Este blogue é dedicado a apresentar e a discutir temas de Filosofia Social e Positivismo, o que inclui Sociologia e Política. Bem-vindo e boas leituras; aguardo seus comentários! Meu lattes: http://lattes.cnpq.br/7429958414421167. Pode-se reproduzir livremente as postagens, desde que citada a fonte.
11 abril 2024
Teixeira Bastos: Princípios de filosofia positiva
31 maio 2023
Sobre "comtismo" e atualização do Positivismo
No dia 10 de São Paulo de 169 (30.5.2023) fizemos nossa prédica positiva. Dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, iniciamos a sétima conferência, dedicada à filosofia das ciências naturais; na parte do sermão abordamos a expressão "comtismo" e o que pode significar a "atualização" do Positivismo.
A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui: https://l1nq.com/RRf9d) e Apostolado Positivista do Brasil (aqui: https://acesse.one/qWPWc). O sermão pode ser visto a partir de 53' 20".
* * *
Sobre “comtismo” e atualização do
Positivismo
- Uma das primeiras – ou, com freqüência, uma das únicas – observações feitas por quem não conhece o Positivismo e a Religião da Humanidade é que é necessário “atualizá-los”
o Vinculada a essa questão está a diferença entre “comtismo” e “Positivismo”
- Essas duas questões exigem alguns esclarecimentos e algumas reflexões
o Vale notar que os comentários que farei aqui são mais ou menos pessoais e que, evidentemente, estou aberto a reflexões posteriores
- Comecemos pela expressão “comtismo”:
o “Comtismo” é uma expressão que denotaria a filosofia específica a Augusto Comte
§ Está muito claro o sentido usualmente depreciativo dessa expressão, ao querer reduzir o “Positivismo” a um mero “comtismo”, ou seja, ao querer reduzir o Positivismo a uma série de idiossincrasias e supostas esquisitices de Augusto Comte
o Ao mesmo tempo em que reduz a obra de Augusto Comte a uma série de idiossincrasias, a expressão “comtismo” sugere que o “Positivismo” consiste em outras coisas que não a filosofia e a religião sistematizadas por A. Comte
§ Essa mudança de âmbito do Positivismo pode ocorrer com fins elogiosos ou depreciativos em relação especificamente ao Positivismo
o Augusto Comte rejeitava a denominação – na verdade, como vimos, redução e degradação – de sua obra como “comtismo”
§ Para Comte, a doutrina positivista é superior aos seus órgãos quaisquer e, portanto, superior a ele mesmo: só isso já bastaria para rejeitar o “comtismo”
§ Assim, Comte insistia em que o Positivismo – e a Religião da Humanidade – deve ser entendido como uma elaboração sistematizada por ele a partir dos materiais legados pela Humanidade e que, portanto, não poderia, como não pode, ser reduzida às suas particularidades pessoais
o Por outro lado, as referências a Augusto Comte, da parte dos positivistas, são constantes: não seria isso uma prova empírica do “comtismo”?
§ A resposta a essa pergunta é muito clara e direta: não, não é prova de “comtismo”
§ As referências que os positivistas fazem a Augusto Comte devem-se pelo menos a duas ordens de motivos:
· Por um lado, trata-se de uma referência inescapável, na medida em que Augusto Comte foi o fundador do Positivismo e da Religião da Humanidade; ele elaborou – ou melhor dizendo, ele sistematizou – a síntese positiva e, portanto, é evidente que se deve fazer referência a ele
· Por outro lado, trata-se de humildade, de reconhecimento da superioridade moral e intelectual de Augusto Comte e, assim, trata-se também da aplicação do princípio de que a “digna submissão é a base do aperfeiçoamento”
§ Em outras palavras, os positivistas referem-se com freqüência a Augusto Comte porque essa referência é inescapável e também porque se trata de homenageá-lo e reconhecer nele uma figura digna de emulação
o Também é importante lembrar que, a despeito da determinadas tendências academicistas, o único “positivismo” para nós é o Positivismo de Augusto Comte; os demais supostos “positivismos” são exageros, ampliações conceituais indevidas, aplicações de boa ou má fé etc.
