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01 setembro 2025

Objetividade, subjetividade e entendimento humano

As citações abaixo são extraídas do v. 2 do Sistema de política positiva, de Augusto Comte, em seu cap. 1. 


Elas tratam de várias questões fundamentais para o ser humano: como entendemos a realidade, qual a parte do mundo e qual a parte do ser humano em nossas idéias, qual o papel dos sentimentos... isso pode parecer, à primeira vista, mera discussão acadêmica, mas são reflexões que têm aplicações diretas e imediatas na vida de todos nós.

É uma leitura densa, mas muito recompensadora.

O volume 2 da Política positiva foi publicado em 1852 e seu subtítulo é este: “Contendo a Estática Social ou o tratado abstrato da ordem humana”.

O capítulo 1 desse livro tem por título o seguinte: “Teoria geral da religião, ou teoria positiva da unidade humana”.


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- Hipóteses, objetividade, subjetividade; separação inicial entre razão teórica e razão prática; pesquisa das leis preponderante sobre o objetivismo dos fatos e o subjetivismo das causas; relativismo e absolutismo das sínteses:

“Eu caracterizei suficientemente agora, sob todos os aspectos essenciais, o único modo sintético que convém plenamente à natureza humana. Seu desenvolvimento direto e especial pertence ao último volume deste tratado, quando seu advento decisivo encontrar-se-á convenientemente demonstrando a partir do conjunto do passado. Mas, para completar minha teoria geral da religião, resta-me aqui, como inicialmente anunciei, caracterizar sumariamente minha longa e difícil iniciação que exigia o estabelecimento da verdadeira unidade.

As diversas explicações precedentes devem ter feito implicitamente sentir que uma tal síntese não comportaria de maneira nenhuma um desenvolvimento imediato, malgrado a espontaneidade das tendências que nos conduzem a ela sempre. Será agora então fácil de motivar diretamente sua preparação necessária. Ela é igualmente exigida pela natureza intelectual e pela fonte moral da verdadeira religião.

Inicialmente, a fé devia ser essencialmente objetiva, desde que o dogma positivo consiste no conhecimento real da ordem universal. As inspirações subjetivas não podem concorrer para a elaboração dos seus diversos elementos senão por meio de uma influência secundária, suficientemente indicada acima, fornecendo as hipóteses destinadas a tornar-se leis, conforme sua verificação exterior. Quando a sistematização positiva é enfim possível, a subjetividade começa a prevalecer, como a única capaz de coordenar os materiais obtidos, seguindo as explicações de meu primeiro volume. Mas esse termo não chega senão após uma inteira extensão do espírito científico até os fenômenos menos gerais e mais complicados. Antes que essa condição seja suficientemente preenchida, a preponderância da subjetividade viciaria radicalmente todas as nossas teorias. Ora, uma tal realização não poderia ser incitada, desde que a descoberta da ordem natural não poderia fazer-se senão sucessivamente, procedendo sempre do mundo em direção ao homem, ou dos fenômenos mais gerais aos mais particulares.

Mas, por outro lado, em virtude mesmo dessa marcha característica, a objetividade não poderia nunca construir uma síntese qualquer. Se sua impotência para sistematizar é hoje reconhecida após vinte séculos de estéreis esforços, com mais forte razão ela seria inevitável antes da aquisição de materiais positivos. Toda síntese deve então ser subjetiva, ainda que ela não comporte realidade senão conforme uma base objetiva, cuja elabora demora muito tempo. Entretanto, o homem não pode nunca ficar sem uma síntese qualquer, para coordenar seus pensamentos, de maneira a dirigir sua conduta. Uma tal situação mental não admite outra saída senão a construção, inteiramente subjetiva, de uma síntese felizmente espontânea, mas necessariamente quimérica e então puramente provisória.

Ora, tal solução inicial, sem a qual nossa razão não poderia surgir, resulta naturalmente de nossas tendências primitivas em direção às concepções absolutas, que nos dispensariam de todas pesquisas especiais, ao permitir-nos deduzir sempre sem ter nunca induzido. As leis reais, vale dizer os fatos gerais, não puderam manifestar-se senão muito tarde, mesmo a respeito dos menores fenômenos celestes. Enquanto eles permanecem desconhecidos, o espírito humano persegue necessariamente a vã determinação das causas, vale dizer, das origens e das destinações absolutas. Essa pesquisa, então animada pela esperança de um império ilimitado sobre um mundo em que a ordem parece arbitrária, é a única que pode dissipar nosso torpor inicial. Um tal problema não comporta, mesmo hoje, outra solução que essa que surgiu inicialmente, a explicação do mundo conforme o homem, seguindo a assimilação espontânea da natureza morta à natureza viva. Assim se institui diretamente o método subjetivo, cujo livre desenvolvimento não sofre então nenhum entrave objetivo. Em uma palavra, nessa filosofia intuitiva, que pesquisa a essência de tudo, as vontades ocupam o lugar das leis. Uma semelhante síntese, que agora convém tão pouco à especulação quanto à ação, foi por muito tempo tão indispensável a esta quanto àquela. Recairemos sempre aí quando desejamos agir sistematicamente, sobre fenômenos de que ignoramos as leis especiais. Com efeito, na falta de noções exteriores, é necessário que nossa sabedoria siga com cuidado os impulsos interiores, mais morais que mentais, a menos que ela abstenha-se totalmente, o que se torna com freqüência impossível.

