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20 agosto 2025

Leitura comentada do Apelo aos Conservadores

No dia 7 de Gutenberg de 171 (19.8.2025) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos Conservadores (em sua Primeira Parte - doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores).

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://youtube.com/live/EWwS3SLYY2Y) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://www.facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual/videos/632843339474394).

As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

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Leitura comentada do Apelo aos conservadores

(7 de Gutenberg de 171/19.8.2025) 

1.      Invocação inicial

2.      Exortações iniciais

2.1.   Sejamos altruístas!

2.2.   Façamos orações!

2.3.   Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

2.4.   Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

3.      Datas e celebrações:

3.1.   Dia 10 de Gutenberg (22.8): Live AOPcom Rafael Cardoso Sampaio

4.      Leitura comentada do Apelo aos conservadores

4.1.   Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

4.1.1.     O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

4.1.1.1.           O Apelo, então, é um apelo aos conservadores, não aos reacionários

4.1.1.2.           O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

4.1.1.3.           Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

4.2.   Outras observações:

4.2.1.     Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

4.2.2.     O capítulo em que estamos é a “Primeira Parte”, cujo subtítulo é “Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores”

4.3.   Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

5.      Exortações finais

5.1.   Sejamos altruístas!

5.2.   Façamos orações!

5.3.   Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

5.4.   Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

6.      Invocação final

 

Referências

- Augusto Comte (franc.), Sistema de filosofia positiva (Paris, Société Positiviste, 5e ed., 1893)

- Augusto Comte (franc.), Sistema de política positiva (Paris, L. Mathias, 1851-1854)

- Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores.

- Augusto Comte (port.), Catecismo positivista (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 4ª ed., 1934)

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), As últimas concepções de Augusto Comte (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-i e https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-ii.

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), O ano sem par (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1900): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-o-ano-sem-par-portug._202312/page/n7/mode/2up.

17 agosto 2025

Carta a um aspirante ao sacerdócio positivo

No dia 5 de Gutenberg de 171 (17.8.2025) realizamos uma prédica extraordinária, consistindo exclusivamente na leitura da apresentação pessoal realizada no final do mês de César deste ano. 

Com as devidas alterações, essa apresentação pode ser entendida como uma "carta a um aspirante ao sacerdócio positivo", cujo texto está reproduzido abaixo.

A prédica foi transmitida no canal Positivismo (aqui: https://www.youtube.com/live/BHdxB9CeVO0?si=uWvHXJ9D6S8fs386).

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Apresentação pessoal; ou carta a um aspirante ao sacerdócio da Humanidade 

O documento abaixo foi inicialmente redigido para exposição em uma prédica positiva realizada em 28 de César de 171 (20.5.2025)[1]. Desde o início planejamos elaborar a partir delas uma separata, fosse para divulgação do texto em si, fosse como roteiro de um vídeo curto unicamente dedicado à nossa apresentação pessoal.

Entretanto, em uma conversa pessoal que mantivemos com nosso amigo Hernani Gomes da Costa logo após a prédica, ele sugeriu que tal separata fosse chamada de “Carta a um aspirante ao sacerdócio da Humanidade”, na medida em que, na generosa apreciação de Hernani, nossa exposição, para além da apresentação propriamente pessoal, reúne e resume alguns dos mais importantes elementos necessários à preparação e à atuação do sacerdócio da Humanidade.

Dessa forma, a exposição inicial foi adaptada para transformar-se neste documento. Esperamos que os comentários abaixo correspondam à gentil e simpática apreciação de nosso amigo e que possam efetivamente ser úteis a todos aqueles que desejam trilhar o importante, honroso e árduo caminho do sacerdócio da Humanidade.

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Caras amigas, caros amigos, caras irmãs, caros irmãos na Humanidade:

Escrevo estas palavras com a esperança de que, a partir da minha experiência e considerando as exigências morais, intelectuais e práticas, seja mais fácil para vocês a orientação rumo ao sacerdócio da Humanidade.

Embora eu estude, defenda, divulgue e aplique o Positivismo há algumas décadas, faz somente alguns anos que realizo prédicas, em particular na internet; essas prédicas têm sido realizadas em diferentes modelos e creio ter um reconhecimento crescente de minhas atividades.

Desde o início eu parti do pressuposto de que, mais que por meio de títulos e pompas, a minha atuação deveria legitimar-se ao longo do tempo pela qualidade dessa atuação, na medida em que eu atuasse como um verdadeiro e efetivo poder Espiritual: assim, eu procuro realizar exposições claras, honestas, competentes, úteis, informativas, elaboradas com autonomia e responsabilidade, respeitando e valorizando o público.

Após alguns anos fazendo as prédicas, eu creio que convém agora fazer uma apresentação pessoal, para expor os parâmetros que eu adoto em minhas exposições. O objetivo, no fundo, é bem simples: é ganhar, ou reforçar, a confiança do público no sacerdócio, sendo que essa confiança tem que ser ao mesmo tempo no conjunto do sacerdócio e em cada um dos sacerdotes. Estes comentários assumem, portanto, ao mesmo tempo um aspecto de apresentação pessoal e também de prestação pública de contas, dentro do que nosso mestre advogava como sendo o “viver às claras”. De qualquer maneira, em termos de prestação de contas, esta exposição é complementar às “circulares anuais” que tenho elaborado para a Igreja Positivista Virtual, dando continuidade a uma prática iniciada por Augusto Comte e continuada pelos seguintes grandes sacerdotes e apóstolos da Humanidade, embora lamentavelmente interrompida nas últimas décadas pelos vários (supostos) órgãos do poder Espiritual positivo.

