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14 dezembro 2022

Comentários sobre o progresso

No dia 11 de Bichat de 168 (13.12.2022) realizamos nossa prédica positiva. Após a leitura comentada do Catecismo Positivista (na Quarta Conferência do livro), fizemos alguns comentários sobre o conceito de "progresso", nas nossas reflexões semanais.

As anotações que serviram de base para esses comentários sobre o progresso estão reproduzidas abaixo. 

A exposição gravada ao vivo dos comentários sobre o progresso está disponível no canal Apostolado Positivista (aqui: https://www.facebook.com/ApostoladoPositivista/videos/1113142389387222) e no canal Positivismo (aqui: https://www.youtube.com/watch?v=NBIfoej-Ejs); no canal Apostolado Positivista, está a partir de 44' 25".

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Comentários sobre o progresso

 -        É importante ter clareza a respeito disto: estas anotações não procuram esgotar o tema

-        O conceito de progresso é um dos mais problemáticos atualmente

o   Durante muito tempo – digamos, desde o final do século XIX e todo o século XX – o progresso foi o principal valor social e político

§  O conteúdo específico do progresso era discutido, mas o valor em si, não

§  A afirmação do progresso podia ocorrer com sacrifício ou não da ordem

o   Neste início do século XXI, o progresso passou a ser rejeitado em nome da ordem, especialmente a partir de perspectivas conservadoras, reacionárias ou retrógradas

§  Em outras palavras, a partir deste século XXI muitos grupos passaram a adotar em relação ao progresso uma perspectiva inversa à que se manteve ao longo do século XX

-        Se ainda fosse necessário dizê-lo: a única filosofia social e política que afirma com todas as letras a necessidade e a possibilidade de conjugar a ordem e o progresso é o Positivismo

o   Dessa forma, embora todas as filosofias sociais e políticas que tratam do progresso abordem a ordem (implícita ou explicitamente), no caso do Positivismo essa referência dupla é obrigatória

o   Cabe lembrar que a divisa “Ordem e Progresso” é de caráter científico e político e é algumas décadas anterior à fórmula moral e religiosa “O amor por princípio...”

-        Para o Positivismo, e ao contrário das concepções teológicas ou metafísicas, tanto a ordem quanto o progresso têm conteúdos positivos, que devem ser afirmados, respeitados e valorizados

-        “O progresso é o desenvolvimento da ordem”

o   Inversamente, “a ordem é a consolidação do progresso”

o   A ordem tem que ser entendida como “arranjo”; aí, o progresso é o desenvolvimento dos elementos, das relações e da “lógica” própria a esse arranjo

§  A ordem a que se refere Augusto Comte e cujo desenvolvimento constitui o progresso não é a “ordem capitalista” (nem a “ordem eurocêntrica”, nem a “ordem patriarcal”): é a ordem própria à natureza humana

o   Assim, o progresso constitui em última análise no desenvolvimento pleno e simultâneo da características da natureza humana (sentimentos, inteligência, atividade)

o   A ordem corresponde à Sociologia Estática (a permanência, a consolidação) e o progresso, à Sociologia Dinâmica (a mudança, o desenvolvimento)

§  Mas não se pode cometer o grave equívoco de considerar que as mudanças em si constituem o progresso

·         Não é qualquer mudança que constitui o progresso

·         Da mesma forma, querer acelerar, sempre e cada vez mais, as mudanças, não é o mesmo que ser sempre e cada vez mais “progressista”

-        Como o progresso que deve corresponder à divisa “Ordem e Progresso” e à fórmula “O amor por princípio” refere-se ao conjunto da natureza humana, a noção de “harmonia” impõe-se e, a partir daí, também as concepções de “síntese”, de “consenso”, de “visão de conjunto” e daí, por extensão e definição, a de “religião”

o   O desenvolvimento contínuo tem por primado e motor a afetividade, isto é, o altruísmo (ou o amor); assim, o principal progresso é o moral; depois, é o intelectual; depois, é o físico; depois, é o material

o   Essa sequência de tipos de progresso – moral, intelectual, físico, material – indica a ordem de importância, de dignidade e de dificuldade (a sequência inversa indica a ordem de facilidade)

-        Fora do âmbito do Positivismo, em termos “populares” há uma associação entre o progresso e a noção de “igualdade”

o   Tal associação é proposta pela “esquerda” como um valor positivo

§  Vale notar que a “direita” também aceita essa associação, embora para criticá-la

§  Enquanto a esquerda de modo geral afirma o progresso (mas de maneira incoerente e irracional), a direita de modo geral rejeita o progresso (e também de maneira incoerente e irracional)

o   O conceito de progresso, aí, é ou indefinido ou é a expansão da “igualdade”

o   O conceito de progresso, aí, opõe-se radicalmente à noção de ordem (que, por sua vez, também é indefinida e/ou equivale a opressão política, exploração econômica e alienação moral)

o   Essa concepção de progresso, embora indefinida e/ou sinônima da “igualdade”, habitualmente é contraposta de maneira frontal à concepção positivista de progresso, que, por sua vez, é entendida pela esquerda (especialmente a marxista) como equivalente ao desenvolvimento do capitalismo