O primeiro estado de nossa inteligência não permite então nenhuma harmonia durável entre a razão prática e razão teórica. Enquanto uma, exclusivamente objetiva, não oferece senão fatos isolados, a outra, puramente subjetiva, não apresenta senão generalidades incapazes de ligar nossas noções particulares. Ainda que guiada por falsas aproximações, esta tende sempre à previsão sistemática, o mesmo ao que renunciamos em seguida. Mas aquela prepara também o estado normal, ao descobrir em toda parte algumas leis empíricas, que permitem previsões reais em inúmeros casos usuais. Nossa iniciação mental consiste sobretudo em combinar suficientemente essas duas tendências simultâneas em direção à realidade das noções e à generalidade das concepções. Essa combinação não se torna possível senão ao corrigir os excessos respectivos de objetividade e de subjetividade. Ora, o conjunto dos impulsos práticos dispõe a isso naturalmente, ao fazer cada vez mais sentir que esses dois vícios opostos impedem igualmente de prever para melhor agir. Afinal, um entrava toda indução geral e o outro, toda dedução real. Assim surgiu gradualmente a dupla preponderância do estudo das leis sobre o conhecimento dos fatos e sobre a pesquisa das causas.

Comparada à síntese definitiva, essa síntese provisória oferece semelhanças essenciais sob profundas diferenças. Sua espontaneidade característica torna-a inteiramente subjetiva; mas sua destinação exige que se a creia objetiva. Por aí se anuncia, e mesmo se prepara, a conciliação final das duas grandes condições especulativas. Cada síntese repousa sobre a preponderância do tipo humano: mas ele é pessoal em uma e social na outra. Sua principal diferença resulta da natureza absoluta da primeira, oposta à relatividade da segunda. Esse contraste científico é completado por seu contraste lógico, consistindo sobretudo em que as hipóteses primitivas não são nunca verificáveis, ao passo que as hipóteses definitivas são-no sempre. Conforme o conjunto dessas oposições, as duas sínteses tendem a tornar-se inconciliáveis, à medida que a última desenvolve seus verdadeiros caracteres.

Em segundo lugar, a apreciação social manifesta ainda melhor a impossibilidade inicial da verdadeira unidade e a necessidade de um regime preparatório. Além de que o Grande-Ser não poderia de maneira nenhuma ser apreciado então, ele não é mesmo suficientemente formado. Seu desenvolvimento decisivo supõe uma longa evolução, à qual devem presidir ficções espontâneas. O amor, com dificuldade suficiente hoje, mantém-se inicialmente de tal maneira restrito que o ódio domina em direção à quase totalidade da nossa espécie. Toda a atividade coletiva emana então dos instintos inferiores. Não podendo realizar a conquista de um mundo que parece tão invencível quanto inexplicável, cada associação parcial esforça-se sobretudo por submeter as outras. Mas essa tendência, no início cegamente destrutiva, regulariza-se desenvolvendo-se. Ela institui espontaneamente a sociabilidade preliminar, cimentando a união interior e conduzindo à incorporação exterior. A Pátria prepara a Humanidade e o egoísmo nacional dispõe ao amor universal.

Esse regime guerreiro, como o dogma fictício, permanece sempre incompleto, como conseqüência de sua comum oposição às exigências práticas. A atividade industrial surgiu sob um, da mesma forma que o espírito positivo sob o outro. Assim se desenvolvem os elementos definitivos durante a imperfeita dominação dos elementos primitivos, até que o aumento daqueles e a diminuição destes conduzem às lutas que aceleram o advento necessário da verdadeira unidade.

As duas potências provisórias tendem cada uma a dominar sem partilha. Entretanto, sua rivalidade natural pode ser suficientemente contida por uma afinidade espontânea, que lhes permite por muito tempo combinarem-se. O espírito absoluto do dogma fictício e o caráter egoísta do regime guerreiro são muito análogos para permanecerem sempre inconciliáveis. Ao combinarem-se, um estende sua preponderância e o outro aumenta sua consistência. Então as opiniões não demonstráveis e as autoridades não discutíveis apóiam-se mutuamente. De sua conexão resulta inicialmente a consolidação do regime inicial, mas em seguida sua tendência a dominar além de seu destino normal. De qualquer maneira, seu elemento temporal mantém-se mais compatível que seu elemento espiritual com o desenvolvimento da síntese final. Ele não é destinado, como este último, a uma inteira extinção; pois ele pode cessar de prevalecer sem perder toda eficácia. A atividade militar conservará sempre um ofício subalterno em relação às existências humanas e às organizações animais que violam ou rejeitam a harmonia universal sem poderem a ela serem trazidas de volta. Mas a fé sobrenatural já perdeu toda verdadeira utilidade entre as populações de elite; ela deve enfim apagar-se por toda parte, pois sua autoridade não pode nunca aceitar a subalternidade” (Política, v. II, p. 79-83).

