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25 junho 2024

Raimundo Teixeira Mendes: "Hino ao Amor"

Hino ao Amor

(Raimundo Teixeira Mendes)

 

(Ensaio de uma paráfrase positiva do cap. V, livro 3º, da Imitação, de Tomás de Kempis, segundo a tradução em verso de Corneille.)

 

Ave! Cara Humanidade!

Virgem-Mãe! Nossa Senhora!

Fonte de toda bondade

Que nossa alma entesoura!

Terna e humilde Divindade

Que tudo no mundo adora!

 

Sempre os olhos compassivos

Postos em nós com brandura,

Nos transes mais aflitivos

Com que a dor nos amargura,

Nos trazes os lenitivos

Da tua infinita ternura.

 

Te sejam dadas mil graças,

Oh! Mãe de misericórdia,

Que nossas almas congraças,

Em tua eterna concórdia,

Serenando as ameaças

Do egoísmo em discórdia.

 

Ora e sempre os teus louvores

Não cessarão de arroubar-nos,

Rememorando os favores

Que nunca deixam de dar-nos

Teus carinhos, teus amores,

Para felizes tornar-nos.

 

Por ti se expande fervente

Da gratidão alma essência,

À Terra beneficente,

Cuja perene assistência

Forma a base providente

De tua excelsa existência.

 

A mesma santa homenagem

Nos recorda jubilosa

Do Sol a possante imagem,

Da Lua a face mimosa,

E a celeste linhagem

Da nossa Terra amorosa.

 

E nesse ditoso enleio

Do sentir alto e fecundo,

Também ao benigno Meio

Que te envolve e ao nosso Mundo

Se eleva do nosso seio

Um grato afeto profundo.

 

Vem! Oh! Vem! Deusa querida,

Virgem-Mãe! Nossa Senhora!

Exultar a nossa vida,

Alentando em cada hora

A nobre chama acendida

Nesse amor que te devora.

 

És tu só a nossa glória

E toda a nossa alegria!

Só arrimo da vitória

Nas lutas que a simpatia

Nesta vida tormentória

Tem de travar noite e dia.

 

Com a meiga solicitude

Socorre a fragilidade

Da nossa pobre virtude,

E com a doce potestade

O nosso amor tíbio e rude

Sustém na adversidade.

 

Visita freqüentemente

Nosso filial coração,

Pois és tu unicamente

Quem lhe traz consolação,

Quem lhe ensina eternamente

Os verbos da perfeição.

 

Das más paixões nos liberta

Com tua grata presença;

Ela só o amor desperta

Esvaindo a névoa densa

Que nossa mente acoberta,

Nos velando a santa crença.

 

Só assim serão sentidos

Enlevos do puro amor!

Santos gozos espargidos

Por teu sublime esplendor!

Almos prazeres hauridos

No teu contínuo labor!

 

Deusa de amor, nos abrasa

No teu afeto sublime;

Desse gelo que atenaza

Com teu fervor nos redime:

Dá que somente nos praza

Santo ardor que mal s’exprime.

 

Na tua alma extremosa

A nossa pobre incorpora;

E dilata caridosa

Um coração que te implora

Vastidão mais espaçosa

Para conter-te, Senhora.

 

Dá que encontremos suplícios

No que não for te adorar;

Que se abram só precipícios

Onde quer que se afastar

De teus bondosos auspícios

Nosso contínuo pensar.

 

Jamais seja o esforço falho

No teu bendito labor:

E, qual o fecundo orvalho

Que perfuma a grata flor,

Se torne o nosso trabalho

Num puro hino de amor!

 

E seja um concerto infindo

De perenal gratidão

Em tudo que produzindo

For da Terra a perfeição,

Em tudo que for surgindo

Do Espaço pela amplidão.

 

Dá, oh! Mãe estremecida,

Que tudo em ti adoremos;

Qu’em ti nossa alma embebida,

Mais a ti que a nós amemos;

Que só por ti redimida,

A própria vida prezemos.

 

Tal é o voto contín’o

Dum coração que se deu

Ao teu serviço divino,

Sem nada guardar de seu;

Que não tem outro destino

Senão o que tenhas por teu.

 

Bendita a Fé que só nos dá de amar assim

Desde o raiar da vida até da vida o fim.