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24 janeiro 2024

Necessidades individuais satisfeitas pelas religiões

No dia 23 de Moisés de 170 (23.1.2024) iniciamos as atividades da Igreja Positivista Virtual no ano de 170 (2024). Nessa ocasião, demos continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua nona conferência, dedicada ao conjunto do regime.

Antes da leitura comentada, indicamos diversas atividades realizadas no período do recesso: 

- a comemoração da Festa da Humanidade (1º de Moisés/1º de janeiro);

- a celebração do nascimento de Augusto Comte e também a celebração de Rosália Boyer (19 de Moisés/19 de janeiro);

- a criação da coleção "Positivism" na biblioteca virtual Internet Archive.

Depois desses anúncios, lembrando que o Positivismo é uma religião cívica, lemos o manifesto intitulado "Pela república, a favor da sociocracia, contra o terrorismo fascista", lançado em 8 de Moisés de 170 (8.1.2024) (disponível aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2024/01/manifesto-pela-republica-favor-da.html).

Na parte do sermão, comentamos as necessidades individuais satisfeitas pelas religiões. As anotações que serviram de base para essa exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (disponivel aqui: https://l1nq.com/psLt3) e Igreja Positivista Virtual (disponível aqui: https://acesse.one/uBHLP).

A leitura do manifesto iniciou-se aos 13 min 56 s.

A leitura comentada do Catecismo positivista começou aos 34 min 25 s.

O sermão começou em 1h 12 min 05 s.

*   *   *


-        Há algumas semanas tivemos uma observação, que é também uma espécie de dúvida, apresentada por um jovem que tem estudado o Positivismo:

o   Por vezes as teologias obtêm e mantêm seus aderentes devido à necessidade de muitos indivíduos de verem-se tutelados integralmente, o tempo todo, por entidades todo-poderosas

-        Em primeiro lugar, a percepção de que há teológicos que precisam desse tipo de tutela não pode conduzir-nos à ilusão, ou até ao preconceito, de que todos os teológicos buscam essa tutela

o   Em primeiro lugar, devemos lembrar que há diferentes tipos de teologia e que, portanto, elas geram ou estipulam diferentes tipos de comportamentos

§  A busca de tutela é mais própria ao monoteísmo – e, em particular, ao monoteísmo cristão – que ao politeísmo, em que os vários deuses têm comportamentos díspares mas que, com freqüência, não são exatamente tutelares (e as tutelas são particulares a grupos ou âmbitos específicos)

o   Mas, de qualquer maneira, mesmo no caso do monoteísmo cristão, diferentes tradições e diferentes indivíduos têm relações diferentes com a divindade

§  A relação de submissão solicitante mantém-se em geral, mas é claro que, por um lado, há indivíduos que requerem menos a tutela, assim como, por outro lado, há indivíduos que solicitam mais a tutela

-        A busca de uma divindade todo-poderosa que tutele o tempo todo os indivíduos é característica de naturezas mais frágeis, por vezes em termos objetivos (isto é, pessoas que vivem na pobreza ou na miséria), mas com freqüência em termos subjetivos

o   Em face disso, duas reflexões surgem:

§  (1) Pessoas mais frágeis precisam de mais apoio

·         Mas não devemos criticar essa necessidade em si mesma: isso é uma questão de respeito às características pessoais de cada um e mesmo às condições sociais em que vivem, além de isso evocar a regra do dever altruístico: a dedicação dos fortes pelos fracos

§  (2) Mas, por outro lado, em certas situações, essa busca de tutela tem de fato um aspecto de infantilidade, em que um adulto busca o apoio subjetivo de uma figura paterna (ou, mesmo, em termos mais amplos, de uma figura parental)

o   Ora, como indicamos antes, diferentes religiões estimulam diferentes sentimentos e, daí, conduzem a diferentes comportamentos: os monoteísmos efetivamente estimulam mais a busca de uma tutela absoluta:

§  As figuras patriarcais, tutelares e vingativas do judaísmo e do cristianismo, a divindade punitiva do Islã, mesmo as ambigüidades afetivas e apocalípticas da trindade cristã

§  Tudo isso, próprio a uma época que já se encerrou há muito e muito tempo, ainda hoje estimula bastante muitos comportamentos irresponsáveis, seja porque são “fanáticos”, seja porque são infantilizados

-        Feitos esses comentários, devemos ter cuidado com outra coisa: não devemos apenas criticar a situação dos monoteístas que buscam a tutela; devemos considerar que essa busca em si mesma corresponde a uma necessidade humana verdadeira e legítima, mas cuja solução teológica (em particular monoteísta), como de hábito, é inadequada

o   Antes de prosseguirmos, devemos lembrar que as divindades monoteicas – seja a do judaísmo, seja a do catolicismo, seja a islamismo – estão radicalmente separadas dos seres humanos, não precisam dos seres humanos para nada e, ante elas, os seres humanos estão solitários e desamparados

§  A solidariedade terrena é certamente estimulada pelo altruísmo inato ao ser humano, mas, do ponto de vista dogmático, tal solidariedade é apenas uma forma de aumentar o exército de indivíduos isolados (e interesseiros) perante a divindade que não tem nenhum interesse real em nós

-        A noção de “Humanidade” tem, e tem que ter, um aspecto de conforto, de apoio; esse elemento é tanto objetivo quanto subjetivo

o   Antes de mais nada, devemos ter clareza de que o apoio fornecido pela Humanidade é de caráter relativo e não absoluto, ou seja, não é todo-poderoso e em larga medida depende das ações dos seres humanos

o   Augusto Comte referia-se por vezes à Humanidade como a nossa “providência real”: esse aspecto de “providência” já deixa claro que é ela, a Humanidade, que nos cria e que, em última análise, fornece-nos tudo aquilo de que precisamos

