No dia 17 de Gutenberg de 169 (29.8.2023) realizamos nossa prédica positiva, em que demos continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua oitava conferência, dedicada à filosofia das ciências superiores (Sociologia e Moral).
Em seguida, apresentamos algumas considerações sobre os nove sacramentos positivos.
A prédica foi transmitida em nossos canais: Positivismo (aqui: https://ury1.com/G4kjX) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/72rZ5). O sermão sobre os sacramento pode ser visto a partir de 49' 56".
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Sacramentos positivos
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Os sacramentos positivos integram o culto privado
o No
Catecismo positivista, os sacramentos
são apresentados e comentados na “Quarta conferência”
o Os
sacramentos estabelecem a particularidade do culto privado, distinguindo-o do
culto íntimo e do culto público, ao mesmo tempo que estabelece a ligação entre
estes dois cultos
o Assim,
os sacramentos são privados em seu objeto e públicos em sua liturgia
o Por
outro lado, eles constituem a sanção pública para as fases das vidas dos
indivíduos
§ Assim,
os sacramentos positivos são, acima de tudo, ritos de passagem
-
Os ritos de passagem são momentos
importantíssimos na vida coletiva e individual de todas as sociedades
o Eles
regulam a vida dos indivíduos, indicando que eles deixam para trás determinadas
situações e ingressam em outras
o Nessa
passagem há a substituição de deveres e prerrogativas, bem como a acumulação
com outros pré-existentes
o Então,
por um lado, elas correspondem ao reconhecimento público de que os indivíduos
avançam em suas vidas e, com isso, cumprem suas responsabilidades e, por outro
lado, elas correspondem aos indivíduos reconhecendo essa passagem e
efetivamente assumindo suas responsabilidades
o Assim,
convém notar que os sacramentos são importantes não apenas para a sociedade,
mas também para os indivíduos, que, com eles, têm consciência e clareza do que
se espera deles em cada fase de sua vida e, com isso, têm também o apoio da
coletividade para isso
o Embora
evidentemente a idéia de “religião positiva” não se resuma aos sacramentos, fica
bastante claro o sentido dessa concepção a partir dos sacramentos: um sistema geral de regulação da vida
humana, pública e privada, coletiva e individual, nos três âmbitos da
existência humana (afetivo, intelectual e prático)
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No Ocidente, o duplo movimento moderno, iniciado
após a Idade Média, foi extremamente eficiente em destruir essas marcações
sociais e etárias do desenvolvimento individual; o Positivismo institui os
sacramentos em bases humanas, históricas, morais e racionais
o Muitas
pessoas rejeitam a noção de sacramentos a partir de preconceitos metafísicos
anticlericalistas, confundindo os sacramentos positivos (e os sacramentos em
geral) com os sacramentos especificamente teológicos (em particular católicos)
o Outro
motivo para a recusa aos sacramentos, vinculado ao anterior (ainda que
indiretamente), mas diferente dele, é o mais puro individualismo, a noção de
que a vida de cada é problema só de si mesmo e que não compete a mais ninguém
tratar dela
§ Daí,
aliás, surge a espantosa concepção de liberdade como ausência de laços, de
vínculos, ou seja, a liberdade como a mais completa atomização social – o que,
além de impraticável e irracional, é profundamente imoral
§ Uma
digressão: é exatamente esse raciocínio imoral e irracional que fundamenta a
degradante campanha que a classe média brasileira, a partir do exemplo de sua
homóloga estadunidense, promove há duas décadas em favor do consumo das
chamadas “drogas recreativas”
o Evidentemente,
ao recusarem os sacramentos, tais indivíduos prejudicam-se de várias maneiras:
ao pautarem-se por preconceitos metafísicos; ao recusarem a regulação do avanço
de suas próprias vidas; ao recusarem o explícito apoio coletivo ao cumprimento
