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15 maio 2025

Novos documentos positivistas no Internet Archive

Graças à colaboração de simpatizantes e adeptos do Positivismo (respectivamente Fernando Pita e Gabriel de Henrique), há pouco tivemos acesso a documentos digitalizados que foram em seguida inseridos no portal Internet Archive.

O total de documentos que carregamos desta vez é de onze, dos quais dez são publicações da Igreja e Apostolado Positivista do Brasil (com autoria de Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes). Os temas abordados são os mais variados: papel das mulheres, respeito aos trabalhadores, direito de greve, direito de ociosidade (ou melhor, de mendicância), anarquismo, Benjamin Constant e muitos outros. Todos esses temas são abordados conforme a Religião da Humanidade, com vistas à organização social e política republicana, nos termos da sociocracia.

Já o o último documento (na verdade, o primeiro da relação) é um livro de Mecânica Geral, escrito por José Eulálio da Silva Oliveira para cursos oficiais conforme a filosofia das ciências de Augusto Comte.



A relação de arquivos e de endereços é a seguinte:

-        José Eulálio da Silva Oliveira - Mecânica geral (1895): disponível aqui: https://archive.org/details/jose-eulalio-da-silva-oliveira-mecanica-geral

-        N. 54: Miguel Lemos e Teixeira Mendes – Liberdade espiritual e organização do trabalho (1888): disponível aqui: https://archive.org/details/n.-54-liberdade-espiritual-e-organizacao-do-trabalho-2a-ed.-fp

-        N. 57: Miguel Lemos – Repressão legal da ociosidade (1888): disponível aqui: https://archive.org/details/n.-57-repressao-legal-da-ociosidade-2a-ed.-fp

-        N. 83: Teixeira Mendes – Liberdade de profissões e serviço doméstico (1890): disponível aqui: https://archive.org/details/n.-83-liberdade-de-profissoes-e-servico-domestico-2a-ed.-fp

-        N. 232: Teixeira Mendes – Greves, ordem republicana e organização social (1906): disponível aqui: https://archive.org/details/n.-232-greves-ordem-republicana-e-organizacao-social-2a-ed.-fp

-        N. 269: Teixeira Mendes – Mais uma vez greves, ordem republicana e organização social (1908): disponível aqui: https://archive.org/details/n.-269-mais-uma-vez-greves-ordem-republicana-e-reorganizacao-social-2a-ed.-fp

-        N. 383: Teixeira Mendes – Positivismo, questão social e anarquismo (1915): disponível aqui: https://archive.org/details/n.-383-positivismo-questao-social-e-anarquismo-2a-ed.-fp

-        N. 392: Teixeira Mendes – Respeito necessário aos descendentes de indígenas e africanos (1915): disponível aqui: https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-descendentes-dos-indigenas-e-africanos-n.-392

-        N. 412: Teixeira Mendes – Despotismo médico, dignidade humana e as mulheres (1917): disponível aqui: https://archive.org/details/n.-412-despotismo-medico-dignidade-e-mulheres-2a-ed.-fp

-        N. 417: Teixeira Mendes – República, proletariado e situação da mulher (1917): disponível aqui: https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-republica-proletariado-e-mulher-n.-417

-        N. 532: Teixeira Mendes – Celebração de Benjamin Constant (1944, originalmente 1917): disponível aqui: https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-celebracao-de-benjamin-constant-n.-532

01 maio 2025

1º de Maio: Dia do Trabalhador

Homenagem da Igreja Positivista Virtual ao Proletariado - providência geral da Humanidade - no Dia do Trabalhador.




13 abril 2022

Curso livre de política positiva: roteiro da 6ª sessão

Reproduzo abaixo o roteiro da sexta sessão do Curso livre de política positiva, ocorrida no dia 12 de abril, transmitida no canal Positivismo (disponível aqui: https://www.youtube.com/watch?v=VqRwEO_ceFwou no próprio canal Apostolado Positivista (disponível aqui: https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=1133634754156936). Nessa seção, abordei a teoria positiva da propriedade; também lembrei os conceitos em língua inglesa para a "política" (polity, policy e politics).