Antes de passar diretamente para a carta, uma última observação preliminar. Como é natural, nas prédicas eu costumo usar a primeira pessoa do plural (o “nós”), seja na forma do plural modéstico, seja na forma do plural majestático; mas, como esta carta consiste em uma apresentação e uma justificativa pessoais, nesta exposição eu usarei a primeira pessoa do singular (o “eu”).

Então, vamos lá. Eu sou Gustavo Biscaia de Lacerda; sou sacerdote da Religião da Humanidade e Diretor e fundador da Igreja Positivista Virtual. Sou sacerdote da Humanidade porque sou oficiante da Religião da Humanidade; além disso, sou apóstolo da Humanidade, pois sou difusor da Religião da Humanidade; nas duas situações, minha preocupação, minha pretensão é a de ser um órgão do poder Espiritual positivo.

Para cumprir essas atribuições, procuro seguir as orientações da Igreja e Apostolado Positivista do Brasil, conforme as disposições de 1881 (na época da fundação da IPB) e os Expedientes de 1917/1927 (estabelecidos nas transformações de Miguel Lemos e R. Teixeira Mendes), que, por sua vez, basearam-se nas orientações de Augusto Comte. Ainda assim, é claro que as disposições que adoto consideram a história do Positivismo, ou seja, as inúmeras experiências concretas do Positivismo, bem como a situação moral, social e intelectual em que vivemos atualmente.

Procuro filiar-me à tradição moral e prática estabelecida pela Igreja Positivista do Brasil: a tradição oral das práticas efetivas da IPB é importante, mas em última análise a mera repetição oral de tradições é insuficiente e tem que ser lastreada em documentos públicos, que assumem o aspecto de documentos escritos e publicados. Esses documentos, que realizam o “viver às claras”, garantem a realidade, a certeza e a clareza das informações e permitem que evitem e/ou resolvam ambiguidades, dificuldades, incertezas, além de oferecerem parâmetros para aplicação concreta do Positivismo.

Uma preocupação constante de minha atuação é com a “atualização” do Positivismo. Eu já dediquei algumas prédicas a esse tema; considero que atualizar o Positivismo consiste em adaptá-lo à realidade em que vivemos, utilizar os meios adequados e disponíveis à sua difusão e aplicá-lo à realidade concreta vivida pelos seres humanos. Há aspectos específicos da doutrina positivista que podem, e até devem, ser revistos, em face de desenvolvimentos posteriores às elaborações de Augusto Comte: entretanto, por um lado são aspectos muito pontuais (geralmente relativos a questões especificamente científicas) e, por outro lado e mais importante, o conjunto da obra de nosso mestre e a quase totalidade de suas concepções mantêm-se relativisticamente inalteradas, em particular em termos sociológico-morais, filosóficos, cultuais e de regime.

Em particular, eu rejeito a tendência, muito própria aos hábitos mentais contemporâneos – profundamente marcados pela metafísica e por sua criticidade destruidora –, segundo os quais a “atualização” do Positivismo na prática consistiria em “rever”, negar, desprezar a obra de Augusto Comte, sem nenhuma preocupação com relativismo, simpatia, organicidade e veneração. Esses hábitos mentais (mais uma vez: profundamente metafísicos) são particularmente ativos no jornalismo diário e nas academias, ambientes nos quais o novidadismo destruidor, antiorgânico e antissimpático apresenta-se como virtuoso e progressista; isso tudo com freqüência é esgrimido por pessoas que se aproximam do Positivismo mas desconhecem a doutrina e, em particular, não entendem seus sentimentos, suas idéias e suas preocupações práticas.

Voltando às diretrizes estabelecidas pela Igreja Positivista do Brasil e o respeito que tenho por elas. Eu tenho, por um lado, um respeito geral a essas diretrizes e um respeito à autoridade moral e espiritual – subjetiva – de Miguel Lemos e Teixeira Mendes; por outro lado, como órgão empírico da Religião da Humanidade, mantenho autonomia objetiva em minhas atividades e decisões. Dessa forma, em última análise, a responsabilidade por minhas ações é minha, sendo pessoal e intransferível. (O sacerdócio empírico é aquele que surge espontaneamente em algum lugar, a partir das necessidades sociais e das vocações individuais; o sacerdócio sistemático é aquele que se perpetua ao longo do tempo, que se constitui, prepara-se e legitima-se de acordo com os parâmetros positivos, especialmente os da hereditariedade sociocrática.)

A responsabilidade pessoal e intransferível pelas opiniões e ações do poder Espiritual é uma característica inerente a todos os servidores da Humanidade, quer sejam espirituais, quer sejam temporais; em qualquer caso, essa responsabilidade é condição e garantia da confiança depositada pelo público no servidor da Humanidade. Se isso é válido para qualquer servidor da Humanidade, é ainda mais válido para o sacerdócio positivo, cuja atuação baseia-se essencialmente na confiança depositada em si pelo público. Além disso, a responsabilidade pessoal e intransferível também se verifica na medida em que, conversando com outros positivistas, pedindo esclarecimentos e sugestões – em particular de nosso amigo de longa data, Hernani Gomes da Costa –, as opiniões expostas e as ações tomadas são sempre decididas e assumidas em última análise por mim. Isso não é personalismo, que seria incompatível com o altruísmo positivista, mas de responsabilização clara, consciente e pública do servidor da Humanidade por suas ações.