§  A imagem que representa a Humanidade (a mulher com cerca de 30 anos, segurando em seu colo um bebê) sugere diretamente o apoio, o carinho, o afeto, o conforto que a Humanidade provê e inspira-nos

o   Mas a Humanidade é relativa e é composta; como dizia Augusto Comte a partir de Dante, ela é “filha de seu filho”: a Humanidade tem vários âmbitos de atuação

-        Por um lado, a Humanidade é um ser composto: seus mínimos elementos são as famílias e as mátrias; nas famílias e nas mátrias – e também, cada vez mais, no que se chama atualmente de “sociedade internacional” – buscamos e obtemos os apoios de que necessitamos

o   O centro moral de cada família é a mulher, seja como esposa, seja como mãe: assim, o conforto moral que ela provê é uma prefiguração da deusa positiva

o   Além disso, em parte generalizando o apoio doméstico, em parte solucionando as dificuldades que, concretamente, todos podemos enfrentar na obtenção de apoio e amparo doméstico, Augusto Comte elaborou a concepção dos “anjos da guarda”

§  Os anjos da guarda consistem precisamente naquelas figuras que nos ampara(ra)m afetivamente e que, por isso, são merecedoras da nossa idealização pessoal

§  Essas idealizações são esforços conscientes da nossa parte de homenagear essas figuras, estabelecendo-as como importantes e poderosos apoios subjetivos em nossas vidas, o que resulta, além disso, em estímulos contínuos para o nosso desenvolvimento e aperfeiçoamento moral, intelectual e prático

-        Por outro lado, a ação da Humanidade é tanto objetiva quanto subjetiva:

o   Citamos há pouco as famílias e as mátrias (e até a sociedade internacional): elas têm um caráter objetivo, ao fornecer-nos o amparo material em nossas vidas

o   Mas as famílias, as mátrias e a Humanidade, evidentemente, também atuam de maneira subjetiva, ao estimular, alimentar e regular nossos sentimentos e nossas idéias

§  Aliás, é exatamente dessa forma e a partir dela – isto é, da característica subjetiva – que cada um de nós pode ter o apoio e o amparo da Humanidade:

·         Seja por meio da inspiração da figura abstrata da Humanidade, seja por meio da ação mais direta e concreta das nossas mães, das nossas esposas, das nossas irmãs, a Humanidade acolhe-nos e conforta-nos

·         Por outro lado, as famílias, as mátrias, a Humanidade inspiram-nos a noção de dever, isto é, de responsabilidades de todos para com todos, em particular dos fortes para com os fracos

o   O resultado dos aspectos objetivos e subjetivos é que a Humanidade:

§  Conforta-nos ativa e passivamente, direta e indiretamente

§  Cria, mantém e desenvolve as condições para esse conforto

§  Esse conforto não é só subjetivo, mas é também objetivo, na medida em que a realidade humana não é a de um isolamento individual radical, mas é a de relações permanentes por todos os lados – relações que, aliás, não se limitam aos seres humanos, mas estendem-se aos animais domésticos e, por meio do fetichismo, também a muitos objetos, ao Sol, à Lua, ao fogo etc.

§  Mas temos que insistir neste ponto: o conforto objetivo e subjetivo provido pela Humanidade estimula e, na verdade, exige a noção de dever, isto é, de responsabilidade de todos para com todos

-        Como uma decorrência do aspecto anterior (objetividade/subjetividade), a ação da Humanidade dá-se tanto no presente quanto, ainda mais, no passado e no futuro:

o   A distinção entre passado/futuro e presente conduz-nos à distinção entre a vida objetiva e a vida subjetiva de uma forma mais precisa, ao indicar que na vida subjetiva estão todos os seres humanos convergentes que já morreram, além de aqueles todos que ainda não nasceram; na vida objetiva estão os servidores da Humanidade, os seus agentes concretos, que são todos os indivíduos que atuam em prol dos seres humanos e das coletividades

§  Não existem indivíduos por si sós; o que há são integrantes de famílias e de mátrias, que também colaboram para a Humanidade

o   Por um lado, os indivíduos, ou melhor, os agentes concretos da Humanidade são os titulares de deveres

§  Esses deveres, aliás, mudam de acordo com os grupos sociais que se considera; quanto mais recursos tiverem os grupos sociais, maiores são seus deveres e, portanto, maiores são as cobranças que devem ser feitas sobre eles

§  De qualquer maneira, como já indicamos algumas vezes: entre os deveres que cabem a todos estão os de atuarem em prol dos demais (é o objetivo concreto do “viver para outrem”) e, portanto, o de atuarem objetivamente como a providência que é a Humanidade

o   Por outro lado, os agentes concretos da Humanidade são confortados, inspirados, alimentados e orientados pela Humanidade em suas ações

§  A lei do dever, isto é, o “viver para outrem”, é também um ideal, um objetivo geral que orienta a vida de cada um de nós

§  Assim, sob a inspiração da Humanidade, colaboramos ativamente para o melhoramento e o enriquecimento da vida de todos como, em termos “puramente” individuais, temos sempre objetivos de vida: não ficamos nunca sozinhos no universo nem ficamos desorientados em nossas vidas

-        Para concluir:

o   Como dissemos antes, diferentes religiões estimulam diferentes traços da natureza humana

o   Os monoteísmos estimulam com freqüência – e talvez de maneira particular – a busca do tutelamento individual, ou melhor, a busca de uma tutela infantilizante

o   Mas se a tutela infantilizante é uma solução que, no final das contas, é degradante, ainda assim podemos considerar que ela baseia-se por vezes em necessidades legítimas – de apoio, de amparo, até mesmo de orientação na vida

o   A respeito de todos esses aspectos, a noção e a realidade da Humanidade satisfazem mais e melhor os seres humanos:

