Mostrando postagens com marcador Folha de S. Paulo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Folha de S. Paulo. Mostrar todas as postagens

24 maio 2021

Folha de S. Paulo: "Auguste Comte e o amor em tempos de pandemia"

O artigo abaixo, publicado no jornal Folha de S. Paulo de 23.5.2021, é da autoria Maria Carolina Loss Leite. A autora, evidentemente feminista, erra em um sem-número de aspectos da Religião da Humanidade; ao cometer esses erros, a autora repete os preconceitos políticos e intelectuais provenientes tanto do feminismo quanto da academia.

A despeito dos preconceitos academicistas e feministas da autora, ela viu-se obrigada a admitir a justeza das perspectivas de Augusto Comte, em particular no que há de mais importante em sua obra: a afirmação do amor, a concepção de que o amor deve estar na base de tudo.

Isso é uma tripla confirmação do Positivismo e de sua capacidade de superar preconceitos e ódios: afetiva antes de mais nada, mas também intelectual e, juntando esses dois âmbitos, igualmente uma confirmação prática.

O original do artigo pode ser lido aqui.

*   *  *

Antes de passar ao artigo, convém ilustrar um pouco os erros cometidos pela autora. A título de exemplo, podemos indicar dois. Como comentamos antes, são muitos mais erros originários de preconceitos intelectuais e políticos, todos eles permeados por desdém e ironia, mas não faria sentido indicar cada um deles.

O primeiro erro que queremos indicar funda-se em um preconceito academicista: a autora afirma que, para Comte, o Grão-Ser é a "sociedade"; nisso a autore atribui a Augusto Comte uma concepção metafísica de Durkheim, que é visto como o "continuador" de Comte no âmbito da Sociologia - o que, por sua vez, serve tanto para desvalorizar a obra do próprio fundador da Sociologia e do Positivismo quanto para criar e manter um esquema simplista mas útil a polêmicas academicistas. 

O segundo erro, já no âmbito do feminismo, consiste em que a autora repete o ódio feminista contra a concepção ao mesmo tempo generosa e realista de que as mulheres constituem o "sexo amante", preferindo que as mulheres sejam iguais aos homens especialmente em termos de violência e agressividade. Isso, aliás, vai na direção oposta da afirmação do amor, ou seja, em última análise, a negação do "sexo amante" é a própria negação do "amor por princípio"; nisso não há nem dignidade para as mulheres nem uma base regular para o amor.

*   *   *

Auguste Comte e o amor em tempos de pandemia

Precisamos resgatá-lo antes que seja tarde

Falar de amor nos tempos tristes em que vivemos é necessário. Seja ele de qualquer forma, é sempre bem-vindo: do fraternal ao carnal. Por isso invoco o francês Auguste Comte, ou melhor, Isidore Auguste Marie François Xavier Comte. Considerado por diversos autores como o “pai” da sociologia por ter sido o primeiro a falar em estudar a sociedade do seu tempo, nasceu em 1798 e veio a falecer em 1857.

Para Comte, uma sensibilidade aliada ao amor transbordava em seus estudos ao ponto de sugerir a fundação de uma religião universal, considerando tanto os vivos quanto os mortos, haja vista que estes fizeram parte do mundo e deixaram seus legados. Chamava a sociedade de “o grande ser”.
Sua sociologia se baseou em um estudo na mudança dos corpos orgânicos —porque estes são vivos— e sociais. Foi o criador do positivismo, no qual projetava um pensamento do futuro baseado no passado. Colocado em uma fórmula, o positivismo poderia ser descrito como o amor aliado à inteligência mais a ação. O símbolo positivista era uma bandeira trazendo como figura central uma mulher.

O filósofo Auguste Comte
O filósofo Auguste Comte - Wikimedia Commons

Para criar suas obras, utilizou-se de esclarecimento, romantismo, racionalismo, empirismo, naturalismo (como o natural versus a história), desenvolvimentismo, holismo e relativismo. Seu lema, imortalizado, era “o amor por princípio, a ordem como base e o progresso como fim”. Percebia uma humanidade inserida em um todo e não apenas em uma sociedade, tendo, então, uma visão totalizante desta.

E aqui abro um parêntese sobre o amoroso Comte: apesar de pregar o amor, era contra qualquer tipo de emancipação feminina. Defendia que a igualdade dos sexos era incompatível e chamava a mulher de “sexo amante”, sendo o único exemplo de amor e devoção. Rompeu relações com seu amigo John Stuart Mill por conta de discordâncias em relação ao assunto. Mas isso já é outra história...

O lema de Comte foi parar em um dos grandes emblemas nacionais, atualmente tão desacreditado: nossa bandeira. Símbolo positivista brasileiro, possui a inscrição “Ordem e Progresso”, mas sem o “amor”. E, longe da ligação com o amor e do positivismo imaginado por Comte, sua criação se deu em meio à Guerra do Paraguai, sendo recentemente aproveitada como slogan em um governo após a retirada da presidenta Dilma Rousseff (PT) da cadeira do Executivo. Imagino como estaria Comte ao ver suas belas palavras e ensinamentos sendo utilizados não da forma como criou.