Nascido no ano 113 da era normal (1977), atualmente eu tenho 48 anos de idade e sou positivista desde os 16 anos; nasci e vivo em Curitiba, capital do Paraná; minha profissão é de sociólogo, que exerço na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Olhando para trás, posso dizer que, desde que conheci o Positivismo e mesmo antes, sempre me orientei para o sacerdócio da Humanidade, valorizando o conhecimento do ser humano, valorizando a moral e a moralidade, assim como valorizando o conhecimento positivo de modo geral. Em termos de carreira acadêmica e profissional, fiz graduação em Ciências Sociais (na UFPR), mestrado em Sociologia (na UFPR) e doutorado em Sociologia Política (na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)); também fiz um pós-doutorado em Teoria Política (na UFSC) e um em Filosofia das Ciências (na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)); desde 2004 sou sociólogo profissional na UFPR.

Eu sou (1) positivista (2) religioso e (3) sacerdote da Humanidade. Para mim, cada um desses aspectos significa o seguinte.

Como positivista, entendo que a obra de Augusto Comte é uma única, embora evidentemente ela tenha passado por diferentes fases, que correspondem a um longo, importante e necessário processo de amadurecimento moral e intelectual. Esse processo teve um ponto de inflexão particularmente importante durante o belo “ano sem par”, quando nosso mestre conheceu e apaixonou-se pela angélica Clotilde de Vaux, mulher de qualidades superiores, à altura do amor e da missão de nosso mestre. Isso culminou na criação da Religião da Humanidade, que, por seu turno, teve precisa e necessariamente como primeiro sacerdote – mas não único sacerdote – Augusto Comte. Em face da Religião da Humanidade, procuro ser um positivista completo, também chamado de “ortodoxo” ou, mais corretamente, de “religioso”, ao mesmo tempo em que me distancio dos positivistas incompletos, ou heterodoxos, que são meramente cientificistas e com freqüência anticlericais e/ou ateus.

Como positivista completo, ou ortodoxo, e ainda mais como sacerdote e apóstolo, procuro conhecer a obra de Augusto Comte diretamente na fonte, além de conhecer a obra de outros positivistas. É claro que “conhecer a obra” inclui não somente conhecer os livros canônicos (a Política positiva, o Catecismo positivista, a Síntese subjetiva etc.), mas também as cartas e as ações concretas (conforme expostas em relatos de discípulos, parentes e amigos) de Augusto Comte. De modo central, além de conhecer, é claro que também me esforço para aplicar essas concepções.

Sendo um positivista religioso e tendo a pretensão de ser um sacerdote e um apóstolo da Humanidade, não apenas correspondo à exigência intelectual fundamental – conhecer a obra de Augusto Comte e ser capaz de expor e explicar com autonomia e responsabilidade pessoal o Catecismo positivista e as últimas concepções de nosso mestre –, como também procuro cumprir as exigências morais, sociais e práticas correspondentes, em particular no sentido da separação entre os dois poderes. Sou (1) um apóstolo porque difundo a Religião da Humanidade e tenho conhecimento da doutrina; sou (2) um sacerdote porque atuo (ou procuro atuar) como um representante do poder Espiritual positivo e, além disso, ministro os sacramentos da Religião da Humanidade; em ambos os casos, (3) cumpro os requisitos exigidos para cada uma dessas atuações.

A minha condição de apóstolo e, principalmente, de sacerdote vincula-se também à necessidade urgente de reconstituição dos quadros positivistas, especialmente em termos práticos. A esse respeito, é necessário afirmar que a concepção de que só houve um único sacerdote da Humanidade – Augusto Comte –, sem a possibilidade de haver nenhum outro, embora em si mesma seja generosa, é uma concepção radicalmente equivocada, baseada em uma devoção mal orientada, ignorante da doutrina e daninha para a prática religiosa.

A reconstituição atual dos quadros positivistas é um objetivo real e ocorre de fato por diferentes meios. Para nossa felicidade, podemos dizer com segurança que não apenas a Igreja Positivista Virtual é uma realidade concreta como também o Templo Positivista de Porto Alegre é atuante e, além disso, há alguns anos fundou-se o Apostolado Positivista da Itália. Saímos, portanto, das angustiantes situações, vividas até algumas décadas atrás, em que não havia mais núcleos positivistas atuantes ou em que havia somente um único.

Também é fundamental lembrar e afirmar que não basta alguém querer ser líder espiritual apenas devido a uma pretensão de ser líder espiritual; a mera pretensão, se for uma pretensão vazia, baseia-se em vaidade e resulta em prepotência, enganos e equívocos. Embora a vaidade e o orgulho sejam motivadores até importantes e embora eles impressionem bastante os ignorantes e os incautos, eles são insuficientes como fundamentos para a vida sacerdotal/apostólica e, ao longo do tempo, como já tivemos inúmeras ocasiões de comprová-lo (no Brasil e em outros países), são desastrosos para o Positivismo. Para a liderança espiritual, é necessário conhecer a doutrina, praticá-la, viver conforme seus parâmetros, difundi-la e ser um exemplo dela; em outras palavras, realmente é necessário cumprir inúmeros requisitos morais, intelectuais, práticos e sociais.

Seja por temperamento, seja devido ao Positivismo, entendo os títulos e a pompa como formas que a vaidade mais tola e mais superficial tem para justificar-se e impor-se, especialmente quando essa vaidade é ignorante e sem méritos verdadeiros, ou seja, quando ela é vazia. Lembro que os sacerdotes, assim como os integrantes do poder Espiritual de modo geral, têm que ter uma certa vaidade, na medida em que a vaidade é o instinto egoísta que busca a aprovação alheia; mas as atividades sacerdotais não podem resumir-se a satisfazer essa vaidade, pois isso no final das contas tem como resultado a degradação da doutrina e do sacerdócio, muito mais que a degradação do próprio vaidoso. Da mesma forma, embora a pompa estimulada pela vaidade impressione bastante o comum das pessoas, ela resulta em apoios equívocos e equivocados. Dessa forma, nossa missão como poder Espiritual positivo consiste também em, por um lado, rejeitar a pompa, a vaidade vazia, a ignorância e, por outro lado, em valorizar a visão de conjunto, a existência real de atributos morais, intelectuais e práticos, a atuação social e individual efetiva.