§  Os vários níveis concretos da Humanidade apóiam-nos e amparam-nos de verdade

§  A noção abstrata de Humanidade estabelece a lei do dever, que permite o apoio e o amparo e que dá sentido à vida de cada um de nós

§  Essas diversas concepções podem parecer muito abstratas à primeira vista, mas elas são radicalmente concretas: nossas mães são nossos amparos; cada família, cada mátria, cada indivíduo, cada animal, cada fetiche atua para melhorar nossas vidas: é assim, e é só assim, que age a Humanidade e que é possível termos apoio e amparo

·         Inversamente, cada ser humano que atua de maneira egoística e/ou destrutiva age contra a lei do dever e contra a Humanidade


25 maio 2022

Curso livre de política positiva: roteiro da 12ª sessão

Reproduzo abaixo o roteiro da duodécima sessão do Curso livre de política positiva, ocorrida no dia 24 de maio, transmitida no canal Positivismo (disponível aqui: https://www.youtube.com/watch?v=a086aIR_0Po) ou no próprio canal Apostolado Positivista (disponível aqui: https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=547214340294348). 


Nessa seção, continuei a exposição sobre a Sociologia Dinâmica, concluindo os comentários sobre a lei prática dos três estados, expondo a lei afetiva (ou da sociabilidade) dos três estados e fazendo observações gerais e conclusivas sobre as três leis.


* * *


Súmula

Sociologia Dinâmica III: lei prática dos três estados (concl.); lei afetiva dos três estados

 

Roteiro

-        Lei prática dos três estados (conclusão):

o   A lei prática dos três estados estabelece que a atividade é primeiro militar conquistadora, depois militar defensiva e por fim pacífico-industrial

o   A afirmação plena da paz industrial requer o relativismo e a ciência, bem como a sua disseminação social e geográfica

§  A indústria por si só existe desde sempre

§  O trabalho e os trabalhadores têm que ser valorizados e dignificados

§  O domínio do homem sobre a natureza tem que ocorrer e isso só é plenamente possível por meio da ciência

§  O relativismo também tem que prevalecer, a fim de deixar para trás o absolutismo político e moral, a desvalorização da vida, o estímulo à guerra e à violência

-        Sociologia Dinâmica III: os três estados dos sentimentos: família, pátria, Humanidade

o   A lei dos três estados dos sentimentos refere-se não tanto aos sentimentos em si mesmos, mas aos âmbitos superiores de sociabilidade ou, em outro sentido, de vinculação social e afetiva

§  Há uma correspondência entre os âmbitos da sociabilidade e os sentimentos altruístas: família à veneração; pátria à apego; Humanidade à bondade

§  Além disso, há que se notar que, ao mesmo tempo, os âmbitos de sociabilidade têm diferentes fundamentos no que se refere à natureza humana:

·         Família: vínculos afetivos

·         Pátria: vínculos práticos (economia e política)

·         Humanidade: vínculos intelectuais (religião)

o   A seqüência família, pátria, Humanidade é rigorosamente histórica, embora, como ocorre com as outras leis dos três estados, seja necessário apreendê-la em grandes períodos temporais

§  Vale notar que mesmo em momentos de afirmação das pátrias ocorreram vislumbres da noção de Humanidade

·         Isso é possível de notar nos gregos e, ainda mais, entre os romanos

§  Considerando o caráter masculino (e bélico) da palavra “pátria”, Augusto Comte sugeria a sua substituição, no estado normal, por “mátria”

o   Uma particularidade da lei afetiva dos três estados é que ela, ao contrário das duas leis anteriores, permite a coexistência dos três estados

§  Essa coexistência evidentemente é compatível com a coexistência dos três instintos altruístas

§  No caso das duas leis anteriores, os estados preliminares têm que ser ultrapassados e convictamente deixados para trás: temos que ultrapassar e rejeitar o absolutismo teológico-metafísico e também o militarismo

§  A coexistência dos três estados afetivos não significa, todavia, mera justaposição: ela implica a subordinação sucessiva dos âmbitos de sociabilidade: as famílias subordinam-se às pátrias (ou mátrias) e estas subordinam-se à Humanidade

-        Há alguns aspectos adicionais que devem ser indicados a respeito das leis dos três estados:

o   Cada uma das leis indica uma tendência importante por si só, mas a reunião e a combinação delas elabora um quadro cada vez mais completo, complexo e específico da realidade histórica humana

o   É fácil perceber que os três estados finais e os três estados iniciais são solidários entre si:

§  O relativismo, a noção de Humanidade e a atividade pacífico-industrial apoiam-se e são condições uns dos outros; inversamente, o mesmo pode ser dito do absolutismo, das sociabilidades inferiores e do militarismo

§  Em outras palavras, essa mútua solidariedade significa que a plena realização do estágio final de cada lei implica e exige a realização do estágio final das outras leis: por exemplo, a noção de Humanidade exige o relativismo e enseja a atividade pacífica

o   As leis dos três estados correspondem a tendências gerais da evolução humana:

§  A idéia de tendência indica que elas são direções gerais, que variam em intensidade e mesmo em direção ao longo do tempo: assim, às vezes elas andam mais rapidamente, às vezes são mais lentas; às vezes vão na direção das leis, às vezes sofrem recuos temporários

§  Augusto Comte usava a imagem das curvas assintóticas, que tendem para uma posição no infinito, mas que nunca chegam plenamente ao limite indicado

§  No limite, todos os povos seguirão voluntariamente as leis dos três estados; mas, em todo caso, diferentes temperamentos e necessidades conduzem a comportamentos diversos à daí a necessidade da pressão coletiva em favor das leis, seja a pressão temporal (política), seja a pressão espiritual (intelectual e moral)

Curso livre de política positiva: vídeo da 12ª sessão

No dia 24 de maio ocorreu a duodécima sessão do Curso livre de política positiva, com transmissão ao vivo no canal do Facebook Apostolado Positivista.