*   *   *

Súmula

Sociologia Estática IV: teoria da propriedade: origem e destinação sociais, gestão individual; luta de classes.

 

Roteiro

-        Pequena diferenciação: conceitos de “política”:

o   Politics: é a política do dia a dia; uma forma um pouco negativa de entendê-la é traduzido por “politicagem” (embora essa expressão seja excessivamente negativa para a palavra politics)

o   Policy: são as políticas públicas executadas pelo Estado

o   Polity: é a organização social, política e econômica em grandes linhas, baseada nos valores compartilhados à é este o sentido básico da “política positiva”

-        Propriedade:

o   Diferentes tipos de capitais, isto é, de materiais produzidos e transmitidos pela Humanidade

§  Capitais material, artístico-intelectual e moral

o   A propriedade consiste na base material da sociedade

§  Ela corresponde à realidade do mundo e da objetividade

§  Uma outra forma de expressar essa idéia é indicar que é a realidade satisfeita pela propriedade que exige a ciência (para conhecer o mundo) e afirma o egoísmo

·         A partir dessa conexão entre realidade material, egoísmo e ciência, Augusto Comte propõe uma belíssima imagem: se não tivéssemos que lidar com a realidade material, o ser humano seria sempre direta e totalmente altruísta e dedicar-se-ia apenas à expressão artística

o   A propriedade enquanto tal sempre existe (privada ou coletiva)

§  Diferentes modos de gestão da propriedade: desde originariamente coletiva até atualmente individual

§  A teologia e a metafísica são incapazes de abarcar a realidade material da sociedade; portanto, são incapazes de solucionar seus problemas

o   Responsabilidades concomitantes dos gestores do capital:

§  Manutenção e aumento dos tipos de capital

§  Satisfação das necessidades sociais

o   Origem e destinação sociais, mas gestão individual:

§  Base da noção político-moral da “responsabilidade social”

§  “O capital é social em sua origem e deve sê-lo em sua destinação”

o   Formas de transmissão do capital:

§  Ordem decrescente de dignidade: Paz: dádiva, troca, herança; guerra: conquista

o   Vinculação estreita com o trabalho

·         Riqueza: força concentrada

·         Trabalho: força dispersa

o   Divisão entre o patriciado e o proletariado

§  Patriciado:

·         Gestores individuais do capital coletivo

·         Grosso modo são os ricos, mas com uma atuação moral, intelectual e socialmente regenerada

·         Submetem-se à avaliação pública tanto em termos de resultados obtidos quanto, antes, de projetos propostos

·         Tipos de patrícios: bancário, comercial, industrial, agrícola

§  Proletariado:

·         São os trabalhadores

·         Emancipação paulatina dos trabalhadores (e das mulheres): escravos na Antigüidade, servos na Idade Média, trabalhadores livres na modernidade

·         Tipos de proletários:

o   por um lado, há uma correspondência com os tipos de patrícios: bancário, comercial, industrial, agrícola

o   por outro lado, há os tipos religiosos: ativo, afetivo, contemplativo, passivo

§  Necessidade de concurso entre o patriciado e o proletariado

·         Augusto Comte critica duramente a burguesia francesa de sua época, afirmando que ela era mesquinha, ou seja, egoísta e estreita

·         Obrigação dos patrícios de pagar salários decentes e de gerar empregos também decentes para todos os proletários

·         Caráter instrumental da luta de classes

o   Positivismo como “conservador” devido à sua rejeição da luta de classes como um conceito moral: afirmação teoricamente errada, politicamente irresponsável e moralmente patológica

o   Salário:

§  O trabalho é sempre gratuito e o salário corresponde à reposição do consumo de capital

§  O salário tem que ser suficiente para a satisfação das necessidades familiares (família proletária de sete membros, dona do próprio imóvel, incluindo alimentação, transporte, educação, saúde e lazer)

Curso livre de política positiva: vídeo da 6ª sessão

No dia 12 de abril ocorreu a sexta sessão do Curso livre de política positiva, com transmissão ao vivo no canal do Facebook Apostolado Positivista: Facebook.com/ApostoladoPositivista.