Em vez de perseguir a satisfação da vaidade e/ou do orgulho, o poder Espiritual deve manter uma relação de responsabilidade, seja para com a Humanidade em geral, seja para a sociedade particular em que vive, seja para com os membros de sua igreja. Em outras palavras, em vez de o apóstolo e/ou o sacerdote buscar uma satisfação infantil ao ser ouvido e/ou obedecido pelos demais, o parâmetro que deve guiar a sua atuação é a responsabilidade decorrente da confiança depositada nele, como representante sistemático ou empírico da Humanidade, e que em termos concretos consiste em que o público que ouve o sacerdote e/ou apóstolo confia em seus conselhos e leva-os a sério.

Mudando um pouco de âmbito, passando para o da separação entre os dois poderes: não sou filiado a nenhum partido político; nunca concorri a nenhum cargo público eletivo; não pratico o jornalismo como profissão; não uso o Estado para difundir a doutrina. Essas restrições não têm nada de excepcionais e são elementares para o sacerdócio da Humanidade. Na verdade, considerando as exigências próprias a cada um dos dois poderes fundamentais (o poder Espiritual, que esclarece e aconselha, e o poder Temporal, que manda), tenho clareza de que quem pretende ser apóstolo da Humanidade (ou sacerdote de qualquer doutrina) não pode nunca concorrer a cargos e, inversamente, quem concorre não pode nunca ser apóstolo e/ou sacerdote. Além disso, não promovo outras doutrinas nem outras associações que possam concorrer, direta ou indiretamente, com o Positivismo. Na verdade, explicitamente rejeito qualquer ambigüidade a esse respeito: quando eu manifesto-me, procuro sempre deixar claro que é com base no Positivismo, quer seja em termos estritamente pessoais, quer seja quando falo em termos mais gerais.

O sofrimento não é mérito, mas às vezes ele pode evidenciar compromissos íntimos, especialmente por meio do martírio. Nesse sentido, a minha vinculação, a minha identificação e a minha vida conforme o Positivismo são suficientemente grandes e são atestadas por dificuldades e exclusões que sofri ao longo dos anos exatamente porque sou positivista. Um exemplo claro é a censura sofrida em concurso público para professor de Ciência Política na UFSC, em 2011, quando a banca, presidida por um liberal católico, proibiu-me de lecionar lá porque sou positivista – embora, em contraposição, feministas, marxistas, liberais, anarquistas etc. etc. tenham permissão para lecionar nas universidades públicas e para usar essas instituições como púlpitos em vez de cátedras. Vale notar que o uso que se faz das universidades como púlpitos e não como cátedras (1) despreza a separação entre o poder Espiritual e o poder Temporal, (2) confunde e degrada o poder Espiritual, (3) atrapalha, dificulta e, no limite, impede a reorganização espiritual e (4) justifica, mais uma vez, muitas das críticas de Augusto Comte às instituições acadêmicas. Além disso, com freqüência comento nas prédicas que o ambiente metafísico atualmente reinante na sociedade (ocidental) e na universidade gera equívocos e u’a mentalidade contrária ao Positivismo, que nos impede de falar, ao mesmo tempo em que se mente a nosso respeito e difundem-se doutrinas e “ideologias” daninhas à sociedade e ao ser humano.

Como é natural, os caminhos que levam ao Positivismo são muito variados; há quem chegue a ele pela filosofia, há quem chegue pela política, há quem chegue pelo coração, ou seja, pela inteligência, pela atividade prática e/ou pelos sentimentos. Conforme eu entendo a Religião da Humanidade, ela satisfaz e deve satisfazer cada um desses caminhos, ou melhor, cada um desses aspectos, ao mesmo tempo em que a Religião da Humanidade evidencia que os outros aspectos da vida humana também devem ser, necessariamente, satisfeitos.

O meu caminho foi basicamente intelectual e moral: adolescente, eu procurava uma orientação na vida, mas também me preocupava com a política. Chegando ao Positivismo, obtive essa orientação moral, intelectual e prática de que precisava; mas, para mim muito mais importante que isso, eu descobri e reconheci cada vez mais a importância do coração, que no fundo é o aspecto principal da Religião da Humanidade. Além disso, outros aspectos fundamentais do Positivismo – a afirmação da visão de conjunto e da realidade da totalidade humana – são concepções que cada vez mais aplico no conjunto da minha vida.

Como sacerdote e como apóstolo da Humanidade, entendo o aspecto de aconselhador do poder Espiritual: isso implica não somente que devo rejeitar a imposição das minhas crenças pelo Estado – bem como de qualquer outra crença –, mas que também devo ser um bom conselheiro para quem precisa de conselhos. Ora, o aconselhamento próprio ao poder Espiritual é coletivo – em termos políticos, sociais e morais – e também individual – em termos igualmente políticos, sociais e morais.

O aconselhamento coletivo dá-se por meio da apreciação de temas de interesse público e realiza-se na leitura comentada das obras de Augusto Comte, nos sermões das prédicas e quando elaboramos “manifestos” políticos e sociais. Já o aconselhamento privado ocorre tanto por meio das prédicas em geral – que, afinal, são vistas e acompanhadas por indivíduos – quanto por meio de aconselhamentos especificamente pessoais.