Lendo Comte, em meio a tantas desgraças, devemos acreditar que, com amor, muito luto e muita luta, poderemos trabalhar para atingir uma sociedade menos desigual. A sociedade atual vive em meio a um caos social, sanitário, econômico e ambiental, onde o ódio prevalece em diferentes tipos de pessoas.

Pessoas matam e morrem por conta do ódio disfarçado de liberdade de expressão. Estamos morrendo não apenas por um vírus letal, mas pela nossa insistência em acreditar que haverá um “normal”. Não haverá. Vidas se foram. Relações sucumbiram. Empregos sumiram. A fome voltou. E as pestes, também. Por isso, lembrar Auguste Comte neste momento me faz pensar: precisamos resgatar o amor o mais rápido possível. Antes que seja tarde demais...

23 julho 2020

Leonardo Biscaia: carta à Folha de S. Paulo, sobre o Positivismo

O texto abaixo consiste em uma carta que o positivista curitibano, médico e sociólogo Leonardo Biscaia escreveu para a redação do jornal Folha de S. Paulo. 

O documento inteiro deve ser lido, mas talvez a parte que melhor resume o argumento é o terceiro parágrafo: 
"De modo geral, a FSP e seus articulistas adotam uma postura “crítica” aliando a condenação a condutas imorais ou ilegais aos padrões morais que sustentam organicamente as mesmas condutas imorais e ilegais condenadas. Em outras palavras, a FSP não admite crimes ao mesmo tempo em que recusam sistemas morais que condenam os crimes."

A crítica de Biscaia é contra a parcialidade pueril e criminosa desse jornal "crítico", "progressista" e "plural" contra o Positivismo, mesmo a despeito de esse jornal ceder colunas semanais ou mensais para conservadores, humoristas, autoritários, adolescentes engajados e muitos outros tipos discutíveis, além de para pessoas um pouco mais sensatas.

*   *   *


Curitiba, 21 de julho de 2020.

   
Sou leitor e assinante da Folha de S. Paulo há praticamente 30 anos, desde que estudava para o vestibular, e tenho-a lido durante o meu mestrado em Saúde Pública e o meu doutorado em Sociologia. Por isso, tenho tranquilidade para fazer os comentários abaixo.

Há muito tempo ficou claro que a FSP tem uma linha editorial típica mas não exclusivamente de esquerda, embora, de vez em quando, dê espaço para autores alinhados à direita (como era o caso da coluna de Roberto Campos).

De modo geral, a FSP e seus articulistas adotam uma postura “crítica” aliando a condenação a condutas imorais ou ilegais aos padrões morais que sustentam organicamente as mesmas condutas imorais e ilegais condenadas. Em outras palavras, a FSP não admite crimes ao mesmo tempo em que recusam sistemas morais que condenam os crimes.

Falando claramente, quando se trata do Positivismo, filosofia criada pelo francês Augusto Comte (1798-1857), o quadro descrito acima é exercido com a máxima intensidade. Além disso, a FSP usa a figura do filósofo como trampolim para suas posições, quaisquer que sejam, alegando que Augusto Comte e o Positivismo seriam “reacionários”, “moralistas”, “conservadores”, “autoritários” e por aí vai. Está claro que tais epítetos não se aplicam ao catolicismo, ao budismo ou a qualquer outra filosofia ou religião. Artigos redigidos por “juristas” católicos, francamente conservadores e muitas vezes reacionários, são publicados várias vezes por ano pela FSP. Monjas budistas têm espaço garantido para tratar dos mais variados assuntos. Sociólogos marxistas opinam sobre o momento político atual.

Na maioria dos casos, a FSP e seus articulistas usam uma versão altamente deturpada e caricata da extensa obra comtiana. Assim, “positivismo” é tudo o que o autor do texto quer criticar, a despeito da coerência com o pensamento de Augusto Comte (caso muito bem exemplificado por um artigo escrito por um matemático há algumas semanas). A tolerância, o pacifismo, a defesa e promoção dos direitos das mulheres, a defesa dos animais, a defesa do meio ambiente, o combate ao racismo e à discriminação, tudo isso é negligenciado em prol de uma atitude “crítica”.

Por outro lado, a FSP veda o acesso de representantes do Positivismo às suas páginas, mesmo que sejam acadêmicos sérios. Ao invés disso, prefere “dar voz” a pessoas que defendem o racismo reverso, sustentam suas posições morais em deus ou apenas são pessoas que estão em evidência, por serem humoristas, terem sido demitidos de redes de televisão ou serem filósofos que usam tênis e falam “a língua dos jovens”.

Já é hora de a FSP abrir-se realmente para o debate sério de ideias, sem medo de incluir autores injustamente condenados e considerados malditos.

Por fim, o Positivismo é o alvo preferencial dos fascistas que tomaram o poder; assim, a FSP deveria, no mínimo, permitir que positivistas manifestem-se a respeito. 