Nessa sessão apresentamos, no âmbito da Sociologia Estática de Augusto Comte, a teoria da propriedade.

O vídeo pode ser visto no canal Positivismo (disponível aqui: https://www.youtube.com/watch?v=VqRwEO_ceFw) ou no próprio canal Apostolado Positivista (disponível aqui: https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=1133634754156936).

A programação completa do Curso pode ser vista aqui.

17 maio 2021

Reflexões sobre um evento com marxistas ortodoxos

Há alguns dias eu participei de um debate à distância sobre “classes sociais no Brasil contemporâneo”.

A minha participação consistiu em afirmar que é necessário usarmos o conceito de classes sociais nas sociedades industriais, na medida em que as clivagens básicas dessas sociedades dão-se em termos de riqueza, ou seja, de classes sociais; todavia, é necessário deixar de lado o aspecto sublevador e destruidor – revolucionário, em uma palavra – que o marxismo associou a esse conceito. Ao mesmo tempo, para combater os particularismos tanto proletário do marxismo quanto, de modo mais atual, das propostas identitárias, é necessário retomar-se o conceito de república, com seu universalismo da cidadania.

Depois de mim apresentaram dois professores marxistas – bem entendido, marxistas ortodoxos. E aí eu fiquei espantado ao constatar como o marxismo pode ser extremamente sedutor e eficiente em termos retóricos.

A moralidade marxista é simplista e tende ao maniqueísmo (isso quando não é diretamente maniqueísta): o proletariado é bom mas é explorado, a burguesia é má e é exploradora. A sua promessa de solução dos problemas sociais oferece uma enorme esperança e sua “radicalidade” baseia-se também no seu simplismo maniqueísta, adicionando um elemento mágico: quando a luta de classes acirrar-se tanto e a tal ponto que ocorra uma revolução proletária universal, todos os conflitos sociais acabarão de uma vez por todas, a malvada burguesia exploradora deixará de existir e o proletariado deixará de sofrer e de ser explorado e poderá viver em paz e com dignidade.

É realmente espantoso que esse simplismo convença as pessoas. É claro que ele convence também porque, aparentemente, oferece “soluções” para os problemas que a maior parte das pessoas sofre; ou melhor, o marxismo oferece uma crítica moral, disfarçada de análise sociológica, que parece sugerir soluções para os problemas. Creio que é aí que reside muito da sedução marxista.

Mas, como observei, tudo isso é simplista e maniqueísta. Em termos individuais, isso nega, isso rejeita a noção de responsabilidade individual; ou melhor, reduz a responsabilidade individual ao maniqueísmo básico: ou ajuda o proletariado e revolução universal ou ajuda a burguesia, a dominação e a exploração.

Além disso, esse maniqueísmo afirma um universalismo proletário que nega a realidade dos países, das nações. Esse universalismo de classes ignora fatos básicos e acarretou conseqüências terríveis: por um lado, a lealdade nacional é um dos elementos mais básicos e mais fortes que une entre si os indivíduos nas sociedades; por outro lado, esse mesmo universalismo de classe provocou ou estimulou ou justificou, no início do século XX, violentas reações nacionalistas; além disso, o universalismo de classes sempre foi utilizado como desculpa para a manipulação internacional dos proletariados nacionais; por fim, as revoluções comunistas ocorreram ao redor do mundo com objetivos nacionalistas, muito mais que internacionalistas.

Mas o presente início do século XXI indica que existem vários outros problemas adicionais na crítica do internacionalismo de classes às lealdades nacionais, baseada no maniqueísmo marxista. Por um lado, por mais que se diga que o “capitalismo” – esse conceito profundamente metafísico – é internacional, o fato é que as disputas entre os países ocorrem em bases nacionais, não internacionais. Por outro lado, após a II Guerra Mundial o mundo organizou um sistema coletivo internacional de gerenciamento das crises políticas; um sistema imperfeito, não há dúvida, mas que minora muitos dos defeitos do anterior sistema baseado exclusivamente nos nacionalismos e em suas rivalidades mútuas; entretanto, como esse sistema coletivo surgido após 1945 não é proletário e, portanto, é burguês, esse sistema é visto como intrinsecamente ruim.