Nessa seção, continuei a exposição sobre a Sociologia Dinâmica, concluindo os comentários sobre a lei prática dos três estados, expondo a lei afetiva (ou da sociabilidade) dos três estados e fazendo observações gerais e conclusivas sobre as três leis.

O vídeo pode ser visto no canal Positivismo (disponível aqui: https://youtu.be/a086aIR_0Po) ou no próprio canal Apostolado Positivista (disponível aqui: https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=547214340294348). 

A programação completa do Curso pode ser vista aqui.

21 fevereiro 2020

Comparação entre Positivismo, direitas e esquerdas

Muito modestamente elaborei a tabela abaixo, em que apresento de maneira comparativa as vistas sócio-políticas do Positivismo e as concepções de direita e esquerda. 

Haja vista as confusões teóricas e práticas que reinam atualmente no Brasil - em que um governo de extrema-direita mantém o país em permanente estado de sobressalto, de polarização, de desrespeito sistemático à laicidade do Estado, à diversidade de opiniões, à liberdade de expressão e de pensamento, às minorias etc. -, o meu objetivo era esclarecer o que a "esquerda" e a "direita" consideram a respeito de vários conceitos sócio-políticos, aproveitando para expor as vistas positivistas (e demonstrar, por esse meio, que a oposição entre direita e esquerda é insatisfatória e insuficiente).

Mas é importante realçar um aspecto: esta tabela não é exaustiva nem cobre todas as possibilidades de política teórica e prática. Algumas amplas correntes e práticas foram deixadas de lado, como o populismo, o liberalismo e até o islamismo; por outro lado, no caso dos católicos, eles poderiam perfeitamente ser incluídos em outras categorias que não a centro-direita, indo desde a esquerda até a direita ou a extrema direita. O objetivo da tabela é apenas oferecer um quadro sinóptico para que se possa fazer algumas comparações básicas.

Após a tabela incluí referências bibliográficas sumárias, para quem tiver interesse e curiosidade.

*   *   *


Resumo das perspectivas do Positivismo em face das correntes político-intelectuais contemporâneas

Conceito
Positivismo
Extrema-esquerda (comunismo)
Esquerda
(socialismo)
Centro-esquerda (social-democracia)
Centro
Centro-direita (conservadores “britânicos”, católicos)
Direita (neoliberais, evangélicos)
Extrema-direita (nazismo, fascismo)
1) Ordem
Fundamento e garantia do progresso
Não tem valor por si só (deve ser mantida com vistas ao progresso)
Elementos comuns a todas as sociedades (família, propriedade, linguagem, religião, governo)
A ordem burguesa, como é opressora, deve ser destruída
A exploração econômica gera a dominação política
A ordem comunista é redentora da humanidade
A ordem burguesa, como é opressora, deve ser destruída
A exploração econômica gera a dominação política
O Estado exerce um papel central ao regular a economia e prover serviços sócio-econômicos
Supostamente há espaço para liberdades individuais