Crítica à metafísica alemã, objetividade e subjetividade

As citações abaixo são extraídas do v. 2 do Sistema de política positiva, de Augusto Comte, em seu cap. 1. 

Elas tratam de várias questões fundamentais para o ser humano: como entendemos a realidade, qual a parte do mundo e qual a parte do ser humano em nossas idéias, qual o papel dos sentimentos... isso pode parecer, à primeira vista, mera discussão acadêmica, mas são reflexões que têm aplicações diretas e imediatas na vida de todos nós.

É uma leitura densa, mas muito recompensadora.

O volume 2 da Política positiva foi publicado em 1852 e seu subtítulo é este: “Contendo a Estática Social ou o tratado abstrato da ordem humana”.

O capítulo 1 desse livro tem por título o seguinte: “Teoria geral da religião, ou teoria positiva da unidade humana”.


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- Crítica à metafísica neokantiana, caráter aproximativo e conveniente das leis naturais, margem para elaboração estética das leis, acordo objetivo-subjetivo:

“Essa subjetividade assessória, viciosamente exagerada pelos pretensos sucessores de Kant, conduz ainda ignorantes pensadores a um idealismo não menos imoral que absurdo, que consagra involuntariamente uma completa personalidade e rejeita doutoralmente toda vida coletiva. Faz-se assim degenerar em retrogradação na direção do absoluto a direção filosófica mais própria a constituir o espírito relativo, conforme as diversas condições cerebrais de cada noção real. Mas, por outro lado, os puros cientistas [savants], e sobretudo os geômetras, na falta de um regime enciclopédico, resultam com freqüência, de uma forma inversa, na mesma degradação, ao exagerarem, por seu turno, a independência da ordem natural.

A sã filosofia caminha firmemente entre essas duas armadilhas contínuas. Ela representa todas as leis naturais como construídas por nós com materiais exteriores. Apreciadas objetivamente, sua exatidão não pode ser nunca senão aproximativa. Mas, estando destinadas apenas às nossas necessidades, sobretudo ativas, essas aproximações tornam-se plenamente suficientes, quando elas são bem instituídas segundo as exigências práticas, que fixam habitualmente a precisão conveniente. Além dessa medida, permanece com freqüência um grau normal de liberdade teórica, que devemos sabiamente usar para melhor satisfazer nossas puras inclinações mentais, inicialmente científicas, em seguida mesmo estéticas. Em relação às mais simples e melhor elaboradas de todas as leis reais, os geômetras, a despeito de si mesmos, aplicam freqüentemente essa preciosa faculdade ao justo aperfeiçoamento de suas concepções fundamentais. Eles empregam-na sobretudo para fornecer às relações abstratas uma plena continuidade, indispensável ao desenvolvimento das especulações matemáticas, mas que a ordem exterior desmentiria sempre, se conduzíssemos demasiadamente longe seu estudo sistemático. Por exemplo, a lei newtoniana da gravitação não convém mais para toda distância que a lei de Mariotte para toda pressão. Elas fornecem entretanto bases legítimas, uma à nossa mecânica celeste, a outra à teoria matemática de nosso gás. Sem essa continuidade subjetiva, seu uso racional tornar-se-ia quase ilusório.

Nossa construção fundamental da ordem universal resulta então de um concurso necessário entre o exterior e o interior. As leis reais, vale dizer os fatos gerais, não são nunca senão hipóteses suficientemente confirmadas pela observação. Se a harmonia não existisse de maneira nenhuma fora de nós, nosso espírito seria inteiramente incapaz de concebê-la; mas, em nenhum caso, ela não se verifica tanto quanto supomo-la. Nessa cooperação contínua, o mundo fornece a matéria e o homem, a forma de cada noção positiva. Ora, a fusão desses dois elementos não se torna possível senão por sacrifícios mútuos. Um excesso de subjetividade impediria toda visão geral, sempre fundada sobre a abstração. Mas a decomposição que nos permite abstrair permaneceria impossível se não descartássemos um excesso natural de subjetividade. Cada homem, ao comparar-se com os outros, remove espontaneamente de suas próprias observações o que elas têm inicialmente de muito pessoal, a fim de permitir o acordo social que constitui a principal destinação da vida contemplativa. Mas o grau de subjetividade que é comum a toda a nossa espécie persiste ordinariamente, aliás sem nenhum grave inconveniente. Nós não poderíamos reduzi-lo senão pelo comércio intelectual com outros animais, que não se estabelece senão raramente e para noções subalternas. Aliás, algumas restrições sucessivas que experimentaram assim a influência subjetiva, conforme uma necessidade crescente de ouvir-se com inteligências as mais diversas, jamais as concepções alcançariam uma pura objetividade. É assim tão impossível quanto inútil determinar exatamente as participações respectivas do exterior e do interior em cada noção real” (Política, v. II, p. 32-35)