Além disso, as duas críticas acima reforçam por um lado uma perspectiva sociológica e moralmente particularista e, por outro lado, minam os esforços coletivos de coordenação dos assuntos internacionais: isso integra e/ou faz par, de pleno direito, ao particularismo nacionalista e identitário que elegeu Donald Trump como Presidente dos EUA, bem como inúmeros demagogos de extrema-direita mundo afora.

Por fim, considerando uma perspectiva um pouco diferente, o maniqueísmo marxista e seu universalismo proletário negam a possibilidade de projetos nacionais legítimos de desenvolvimento nacional, em que a responsabilidade pessoal esteja direcionada de verdade para o bem-estar coletivo (nacional e internacional) e para a melhoria das relações sociais. Em particular, a atual pandemia exige uma coordenação internacional, mas ela está sendo enfrentada em termos nacionais, o que é inescapável diga-se passagem; além disso, esse enfrentamento evidencia a importância de estados nacionais ativos, fortes, articulados e capazes de implementar com eficiência políticas públicas – no caso do Brasil, por meio do SUS e do Programa Nacional de Imunizações. Nada disso teria lugar ou é justificado pelo maniqueísmo marxista e por seu rasteiro universalismo proletário.

No evento de que participei, como o objetivo não era um expositor criticar as perspectivas dos outros, não me manifestei a respeito dessa série inacreditável de sofismas e simplismos morais, sociológicos, históricos e filosóficos. Mas, ao mesmo tempo, fico pensando em como seria difícil expor oralmente, em alguns minutos, essa série de raciocínios que expus por escrito acima.

Enfim, mais uma vez registro meu espanto: o público que assistia às nossas exposições era composto por jovens estudantes universitários, todos eles devidamente burgueses mas, ao mesmo tempo, muitos deles piamente convencidos desses sofismas marxistas.

(Cá entre nós, não é à toa que o atual Presidente do Brasil tem uma base fiel e fanática: são discursos igualmente superficiais, simplistas, maniqueístas, adotados por pessoas ávidas de discursos desse tipo. A diferença entre uns e outros nem ao menos é de classe social, mas de “âmbito”: como observei, o marxismo afirma-se internacionalista, ao passo que o atual “nacional-populismo”, ou (neo)fascismo, é resolutamente nacionalista e anti-internacionalista.)

22 dezembro 2020

Roteiro da exposição sobre o décimo-terceiro mês dos calendários positivistas (Bichat e Proletariado)

O vídeo do roteiro abaixo se encontra disponível aqui.


*   *   *


Roteiro da exposição sobre o décimo-terceiro mês dos calendários positivistas

 

Parte I – Mês concreto: Bichat

 



-        13º e último mês do calendário positivista concreto

o   Considerando o ano júlio-gregoriano de 2020 (ano bissexto), o mês de Bichat começa em 2 de dezembro e termina em 29 de dezembro

§  Após o décimo-terceiro mês, há dois dias complementares:

§  Festa Geral dos Mortos (30 de dezembro)

§  Festa das Mulheres Santas (31 de dezembro)

o   O décimo-terceiro mês concreto representa a ciência moderna

§  É o sexto mês da modernidade

§  Após os meses da Antigüidade e da Idade Média, a modernidade apresenta-se com seus seis meses (Dante, Gutenberg, Shakespeare, Descartes, Frederico, Bichat)