A ordem é um equilíbrio entre a dinâmica social e a ação político-econômica estatal
A sociedade é capitalista (propriedade privada) e as liberdades são valorizadas
O Estado exerce um papel central ao regular a economia e prover serviços sócio-econômicos
Entendida como estabilidade política e social
Valor importante, mas não é sagrado: pode ser modificada, dependendo dos acertos políticos, na direção da direita ou da esquerda
Valor fundamental e central
A ordem é estabelecida pela tradição e, por isso, é sagrada
Tem um caráter histórico e, eventualmente, transcendental
É um valor sagrado
Evangélicos: é um arranjo divino e deve satisfazer imperativos teológicos (bíblicos)
Neoliberais: a economia deve ser entregue a si mesma; a política (e o Estado) atrapalha e corrompe a ordem
É um valor sagrado
O capitalismo e o comunismo são inimigos
A nação é o valor supremo
O Estado é o responsável pela criação e manutenção de uma ordem pura em termos raciais, sociais e políticos
Imigrantes, outras raças, outras ideologias devem ser combatidos e/ou dizimados
2) Progresso
Desenvolvimento da ordem fundamental
Baseia-se na ordem
Realização da harmonia humana (social e individual)
Desenvolvimento (harmônico) das forças humanas (individuais e sociais; afetivas, intelectuais e práticas)
Aprofundamento da igualdade
Fortalecimento das pátrias comunistas
Enfraquecimento e extinção das pátrias não-comunistas
Aprofundamento da igualdade
Valor central
Aprofundamento da igualdade
Valor central
Combate à dinâmica social própria ao capitalismo
Basicamente, indefinido
Desenvolvimento da ordem
Realizado conforme os desígnios do grupo no poder
Valor a ser combatido se for na direção da igualdade
Católicos: o progresso é real e legítimo se for a realização da ordem divina e tradicional
“Britânicos”: em pequenas doses, é aceitável (entendido como mudanças sócio-institucionais); de modo geral rejeita mudanças planejadas
Neoliberais: é um valor legítimo, se for o desenvolvimento da ordem capitalista (às vezes é a “destruição criadora”); vêem com grande desconfiança as mudanças planejadas
Evangélicos: é a realização da teocracia (em moldes calvinistas)
Afirmação da nação
Se o progresso for o conceito esquerdista, deve ser combatido ferozmente
3) Tradição
Não tem valor em si mesma
O mais das vezes, é uma concepção absoluta da historicidade e da ordem
Concepção positiva da tradição: legado moral e material do passado para o presente, que deve ser respeitado e, na medida do possível, preservado, mas que não é imodificável e que sofre alterações de acordo com as leis dos três estados
Obstáculo ao progresso
Ideologia burguesa ou feudal com vistas à dominação e à exploração do proletariado
Obstáculo ao progresso
Ideologia burguesa ou feudal com vistas à dominação e à exploração do proletariado
Basicamente, obstáculo ao progresso
Redes sociais tradicionais podem apoiar a ordem social-democrata
Em linhas gerais, é favorável à tradição
As relações políticas tradicionais são valorizadas
Em termos sócio-econômicos, depende do grupo que está no poder
Valor fundamental, quase indistinguível da ordem
Católicos: a tradição é o resultado da ação multissecular da igreja
“Britânicos”: é o resultado do “tribunal da história” e, por tentativa e erro, junta empiricamente o que é “bom” e “correto”
Neoliberais: a tradição de valores e estruturas sociais é inimiga do progresso capitalista
Neoliberais: as relações tradicionais de confiança são a base da sociedade e do progresso
Evangélicos: se referir-se à própria seita, é sempre sagrada; se referir-se a qualquer outra coisa, é detestável e deve ser combatida
É encarada de maneira romântica e saudosista
A tradição criada e idealizada é o fundamento ideológico da ordem social
4) Passado
Conjunto dos antecedentes sociais, morais, intelectuais e afetivos
O passado é a base e o guia para o futuro, mas o futuro não se resume nem se limita ao passado
Conjunto das condições sociais que permitem a realização do comunismo
“Peso que oprime o cérebro dos vivos” (Marx)
Conjunto dos antecedentes próprios ao comunismo
Conjunto das condições sociais que permitem a realização do socialismo
“Peso que oprime o cérebro dos vivos” (Marx)
Conjunto dos antecedentes próprios ao socialismo
Conjunto das condições sociais que permitem a realização do Welfare
Conjunto dos antecedentes próprios ao Welfare
Conjunto da história social e individual
Mobilizável de acordo com o grupo que está no poder
É o fundamento da tradição
Neoliberais: conjunto das condições que conduzem ao capitalismo; fora isso, deve ser constantemente revolucionado
Evangélicos: se for da própria seita, é sempre glorioso; se for dos outros, é detestável
É romantizado e, assim, glorificado
Apresenta a história da nação, passando pelas quedas e pelas ascensões
5) Liberdade de pensamento
Fundamento inescapável da política positiva
A liberdade absoluta de pensamento é um conceito metafísico, que rejeita qualquer disciplina mental
Deve ocorrer a rigorosa separação entre igrejas e Estado
Não existe, exceto para o que o Estado permite
Nos países não-comunistas: deve ser incentivada ao máximo, para que ocorra a revolução do proletariado (Lênin, Stálin)
A cultura deve ser instrumentalizada para difusão do comunismo (Gramsci)
Existe e é garantida pelas leis
Existe e é garantida pelas leis
Existe e é garantida pelas leis
Católicos: é limitada ao que se considera tradicional e, portanto, aceitável
“Britânicos”: valor sócio-político fundamental
Neoliberais: existe e é garantida pelas leis (eventuais exceções quanto ao comunismo e ao nazismo)
Evangélicos: se referir-se ao próprio dogma, é válida; qualquer outra forma de pensamento deve ser combatida ou convertida
Não existe, exceto para o que o Estado permite
A cultura deve ser instrumentalizada para difusão do fascismo (Goebbels, Mussolini)
6) Liberdade de expressão
Fundamento da política positiva e conseqüência da liberdade de pensamento
Deve-se garantir a liberdade de expressão a todas as concepções
Não existe, exceto para o que o Estado permite
Nos países não-comunistas: deve ser incentivada ao máximo, para que ocorra a revolução do proletariado (Lênin, Stálin)
A cultura deve ser instrumentalizada para difusão do comunismo (Gramsci)
O Estado impõe o ateísmo
Existe e é garantida pelas leis
Existe e é garantida pelas leis
Existe e é garantida pelas leis
Católicos: é limitada ao que se considera tradicional e, portanto, aceitável
“Britânicos”: valor sócio-político fundamental
Neoliberais: existe e é garantida pelas leis (eventuais exceções quanto ao comunismo e ao nazismo)
Evangélicos: se referir-se ao próprio dogma, é válida; qualquer outra forma de pensamento deve ser combatida ou convertida
Não existe, exceto para o que o Estado permite
A cultura deve ser instrumentalizada para difusão do fascismo (Goebbels, Mussolini)
7) Família
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
Deve ser consagrada para ser regulada pela pátria (associação prática) e pela Humanidade (associação intelectual)
Foco de conservadorismo, reacionarismo e tradicionalismo
Permanece sob estreita vigilância do Estado e da sua polícia política
Os laços familiares não são respeitados
Em determinadas conjunturas pode ser valorizada (formação de mão de obra)
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
As relações familiares constituem parte importante da sociabilidade política de centro (clientelismo, filhotismo, apadrinhamento)
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento afetivo
Eventualmente, tem que ser defendida da ação do Estado
Neoliberais: é a formadora de indivíduos, que são os “agentes econômicos” por definição
Evangélicos: é o âmbito social sagrado e inamovível, lugar da autoridade (“despótica”) do pai/marido sobre filhos/esposa