Se é verdade que os indivíduos só existem como abstrações, também é verdade que a Humanidade é um ser composto, que existe em última análise pelos indivíduos; da mesma forma, a ação sacerdotal modifica a sociedade também pela modificação dos indivíduos: não podemos deixar de lado o aconselhamento, o apoio, a valorização dos membros individuais de nossa igreja e, de modo mais amplo, da Humanidade. É importante eu notar que, enquanto eu preparei-me de modo especial ao longo de minha carreira em particular para o aconselhamento coletivo, o sacerdócio da Humanidade não pode nunca descuidar do aconselhamento individual: por esses motivos, e por muitos outros ainda, tenho-me dedicado cada vez mais a conhecer como lidar e como auxiliar de fato os indivíduos que acorrem ao Positivismo. A preocupação com o aconselhamento individual tem-se desenvolvido ao longo das prédicas, como resultado das interações ocorridas nas prédicas e também como resultado do amadurecimento de minhas atividades como sacerdote e apóstolo.

O último aspecto que quero comentar é que as prédicas têm evoluído ao longo do tempo. Minha atuação na Igreja Positivista Virtual dá-se basicamente pelas prédicas, que realizo toda terça-feira a partir das 19h, nos canais Positivismo (Youtube.com/ThePositivism) e Igreja Positivista Virtual (Facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual e Instagram.com/IgrejaPositivistaVirtual).

Quando eu iniciei as minhas prédicas à distância, já ocorriam nas manhãs de domingo as reuniões realizadas pelo Guardião do Templo Positivista de Porto Alegre, Érlon Jacques de Oliveira: com a especial e consciente preocupação de não o atrapalhar nem criar uma concorrência com ele – concorrência que seria desnecessária, desleal, contraproducente e antipositivista –, decidi realizar as minhas prédicas no meio da semana e à noite.

Sendo o progresso o desenvolvimento da ordem correspondente, creio que, aos poucos e cada vez mais, modifiquei e incrementei as prédicas, no sentido de torná-las mais sintéticas, mais orgânicas e mais simpáticas, ou seja, mais úteis, mais claras, mais interessantes, mais responsáveis e mais abertas ao diálogo. Esse progresso paulatino e incremental dá-se por meio de ajustes em meus procedimentos; no aumento de atividades; na diversificação das atividades; na mudanças de canais para transmissão; no estudo e no aperfeiçoamento das condições e das práticas de aconselhamento. O progresso paulatino e incremental também se dá, na medida de minhas possibilidades, por meio do estudo e da pesquisa sobre tudo quanto é dito e comentado nas prédicas, especialmente em termos de observações e dúvidas manifestadas pelo público; esse estudo é feito para que eu possa responder e comentar satisfatoriamente o que é dito pelo público e possa, portanto, aconselhar e orientar adequadamente.

Assim, sem pretender que o formato atual das prédicas seja excelente ou final, tenho certeza de que elas são hoje muito melhores do que eram no início – e isso não porque tenho agora maior desenvoltura na exposição, mas porque as prédicas estão melhor estruturadas, com mais elementos que indicam melhor o seu aspecto religioso e que satisfazem melhor as necessidades coletivas e as individuais.

Nesta carta eu comentei vários aspectos; a respeito de alguns eu aprofundei-me um pouco, a respeito de outros eu só fiz breves comentários; além disso, muitas outras questões não foram abordadas. O que eu abordei foi o que me pareceu – no momento em que redigi esta carta – mais relevante para apresentar as principais características e diretrizes da minha atuação como sacerdote e apóstolo da Religião da Humanidade. Alguns aspectos eu expus explicitamente, mas muitos outros eu deixo para que vocês, que têm interesse no sacerdócio positivo, procurem por si mesmos as indicações; é claro que as melhores exposições doutrinárias a respeito estão nas obras de Augusto Comte e de vários apóstolos da Humanidade (a começar pelos nossos Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes).

No final das contas, espero que esta carta tenha sido clara, útil e estimulante. 

Saúde e fraternidade, 

Gustavo Biscaia de Lacerda 

Curitiba, 5 de Gutenberg de 171 (17.8.2025).



[1] As anotações originais da prédica estão disponíveis aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/05/apresentacao-pessoal-formula-destinacao.html; já o vídeo dessa prédica pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/live/wE5V1Z59bV8?si=Pn5x9RyN69sYKKCx. Acesso em 21.5.2025.

13 agosto 2025

A ortodoxia positivista, mais uma vez

No dia 28 de Dante de 171 (12.8.2025) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Apelo aos conservadores (em sua Primeira Parte - Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores).

No sermão abordamos novamente a ortodoxia positivista e alguns dos problemas e das dificuldades enfrentadas quando se trata da ortodoxia.

Antes do sermão também se comentou a agressão que Donald Trump realiza contra o Brasil desde há alguns meses; esse comentário incluiu a leitura do artigo "Autonomia nacional, multilateralismo e prepotência fascista" (disponível aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/08/monitor-mercantil-autonomia-nacional.html).

A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://youtube.com/live/JqqJo3DW23A) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://www.facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual/videos/615064741679084).

As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.