-        A ciência integra o que Augusto Comte chamava de “duplo movimento moderno”, isto é, de decomposição rápida (da teologia e do sobrenaturalismo, isto é, da síntese absoluta) e composição lenta (da ciência e naturalismo, isto é, da síntese relativa)

o   Enquanto a síntese absoluta ficou exausta já no término da Idade Média e foi destruída com as pesquisas de Copérnico e de Kepler (século XV) (e a respectiva ordem social foi posta abaixo na Revolução Francesa), a síntese relativa precisava percorrer toda a escala enciclopédica, não apenas para estender a todas as ordens de fenômenos o dogma das leis naturais, mas também para permitir que a Sociologia e a Moral constituídas exercessem seu papel de coordenação sobre o conjunto da existência humana (incluindo aí as ciências inferiores)

o   As bases da Matemática e da Astronomia foram lançadas na Antigüidade, bem como várias observações importantes mas mais ou menos dispersas das outras ciências (especialmente Biologia, Sociologia e Moral), da Física em diante as ciências constituíram-se apenas na modernidade: a Física com Galileu e Newton, a Química com Lavoisier, a Biologia com Bichat, Gall e Broussais – e, claro, a Sociologia e a Moral com Augusto Comte

o   A ciência tem uma importância pelo menos tripla para a Religião da Humanidade:

§  seu conjunto estabelece o dogma fundamental do Positivismo, que é o da realidade baseada nas leis naturais --> isso é o fundamento do relativismo

§  explica os vários fenômenos quaisquer --> a partir daí, rejeita-se a possibilidade de uma única grande lei explicativa do mundo (como seria a gravitação), pois os fenômenos são variados e as sete categorias fundamentais são irredutíveis umas às outras

§  Para Comte, uma ciência é um conjunto de princípios, leis, reflexões e métodos ao redor de um tipo de fenômenos; assim, há a possibilidade de aumentar-se ou diminuir-se a quantidade de “ciências”: as sete ciências fundamentais correspondem à quantidade mínima, irredutível, de ciências

§  O princípio fundamental do Positivismo, em relação às várias ciências, é que os fenômenos mais nobres são subordinados aos mais grosseiros

§  aplicações práticas, ou tecnologia, ou artes práticas, de que as duas primeiras são a Moral Prática (pedagogia e psicologia clínica) e a política

o   A ciência, portanto, é a base da síntese relativa; entretanto, a Religião da Humanidade não se limita à ciência, isto é, o Positivismo não é um cientificismo:

§  a ciência entregue a si mesma é dispersiva, ou seja, tende a considerar que suas investigações são importantes por si mesmas, independentemente de ou mesmo desprezando qualquer aplicação teórica ou prática à isso se baseia em um absolutismo objetivista, que considera que somente o que importa é a “realidade”, desprezando-se as necessidades humanas (portanto, subjetivas) e as nossas possibilidades de atuação

§  além disso, a ciência acarreta dois problemas morais: estimula o orgulho e a vaidade e seca o coração

o   A reunião desses dois problemas resulta em que a ciência é ambígua: embora ela seja necessária para a síntese relativa, entregue a si mesma ela torna-se contrária ao relativismo, rejeitando a disciplina moral e dando continuidade ao absolutismo e ao objetivismo

§  É devido a esses motivos que Augusto Comte afirmava, já em 1851, que a própria ciência é tão provisória quanto a teologia e a metafísica e, portanto, que deve ser tão ultrapassada quanto as duas modalidades anteriores de pensamento

§  A lei dos três estados seria, portanto, uma lei dos quatro estados, em que a ciência dividir-se-ia em estado científico (analítico) e em estado científico filosófico (sintético)

§  Teixeira Mendes observava que a lei dos três estados pode (e deve) ser entendida como a passagem do absolutismo para o relativismo

-        A importância de Bichat para a síntese positiva (isto é, subjetiva e relativista) está em que ele propôs a teoria positiva da vida, como sendo a troca permanente e dinâmica entre o organismo e o meio ambiente; além disso, ele afirmava que os seres vivos provêm dos próprios seres vivos

o   A obra de Bichat opunha-se às concepções mecanicistas (de Boerhaave, para quem a Biologia é redutível à Química) e às espiritualistas (de Stahl, para quem a vida ocorre devido a espíritos sobrenaturais)

o   A afirmação das leis biológicas põe por terra as pretensões de sínteses objetivistas (baseadas em particular na Física), ao mesmo tempo que a Biologia constitui a transição natural e necessária para as ciências superiores (Sociologia e Moral)

