)

Eis aí o que eu compreendo melhor do XIX século: é a tendência universal dos seres para a razão em toda a sua simplicidade. Vendo as mais modestas inteligências participarem naturalmente e sem esforço de todas as luzes obtidas, sinto cada dia mais que a ciência não carece senão residir no ápice das sociedades para enriquecê-las na sua massa inteira: e, palavra, que me consolo de não ter sido iniciada nas maravilhas do quadrado de hipotenusa. (A sua carta de 30 de outubro.)

Novembro – Abandono sem reserva. Se fosse preciso que não me amásseis senão um quarto de hora por dia para o vosso repouso, eu desejaria, de todo o meu coração, que isso se desse desde amanhã. (A sua carta de 2 de novembro.)

Aqueço-me e visto-me como mulher delicada, graças a vós. (A sua carta de 8 de novembro.)

A vós, em troca, o pensamento tão doce de haverdes reanimado um ente aniquilado, e vertido o bálsamo em um coração ulcerado. (A sua carta de 9 de novembro!)

Oxalá estivesse eu certa de tornar-vos feliz por vínculos mais íntimos! Eu não hesitaria em formá-los. (A sua carta de 18 de novembro.)

Sois o melhor dos homens; tendes sido para mim um amigo incomparável; e sinto-me tão honrada como feliz pelo vosso apego. (A sua carta de 23 de novembro.)

É, pois, unicamente a vós, minha Clotilde, que deverei não mais deixar a vida sem ter dignamente experimentado as melhores emoções da natureza humana. (A minha carta de 24 de novembro.)

Dezembro – Familiaridade contínua. Congracemo-nos habitualmente, minha Lúcia, em torno dessas sublimes concepções, que ligam diretamente a nossa afeição mútua ao conjunto da evolução humana. (A minha carta de 9 de dezembro.)

Contai com o apego mais terno que possa experimentar... Tenho por vós hoje mais do que o coração de uma parenta... É preciso que não esteja em meu poder o tornar-vos feliz para não o fazer... Seja qual for a nossa sorte, espero que só a morte quebrará o laço fundado na minha afeição, a minha estima, e o meu respeito. (A sua carta de 10 de dezembro.)

Esse incomparável ano fez surgir em mim o único amor, a um tempo puro e profundo, que comportava o meu destino. A excelência do ente adorado permite à minha madureza, mais bem tratada do que a minha juventude, de entrever em toda a sua plenitude, a verdadeira felicidade humana. (A minha carta de 26 de dezembro.)

Estado Normal

Janeiro – Intimidade completa. Tendes o coração de um cavalheiro, meu excelente filósofo. (A sua carta de 8 de janeiro.)

Todos nós temos ainda um pé no ar sobre o limiar da verdade... Só posso haurir a minha moral no meu coração, e edificá-la sobre o puro sentimento. É esse, de resto, o quinhão de uma mulher, e basta. Ela ganha em caminhar modestamente atrás do préstito dos renovadores, embora tenha de perder assim um pouco do seu elance... Se eu fosse homem, teríeis em mim um discípulo entusiasta: ofereço-vos, como indenização, uma sincera admiradora. (A sua carta de 15 de janeiro.)

O vosso nobre ascendente ligou profundamente o surto habitual dos meus mais altos pensamentos aos dos meus mais ternos sentimentos. Não fiqueis pois surpresa que eu queira secretamente inaugurar este décimo sexto serviço anual por uma lembrança especial da minha bem-amada. Esta curta efusão deve me preparar melhor para o ministério que vou desempenhar, fazendo espontaneamente prevalecer a disposição d’alma mais favorável ao meu ofício filosófico. (A minha carta de 25 de janeiro.)

Fevereiro – Perfeita identidade. O vosso coração é o santuário onde deposito tudo o que constitui a minha vida: os pequenos como os grandes acontecimentos, tudo dela vos é conhecido; e sabeis que ainda não fiz mal senão a mim. (A sua carta de 12 de fevereiro.)