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Mais uma vez a ortodoxia

(28.Dante.171/12.8.2025) 

1.      Invocação inicial

2.      Exortações iniciais

2.1.   Sejamos altruístas!

2.2.   Façamos orações!

2.3.   Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

2.4.   Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

3.      Datas e celebrações:

3.1.   Dia 26 de Dante (10.8): transformação de Miguel Lemos (1917 – 108 anos)

3.2.   Dia 27 de Dante (11.8): transformação de Luís Hildebrando Horta Barbosa (1973 – 52 anos)

3.3.   Dia 10 de Gutenberg (22.8): Live AOP com Rafael Cardoso Sampaio

4.      Comentário sobre a agressão internacional fascista de Donald Trump contra o Brasil

4.1.   A Religião da Humanidade é um poder espiritual, o que significa que atua por meio do aconselhamento

4.1.1.     Entre suas atribuições está o de apreciar os acontecimentos do dia-a-dia, indicando sua legitimidade ou sua falta de legitimidade

4.1.2.     Assim, não podemos deixar em silêncio as agressões reiteradas – que tudo indica que continuarão e piorarão nos próximos meses – contra nossa pátria e em violação sistemática dos supremos interesses da Humanidade, a partir de motivações retrógradas e militaristas, da parte do atual governo dos Estados Unidos

4.2.   Para sintetizar muito brevemente nossas perspectivas, leremos um artigo que publicamos no jornal carioca Monitor Mercantil em 27 de Dante de 171 (11.8.2025), intitulado “Autonomia nacional, multilateralismo e prepotência fascista” (disponível aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/08/monitor-mercantil-autonomia-nacional.html)

5.      Leitura comentada do Apelo aos conservadores

5.1.   Antes de mais nada, devemos recordar algumas considerações sobre o Apelo:

5.1.1.     O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas ou grupos, mas a um grupo específico: são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que Augusto Comte apela

5.1.1.1.           O Apelo, então, é um apelo aos conservadores, não aos reacionários

5.1.1.2.           O Apelo, portanto, adota uma linguagem e um formato adequados ao público a que se dirige

5.1.1.3.           Empregamos a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa, oposta à guerra

5.2.   Outras observações:

5.2.1.     Uma versão digitalizada da tradução brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores

5.2.2.     O capítulo em que estamos é a “Primeira Parte”, cujo subtítulo é “Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores”

5.3.   Passemos, então, à leitura comentada do Apelo aos conservadores!

6.      Sermão: mais uma vez, a ortodoxia positivista

6.1.   Em várias ocasiões anteriores abordamos a ortodoxia positivista; mais uma vez é necessário abordarmo-la, agora de maneira direta

6.1.1.     A noção da “ortodoxia positivista” por vezes dá ensejo a interpretações errôneas, a equívocos, a manipulações; em virtude desses problemas, com que nos defrontamos com triste freqüência, impõe-se a necessidade de tratarmos dela

6.1.2.     Assim, o que nos interessa aqui é (1) entendermos o que significa a “ortodoxia positivista” e (2) abordarmos algumas interpretações problemáticas ou simplesmente erradas do que significa essa ortodoxia

6.2.   O que é a ortodoxia positivista?

6.2.1.     A noção da ortodoxia positivista foi elaborada diretamente por Augusto Comte; está presente em suas obras, como nos prefácios do Sistema de política positiva, nas suas circulares anuais e também na correspondência

6.2.2.     A ortodoxia positivista consiste na aceitação integral da obra de Augusto Comte; isso significa basicamente aceitar e praticar a Religião da Humanidade

6.2.2.1.           Aceitar e praticar a Religião da Humanidade consiste em pelo menos três coisas: (1) por um lado, em reconhecer que a obra de Augusto Comte é a síntese maior e que qualquer tentativa de “corrigi-la” ou alterá-la em seus traços fundamentais é contrária à ortodoxia; (2) por outro lado, em conhecer de fato a obra de Augusto Comte, ou seja, sua letra e seu espírito, bem como as diversas aplicações da doutrina ao longo da história; (3) por fim, consiste em reconhecer e praticar a supremacia dos sentimentos, o papel subordinado da inteligência e da ciência e o afastamento do cientificismo e do academicismo

6.2.2.2.           Os positivistas ortodoxos são também chamados de positivistas completos; os chamados positivistas heterodoxos não são propriamente positivistas, sendo incompletos; os heterodoxos em quase todas as vezes são cientificistas, aceitando o Positivismo como filosofia em geral e como da ciência em particular, mas rejeitando a Religião da Humanidade, ou seja, o sistema geral de regulação da vida humana

6.2.3.     A noção de ortodoxia positivista, portanto, não tem nada a ver com fanatismo, intolerância, rigidez mental, resistência às mudanças, retrogradação, reacionarismo, “conservadorismo” etc.

6.2.3.1.           Tomada em um sentido comum, a expressão “ortodoxia positivista” pode ser altamente enganosa

6.2.4.     O que garante que a ortodoxia positivista não é rígida ou fanática? De modo muito simples e direto, a aplicação do relativismo e da simpatia, bem como da realidade, da utilidade e dos demais atributos da palavra “positivo”

6.2.4.1.           O relativismo, como se sabe, opõe-se ao absolutismo, ou seja, às concepções tomadas como indiscutíveis, como impassíveis de compreensão racional e de fundamentação empírica, como externas ao ser humano

6.2.4.2.           A simpatia estabelece que devemos buscar a convergência e também realizarmos a empatia; dessa forma, estar certo – embora sem dúvida seja importante – não é exatamente prioritário

6.2.4.3.           É claro que o relativismo e a simpatia requerem antes a realidade – o que falamos e pensamos tem que corresponder à realidade ou, pelo menos, não infringir as leis naturais – e a utilidade – o que falamos e pensamos tem que ser útil, o que também apóia o relativismo e a simpatia

6.2.4.4.           A rejeição do fanatismo na ortodoxia positivista é ilustrada exemplarmente pela máxima “inflexível a princípio, conciliante de fato

6.3.   Trataremos agora, brevemente, de alguns problemas, defeitos e más interpretações sobre a ortodoxia positivista – em outras palavras, de alguns desafios que a exposição da Religião da Humanidade enfrenta cotidianamente