-        O mês e as semanas do mês de Bichat correspondem ao seguinte:

o   Bichat – é o fundador da teoria positiva da vida, que foi um passo fundamental para a constituição da síntese relativista e subjetiva

o   Galileu – corresponde à Física moderna

o   Newton – corresponde ao cálculo, que é o complemento da Física, da Astronomia e a parte superior da Matemática

o   Lavoisier – corresponde à Química moderna

o   Gall – corresponde à Biologia moderna e, em particular, às pesquisas que indicam que a “alma” consiste no conjunto das funções cerebrais

 

Parte II – Mês abstrato: o proletariado (providência geral)

-        O décimo-terceiro mês do calendário positivista abstrato celebra o proletariado, responsável pela providência geral

o   O proletariado deve ser entendido, por um lado, em estreita relação com o patriciado e, por outro lado, com seus vínculos com o sacerdócio (ao qual está associado com as mulheres)

§  A vinculação do proletariado com o patriciado está em que ambos são os responsáveis pela geração, manutenção e transmissão da riqueza; enquanto o patriciado corresponde ao poder concentrado, o proletariado corresponde ao poder disperso (e, portanto, a sua força vem de sua associação coletiva)

§  A vinculação do proletariado com o sacerdócio vem de seu papel fiscalizador do poder – seja do poder político, seja do poder econômico, seja mesmo do poder de aconselhamento do sacerdócio

§  O proletariado não é em si mesmo “ativo” no sentido que se dá ao governo e aos patrícios, mas é claro que em suas atividades profissionais e em seu papel fiscalizador ele é ativo, embora de uma forma diferente: fiscalizar não é o mesmo que realizar e/ou comandar

o   O proletariado deve corresponder ao conjunto da sociedade, devido ao seu peso numérico; a massa da classe média deve ser incorporada ao proletariado, enquanto a elite da classe média deve ser incorporada ao patriciado

§  A condição proletária do proletariado não deve implicar miséria nem propriamente pobreza à estão em questão aí as condições mínimas de vida (e não somente de sobrevida) e de dignidade

§  Os proletários têm que receber salários que lhes permitam viver com dignidade, isto é, tendo suas próprias moradias (mesmo que estas sejam financiadas ao longo do tempo) e podendo sustentar suas famílias (esposa, filhos, pais)

§  Os proletários devem ser os donos de seus instrumentos de uso contínuo e seus salários devem ser compostos de duas partes, uma fixa e outra variável (correspondente à produtividade e aos méritos de cada trabalhador)

§  Enquanto os proletários devem respeitar os seus patrões, os patrões devem verdadeiramente proteger e cuidar de seus trabalhadores ("dedicação dos fortes para com os fracos, veneração dos fracos pelos fortes")

§  De maneira acessória, a luta de classes pode ser utilizada para que os proletários lembrem aos patrícios suas responsabilidades

-        São quatro as modalidades determinadas por nosso mestre na providência geral, com as respectivas festas semanais:

1)      Proletariado ativo – Festa dos inventores (Gutenberg, Colombo, Vaucanson, Watt, Montgolfier) – corresponde ao conjunto dos proletários, que são trabalhadores (isto é, servidores ativos da Humanidade)

2)      Proletariado afetivo – corresponde às mulheres proletárias, que são as companheiras populares dos proletários

3)      Proletariado contemplativo – corresponde aos proletários estéticos e/ou científicos que não integram o sacerdócio mas têm um pendor mais teórico que prático; são eles que realizam a fiscalização proletária do governo, do patriciado e do sacerdócio

4)      Proletariado passivo (S. Francisco de Assis) – corresponde aos mendigos (passageiros ou permanentes), que lamentavelmente nunca deixarão de existir mas que podem exercer importantes reações morais, intelectuais e práticas sobre todas as classes sociais

 

Parte III – Comemorações de aniversários e feriados cívicos

-        Em termos de aniversários, comemoramos neste mês as seguintes figuras:

o   Gombert-Alexandre Réthoré (1820-1892) – 19 de Bichat (20 de dezembro)