É o âmbito social sagrado, lugar da autoridade (“despótica”) do pai/marido sobre filhos/esposa
É a relação social que existe logo abaixo da nação, isto é, do Estado
8) Pátria
Associação prática dos seres humanos
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
Devem ser de tamanho reduzido, para que os vínculos morais desenvolvam-se
A soberania absoluta é uma ficção metafísica
Deve ser consagrada para ser regulada
O multilateralismo, o internacionalismo respeitador das pátrias e as mediações devem ser incentivados
Sede da revolução comunista
Devem ser abolidas quando o comunismo triunfar no mundo todo
Em países não-comunistas: grau máximo de associação humana e entendidas como sede da xenofobia, do imperialismo e do nacionalismo
Realidade política básica; nela o Estado exerce a autoridade em um determinado território
O multilateralismo, o internacionalismo respeitador das pátrias e as mediações devem ser incentivados
Eventualmente, podem ser abolidas quando o socialismo triunfar no mundo todo
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
O multilateralismo, o internacionalismo respeitador das pátrias e as mediações devem ser incentivados
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
Católicos: o poder político deve submeter-se ao poder (espiritual, quando não material) da igreja e do papa
Realidade política básica; exerce a autoridade em um determinado território
Neoliberais: o Estado é um estorvo, um mal tristemente necessário
Evangélicos: o poder político deve submeter-se ao poder da igreja
Valor supremo
O internacionalismo e o multilateralismo são vistos como crimes de lesa-pátria e como conspirações dos “inimigos”
9) Humanidade
Resumo da Religião da Humanidade
Como sinônimo de igreja: associação de caráter intelectual, de âmbito mundial
Conjunto dos seres humanos convergentes, passados, futuros e presentes
Concepção resultante de uma longa evolução histórica
Concepção relativa, altruísta e includente
Outro nome dado ao conjunto do proletariado, após a revolução comunista e a extinção (física e social) da burguesia
Associação de indivíduos atomizados, sem a existência de pátrias nem de igrejas
Fora do âmbito do comunismo: ideologia burguesa e/ou concepção nefelibata
Outro nome dado ao conjunto do proletariado, às vezes se estendendo ao conjunto das sociedades (e das classes)
Outro nome dado ao conjunto do proletariado, às vezes se estendendo ao conjunto das sociedades (e das classes)
Designação genérica do conjunto de seres humanos e de países
Eventualmente apresenta caráter histórico
Designação genérica do conjunto de seres humanos e de países
Eventualmente apresenta caráter histórico
Designação genérica do conjunto de seres humanos e de países
Eventualmente apresenta caráter histórico
Neoliberais: conjunto de agentes econômicos
Evangélicos: conjunto de crentes e de pessoas a serem convertidas
Refere-se exclusivamente à população do próprio país
10)         Religião
Conjunto de concepções e práticas que visam a regular a vida humana, com vistas à harmonia social e individual
Como qualquer concepção humana, passa pelos três estágios (teológico, metafísico e positivo)
A Religião da Humanidade é uma religião positiva
Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
“A religião é o ópio do povo” (Marx)
Deve ser combatida
A prevalência de religiões em países é justificativa para guerras com esses países
Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
“A religião é o ópio do povo” (Marx)
Em princípio, deve-se respeitar as crenças individuais e, se for o caso, as institucionais
Pode resultar, devido a questões institucionais e dogmáticas, em conflitos entre o Estado e a(s) igreja(s)
Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
Deve-se respeitar as crenças individuais e, se for o caso, as institucionais
Acomodação com as igrejas
É importante apenas como fundamento do Welfare (e, portanto, submete-se a considerações utilitário-político-econômicas)
Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
Acomodação com as igrejas
Dependendo da relação com quem está no poder: apoio às igrejas e suas doutrinas

Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
“Britânicos”: acomodação com as igrejas; aceitação de religião de Estado
Católicos: igreja separada do mas superior ao Estado

Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
Acomodação com as igrejas
Estímulo à “teologia da prosperidade”
Evangélicos: valor sagrado e supremo