de suas responsabilidades
o Mas,
por outro lado, de maneira muito positiva e extremamente empírica, às vezes
inspirados por práticas fetichistas, reconhecendo o valor e a importância dos
ritos de passagem, muitos grupos humanistas realizam seus próprios sacramentos
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Antes de apresentar os sacramentos positivos, é
necessário indicar um aspecto essencial deles: eles são todos voluntários e de caráter moral
o O
aspecto moral e voluntário deles significa duas coisas:
§ Por
um lado, eles ocorrem paralelamente às obrigações legais (de caráter
obrigatório)
§ Por
outro lado, quem solicita os sacramentos positivos fá-lo porque reconhece a
validade desses sacramentos e, em particular, assume como seus os valores e as
concepções da Religião da Humanidade, ou seja, assume-se como positivista
religioso (isto é, ortodoxo)
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São nove os sacramentos positivos: (1) Apresentação; (2) Iniciação; (3) Admissão;
(4) Destinação; (5) Casamento; (6) Madureza; (7) Retiro; (8)
Transformação; (9) Incorporação
-
Apresentação (ao nascer)
o É
a consagração religiosa de cada nascimento, ou melhor, do nascimento de cada
novo futuro servidor da Humanidade; o pai e a mãe apresentam ao sacerdócio o
bebê e comprometem-se a votá-lo e a orientá-lo para o serviço da deusa real
o Indicação
de padrinhos sob aceitação do sacerdócio – basicamente espirituais mas, se for
o caso, também temporais
o Nomeação:
dois nomes, um teórico e outro prático, a partir dos servidores da Humanidade
§ Quando
da emancipação, o novo servidor escolherá um terceiro nome
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Iniciação (aos 14 anos)
o O
servidor passa da educação doméstica e espontânea, com a mãe, para a educação
pública e sistemática, com o sacerdote
o Até
então, o sacerdócio dirigia seus conselhos aos pais e aos padrinhos; a partir
de então, os conselhos são dirigidos diretamente ao servidor, em particular
para prevenir o coração contra os vícios morais e intelectuais próprios à
cultura teórica
o Este
sacramento pode ser adiado e, em casos excepcionais, recusado
o A
educação prática pode e deve ser concomitante a essa educação teórica
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Admissão (aos 21 anos)
o É
a emancipação da pessoa, em que ela torna-se um livre servidor da Humanidade,
começando então a retribuir tudo o que recebeu até então e o que recebe de
qualquer maneira
o Embora
esse sacramento indique a passagem da meninice (ou da infância) para a vida
adulta, nem sempre o servidor já terá definido sua profissão, ou sua carreira:
“Só ele pode decidir convenientemente sobre este assunto, em virtude de ensaios
livremente tentados e suficientemente prolongados” (Catecismo, “Quarta Conferência”, p. 132)
o No
caso das mulheres, os sacramentos da admissão, da destinação e do casamento
ocorrem aos 21 anos
-
Destinação (aos 28 anos)
o Consagração
inicial pública e religiosa de todas as ocupações úteis, públicas ou privadas,
por menores que sejam
o “É
o único sacramento suscetível de verdadeira renovação, sempre excepcional” (Catecismo, “Quarta Conferência”, p. 133)
-
Casamento (aos 28 anos para os homens, aos 21
anos para as mulheres)
o É
o principal sacramento e completa o
conjunto das preparações
o A função do casamento é o aperfeiçoamento
mútuo do casal
o Só
pode ocorrer após o sacramento da destinação, ou seja, após os 28 anos de idade
§ Augusto
Comte recomendava fortemente que a idade máxima de casamento para as mulheres
fosse 28 anos e para os homens fosse 35 anos
§ Augusto
Comte portanto também sugeria que a diferença de idade entre homens e mulheres
fosse de sete anos
o Baseia-se
na monogamia e, portanto exige o estabelecimento da viuvez eterna – a única
forma de consagrar e desenvolver efetivamente a vida subjetiva
o Ocorre
três meses após o casamento civil
o Um
mês antes do casamento civil, os nubentes juram manter a castidade durante o