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“A dificuldade principal da elaboração positiva consiste então na sucessão necessária de diversas grandes fases teóricas, em que cada uma depende da precedente e que entretanto não se tornam religiosamente eficazes senão por sua combinação total. Cada um desses graus sucessivos exige induções que lhes são próprias; mas elas não podem nunca se tornar sistemáticas senão sob o impulso dedutivo resultante de todas as ordens menos complicadas. Sem essa subordinação normal, conforme à dependência dos fenômenos, as leis naturais perderiam tanto consistência quanto racionalidade. Em uma tal hierarquia, as ordens inferiores propagam para o alto a regularidade e a fixidez diretamente próprias à sua simplicidade, ao passo que elas adquirem em retorno a dignidade inerente ao domínio superior. A eficácia religiosa da filosofia real depende sobretudo dessa dupla comunicação entre seus diversos elementos essenciais. Tais são as condições indispensáveis para estabelecer suficientemente a invariabilidade fundamental da ordem universal, cujo melhor tipo concernirá sempre aos fenômenos celestes, como os únicos subtraídos a toda intervenção humana.

Mas, malgrado a constante preponderância dessa primeira apreciação, o dogma positivo deve também caracterizar cuidadosamente as modificações normais que comporta quase sempre a economia natural. Para bem as conceber, é necessário inicialmente reconhecer que elas não oferecem nada de fortuito. Pois elas resultam diretamente da hierarquia geral dos fenômenos, em que cada ordem modifica todas aquelas que a dominam. Com efeito, a harmonia universal exige tanto essa reação quanto esse império. Haveria, sem dúvida, anarquia total se os fenômenos mais particulares não estivessem subordinados aos mais gerais. Mas a ausência de modificações inversas estabeleceria uma confusa identidade. A verdadeira distinção entre as grandes categorias naturais repousa essencialmente sobre essas reações necessárias, a cuja falta apenas as mais simples leis subsistiriam. É necessário então conceber a ordem real como tão distante do caos quanto da anarquia, ou como supõem ao mesmo tempo o movimento e a fixidez. Tal é, pelo menos, sua noção necessária em todo o mundo compatível com a vida; isso é o que constitui o único caso digno de exame.

Com efeito, a concepção de ordem universal como mais ou menos modificável resulta diretamente do grande dualismo filosófico entre a natureza morta e a natureza viva. Inicialmente, todo ser vivo, seja ele reduzido à existência vegetativa, modifica sem cessar o meio que o domina, conforme os materiais de que ele dispõe daí e os produtos que ele elabora. Por outro lado, ele modifica-se a si mesmo, para melhor se adaptar à sua situação. Esse duplo atributo expande-se sempre à medida que o ser torna-se mais elevado e mais desenvolvido. Ora, importa reconhecer que o ser não cria nunca no meio a aptidão para as modificações correspondentes: ele limita-se a utilizá-la. Se já o meio não fosse de maneira nenhuma modificável por si só, uma reação tão fraca quanto o é necessariamente a influência vital não lhe poderia alterar a constituição. Da mesma forma as mudanças que sofre a ordem material, apenas sob o conflito das potências inorgânicas, são com freqüência superiores a todas as provenientes dos seres vivos. Estes seres não fazem então senão determinar ao exterior o exercício de uma propriedade sobre a qual repousa sua existência. Mas essa relação constitui entretanto a única destinação necessária de uma tal aptidão exterior. Ainda que não pudéssemos de maneira nenhuma conceber a vida em um meio imodificável, suporíamos facilmente um tal meio, desde que nada nele vivesse, como em alguns planetas inabitáveis. A variabilidade normal da ordem material refere-se então essencialmente à existência vital, mas sem dela provir” (Política, v. II, p. 36-38).

04 janeiro 2024

Augusto Comte: "Teoria geral da religião" (SPP II, cap. 1)

Encontra-se digitalizada e disponível para consultar (e para baixar) a tradução do capítulo 1 do volume II do Sistema de política positiva, de Augusto Comte (originalmente publicado em 1852). A tradução foi feita em 2004 pelo positivista paranaense Pedro Bertomé de Mendonça e publicada em edição privada em 2005; ela apresenta uma série de anotações e documentos adicionais explicativos.




24 maio 2023

Teoria positiva da religião

No dia 3 de São Paulo de 169 (23.5.2023) fizemos nossa habitual prédica positiva. Na parte da leitura comentada, demos continuidade e concluímos a "Sexta conferência" do Catecismo positivista, dedicada ao conjunto do dogma; no sermão reapresentamos a teoria positiva da religião.

As anotações que serviram de base para a o sermão estão reproduzidas abaixo.

