Há um mito segundo o qual o mero
acúmulo de dados quantitativos – números, tabelas, estatísticas –
corresponderia a um conhecimento social científico. Isso é um mito, que
poderíamos qualificar de “empiricismo quantitativo”.
Isso, de modo geral, ninguém
contesta. O que provavelmente incomodará muitos é que também há um “empiricismo
qualitativo”. Com uma freqüência
alarmante, ele é vendido como “ciência” social, por vezes com o nome imponente
de “microssociologia”. Ele consiste no acúmulo de narrativas sobre os hábitos
de grupos, de indivíduos, de interações variadas; também acumula depoimentos,
narrativas “nativas” e assim por diante. Como é “qualitativo” e como “dá voz ao
povo”, ganha ares de boa prática sociológica. Mas é só isso: a versão
qualitativa do mesmo “empiricismo” indicado na forma numérica acima.
Infelizmente, só se reconhece
como “empiricista” – isto é, só se reconhece os vícios intelectuais próprios ao
empirismo extremado – o “empiricismo quantitativo”. Sua versão qualitativa é
amplamente respeitada e praticada em todas as Ciências Sociais – não apenas na
Sociologia e na Ciência Política, mas também na Antropologia e na História. (É
verdade que menos na Ciência Política, na qual é mais fácil detectar o “empiricismo
quantitativo”. Mas na área da Teoria Política “normativa” o “empiricismo
qualitativo” é muito fácil de ser notado.)