§  A má-fé marxista, além disso, afirma que a concepção positivista de progresso que estabelece antes de mais nada o progresso moral é uma concepção “ideológica” própria à “burguesia”, no sentido de que serviria apenas para iludir o proletariado e manter a opressão-exploração-alienação capitalista

§  A direita católica, reacionária e/ou ultraliberal rejeita o progresso e contrapõe a ele a noção de ordem, que, por sua vez, seria sempre estática

§  Para essas direitas, qualquer noção de progresso será sempre e necessariamente opressiva, exploradora e alienante

o   Por outro lado, a esquerda pós-moderna nega o progresso (assim como nega a racionalidade, a ciência, a objetividade etc.)

-        Apesar do que afirmam a direita e a esquerda, a noção de progresso não equivale à ampliação da noção de “igualdade”, nem mesmo, em rigor, à noção de liberdade

o   A noção de “igualdade” social é metafísica e tem um caráter destruidor; ela serve para destruir as instituições, as práticas e a ordem antiga, mas em si mesma é incapaz de criar qualquer coisa

§  Essa noção social de igualdade é de origem rousseauniana e foi retomada no século XIX pelo marxismo

o   As instituições, as práticas e as ordens supostamente criadas pela “igualdade” ou são instáveis (e autoritárias) ou, caso persistam e não sejam autoritárias, são inspiradas pela fraternidade e pelo altruísmo

§  As instituições criadas com o objetivo de estabelecer e manter a “igualdade” social e política resultam no autoritarismo, nas divisões e na ausência de “igualdade”

·         Para o Positivismo, a vinculação entre igualdade social e regimes liberticidas é necessária e não acidental

·         Além de liberticidas, os regimes que buscam criar e manter a igualdade social também, e não por acaso, buscam impor crenças oficiais (religião civil de Rousseau, marxismo nos países comunistas)

§  Apenas em duas situações é possível falar em “igualdade” no âmbito do Positivismo:

·         A igualdade perante a lei (a isonomia) e uma relativa igualdade de ensino são duas exceções à crítica positivista à igualdade

·         O disciplinamento social e moral da riqueza – com os aspectos correlatos de destinação social da riqueza; de responsabilidade individual e coletiva dos poderes sociais; de dignificação da pobreza – é algo que resulta no que se pode chamar, atualmente, de “eqüidade social”

o   A eqüidade social não se confunde, de maneira nenhuma, com a igualdade; mas, apesar disso, é esse o resultado concreto que se busca com as políticas públicas que, nominal, oficial e incoerentemente, afirmam realizar a “igualdade social”

·         Poderíamos atualmente acrescentar a essa lista as políticas sociais universalistas, como, no caso do Brasil, as políticas de seguridade social (saúde, desemprego, previdência social)

o   A liberdade em si mesma é a condição de realização do progresso; da mesma forma, ela é a condição da ordem

§  A liberdade tem que ser afirmada e respeitada, mas ela não pode ser entendida como um valor absoluto, pois, nesse caso, assumirá um caráter metafísico e meramente destrutivo ou de irresponsabilidade individual e coletiva (como no caso do liberalismo)

-        Para concluir, é importante reforçar e aplicar um aspecto: para o Positivismo, o progresso é o desenvolvimento da ordem:

o   Muitos dos aspectos julgados “progressistas” nos dias atuais deveriam ser encarados pura e simplesmente condições da ordem

§  Um ótimo exemplo de condições da ordem que, entretanto, são vistas como realização do progresso são os salários dignos

§  Essa confusão entre elementos da ordem e realização do progresso indica pelo menos duas coisas: (1) a confusão moral e intelectual prevalecente no mundo atual (em particular na direita e na esquerda) e (2) a degradação moral em que se encontra o mundo atual

o   O progresso que desrespeita a ordem não é progresso

§  Dois exemplos: (1) nos séculos XIX e XX os marxistas queriam, revolucionariamente, acabar com o Estado e a propriedade privada; (2) no século XXI, muitas propostas identitárias buscam desarticular a família

§  O “progresso” que desrespeita a ordem é sempre de caráter metafísico e, portanto, é destruidor e tem sempre em vista as instituições e as práticas absolutas de origem teológica

o   Como dizia Augusto Comte, mudanças rápidas (“revolucionárias”) nunca são profundas e, inversamente, mudanças profundas sempre são lentas

§  Forçar as mudanças sociais, especialmente no sentido de acelerá-las, com enorme freqüência torna essas mudanças instáveis e provoca reações sociais; para conter a instabilidade e as reações, o emprego da violência física (e, não raro, da censura) é necessário

§  Mudanças rápidas que se realizam sem grandes tensões e/ou sem grande instabilidade são mudanças que foram preparadas antes, com freqüência de maneira subterrânea