A prédica pode ser vista nos canais Positivismo (aqui: https://encr.pw/sQgY8) e Apostolado Positivista do Brasil (aqui: https://acesse.one/xdGrS). O sermão começa aos 54' 15".

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Sobre a religião

 -        A idéia de religião é um dos mais importantes e centrais do Positivismo; isso não poderia ser diferente, na medida em que o seu nome adequado é “Religião da Humanidade”

-        Antes de vermos o conceito de religião no Positivismo, temos que fazer uma observação prévia fundamental: para o Positivismo, “religião” e “teologia” são coisas muito diferentes

o   A teologia é uma das formas de conceber-se a religião

o   De acordo com a lei dos três estados, todo conceito passa, ao longo do tempo, por três estados – teológico, metafísico e positivo (o que também pode ser entendido como passando do absolutismo para o relativismo) –; assim, a religião começa teológica, assume um aspecto metafísico e, chegando à relatividade, torna-se positiva

o   As religiões teológicas são, pela ordem: o fetichismo (e a astrolatria), o politeísmo, o monoteísmo; as religiões metafísicas são o panteísmo, crenças sobrenaturalistas intelectualistas e espiritualistas de modo geral, as crenças materialistas e até o ateísmo; a religião positiva é, por definição, o Positivismo, ou melhor, a Religião da Humanidade

-        Para o Positivismo, a religião é a instituição que coordena e regula o conjunto da existência humana, em seus vários aspectos: afetivo, intelectual e prático; coletivo e individual; público e privado

o   A religião deve ser entendida em termos de religare, isto é, “re-ligar”, ligar duas vezes

§  Conferir a unidade individual (pelo amor) e ligar cada um de nós aos demais (pela fé)

§  Uma outra forma de ver isso é entender em termos de regrar o ser humano e reunir todos para com todos (em francês: regler e rallier)

-        A organização da natureza humana é a divisão mais básica para entendermos a Religião da Humanidade

o   Cada uma das partes da natureza humana é regulada com instituições específicas: os sentimentos pelo culto, a inteligência pelo dogma, a atividade prática pelo regime

o   Na verdade, a divisão tríplice da natureza humana baseia-se em uma divisão dual anterior: o amor e a , sendo que o amor, por sua vez, divide-se em sentimentos e atividade

o   No que se refere à natureza humana, o aspecto mais importante são os sentimentos; eles são o fundamento da existência humana e o objetivo último de todas as nossas atividades

o   A inteligência indica os meios para satisfação dos sentimentos e, assim, é a ministra do coração; a atividade prática provê os meios para tal satisfação e é o regulador geral da existência humana

-        A religião – ou seja, a coordenação e regulação geral da existência humana – é necessária porque o ser humano tem inúmeras características que, por um lado, exigem regulação e que, por outro lado, exigem coordenação (quando não subordinação)

o   O problema fundamental do ser humano não é nem propriamente o chamado “problema da coordenação”, que é a dificuldade de organizar os muitos indivíduos em ações coletivas; essa dificuldade sempre existe, mas ela é secundária e derivada do problema realmente fundamental

o   O problema fundamental é multiplicidade e maior força dos instintos egoístas e o menor número e a maior fraqueza dos instintos altruístas

o   Tanto uns quanto outros existem naturalmente e são reais, são efetivos; mas ao longo da história humana, o egoísmo foi mais forte que o altruísmo (embora o altruísmo ganhe intensidade com o passar do tempo)

o   Além disso, há uma multiplicidade de instintos, sejam egoístas, sejam altruístas; o egoísmo, que se compõe de oito instintos e divide-se em interesse e ambição, tem seus instintos específicos competindo entre si pela primazia o tempo todo, o que gera instabilidades constantes, sejam individuais, sejam coletivas

o   Já o altruísmo tem menos instintos específicos (apego, veneração e bondade) e com menor intensidade, mas eles são harmônicos entre si e, quando devidamente estimulados e orientados, conseguem subordinar e coordenar o egoísmo: daí provêm a nobreza e a força do altruísmo

-        A solução para o problema humano, então, é a primazia do altruísmo e a subordinação do egoísmo a ele

o   A parte da religião que regula e estimula diretamente os sentimentos é o culto

o   O altruísmo é inato; como observou Augusto Comte, apenas o cinismo e o egoísmo poderiam negar essa realidade, seja devido ao egoísmo sacramentado pela teologia, seja devido ao intelectualismo academicista

o   A primazia do altruísmo ocorre tanto pelo estímulo direto dos sentimentos altruístas (subjetivamente) quanto pela vida coletiva (objetivamente)

§  A mera vida coletiva força-nos a limitar o egoísmo e a desenvolver o altruísmo

o   É sempre importante lembrar: subordinar o egoísmo não equivale a negar o egoísmo: este continua existindo, mas é restringido em sua intensidade e, na medida do possível, é satisfeito por vias altruísticas

§  A solução do problema humano e a relação entre altruísmo e egoísmo é dada pela fórmula “viver para outrem”