 




 

Referências bibliográficas

Augusto Comte: Sistema de filosofia positiva, Sistema de política positiva, Catecismo positivista, Síntese subjetiva

Frederic Harrison: O novo calendário dos grandes homens

Raimundo Teixeira Mendes: As últimas concepções de Augusto Comte

David Carneiro: História da Humanidade através dos seus grandes tipos, v. 6

Ângelo Torres: Calendário Filosófico

29 janeiro 2017

Dados e membros do Círculo de Proletários Positivistas

Uma entidade francesa chamada Comitê de Trabalhos Históricos e Científicos (Comité des Travaux Historiques et Scientifiques) realizou um interessante trabalho de arrolamento dos dados do Círculo de Proletários Positivistas, entidade criada em 1865, reunindo os proletários parisienses com objetivos políticos, intelectuais e morais, de acordo com as prescrições políticas feitas por Augusto Comte para o proletariado. Fundado por Fabien Magnin, foi levada a cabo depois por Isidore Finance. 

Os dados obtidos pelo CTHC seguem abaixo; eles incluem algumas categorias gerais, o endereço da instituição, o ano da fundação e os seus diversos membros. É um material interessantíssimo e riquíssimo.
*   *   *
Cercle des prolétaires positivistes
10, rue Monsieur le Prince
75006 Paris
Année de creation : 1865 ?
Présentation de la société :
F. Magnin, ouvrier menuisier, sensibilise le premier les positivistes sur la question du travail. Il appelle à la création d’un Mouvement prolétaire positiviste au début des années 1860, sans qu’aucun document n’établisse clairement la fondation d’un groupe. Laffitte atteste une première réunion d’un « groupe de prolétaires positivistes » autour de Magnin, premier président du Cercle, en 1865. On trouve la première trace concrète du Cercle dans une intervention du prolétaire positiviste Gabriel Mollin dans le courant de l’année 1869 au Congrès Ouvrier de Bâle, dans lequel il intervient « au nom du cercle des prolétaires positivistes de Paris », sans doute délégué par Magnin. Il semble que les prolétaires positivistes interviennent régulièrement au nom de ce Cercle entre 1872 et 1878 dans les congrès ouvriers et y soient très actifs. 
Magnin est alors désigné comme « Président du Cercle des prolétaires positivistes de Paris ». En 1878, sur l’initiative d’Isidore Finance et d’E. Laporte, le Cercle des prolétaires positivistes de Paris décide de créer en son sein un « Cercle d’études sociales des prolétaires positivistes », afin d’approfondir les solutions envisagées par le positivisme concernant les diverses questions sociales et de les faire connaître au public via les publications assurées par les délégations ouvrières. 
En octobre 1878, le Cercle des prolétaires positivistes délègue les pleins pouvoirs à Finance pour le représenter au Congrès ouvrier de Lyon, en lieu et place de Magnin, de plus en plus malade. Finance est alors président du cercle, E. Laporte en est le secrétaire et A. Keufer le trésorier.
Après la mort de Magnin en 1884, Finance décide de reconstituer le Cercle « sur de nouvelles bases ». La première réunion du Cercle a lieu le vendredi 25 septembre. Le cercle a pour but : « de mettre ses membres au courant (...) de tous les faits se rattachant directement aux rapports du capital et du travail ; ensuite, des principales études faites sur ce sujet par les différentes écoles socialistes et économistes. 2° De rechercher les solutions fournies par le Positivisme pour les questions sociales sur lesquelles l’attention générale est attirée, soit par les faits eux-mêmes, soit par l’action de la presse, soit par l’action gouvernementale ; 3° De porter à la connaissance du public les solutions positivistes au moyen de circulaires, brochures, affiches, pétitions, correspondances et délégations aux réunions ouvrières. » 