trimestre que separa a cerimônia civil da religiosa
o Um
ano e meio após o falecimento de um dos cônjuges, o viúvo deve reafirmar sua
viuvez eterna
o Os
casamentos mistos são possíveis, desde que cumpridas algumas condições:
§ Deve
haver o compromisso formal de que não haverá tentativas de conversão durante o
casamento, em particular da parte da mulher sobre o homem
§ O
positivista participará passivamente da cerimônia não positivista
§ Inversamente,
o não positivista deve aceitar realizar o voto de viuvez eterna no Templo da
Humanidade
§ Os
ateus militantes e, de qualquer maneira, todos aqueles que rejeitam a regulação
da vida humana são proscritos do casamento positivista
o Cerimônias
positivistas de casais que se converteram ao Positivismo depois de casados só
podem ocorrer três anos após as cerimônias iniciais
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Madureza (aos 42 anos para os homens)
o Corresponde
ao início da segunda vida objetiva do servidor, a que realmente importa para a
imortalidade subjetiva
o “Durante
os 21 anos que o separam do sétimo [sacramento], o homem desenvolve sua segunda
vida objetiva, única decisiva para sua imortalidade subjetiva. Até então, a
nossa existência, essencialmente preparatória, naturalmente suscitou desvios,
algumas vezes graves, porém sempre reparáveis. Daí por diante, pelo contrário,
as nossas novas faltas não comportam quase nunca uma compensação suficiente,
seja exterior, [seja] mesmo interior. Importa, pois, impor de um modo solene ao
servidor da Humanidade a inflexível responsabilidade que vai começar para ele,
tendo especialmente em vista sua função própria, já plenamente apreciável” (Catecismo, “Quarta Conferência”, p.
135-136)
-
Retiro (aos 63 anos para os homens)
o Ocorre
quando o servidor da Humanidade deixa suas atribuições práticas
o Ao
realizar o retiro, o último ato prático do servidor consiste em indicar seu
sucessor em sua função
o Ao
retirar-se, o servidor substitui suas atividades práticas pelo aconselhamento,
ou seja, passa a colaborar com o poder Espiritual
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Transformação (ao falecer)
o É
a celebração da vida do morto: “Ele deve substituir a horrível cerimônia em que
o catolicismo, entregue sem freio ao seu caráter antissocial, arrancava
abertamente o moribundo a todos os afetos humanos, para o transportar isolado
ao tribunal celeste. Em nossa transformação, o sacerdócio, juntando os pêsames
da sociedade às lágrimas da família, aprecia dignamente o conjunto da
existência que termina” (Catecismo,
“Quarta Conferência”, p. 137)
o Pode
ocorrer em várias etapas: nos momentos finais da vida do servidor; durante o
velório; na celebração fúnebre três semanas após a morte
-
Incorporação (sete anos após a transformação)
o Consiste
na avaliação da vida do servidor, feita pelo sacerdócio; a partir dessa
avaliação, ocorre a decisão de se o servidor será ou não incorporado à
Humanidade, isto é, se será ou não objeto de culto sistemático
o Mais
que qualquer outro sacramento, este deve ser solicitado com a mais completa
liberdade pelo servidor, mesmo durante o sacramento da transformação; além
disso, a família deve confirmar o desejo em realizar esse sacramento
o No
quarto ano após a morte, o sacerdócio emitirá um juízo provisório
o A
avaliação sacerdotal deverá considerar não apenas a atividade objetiva e
subjetiva do servidor, mas também a contribuição da esposa, da mãe, das irmãs,
das filhas e também dos animais que o auxiliaram
§ As
mulheres também podem ser avaliadas
o Caso
o servidor seja de fato incorporado à Humanidade, seus restos mortais serão
levados para o Bosque Sagrado e homenageados com inscrições, bustos ou estátuas
o Caso
a incorporação seja recusada, o servidor em análise será levado para o (ou
permanecerá no) cemitério civil
o Os
supliciados (isto é, os condenados à morte), os suicidas e os duelistas devem
ser recusados