§  Qualquer aperfeiçoamento exige a admissão prévia de imperfeição, que, por sua vez, exige a admissão de uma perfeição (ideal ou não) que está acima de nós: assim, o aperfeiçoamento sempre exige a submissão

·         A submissão com vistas ao aperfeiçoamento comprime o egoísmo e desenvolve (direta ou indiretamente) o altruísmo

§  Mas é claro que é preferível, ainda que não se possa realizá-lo exclusivamente, o estímulo direto do altruísmo

·         O estímulo do altruísmo é a ternura; a compressão do egoísmo é a pureza

o   Evidentemente, o enunciado teórico, abstrato, do problema humano é bastante simples, mas a solução concreta do problema humano é de solução complicada, pois a subordinação do egoísmo ao altruísmo tem que ser constante e permanente, além de ocorrer ao mesmo tempo em indivíduos e nas coletividades

§  Por isso, todos os esforços possíveis devem ser envidados, o tempo todo, o máximo que se puder, para que o problema humano seja satisfeito

§  A satisfação do problema humano exige a mobilização de toda a natureza humana, ou seja, a inteligência e a atividade prática devem, necessariamente, ajudar ativamente os sentimentos nesse esforço

§  Quando o problema humano é satisfeito e a natureza humana concorre toda ela para sua satisfação, nós temos a harmonia, com a felicidade individual e o bem-estar coletivo

·         Tal satisfação é possível e ocorre mais ou menos em diversas sociedades e ao longo de nossas vidas

o   Vale também lembrar que o estímulo do altruísmo ocorre também por meio da idealização, seja a poética, seja a intelectual (seja mesmo a prática, por meio de projetos)

o   Por fim: o estímulo do altruísmo e a perspectiva social constituem o padrão de moralidade do Positivismo

§  Inversamente, o que dificulta ou nega o altruísmo e/ou o caráter social do ser humano constitui a imoralidade

§  O mais importante desenvolvimento de que o ser humano é capaz é o progresso moral

-        Como indicamos antes, a inteligência é ministra do coração, no dogma

o   Isso quer dizer que a inteligência explica a realidade, esclarece os sentimentos, indica os meios de satisfazer as necessidades afetivas, corrige rumos: tudo isso é, de fato, muita coisa; mas ser “muita coisa” não equivale a que a inteligência seja a fonte ou a destinação da existência humana

o   Sempre que se considera que a inteligência é a origem das orientações fundamentais do ser humano, o resultado é que a inteligência permanece ministra do coração, mas o coração passa a obedecer – sem que se reconheça isso – ao egoísmo, geralmente ao orgulho e/ou à vaidade

§  Essa relação é dada pela fórmula “agir por afeição e pensar para agir”

o   A parte da religião que regula a inteligência é o dogma; o dogma, por sua vez, deve ser entendido como tendo pelo menos duas grandes partes: uma primeira, concreta e abstrata, relativa ao conjunto dos conhecimentos humanos mais ou menos dispersos, e uma segunda parte, abstrata e filosófica: esta segunda parte é chamada de “síntese” e corresponde ao trabalho intelectual que constitui a religião

o   Além de auxiliar os sentimentos e a atividade prática, a inteligência também pode e deve, ela mesma, tornar-se mais altruística

§  Isso se dá por meio das idealizações intelectuais, na medida em que toda abstração consiste em idealizações da realidade

§  Uma forma indireta, mas fundamental, de tornar altruística a inteligência é assumir o relativismo dos conhecimentos humanos, rejeitando o absolutismo e as preocupações absolutas

§  Também é importante lembrar que todos os conhecimentos humanos convergem para a Moral, seja como ciência, seja como arte

-        A atividade prática é regulada pelo regime

o   É importante notar que, ao mesmo tempo em que o regime deve ser, por si só, regulado, ele também é um importante regulador, tanto dos sentimentos quanto, principalmente, da inteligência

§  Vale notar que a inteligência submete-se duplamente: aos sentimentos e à atividade prática

o   A importância da atividade prática é mais ou menos evidente: apenas por meio das atividades práticas é que o ser humano relaciona-se com outros seres humanos e que pode realmente satisfazer suas necessidades

§  Mesmo os sentimentos só têm valor quando resultam em ações concretas, no sentido de que os atos sempre contam mais que as intenções

o   É por meio da atividade prática que se realiza principalmente o caráter coletivo do ser humano: logo, é sempre imperativo tratar com grande atenção desse âmbito, para que o problema humano seja satisfeito também coletivamente

o   A atividade prática também confere uma utilidade e, daí, uma orientação efetiva para a inteligência – que, como sabemos, entregue a si mesma, descaminha-se com enorme facilidade

o   É devido às íntimas relações, às vezes indiretas, entre os sentimentos e a atividade prática (em particular em contraposição à inteligência, ou seja, à “fé”), que esses dois aspectos da natureza humana correspondem ao âmbito geral do “amor” na religião

o   O regime é regulado por diversas fórmulas, mas a que é especialmente dedicada à atividade prática é o “viver às claras”

