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22 dezembro 2020

Roteiro da exposição sobre o duodécimo mês dos calendários positivistas (Frederico e Patriciado)

O vídeo que corresponde ao roteiro abaixo está disponível aqui.


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Roteiro da exposição sobre o duodécimo mês dos calendários positivistas

 

Parte I – Mês concreto: Frederico

 



-        12º mês do calendário positivista concreto

o   Considerando o ano júlio-gregoriano de 2020 (ano bissexto), o mês de Frederico começa em 4 de novembro e termina em 1º de dezembro

o   O duodécimo mês concreto representa a política moderna

§  É o quinto mês da modernidade

·         Após os meses da Antigüidade e da Idade Média, a modernidade apresenta-se com seus seis meses (Dante, Gutenberg, Shakespeare, Descartes, Frederico, Bichat)

-        Durante a Idade Média, os poderes universais (papado e império) anularam-se mutuamente; com isso, permitiram a consolidação dos poderes intermediários, isto é, dos reis, que se aproveitaram do enfraquecimento da igreja universal para criarem suas próprias igrejas nacionais

o   As conseqüências disso foram o aumento exagerado das grandes nações e a degradação dos cleros

o   Com o surgimento do protestantismo, esse poder dos reis aumentou, especialmente nas áreas que não tiveram colonização romana (ou que a tiveram de maneira muito fraca), que foi exatamente onde o protestantismo mais vingou

§  A principal e quase única exceção a isso foi a Inglaterra, em que os barões uniram-se desde cedo para limitar o poder dos reis e, com isso, instalaram o parlamentarismo

o   Nos séculos XVI e XVII, procurando combater o protestantismo e manter a unidade de fé (vista como base para a salvaguarda social), os países católicos atacaram o avanço protestante; por seu turno, os protestantes quando estavam fora do poder falavam em liberdade, mas tornavam-se opressivos quando estavam no poder

§  Houve exceções importantes a isso: Carlos V teve que se haver com súditos protestantes; Cromwell, embora fosse protestante (leveller), tinha a liberdade religiosa como principal preocupação política 

§  Nos séculos iniciais do protestantismo, as disputas políticas entre os países misturavam-se com as religiosas; mas após a I Guerra dos 30 Anos (1618-1848) a política européia secularizou-se e o avanço da ciência e do espírito de discussão avançou

o   Frederico II realizou, dentro de suas possibilidades, o ideal de um governante que mantinha a ordem material de seu país (a Prússia) e, ao mesmo tempo, as liberdades públicas

§  Da mesma forma, Frederico realizou o ideal de uma política moralizada, que buscava evitar a guerra e manter a paz, estimulando as ciências, as artes e a indústria: não por acaso, ele escreveu o Anti-Maquiavel e trocava correspondência com os iluministas e hospedava em sua corte pensadores (como Voltaire)

§  É motivo de profundo lamento que, fora os positivistas, de modo geral os comentadores tenham enfatizado a potência militar prussiana de Frederico, em vez de enfatizar suas ações construtivas e positivas – que, aliás, foram muito maiores e consumiram mais de 2/3 de seu reinado; o militarismo prussiano foi celebrado pelos vários biógrafos de Frederico e foi a base da política de Bismarck, que criou um ethos que resultou na I Guerra Mundial (ou melhor, na II Guerra dos 30 Anos)

§  Os problemas próprios à Alemanha e à Itália impediram que esses países fossem unificados antes da segunda metade do século XIX; daí a ausência geral de tipos alemães no calendário concreto, com a exceção do próprio Frederico II; a Itália é representada pelos teóricos e práticos do governo material com liberdade espiritual na primeira semana do mês

-        O mês e as semanas do mês de Frederico correspondem ao seguinte:

o   Frederico – representa o ideal político do Estado moderno, ou melhor, do Estado positivista: manutenção das ordem público com garantia de liberdades públicas (especialmente de consciência, expressão e associação)

o   Luís XI – corresponde aos líderes católicos que mantiveram a ordem pública após a Idade Média e durante o protestantismo

o   Guilherme, o Taciturno – corresponde aos líderes protestantes, em particular em suas ações de independência nacional

o   Richelieu – corresponde aos ministros de Estado que solaparam o poder dos reis

o   Cromwell – corresponde aos líderes revolucionários, mas, principalmente, aos líderes republicanos

 

Parte II – Mês abstrato: o patriciado (providência material)