6.3.1.     O sofisma do “positivismo ilustrado”

6.3.1.1.           A idéia do “positivismo ilustrado” foi disseminada pelos liberais conservadores brasileiros – a respeito de quem é importante indicar que muitos deles foram apoiadores do golpe militar de 1964 e do fascismo subjacente a ele –, como Antônio Paim, Roque Spencer Maciel de Barros e Ricardo Velez Rodriguez

6.3.1.2.           A idéia do “positivismo ilustrado” consiste no seguinte:

6.3.1.2.1.                O “ilustrado” é uma referência à “Ilustração”, ou seja, ao Iluminismo; com isso, embora os autores que defendam essa idéia sejam retrógrados e reacionários, eles opõem a Ilustração à escuridão do dogmatismo teológico

6.3.1.2.2.                O “positivismo ilustrado” seriam os positivistas heterodoxos, ou seja, as pessoas que foram somente influenciadas pelo Positivismo e aqueles que aceitaram apenas a interpretação cientificista do Positivismo

6.3.1.2.3.                A expressão “positivismo ilustrado” faz uma crítica enviesada aos positivistas ortodoxos, ou seja, aos adeptos da Religião da Humanidade, em particular a Miguel Lemos, Teixeira Mendes e à Igreja Positivista do Brasil, encarada pelos liberais conservadores como obscurantista

6.3.1.2.4.                Para os liberais conservadores, os bons positivistas, os “positivistas ilustrados” seriam os mais próximos do liberalismo, ou seja, do Estado limitado, da política vista como disputa eterna entre partidos que se sucedem, das eleições como mecanismo supremo de decisão política, do elitismo oligárquico, do parlamentarismo como regime político supremo, da alienação popular na condução da vida política e social etc.

6.3.1.3.           É impressionante constatar que a esquerda aderiu em massa a essa interpretação de má fé, como se pode ver nas obras de Sérgio Buarque de Holanda e de outros professores da Universidade de São Paulo (como Lelita Benoit, Paulo Arantes e Marilena Chauí)

6.3.2.     Ortodoxia vs. críticas dos ignorantes que não querem e não conseguem conhecer o Positivismo

6.3.2.1.           Há pessoas, às vezes infelizmente no interior do próprio Positivismo, às vezes alegadamente positivistas religiosos, que se põem contra a ortodoxia para justificar interpretações erradas, distorcidas, tolas

6.3.2.2.           No caso em que temos em mente, essas críticas à ortodoxia são ao mesmo tempo o instrumento e a justificativa não de concepções diferentes do que deveria ser o Positivismo, mas simples e diretamente da ignorância: nesse caso, a crítica à ortodoxia é a desculpa para a própria ignorância, para a incapacidade de conhecer – e, daí, de entender – o Positivismo

6.3.2.3.           Evidentemente, é melhor, mais honesto, mais nobre assumir a ignorância e pôr-se humildemente em uma digna submissão que, de maneira arrogante, fingir que conhece o Positivismo e criticar o que não conhece

6.3.3.     Ortodoxia vs. farisaísmo

6.3.3.1.           Quem acompanha as nossas prédicas sabe que dificilmente emprego expressões teológicas e muito menos bíblicas; entretanto, no presente caso a expressão “farisaísmo” é adequada

6.3.3.2.           O farisaísmo corresponde à hipocrisia, à exigência feita para os outros seguirem a ortodoxia mas que a própria pessoa que a exige não cumpre

6.3.3.2.1.                Aqueles que adotam o farisaísmo não são apenas aqueles que exigem dos outros, mas não para si mesmos, a ortodoxia; são também aqueles que exigem dos outros a ortodoxia mas que, eles mesmos, seguem os ignorantes, os apóstatas e também os hipócritas

6.3.3.3.           O farisaísmo corresponde, então, a uma atitude consciente; se for uma atitude inconsciente, pode tratar-se apenas de incoerência, devido à imaturidade da pessoa: a diferença em cada um dos casos está na má ou na boa fé da pessoa (além, claro, da maturidade pessoal)

6.3.4.     Ortodoxia vs. heterodoxia que busca “atualizações” e que afirma que a ortodoxia é “ultrapassada”

6.3.4.1.           Em diversas ocasiões comentamos que jovens aderentes consideram que o Positivismo tem que ser “atualizado”, sem conhecerem o que é o Positivismo e sem saber nem entender o que seria a sua “atualização”

6.3.4.2.           Essas críticas, feitas por pessoas de boa vontade mas desconhecedores do Positivismo, dirigem-se a tudo o que foi feito antes e, portanto, atingem em particular a ortodoxia

6.3.4.2.1.                Em conseqüência da crítica à ortodoxia e a “tudo o que veio antes”, de maneira consciente ou inconsciente há nessa postura um estímulo da heterodoxia, seja na forma do cientificismo, seja na do academicismo, seja na rejeição do relativismo, seja no estímulo a variadas metafísicas

6.3.4.2.2.                A ânsia por mudanças com freqüência ignora – em linha com a ignorância do Positivismo – que os humildes e sinceros esforços de imitar os grandes e elevados exemplos (morais, intelectuais, práticos) são exercícios muitos mais difíceis do que pode parecer à primeira vista

6.3.4.2.3.                Da mesma forma, a ânsia por mudanças com freqüência ignora – novamente em linha com a ignorância do Positivismo – que a ausência de parâmetros enseja sentimentos, concepções e práticas freqüentemente medíocres, inconsistentes e/ou prejudiciais

6.3.4.2.4.                Por fim, as máximas positivistas “só se destrói o que se substitui” e “conservar melhorando” dão os parâmetros do aperfeiçoamento, em que se conjugam as mudanças e as inovações com o respeito à história e à ortodoxia