§  Outras fórmulas do regime: a já indicada “agir por afeição e pensar para agir”; “o capital é social em sua origem e deve ser social em sua destinação”; “dedicação dos fortes pelos fracos, devotamento dos fracos pelos fortes”

-        Todos esses aspectos são coordenados no Positivismo, na síntese subjetiva positivista; entretanto, a síntese por si só é uma elaboração intelectual, faltando então uma concepção que congregue a síntese intelectual com a simpatia afetiva e a sinergia prática: essa concepção é a “Humanidade” – daí a “Religião da Humanidade”

o   A Humanidade deve ser entendida como o conjunto de seres humanos passados, futuros e presentes, de tal modo que a continuidade humana, dada pelas populações subjetivas, seja sempre afirmada sobre a solidariedade, dada pelos agentes presentes

§  Os animais, especialmente os domésticos e os mais diretamente úteis, integram a Humanidade; da mesma forma, por meio do neofetichismo, o meio ambiente (a Terra, o Sol, a Lua) e muitos objetos também integram a Humanidade

o   A Humanidade é um ser compósito e subjetivo: ele é composto por muitos pequenos agentes, que atuam de maneira coletiva e que se reúnem subjetivamente para cada um de nós

o   A Humanidade não é um ideal distante de nós (embora, por meio da idealização, esteja distante das paixões): cada um de nós tem acesso direto a representantes concretos, objetivos, do Grande Ser: mães, esposas, irmãs; famílias, grupos de amigos, pátrias (ou melhor, mátrias)

o   Rigorosamente, os seres humanos vivos não integram a Humanidade: a incorporação é um sacramento póstumo, realizado sete anos após a transformação de cada agente concreto

§  Em outras palavras, devemos merecer a incorporação à Humanidade

o   A Religião da Humanidade só foi possível graças ao desenvolvimento histórico do ser humano, em termos de culto, dogma e regime

§  Antes de um limiar de desenvolvimento do ser humano simplesmente não era possível a Religião da Humanidade, embora tenham havido antes ensaios mais ou menos próximos desse ideal

·         Para que fosse possível a instituição da Religião da Humanidade, as diversas forças e capacidades humanas tiveram que se desenvolver: o dogma positivo teve que ser completado, o relativismo teve que se afirmar em sua totalidade, a atividade pacífico-industrial teve que se sobrepor crivelmente à guerra, a noção planetária de humanidade teve que se tornar possível em face das famílias e das pátrias

o   Isso tudo só ocorreu a partir do século XIX e, em particular, na Europa Ocidental

·         Os ensaios prévios foram a Roma antiga (da instituição da República até o final do século II) e, em menor grau, a China confuciana

29 março 2022

Curso livre de política positiva: roteiro da 3ª sessão

Reproduzo abaixo o roteiro da terceira sessão do Curso livre de política positiva, ocorrida no dia 22 de março, transmitida no canal Facebook.com/ApostoladoPositivista e também disponível no canal The Positivism (aqui).

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Súmula

Preliminares à Política Positiva III: Estática e Dinâmica; a síntese subjetiva; o estado normal

Sociologia Estática I: teoria da religião: concepções e regulações gerais da existência humana

 

Roteiro

-        Preliminares à Política Positiva III:

o   Estática e Dinâmica

§  São duas perspectivas complementares

·         Diretamente derivadas da concepção de lei natural: relações constantes em termos de coexistência ou de sucessão

·         É a constância na variedade

·         Esboçadas na Biologia, essas duas perspectivas são aplicáveis a todas as ciências

§  Divisão de perspectivas

·         A Estática representa os elementos fundamentais de cada sociedade, presentes em toda sociedade

·         A Dinâmica representa o desenvolvimento encadeado desses elementos ao longo do tempo, com suas inter-relações

§  Elementos da Estática Social: religião, propriedade, família, linguagem, governo (temporal e espiritual); teoria das variações

·         São definidos como os tipos fundamentais para os quais tendem esses elementos no estado normal

§  Elementos da Dinâmica: as três leis dos três estados; lei de classificação das ciências; marcha própria ao Ocidente (fetichismo, teocracia; Grécia, Roma, Idade Média; transição revolucionária; Positivismo)

o   A síntese subjetiva:

§  Visão de conjunto (em termos de natureza humana, de concepções e de objetivos): filosofia, arte, indústria, política, ciência

·         Essa visão de conjunto baseia-se no primado da moral sociológica sobre a existência humana

·         Todos devem entendimentos gerais sobre tudo; em contraposição, a atuação prática é sempre parcial

§  Subordinação da inteligência à afetividade e à atividade prática

·         Relações íntimas entre simpatia, síntese e sinergia

§  Concepções que explicam e regulam o conjunto das realidades humanas e cósmica

§  Afirmação da preponderância normal das ciências superiores (Sociologia e Moral) sobre as ciências inferiores (Matemática até a Biologia), ao mesmo tempo em que “os fenômenos mais nobres subordinam-se aos mais grosseiros”