- Mas, enfim, se o Positivismo não é meramente o "comtismo", o que diferencia uma coisa da outra na prática?
o Para os nossos presentes propósitos, a resposta mais clara e mais direta é esta: trata-se da capacidade de desenvolvimento, aplicação e atualização do Positivismo – afinal, trata-se de uma doutrina relativista
§ Isso suscita, naturalmente, a questão da “atualização” do Positivismo
o Além disso, de maneira mais profunda, considerando a relação de oposição complementar entre “amor” e “fé” (ou seja, entre afeições/atividades práticas e inteligência), o comtismo consiste no mero conhecimento da letra de Augusto Comte e de seus discípulos, ao passo que o Positivismo consiste em viver de fato a partir dos parâmetros da Religião da Humanidade
- Passemos, então, ao tema da “atualização” do Positivismo: “atualizar” pode significar na prática três ou quatro coisas:
o Aplicar a doutrina a questões atuais
o Desenvolver e complementar a doutrina em aspectos mais ou menos secundários
o Modificar os métodos de propaganda
o Modificar a doutrina
- Mas, antes de qualquer discussão efetiva sobre a atualização do Positivismo, temos que considerar diversos aspectos preliminares:
o Antes de mais nada, muitos dos que criticam a desatualização do Positivismo desejam apenas o criticar, sem contribuir com nada além da crítica
§ Geralmente são teológicos ou metafísicos
§ Com freqüência tais críticos fazem observações superficiais sobre aspectos secundários do Positivismo e são moralmente muito inferiores ao Positivismo
· Exemplo: Carl Sagan: em Cosmos ele critica longamente Augusto Comte (por este ser contra a análise espectrográfica das estrelas), ignorando de maneira mesquinha os elogios que Augusto Comte fez da Astronomia (aliás, em um livro de divulgação científica, a sua Astronomia popular); por outro lado, em O mundo assombrado pelos demônios, Carl Sagan afirma que o máximo da moralidade é a “regra de ouro” sugerida pelo protestantismo, em particular o prevalecente nos Estados Unidos: “não fazer aos outros o que não se deseja que se faça com você” é o cúmulo do egoísmo e a negação direta do altruísmo
o Basicamente, quem fala em “atualizar” o Positivismo não o conhece nem o entende
§ Se não conhece e não entende, não tem absolutamente nenhuma condição de avaliá-lo e, portanto, de sugerir qualquer alteração nele
· Quem não conhece a doutrina mas exige atualizações revela não apenas ignorância como também arrogância
§ É importante aqui destacar que o Positivismo implica, necessariamente, uma alteração de perspectiva
§ No âmbito do Positivismo não falamos em “iluminação”, em “revelação”, em “testemunho”; ainda assim, o adequado entendimento do Positivismo não é um processo total ou principalmente intelectual; é um processo afetivo que implica a mudança profunda e radical de como se entende a realidade: eu tenho usado a expressão “mudança de sensibilidade”
§ Essa mudança consiste na revalorização dos sentimentos, na substituição do absolutismo pelo relativismo e na aplicação geral da lógica positiva (sentimentos, imagens, sinais), com tudo o que isso implica
o O segundo aspecto preliminar que temos que ter em mente ao tratarmos da atualização do Positivismo é entendermos a partir de qual filosofia (e de qual síntese) fala-se disso e, ainda mais, em qual contexto social
§ Saber de qual filosofia (ou de qual síntese) fala-se em atualização importa porque as concepções de mundo, sobre a realidade, seus valores etc. são determinados ou influenciados por essa filosofia: há que se considerar se essa filosofia (ou essa síntese) é compatível com o Positivismo, se é relativista ou não, se afirma a visão de conjunto ou não, se reconhece o altruísmo ou não; ou, por outro lado, se é materialista ou não, se é espiritualista ou não, se é metafísica ou não etc.