Nas minhas horas de sofrimento, a vossa imagem paira sempre diante de mim. (A sua carta de 23 de fevereiro.)

As almas ardentes e escrupulosas encontram muitos Gólgotas neste mundo; mas, pelo menos, elas escapam amiúde aos pesares como aos remorsos. (A sua carta de 24 de fevereiro.)

Março – União definitiva. Os maus precisam muitas vezes mais de piedade do que os bons. (A sua carta de 2 de março.)

Tenho muitas coisas amigáveis a dizer-vos. É força cessar por hoje. Recebei a eterna segurança da minha ternura. (Fim da sua 86ª e última carta, de 8 de março de 1846.)

Para tornar-me um perfeito filósofo, faltava-me sobretudo uma paixão, ao mesmo tempo profunda e pura, que me fizesse assaz apreciar a parte afetiva da natureza humana. (A minha carta de 11 de março.)

No meio dos mais graves tormentos que possam jamais resultar da afeição, não cessei de sentir que o essencial para a felicidade é sempre ter o coração dignamente cheio. (A minha 95ª e última carta, de 18 e 20 de março de 1846.)

Vós me haveis de dar um cacho dos vossos cabelos. (A sua efusão verbal de 20 de março.)

Hoje me fizestes profundamente sentir o valor da vossa nobre pureza, que nos permitiu, perante a vossa mãe, conservar ternamente a vossa mão nas minhas, enquanto em contemplava a angélica fisionomia cuja suave beleza torna-se mais tocante pela sua alteração passageira. (Fim da minha última carta.)

Não tenho beleza alguma, tenho apenas um pouco de expressão. (A sua efusão verbal de 22 de março.)

Abril! – Eu quisera bem ir dormir em vossa casa. (O seu voto de 1º de abril diante de sua mãe.)

Fostes desconhecida, mas eu vos farei apreciar... Não, jamais nenhuma outra... (A minha efusão verbal de 2 de abril, perante a sua família, depois da sua extrema unção.)

Não terei tido uma companheira por muito tempo! (Durante a nossa única noite, de 2 para 3 de abril de 1846!)

Senhora, vós amais a vossa filha como um objeto de dominação, e não como um objeto de afeição. (A minha exprobração à sua mãe, perante ela, a 4 de abril.)

Comte, lembra-te que eu sofro, sem o haver merecido!... (As suas últimas palavras distintas, nitidamente repetidas cinco vezes seguidas, no domingo à tarde 5 de abril de 1846, por volta das 3 horas da tarde, uma meia hora antes de expirar!!!)

Lembrança preciosa da minha mocidade, companheiro e guia das horas santas que soaram para mim, evoca sempre ao meu coração as cerimônias grandes e suaves da capela do convento!... (A sua inscrição de 1837 na Journée du chrétien que ela me deu, no domingo 29 de março de 1846, como o seu livro usual no convento da Legião de Honra, rua Barbette.)[3]



[1] A fim de estabelecer um paralelismo mais marcado do português com as demais línguas neolatinas no que se refere aos nomes dos dias da semana, Miguel Lemos propôs a substituição do “segunda-feira”, “terça-feira” etc. por versões aportuguesadas de lundi, mardi etc. (do francês), de lunes, martes etc. (do espanhol) etc., da seguinte maneira:

Segunda-feira: lunedia (dia da Lua)

Terça-feira: martedia (dia de Marte)

Quarta-feira: mercuridia (dia de Mercúrio)

Quinta-feira: venerdia (dia de Vênus)

Sexta-feira:: jovedia (dia de Júpiter).

[2] No final de setembro de 1845 Clotilde fez uma pequena viagem à vila de Garges-lès-Gonesse (antes de 1941, chamada de Garges-en-France), que fica nos arredores de Paris (uns 35 km ao norte da capital).

[3] Nota de Raimundo Teixeira Mendes: “O nosso Mestre lia algumas páginas desse livrinho todos os domingos à tarde, desde a morte de Clotilde. (Vide Volume Sagrado, Testamento, p. 18.)”