Atenciosamente,


Leonardo Biscaia
Médico
Doutor em Sociologia – UFPR
Mestre em Saúde Pública – Fiocruz

16 novembro 2015

Folha de S. Paulo: matéria sobre Igreja Positivista de Porto Alegre

No dia 15 de novembro de 2015 tivemos uma dupla boa notícia: por um lado, comemorou-se a Proclamação da República (1889); por outro lado, a Folha de S. Paulo estampou uma bela matéria sobre a Igreja Positivista de Porto Alegre (cujo original pode ser lido aqui).

Adicionalmente, é motivo de alegria o fato de que a matéria evitou lugares-comuns, não caiu no recurso fácil da ironia e foi fiel às corretas observações de Guardião Érlon Jacques. A única exceção a isso foi o comentário presente logo no título - comentário aliás tolo, desnecessário e incorreto - de que a Religião da Humanidade é uma "religião da ciência".

O texto está reproduzido logo abaixo. A versão eletrônica, que é a que reproduzimos, difere da versão impressa pela disponibilidade de fotos e gráficos animados.

*   *   *

Porto Alegre tem único templo ativo de 'igreja da ciência'

Ouvir o texto
PUBLICIDADE
O único templo da Igreja Positivista em funcionamento no mundo abre suas portas de madeira pintadas de verde todos os domingos, das 10h às 13h, em Porto Alegre.
Um mestre guardião é responsável pelas chaves do lugar, que é mantido com o apoio de sete apóstolos e cerca de 30 confrades assíduos -os simpatizantes chegam a centenas, segundo ele.
A fama do lugar é internacional: o sociólogo Michel Maffesoli, conhecido por tratados sobre a pós-modernidade, esteve ali três vezes.
O prédio foi inaugurado em 1928 e tombado pelo patrimônio estadual em 2010. A planta arquitetônica segue o projeto do filósofo francês Auguste Comte (1798-1857), propagador do positivismo.
A doutrina inspirou movimentos políticos no mundo todo. No Brasil, a proclamação da República é seu principal fruto. A bandeira nacional sintetiza o positivismo com os dizeres "ordem e progresso". Na fachada do prédio gaúcho lê-se o lema original de Comte: "O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim".
No Rio de Janeiro há um templo mais antigo, fechado. Em Curitiba, positivistas se reúnem numa sala comercial.
O positivismo é uma filosofia, mas gerou uma religião elaborada por Comte: ele descreveu como seriam o templo, os ritos e os símbolos.
"Comte concluiu que toda filosofia e sociologia à disposição do homem não bastavam para mudar a sociedade, e viu que a religião tinha esse poder. É utópica a nossa doutrina", afirma Erlon Jacques de Oliveira, atual guardião.
Oliveira, que é músico e adotou o positivismo há 15 anos, assumiu o posto depois que o antigo guardião, o empresário Afrânio Capelli, se "transformou", em 2013.
"Os positivistas não usam a palavra morte. Usamos a palavra 'transformação'", diz Oliveira. Depois vem a "incorporação", um ritual póstumo realizado após sete anos em que as cinzas do positivista são jogadas no "bosque sagrado", uma incorporação simbólica à humanidade.
"O lugar fica atrás do templo. Avaliamos em uma cerimônia se a vida do confrade foi convergente ou divergente", diz Oliveira. Os convergentes tiveram vida exemplar, enquanto os divergentes podem ter cometido atos de corrupção, por exemplo, e não são incorporados.
Templo positivista
RITUAIS E SÍMBOLOS
Na infância, Oliveira passava diante do templo quando ia ao parque da Redenção, a poucos metros dali, com o pai. O portão de ferro com a inscrição "Os vivos são sempre e cada vez mais necessariamente governados pelos mortos" assustava o garoto.
"Pensava que era coisa de fantasma. Hoje entendo que serve até como filtro, para afastar místicos", afirma.
O positivismo tem como dogma a ciência e o conhecimento. Nada que não possa ser "comprovado", como espíritos, por exemplo, é propagado. "Comte criou uma religião com dogma sempre atualizado", diz o guardião.
Os degraus da escada do templo têm inscrições que simbolizam a evolução da humanidade, objetivo da doutrina. O altar é adornado com bustos de "grandes homens" que representam áreas do conhecimento, como Gutenberg (indústria) e Arquimedes (ciência antiga).
O positivismo tem calendário próprio, com 13 meses. O marco zero é o ano de 1789, ano da Revolução Francesa.
Em um culto do mês de Descartes do ano 226 do calendário positivista, ou seja, em outubro de 2015, Oliveira falou sobre o "poder da internet, tanto para a informação como para a alienação". Os temas são sempre debatidos em grupo e buscam divulgar o conhecimento "clássico".
Para o futuro, os planos são realizar os ritos estabelecidos por Comte. "Já realizamos o fúnebre, agora vamos celebrar casamentos e batizados", revela Oliveira. 
Ouvir o texto

Livraria da Folha