6.3.4.3.           Há nessas críticas a concepção ingênua de que o que é “novo”, por ser “novo”, é bom e que quem é “jovem” (e/ou “novo”) sabe o que é mais adequado

6.3.4.4.           Trata-se, portanto, de um misto de boas e más qualidades: boa vontade e entusiasmo por um lado, ignorância, arrogância e espírito destruidor, por outro lado

6.3.5.     Ortodoxia vs. excesso de defesa do Positivismo

6.3.5.1.           Nos casos anteriores falamos de situações postas contra a ortodoxia; mas há um caso em que o problema é a seu favor: trata-se igualmente de uma dificuldade de entendimento do que é a ortodoxia, em que se adota uma postura de defesa excessiva do Positivismo

6.3.5.2.           Na verdade, não se trata propriamente de defesa excessiva do Positivismo, mas de sua aplicação inadequada

6.3.5.2.1.                Logo, trata-se mesmo de compreensão inadequada do que é a ortodoxia

6.3.5.3.           Esse é o caso em que se atribui a concepções não positivas, ou a concepções incompleta ou imperfeitamente positivas, o título de “heresias”

6.3.5.3.1.                Grosso modo, uma heresia é uma concepção que distorce ou corrompe a doutrina (dito de outra forma, trata-se das “heterodoxias”): de qualquer forma, é uma concepção que está ou que surge no âmbito da própria doutrina, não fora dela

6.3.5.3.2.                A heresia consiste em uma elaboração teórica contrária aos fundamentos da doutrinas; não consiste, portanto, nem em meras preferências pessoais e/ou em comentários mais ou menos isolados

6.3.5.4.           Ora, concepções elaboradas fora do Positivismo não podem ser consideradas heréticas apenas porque eventualmente não correspondem ao Positivismo: isso é falta de relativismo e de simpatia

6.3.5.4.1.                Nesses casos, o que se pode e deve fazer é apreciar o grau de positividade das concepções consideradas (em termos dos sete atributos da palavra positivos e/ou em termos de simpatia, síntese e sinergia)

6.3.5.5.           Esse problema, sem dúvida ocorrido com boa fé, consiste em um excesso de entusiasmo combinado com imaturidade pessoal, intelectual e prática

6.3.6.     Ortodoxia vs. heresias (heterodoxias)

6.3.6.1.           No item anterior fizemos referência a heresias: se, por um lado, concepções externas ao Positivismo não podem ser chamadas de heresias, as concepções surgidas no âmbito do Positivismo que se afastam, ou melhor, que negam a ortodoxia são, por definição, heréticas

6.3.6.2.           As heresias não consistem nas “atualizações” do Positivismo, considerando desenvolvimentos históricos, teóricos, afetivos, organizacionais, cultuais etc.; as heresias são mudanças profundas, que alteram ou, pior, negam a estrutura, a letra e o espírito do Positivismo

6.3.6.3.           Mesmo que eventualmente realizadas com boa fé, as heresias são sempre ruins e prejudicais, pois degradam as condições morais, intelectuais e práticas da positividade e assim, portanto, dificultam a ação da Humanidade e o aperfeiçoamento do ser humano

6.4.   Em suma:

6.4.1.     A ortodoxia positivista corresponde à aceitação, ao conhecimento e à prática do conjunto da obra de Augusto Comte e, em particular, à Religião da Humanidade

6.4.2.     Ao contrário do que o senso comum pode supor e do que muitos – de maneira interessada – afirmam, a ortodoxia positivista não é intolerante, fanática, rígida, indisposta à conversa, às demonstrações, às mudanças e aos aperfeiçoamentos etc.

6.4.2.1.           A flexibilidade da ortodoxia positivista baseia-se no relativismo e na simpatia, bem como na realidade, na utilidade e nos demais atributos da palavra “positivo” e é expressa com clareza na máxima “inflexível a princípio, conciliante de fato”

6.4.3.     Podemos determinar algumas dificuldades, problemas e equívocos na compreensão e na aplicação da ortodoxia positivista:

6.4.3.1.           O sofisma do “positivismo ilustrado”

6.4.3.2.           A crítica dos ignorantes contra a ortodoxia como forma de justificar a própria ignorância

6.4.3.3.           O farisaísmo

6.4.3.4.           A concepção de que a ortodoxia, por definição, é “velha” e “ultrapassada”

6.4.3.5.           A defesa excessiva do Positivismo

6.4.3.6.           As heresias, ou seja, as heterodoxias

7.      Exortações finais

7.1.   Sejamos altruístas!

7.2.   Façamos orações!

7.3.   Como Igreja Positivista Virtual, ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse

7.4.   Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)

8.      Invocação final

 

Referências

- Augusto Comte (franc.), Sistema de filosofia positiva (Paris, Société Positiviste, 5e ed., 1893)

- Augusto Comte (franc.), Sistema de política positiva (Paris, L. Mathias, 1851-1854)

- Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores.

- Augusto Comte (port.), Catecismo positivista (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 4ª ed., 1934)

- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), "Autonomia nacional, multilateralismo e prepotência fascista" (Monitor Mercantil, Rio de Janeiro, 11.8.2025): https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/08/monitor-mercantil-autonomia-nacional.html

- Gustavo Biscaia de Lacerda (port.), Prédica positiva “Sobre ‘comtismo’ e atualização do Positivismo” (Curitiba, 10.São Paulo.169/30.5.2023; disponível em: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2023/05/sobre-comtismo-e-atualizacao-do.html)

- Raimundo Teixeira Mendes (port.), O ano sem par (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1900): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-o-ano-sem-par-portug._202312/page/n7/mode/2up.