§ O que vale para a filosofia adotada pelos indivíduos vale muito mais e de maneira mais central para a sociedade; afinal, os valores e as concepções difundidas e vigentes em uma determinada época e em um determinado lugar influenciam poderosamente a maneira como os indivíduos pensam, estabelecendo parâmetros, impondo limites etc.
o É necessário insistir nesta ideia: o contexto social mais amplo não é secundário; na verdade, ele faz toda a diferença
§ Os exemplos são inúmeros e variam conforme os períodos (ou seja, conforme os "contextos"); os exemplos que darei são todos do Brasil, mas poderiam ser estendidos a todos os países:
· Nas décadas de 1890 a 1930, o Positivismo era criticado (ou ridicularizado) por defender o proletariado, por defender a proteção social aos idosos, às mulheres, aos desamparados; por defender os índios; por defender o ambientalismo; por defender a atuação social do Estado (contra o liberalismo econômico)
· Nos anos 1930 e 1940 o Positivismo era criticado por ser a favor das garantias constitucionais, por ser a favor das liberdades, por ser a favor de reformas (e não de revoluções), por ser a favor do pacifismo (e não do militarismo), por ser a favor da concórdia entre as classes (e contra a luta de classes), por afirmar a visão de conjunto e também a atuação individual; por estar muito identificado com a I República
· Nos anos 1960 a 1980 o Positivismo era criticado por ser a favor da visão de conjunto e a favor da atuação individual; por defender as reformas (e não as revoluções); por defender a moderação (e não os extremos); por defender a racionalidade (contra o irracionalismo maoísta e contra o misticismo vinculado a drogas dos hippies); por defender a concórdia entre as classes (e não a luta de classes); por estarmos identificados equivocadamente com os militares e até certo ponto corretamente com a I República
§ Em cada uma das conjunturas indicadas acima se afirmou que o Positivismo estaria ou seria “desatualizado” e, por implicação, que o Positivismo deveria “atualizar-se” nos sentidos criticados
§ Caso os positivistas tivessem-se “atualizado” conforme essas conjunturas e as respectivas cobranças, o Positivismo ficaria descaracterizado e degradado
§ Em meio a todas essas modas político-intelectuais e apesar delas (ou contra elas), o Positivismo comprovou-se correto
o O atual contexto social é marcado, acima de tudo, pela metafísica e por seu espírito dissolvente, particularista, exclusivista, excludente – além de absolutista, academicista e/ou irracionalista: pós-modernismo, cientificismo academicista, identitarismo, tradicionalismo etc. etc.
§ Nesse contexto, a “atualização” do Positivismo consistiria em alterá-lo em direção à metafísica, ao seu absolutismo e ao seu espírito dissolvente: deveria ser claro que isso não seria “atualizar”, mas degradar
- Passemos aos sentidos possíveis de “atualizar”, começando pela aplicação da doutrina:
o Pode-se aplicar uma doutrina das mais diferentes maneiras
§ Podemos aplicar uma doutrina fazendo citações dela ou referindo-nos a seus autores: essa é uma forma bem superficial, basicamente intelectualista mas extremamente comum; na verdade, é o que mais ocorre
§ Podemos aplicar uma doutrina a partir de um conhecimento “médio”, nem superficial nem profundo; geralmente são intelectualistas e exigem uma certa simpatia; esse nível permite alguns desenvolvimentos, em particular intelectuais mas com certa freqüência formalistas
§ A aplicação a partir do conhecimento aprofundado é a mais difícil, pois exige tanto o conhecimento intelectual quanto a experiência “vital” da doutrina: é aí que a aplicação da doutrina torna-se mais rica, mais frutuosa e mais viva – e mais criativa
§ Assim, por si só, aplicar a doutrina é uma forma de atualizá-la
- A respeito da atualização como desenvolvimento ou complemento da doutrina:
o Deveria ser evidente (mas não é) que a atualização como desenvolvimento e/ou complemento exige tanto o conhecimento quanto a experiência subjetiva da doutrina, além do respeito e da simpatia pela figura do fundador (no caso, Augusto Comte), pelos seus discípulos sinceros e pela própria doutrina
o O conhecimento da doutrina já sugere desenvolvimentos ou complementos, seja a partir de indicações do fundador, seja por lacunas que a doutrina sugere existirem