-        O duodécimo mês do calendário positivista abstrato celebra o patriciado, responsável pela providência material

o   O patriciado tem que ser entendido, por um lado, em relação ao governo (político) e, por outro lado, em relação ao proletariado

§  Em relação ao governo, o patriciado corresponde ao poder econômico, isto é, à riqueza, sendo que ele é o responsável pela produção, manutenção e transmissão da riqueza; já o governo corresponde ao poder político, isto é, à capacidade de impor pela força (física) a ordem social

§  Em relação ao proletariado, o patriciado constitui a força concentrada, enquanto o proletariado corresponde à força dispersa

o   Deve ocorrer uma simplificação das classes sociais, com o fim da classe média: o grosso dela deve ir para o proletariado, ao passo que a sua elite deve ir para o patriciado

§  É importante notar que para Augusto Comte o patriciado não é a burguesia; aliás, foi para distinguir a sua categoria da burguesia que Comte propôs o nome “patriciado”

§  Os patrícios são os indivíduos responsáveis pela produção material da sociedade; ao contrário da burguesia, o patriciado deve ser digno e ter verdadeiras responsabilidades sociais; a burguesia, em contraposição, é individualista, egoísta e mesquinha

§  Para Comte, o capital deve ser concentrado nas mãos dos patrícios, até o limite de ações pessoalmente responsáveis; em outras palavras, o capital deve ser concentrado, mas os patrícios devem ser ricos na medida das suas condições de empregarem utilmente e com liberdade a riqueza de que dispõem

§  A responsabilidade dos patrícios não se dá em termos de obtenção de lucros, mas de geração e manutenção de empregos

·         O objetivo da riqueza não é o lucro, mas a manutenção e a melhoria das condições materiais da sociedade; o lucro é a garantia do aumento da riqueza, mas, antes de mais nada, a riqueza deve ser dirigida para o bem-estar dos cidadãos, em particular para a geração de empregos (e de empregos de qualidade)

·         Assim, os patrícios não são “donos” da riqueza; eles são “gestores sociais” da riqueza

o   Para o Positivismo, a ganância e a correlata mesquinhez não são vistas como virtudes, mas como defeitos

·         O capital financeiro, nesse sentido, é necessário para permitir o financiamento de obras, fábricas, empreendimentos etc., mas o capital especulativo é moralmente indefensável

·         A concentração da riqueza é necessária em virtude das responsabilidades dos patrícios: grandes responsabilidades exigem grandes poderes

·         Para Comte, o mérito dos patrícios – como, de modo geral, o mérito de qualquer servidor da Humanidade – é dado a posteriori, ou seja, após as ações socialmente responsáveis é que, no Positivismo, considera-se merecedor do respeito público um patrício

§  As máximas morais que regem a conduta dos patrícios e do capital são as seguintes: “dedicação dos fortes pelos fracos, veneração dos fracos pelos fortes”; “o capital é social em sua origem e deve ser social em sua destinação”

·         O conjunto dos patrícios socialmente responsáveis e moralmente dignos constituirá, para Comte, uma “cavalaria industrial”

§  Portanto, o Positivismo consagra a liberdade de gestão e a concentração da riqueza; mas, ao mesmo tempo, estabelece fortíssimas regras de conduta para os patrícios e desvaloriza o capital especulativo, improdutivo, predatório: não somos nem “comunistas” nem “capitalistas”

-        São quatro as modalidades determinadas por nosso mestre na providência material, com as respectivas festas semanais:

o   A ordem de comemoração do patriciado dá-se pela sua generalidade e (portanto) sua dignidade decrescente:

1)      Patriciado bancário (Festa da Cavalaria)

2)      Patriciado industrial

3)      Patriciado comercial

4)      Patriciado agrícola

 

Parte III – Comemorações de aniversários e feriados cívicos

-        Em termos de aniversários, comemoramos neste mês as seguintes figuras:

o   Proclamação da República (1889) – 12 de Frederico (15 de novembro)

o   Dia da Bandeira (1889) – 16 de Frederico (19 de novembro)

o   Nascimento de Miguel Lemos (1854-1917) – 22 de Frederico (25 de novembro)







  

Referências bibliográficas

Augusto Comte: Sistema de filosofia positiva, Sistema de política positiva, Catecismo positivista, Síntese subjetiva

Frederic Harrison: O novo calendário dos grandes homens

Raimundo Teixeira Mendes: As últimas concepções de Augusto Comte

David Carneiro: História da Humanidade através dos seus grandes tipos, v. 6

Ângelo Torres: Calendário Filosófico