Falecido o médico e poeta positivista Martins Fontes em 1937, em 1938 o também positivista Ivan Lins publicou uma coletânea póstuma intitulada Nos jardins de Augusto Comte. Essa coletânea reúne dezenas de poesias positivistas, isto é, inspiradas por motivos, personagens e acontecimentos celebrados pela Religião da Humanidade.
Entre as inúmeras pérolas dessa coletânea está o duplo soneto intitulado "Pétalas soltas no rosal pensante", que consiste no versejamento das máximas de Clotilde de Vaux. (Pode-se consultar essas máximas aqui, aqui, aqui e aqui.)
Devido à beleza, à engenhosidade e à profundidade desses versos, reproduzimo-los abaixo.
* * *
Pétalas soltas do rosal pensante
José Martins Fontes[1]
Mais do que as outras, nossa espécie deve
Ter tais obrigações e tais intentos
Que, segundo Clotilde nos prescreve,
Produza sentimentos
* * *
Que prazeres na vida, que venturas,
Para nosso consolo, excederão
As secretas, as íntimas e puras,
Incomparáveis da dedicação?
* * *
Melhor do que ninguém, sinto a fraqueza
Da nossa natureza
Quando não se dirige às soberanas
Amplidões da pureza,
Inacessíveis às paixões humanas.
* * *
Quanto mais analiso, estudo e penso,
Mais sinto, porque a dúvida me invade,
Que temos, todos nós, um pé suspenso
Sobre a soleira da verdade.
* * *
Tudo, tudo no mundo é perdoável,
E relativo como a própria sorte:
Não há nada na vida irrevogável,
Senão a morte.
* * *
Muitas vezes, na minha soledade,
Ouço do coração íntimos sons:
Os maus, conforme os casos, de piedade
Precisam mais ainda do que os bons.
[1] Fonte: Martins Fontes, Nos jardins de Augusto Comte (São Paulo, Comissão Glorificadorfa de Martins Fontes, s/n, 1938). A grafia foi atualizada.
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