·         Isso naturalmente estabelece o que se chama hoje de “multi” e “transdisciplinaridade”

·         O altruísmo e o egoísmo são inatos (ou seja, são naturais); mas: a maior fraqueza do altruísmo e o desenvolvimento histórico da paz, da indústria e da ciência exigem o emprego constante e permanente de todos os recursos sociais e individuais disponíveis para a afirmação do altruísmo

§  Unidade da ciência: estabelecida subjetivamente (isto é, filosoficamente); multiplicidade e autonomia das ciências; homogeneidade de método e de doutrina

§  Estabelece não apenas o que se pode conhecer e fazer, mas, acima de tudo, o que se deve fazer (ou não fazer)

§  Definição da moralidade: estímulo e prática do altruísmo (ternura), compressão do egoísmo (pureza)

o   O “estado normal”

§  O estado normal consiste em uma idealização que considera equilíbrios dinâmicos da natureza humana (individual e coletivamente)

·         Essa idealização é uma prescrição que, por sua vez, baseia-se nas descrições da Sociologia e da Moral por meio da síntese subjetiva

·         Até certo ponto, é aceitável considerar que o estado normal é uma utopia positivista – mas convém notar que Augusto Comte reserva a palavra utopia para uma outra elaboração específica

§  Esses equilíbrios dinâmicos mantêm os três elementos da natureza humana (sentimentos, inteligência e atividade) coordenados

§  Não se trata mais de manter um equilíbrio estático (como nas teocracias iniciais) nem de desenvolver apenas um elemento da natureza humana às expensas dos outros (como na Grécia, em Roma e na Idade Média)

§  O caráter dinâmico desse equilíbrio indica que ele modifica-se continuamente ao longo do tempo e que, portanto, tem que ser restabelecido continuamente

·         A permanência desses equilíbrios é um dos argumentos que justificam a existência e a permanência da Religião da Humanidade, isto é, do novo poder Espiritual adequado a tal situação

§  Na medida em que é um equilíbrio dinâmico e que é uma idealização, aproximamo-nos mais ou menos dele, sem jamais o atingir plenamente

·         Augusto Comte usa a metáfora da reta assintótica: um limite para o qual tendemos continuamente, sem jamais o atingir

·         Considerando a plena positividade, a noção do “estado normal” justifica a máxima segundo a qual “o ser humano torna-se cada vez mais religioso”

§  A palavra “normal”, no âmbito do Positivismo, refere-se portanto ao “estado normal”

-        Estática Social: teoria da religião

o   Observação preliminar: para o Positivismo, “religião” é diferente de “teologia”

o   A religião é o estado de unidade humana individual e social; afetiva, intelectual e prática; por seu turno, a teologia é uma das formas de entender a religião

§  A confusão entre religião e teologia é a mesma que se dá entre os fins (a unidade humana) e os meios (as sínteses teológicas)

§  A idéia de “síntese”, portanto, sugere do ponto de vista intelectual o que a religião propõe para o conjunto da existência humana

§  Como a religião refere-se à unidade do conjunto da existência humana e como essa existência refere-se também, necessariamente, à existência prática, é necessário falar em religião para entender-se a “política positiva” (seja em termos científicos, seja em termos “políticos”)

§  Augusto Comte sugere que a religião é um consenso da alma

§  No início do cap. 1 da Política positiva, Augusto Comte faz uma belíssima retrospectiva histórica das variedades de religião: espontâneas, inspiradas, reveladas, demonstrada: fetichismo, politeísmo, monoteísmo, positivismo

o   A noção de religião regular e une efetivamente as existências individual e coletiva

§  Para o Positivismo, portanto, não faz sentido a oposição absoluta entre sociedade e indivíduo

§  A ligação entre sociedade e indivíduo via religião dá-se por meio das duas funções específicas da religião: regrar e religar (em francês: regler et rallier)

·         A religião regra o indivíduo e religa-o aos demais

·         Para Comte, não por acaso, a etimologia de religião é o latim religare

§  Os vínculos indivíduo-sociedade são variáveis de acordo com a fase histórica considerada

o   A noção de uma realidade externa, objetiva, independente da vontade humana é necessária para o desenvolvimento da religião, em particular no que se refere à parte de regrar (por meio da veneração)

§  A harmonia individual baseia-se sobre uma base dupla: na subordinação do egoísmo ao altruísmo (afetivamente) e na preponderância da realidade exterior (intelectual e praticamente)

o   A ciência suprema é a Moral, mas a base da moralidade positiva é sociológica (e não individual)

§  Uma forma de entendê-lo é por meio da fórmula: “entre o homem e o mundo é necessária a Humanidade”

§  Assim, a noção de Humanidade é o centro da concepção de religião positiva

·         Amor, Ordem, Progresso: aptidão afetiva, natureza intelectual, destinação ativa