Sinônimo de teologia e, por derivação, de igreja
Transformação do culto à pátria em um rival institucional e dogmático às igrejas tradicionais
11)         Propriedade
A propriedade privada é um dos fundamentos da ordem social
Para surtir seus efeitos, a riqueza deve ser concentrada até o limite da responsabilidade individual
A função da riqueza é alimentar o conjunto da sociedade
Os proletários devem ser “pobres” (isto é, não ricos); devem ter casa própria e ser capazes de alimentar esposa, filhos e avós
Os proletários devem ser donos dos instrumentos individuais de trabalho
Assim, a propriedade privada não é um conceito absoluto
Deve ser consagrada para ser regulada
A origem da propriedade é social e sua destinação tem que ser social
A riqueza é entendida como força social concentrada (o trabalho é a força dispersa)
A solução dos problemas da riqueza consiste em sua regulação social, não em sua destruição e/ou extinção
A propriedade privada é vista como absoluta, com vistas à dominação e à exploração burguesa
Para combater a propriedade privada, o Estado comunista deve instituir a propriedade “coletiva” (estatal) dos “meios de produção”
A via para tal mudança é violenta, pela força, de cima para baixo
As famílias podem ter objetos de uso pessoal
A riqueza é vista como o fundamento das desigualdades humanas
A propriedade privada é vista como absoluta, com vistas à dominação e à exploração burguesa
Para combater a propriedade privada, o Estado comunista deve instituir a propriedade “coletiva” (estatal) dos “meios de produção”
A via para tal mudança é pacífica e eleitoral
As empresas privadas, todavia, continuam existindo
A riqueza é vista como o fundamento das desigualdades humanas
Os impostos são altos
A propriedade privada é vista como relativa e submetida à regulação estatal
Para combater a propriedade privada, o Estado comunista deve instituir a propriedade “coletiva” (estatal) dos “meios de produção”
Muitos serviços e bens são fabricados e providos pelo Estado
A via para tal mudança é pacífica e eleitoral
As empresas privadas, todavia, continuam existindo
A riqueza é vista como o fundamento das desigualdades humanas
Os impostos são altos
A propriedade privada é vista como absoluta
Todavia, dependendo de quem está no poder, pode-se considerar a propriedade como relativa (em particular a propriedade alheia)
O nível de impostos varia de acordo com o grupo que está no poder
“Britânicos”: a propriedade privada é vista como absoluta e constituinte da natureza íntima de cada indivíduo (juntamente com a liberdade)
Católicos: a propriedade privada é vista como relativa, dependendo da ordem eclesiástica e do papa reinante; os bens da igreja são sagrados
Os impostos são os mais baixos possíveis
A propriedade privada é vista como absoluta
Evangélicos: a riqueza é a prova da eleição divina, no neocalvinismo da “teologia da prosperidade”
Neoliberais: a riqueza é um valor fundamental e deve ser perseguida (“vícios privados, virtudes públicas”)
Ambigüidade a respeito da propriedade e da riqueza: em princípio são absolutas, mas o Estado pode interferir e regulá-las, além de ter empresas estatais
A riqueza “capitalista” (ou comunista) é opressora; a riqueza “nacionalista” é libertadora
12)         Governo temporal
Gestor dos conflitos de classe
Responsável pela manutenção da ordem social, com vistas à realização do progresso
Deve abster-se rigorosamente de ser um governo espiritual
Deve garantir as liberdades públicas, especialmente as de pensamento, expressão e associação
Deve ser consagrado para ser regulado
Nos países capitalistas: mantenedor da dominação burguesa e da exploração do proletariado
Responsável pela realização e pela manutenção da revolução comunista
Gestor da propriedade coletiva
Quando a revolução comunista ocorrer em nível mundial, os estados devem ser extintos
Órgão do proletariado como classe (contra a burguesia)
Impõe o ateísmo como doutrina de Estado
Gestor dos conflitos de classe
Gestor de determinadas produções de bens e serviços
Regulador das relações sociais
Regulado pelo Estado de Direito
Gestor dos conflitos de classe
Gestor de determinadas produções de bens e serviços
Regulador das relações sociais
Regulado pelo Estado de Direito
Gestor dos conflitos de classe
Regulador das relações sociais
Regulado pelo Estado de Direito
Gestor dos conflitos de classe
Regulador das relações sociais
Regulado pelo Estado de Direito
“Britânicos”: garantidor das liberdades e da propriedade; respeitador das tradições
Católicos: deve submeter-se moral e politicamente à igreja e ao papa
Neoliberais: provedor de bens e serviços mínimos (polícia, moeda, justiça, padrões de pesos e medidas; em casos de pobreza extrema: auxílio financeiro)
Evangélicos: órgão de promoção da crença de cada seita; promotor da censura e da polícia de costumes
Órgão por excelência da vontade nacional
Deve ser entendido como sendo, em si, uma instituição moral
O desrespeito ao Estado é um desrespeito à nação
A vontade do Estado está acima do comum dos indivíduos
13)         Governo espiritual
Responsável pela constituição e expressão da opinião pública
Organizado em igrejas, com sacerdócios
Regulador das idéias e dos valores
Responsável pela consagração e pela regulação das famílias, das pátrias, dos indivíduos, do poder político e da riqueza
Deve manter-se escrupulosamente separado do governo temporal
Sua importância em face do poder temporal dá a medida da moralidade, do altruísmo e do pacifismo de uma sociedade e, portanto, de seu progresso
Constituído em um sacerdócio transnacional
O primado político cabe ao poder Temporal, não ao Espiritual
Ambigüidade: por um lado, as crenças são derivações das relações de produção; por outro lado, são instrumentos de dominação (da burguesia) ou de afirmação (do proletariado)
Nos países capitalistas, as igrejas são os órgãos de manutenção da religião, que é o “ópio do povo” (ideologia da exploração e da dominação do proletariado)
Nos países comunistas, o governo espiritual confunde-se e realiza-se por meio do Estado e do partido comunista
Deve realizar-se por meio de professores e filósofos
As igrejas (teológicas) eventualmente podem ser obstáculos ao socialismo e, por isso, são combatidas politicamente
Pode apoiar o governo em termos políticos, sociais e morais
Com frequência baseia-se no poder Espiritual e/ou extrai dele seus quadros
Tem uma tradição de apoio, estímulo, submissão
Aceitam e promovem a religião de Estado
Católicos: o Estado deve submeter-se à igreja e ao papa; seu sacerdócio tem caráter transnacional