Pour être reçu comme membre du Cercle, le postulant doit adhérer sans réserve à la doctrine positiviste et estimer : « que les phénomènes sociaux et moraux sont soumis (...) à des lois naturelles qui sont indépendantes de toute volonté arbitraire, divine, royale ou populaire ». Les membres du Cercle doivent ainsi être émancipés de toute théologie et de toute idée métaphysique, suivant ainsi les préceptes d’Auguste Comte. Le Cercle n’admet en outre que les « ouvriers manuels et employés » et exclut ainsi les « marchandeurs et membres d’associations coopératives ». Il admet en tant que membres correspondants, des ouvriers « de la province et de l’étranger qui désirent être tenus au courant de ses travaux et y participer ».
Le Cercle est administré par un président, un vice-président, un secrétaire et un trésorier. Les réunions se déroulent le dernier samedi de chaque mois. En 1886, le Cercle compte 31 membres, 49 en 1887, 55 en 1888, au moment de son apogée. Bien qu’il ait eu des ramifications en Province (Lyon, Clermont-Ferrand, Le Havre notamment), il n’a jamais eu une grande envergure du fait de l’initiation préalable et obligatoire au positivisme pour les futurs adhérents. A l’époque de Magnin, le cercle était constitué uniquement de travailleurs manuels mais s’ouvre progressivement à partir de 1885. Le Cercle fonctionne comme un groupe de réflexion et de propositions essayant le plus possible d’être en phase avec les différents mouvements ouvriers des années 1880-1890. Après Finance (1884-95), c’est Auguste Keufer qui prend la direction du Cercle à partir de 1895. Ils ouvrent le Cercle vers les Internationales ouvrières.
Bien que participant à des congrès d’envergure comme ceux de Paris en 1889 et de Zurich en 1893, le Cercle se marginalise par son idéologie libérale et moralisante et son influence décline. Le Cercle établit tout de même des rapports annuels réguliers entre 1885 et 1900. Le Cercle semble alors cesser progressivement son activité (vers 1905).
Fiches prosopographiques : 
ALLEGRE Jules (1854-1891) - Membre (1887)
BESSOT Emile (1841-1891) - Membre en 1869.
BODIN Edmond (1860-1928) - Membre (1887)
BRECVILLE Félix (1851-1904) - Membre (1885)
BRIAS Eugène (1858-1911) - Membre (1885)
BRUHAY Auguste (1835-1912) - Membre (à partir de 1878); Trésorier (1885)
CLAIR Arsène (1859-1887) - Membre (1886-87)
COTARD Jules (1840-1889) - Membre honoraire
DELPEY Henri (1848- ) - Membre 
DESCHAMPS Paul (1857-1840) - Membre (1880)
FAGNOT François (1866-1939) - Membre (1890)
FINANCE Isidore (1848-1918) - Président (1885-1895)
FOUCART Paul (1848-1902) - Membre (1887)
GAZE Amable (1824-1882) - Membre (1879- ??)
GIMOT Pierre (1845-1904) - Membre (1878)
GRANJON Léopold (1845-1874) - Membre
KEUFER Auguste (1851-1924) - Membre (1878-1900), Trésorier (1878-1895) puis Président (1895-1900)
KIN Arsène (1822-1890) - Membre (1881-1890)
LAPORTE Emile (père) (1840-1890) - Membre (1870-1890)
MACHY Edouard (1858-1886) - Membre (1878-1886); secrétaire (1880)
MAGNIN Fabien (1810-1884) - Membre fondateur, Président (1865-1884)
MICHAULT Jules - Membre
MORLOT Eugène ( -1885) - Membre
PELLETAN Edouard (1854-1912) - Membre (1885)
PIERREDON (1859- ) - Membre (1885)
REHM Jules (1833-1907) - Membre (1880-1900)
RENY Emile (1841-1895) - Membre (1878)
ROBINET Gabriel (1849-1887) - Membre (1886-89)
ROUSSEAU Fernand (1860-1940) - membre (1890- 1900), secrétaire (1890-1900)
SAINT DOMINGUE Antoine (1845-1902) - Membre (1885)
SAINT DOMINGUE Jean-Baptiste (1854-1932) - Membre (1885)
TINAYRE Julien (1859-1923) - Membre (1885)