Reproduzo abaixo o roteiro da quarta sessão do Curso livre de política positiva, ocorrida no dia 29 de março, transmitida no canal Positivismo (disponível aqui: https://www.youtube.com/watch?v=9kiJZwvb2x0) ou no próprio canal Apostolado Positivista (disponível aqui: https://www.facebook.com/ApostoladoPositivista/videos/391232223007541). Nessa seção, abordei a teoria da família e também a concepção positiva dos "indíviduos".
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Súmula
Sociologia Estática II: teoria da família; os indivíduos
Roteiro
- Família:
o É a instituição social que, ao mesmo tempo, mais sofre com as aberrações metafísicas e a que menos foi compreendida até hoje (“hoje”: até o advento do Positivismo)
§ É a menor unidade social a que a sociedade pode ser reduzida; assim, é a verdadeira “célula social”
o Tem duas funções principais: moral e política
§ Função moral: desenvolve diretamente os sentimentos altruístas
§ Função política: prepara os cidadãos para a vida em sociedade (ou seja, prepara cidadãos)
o A família tem uma origem egoísta – o impulso sexual –, mas é um erro reduzi-la a isso
§ O impulso sexual tem força mais inicial que permanente
§ A força do impulso sexual é maior no homem que na mulher
§ Após a ação do impulso sexual, outros instintos entram em ação, tanto egoístas quanto altruístas; a permanência do vínculo familiar desenvolve, estimula e reforça os instintos altruístas
· Acessoriamente, isso também esclarece que o altruísmo não é a negação do egoísmo, mas a orientação em favor dos demais
o A família pode ser reduzida ao casal elementar, mas é claro – ou melhor, deveria ser claro – que ela é muito mais ampla que isso, pois compreende os filhos, os avós, os agregados
§ Essas diversas relações desenvolvem e estimulam sentimentos altruístas:
· Marido ßà mulher, irmãos ßà irmãos: apego
· Filhos à pais: veneração
· Pais à filhos: bondade
o Em relação ao casal nuclear, a função da família é o aperfeiçoamento mútuo, muito mais que a reprodução humana
§ A teologia, como rejeita a existência natural do altruísmo, considera que a família serve apenas fins egoístas, notadamente a reprodução humana
§ Também vale notar que a teologia com freqüência considera que a família (esposa e filhos) é propriedade dos homens
§ A metafísica não se afasta muito disso, vendo na família pouco mais que um contrato com fins sexuais e/ou uma instituição de violência sistemática do homem contra a mulher
§ Há um gênero legalista de metafísica, para quem a família deve ser paulatinamente substituída pelo Estado
o Como a existência humana é muito mais subjetiva que objetiva e como a função do casamento é o aperfeiçoamento mútuo, o Positivismo afirma a monogamia e a viuvez eterna (as segundas núpcias são uma forma disfarçada de poligamia)
o Como os sentimentos altruístas são desenvolvidos e aperfeiçoados na família, ela é absolutamente central para a vida em sociedade (e, claro, também para os indivíduos)
§ O estímulo, o desenvolvimento e a manutenção do altruísmo, no âmbito familiar, cabe naturalmente às mulheres
§ Isso, evidentemente, corresponde à necessidade imperiosa de dignificar-se a atuação da mulheres e não as condenar a escravas dos homens
§ Somente a destruição metafísica, com seus fortes preconceitos antialtruísmo e antifamiliares, consegue ver na afirmação do papel doméstico e moral das mulheres uma forma de exploração, degradação e violência contra as mulheres
o O papel político, ou melhor, cívico das famílias corresponde à sua preparação afetiva, o que inclui não somente os três instintos simpáticos (apego, veneração e bondade), mas também os instintos práticos (coragem, prudência e perseverança)
§ É importante notar que, embora a família seja a base da sociedade, ela tem que se submeter à polis
§ Essa submissão à polis é necessária para evitar os desvios da família, em particular dois:
· Possibilidade de educação afetiva egoísta
· Possibilidade de desenvolvimento de um egoísmo coletivo familista
· A submissão à polis altera ordinariamente as famílias, corrigindo (ou evitando) esses dois desvios; mas é claro que a própria polis tem que se orientar altruisticamente e não pelas guerras
- Papel dos indivíduos:
o Os indivíduos isolados e/ou como fundadores da sociedade não existem; só é possível falar em indivíduos quando se faz referência prévia às sociedades em que eles surgiram
§ Os indivíduos como célula social são uma abstração nociva e imoral
o Mas a religião visa a regrar e a religar, ou seja, a estabelecer a unidade e a harmonia individual e coletiva: evidentemente há um amplo espaço para os indivíduos no Positivismo
§ Em última análise, todas as ações – mesmo as ações da Humanidade – realizam-se por meio de indivíduos, isto é, de agentes individuais
o Todo ser humano tem uma vida dupla, isto é, uma objetiva e outra subjetiva
§ A vida objetiva ocorre no presente; a Humanidade tem em cada ser humano um “ser” concreto, de carne e osso
§ A vida subjetiva ocorre no passado e no futuro; a Humanidade tem em cada ser humano um “agente”
o A Humanidade tem um caráter composto; isso acarreta sua capacidade de ação mas também sérias dificuldades, pois é sempre necessário combinar a independência individual com o concurso coletivo
§ A independência individual, no estado normal, requer de ordinário a plena liberdade, o que, por sua vez, rejeita a opressão
§ Essa plena liberdade implica as liberdades de pensamento (ou de consciência), de expressão e de associação
§ Além disso, a plena liberdade também é necessária para a submissão livre e digna
§ A liberdade individual necessária para o livre concurso coletivo implica a confiança; esta, por sua vez, implica sempre a responsabilidade (e a responsabilização)