Neoliberais: não reconhecem poder Espiritual, na medida em que são rigorosamente materialistas; entretanto, é necessário haver valores de respeito, confiança mútua, individualismo
Evangélicos: o único poder Espiritual é o da própria seita; todos os demais devem ser combatidos e/ou convertidos; o Estado deve estar a serviço da seita
O único poder Espiritual aceitável é o originário do Estado e por ele legitimado
Fontes independentes de poder Espiritual são vistas com desconfiança e como (potenciais) inimigos
14)         Paz
Resultado e condição da harmonia social e individual
Resultado da evolução histórica das sociedades
Internamente: os conflitos sociais devem ser evitados, controlados, dirigidos e aproveitados
Externamente: os conflitos entre países devem ser solucionados sempre via mediação
Os governos temporal e espiritual devem empenhar-se ativamente em manter e em obter a paz
O poder Espiritual deve ser o grande regulador e mediador dos conflitos sociais
A verdadeira paz só é possível quando o comunismo triunfar em nível mundial
Entre os países capitalistas, é sempre um equilíbrio temporário entre as potências imperialistas
Os países capitalistas querem sempre destruir os países comunistas
Fora do comunismo, todos os indivíduos e países são egoístas; apenas no comunismo existe um verdadeiro altruísmo
O multilateralismo e o internacionalismo são estratégias a serem empregadas se e enquanto forem úteis
A paz internacional é um objetivo verdadeiro, a ser atingido por meio do multilateralismo e do internacionalimso
A paz internacional é um objetivo verdadeiro, a ser atingido por meio do multilateralismo e do internacionalimso
Utiliza o equilíbrio de poder para obter a paz
“Britânicos”: utilizam o equilíbrio de poder para obter a paz; a paz é sempre instável, portanto
Católicos: a verdadeira paz é a instituída e regulada pela igreja e pelo papa
Neoliberais: a paz é uma conseqüência natural da diminuição radical do Estado e da substituição da política pela economia
Evangélicos: a única paz possível é a criada pela própria seita; em relação a todos os demais a postura é de confronto ou, pelo menos, reprovação e rejeição
A paz é sempre a morte do “espírito”; a nação revela-se e afirma-se por meio da guerra
O equilíbrio de poder é aceito apenas temporariamente; a única paz aceitável é a que subordina todas as demais nações à nação do político
O multilateralismo e o internacionalismo são recusados e vistos como defendidos por traidores e conspiradores
15)         Igualdade
Basicamente, um mito metafísico destinado a abolir estruturas sociais
Utilizada por juristas e propagandistas para obter o poder
Conceito que legitima os despotismos
O desenvolvimento social gera diferenças e desigualdades
Mas: do ponto de vista jurídico, deve ocorrer a igualdade perante a lei
Nas escolas, as classes sociais devem assistir em conjunto às aulas para terem a mesma formação e compartilharem valores e ideias (permitindo assim a fraternidade e a atuação do poder Espiritual)
É o objetivo maior do comunismo
Entendida em todos os sentidos possíveis: de classe, de status, de riqueza, de sucesso individual
Na busca da igualdade não se hesita em cometer crimes (expurgos, “revoluções culturais” etc.)
A despeito do discurso, estabelece uma distinção brutal entre governantes e governados
É o objetivo maior do socialismo
Entendida basicamente como igualdade de riqueza e de status, aceita a todavia a igualdade de condições
Igualdade perante a lei
Igualdade na escola
É o objetivo maior do Welfare
Entendida basicamente como igualdade de riqueza e de status, aceita a todavia a igualdade de condições
Igualdade perante a lei
Igualdade na escola
Eventualmente pode aceitar “ações afirmativas”
É indiferente às noções econômicas de igualdade; depende do grupo que está no poder
Igualdade perante a lei
“Britânicos”: não se incomodam com as diferenças de status, mas exigem a igualdade perante a lei
Católicos: em sua teologia, todos são iguais perante a divindade, mas na prática aceita as mais variadas desigualdades (poder, status, riqueza)
Neoliberais: rejeitam a igualdade econômica e exigem a igualdade perante a lei
Evangélicos: aceitam a igualdade nas próprias seitas e, reconhecendo a diferença em relação a todos os demais, desprezam-nos
Reconhecem as diferenças inarredáveis entre povos e nações
Na nação, todos são iguais; fora da nação, todos são diferentes e inferiores
16)         Indivíduos e individualidades
O individualismo é um erro intelectual, moralmente injustificável
O individualismo é a secularização e a transposição para a Sociologia da igualdade dos crentes perante a divindade protestante
O individualismo consagra o egoísmo, a secura afetiva, a esterilidade intelectual, o absolutismo filosófico, as concepções parciais
Mas: a Humanidade é um ser composto, cujos elementos são seres separados – em última instância, os indivíduos
Assim, da mesma forma que as famílias, as pátrias, o poder político e a riqueza, devem os indivíduos ser consagrados e regulados, ou seja, responsabilizados
Os indivíduos são os agentes da Humanidade e realizam o presente
As crenças individuais devem sempre ser respeitadas
Os indivíduos não existem, exceto os grandes líderes comunistas
Os indivíduos são uma elaboração ideológica burguesa
No comunismo, quem afirma-se como individualidade comete o crime de lesa-revolução
No comunismo ideal, na ausência de classes e de Estado, haverá apenas indivíduos; eles serão alegres diletantes de tudo e não haverá obrigações nem responsabilidades
A perspectiva social deve prevalecer, mas os indivíduos são largamente respeitados
A perspectiva social deve prevalecer, mas os indivíduos são respeitados
A lógica própria ao Welfare tende a desconsiderar as motivações individuais e a tirar a responsabilidade individual por suas ações
Basicamente o centro constitui-se de indivíduos e individualidades renomados
“Britânicos”: os indivíduos são o valor político por excelência; não há sociedade, embora a tradição confira um caráter social aos indivíduos
Católicos: na medida em que são católicos, os indivíduos são respeitados; suas diferenças são acomodadas nas diversas vocações e ordens eclesiásticas
Estimulam o individualismo e egoísmo (sejam hedonistas ou não)
Não há “sociedade”, apenas agregados de indivíduos
Neoliberais: juntamente com as empresas, os indivíduos são as únicas unidades existentes
Evangélicos: perante a divindade há apenas indivíduos e ambos comunicam-se direta e pessoalmente
Ambigüidade: perante a nação, os indivíduos não existem, exceto os grandes líderes; mas retoricamente há o respeito às individualidades

Referências bibliográficas sumárias

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