o Conhecimentos ou movimentos sociopolíticos correntes podem sugerir ou inspirar alguns desenvolvimentos ou complementos na doutrina
§ Há uma condição fundamental para isso: esses desenvolvimentos ou complementos inspirados por novos conhecimentos ou outros movimentos têm que ser, evidentemente, coerentes e homogêneos com a doutrina
§ Também é importante lembrar que o método é superior à doutrina em si
o Com facilidade aceitamos que há vários aspectos do Positivismo que estão “desatualizados” e que podem, também com maior ou menor facilidade, ser “atualizados”
§ Um exemplo da política mundial: atualmente existe a ONU e, de maneira correlata, o colonialismo europeu, que dominava o mundo no século XIX, já não existe mais
§ Um exemplo da política nacional: após a II Guerra Mundial desenvolveu-se o Estado de bem-estar social
§ Um exemplo das ciências: a Informática é uma área que demanda incorporação na classificação das ciências (minha sugestão pessoal é que seja entendida como integrante da Filosofia Terceira, isto é, como tecnologia derivada da Matemática)
- No que se refere à atualização como mudança nos métodos de propaganda:
o Essa talvez seja a forma mais simples, mas não necessariamente mais fácil, de atualizar
o Ela consiste em usar dignamente todos os meios disponíveis, técnicos e sociais, para a propaganda
o Mas sempre é necessário ter-se clareza de que a forma interfere no conteúdo e vice-versa; assim, determinadas formas de comunicação podem degradar o conteúdo, bem como determinados conteúdos devem evitar alguns formatos
- No que se refere à atualização como mudança da doutrina:
o Com freqüência, quem reclama “atualização” do Positivismo (ou, por outra, quem critica sua “desatualização”) demanda a mudança da doutrina
§ Por “mudança da doutrina” eu entendo aqui a mudança no “núcleo duro” da doutrina (relativismo, historicismo, defesa do altruísmo, visão de conjunto, natureza humana tríplice, prevalência da continuidade humana sobre a solidariedade etc.)
o Uma coisa é realizar ajustes secundários maiores ou menores; outra coisa é propor a mudança de partes fundamentais da doutrina: estas mudanças fundamentais não são “atualizações”, mas são deformações
o Como indicamos antes, a atualização como mudança da doutrina geralmente é proposta por quem não conhece e nem entende o Positivismo e, de qualquer maneira, é proposta por quem considera que o espírito do tempo presente, daquele em que se vive, é o cume da moralidade e da inteligência humana
§ Nos dias atuais (início do século XXI), isso consiste em o Positivismo fazer concessões, maiores ou menores, aos identitarismos de esquerda, aos identitarismos de direita, aos autoritarismos de direita, aos autoritarismos de esquerda, ao pós-modernismo e/ou ao ultraliberalismo
Observações de Hernani Gomes da Costa para colaborar com este sermão, feitas em 29.5.2023
Algumas reflexões que me ocorreram sobre o seu sermão:
1)
“Devo
limitar aqui a apreciação do futuro e do presente pelo grau de precisão que
comportam os volumes precedentes nos estudos respectivos da ordem e do progresso.
Mas uma tal aproximação basta realmente a todas as necessidades atuais. Quando
a sucessão humana exigir regras mais especiais, a moral as instituirá segundo
uma sociologia mais desenvolvida, que poderá às vezes necessitar do
aperfeiçoamento prévio da biologia e mesmo da cosmologia” (Augusto Comte, Política
Positiva; Preâmbulo Geral, Tomo IV, p.8).
2)
O
fator tempo não pode funcionar como um critério absoluto capaz de determinar
por si só a validade de uma concepção.
3)
Diferenças
sutis entre as idéias de “novo” e de “atual”: nem tudo que é atual é novo e
vice-versa.
4)
Necessidade
do estabelecimento de critérios simultaneamente afetivos, intelectuais e
práticos para a plena caracterização do que possa constituir uma real
atualização da doutrina. Da mesma forma, necessidade de comparar essa
atualização com a dos aperfeiçoamentos de que são suscetíveis as imagens
subjetivas dos nossos entes queridos falecidos.
5)
Maior
simpatia, maior síntese e maior sinergia definem o perfil de uma verdadeira
atualização da doutrina.
6)
Na
caracterização de um aperfeiçoamento qualquer, o tempo designado como “presente”
precisa estar subordinado tanto ao passado quanto ao futuro, constituindo-se
assim como um verdadeiro intermediário de um e outro.
7)
É também
importante lembrar o papel das utopias como marcos referenciais para as
atualizações.
8)
É
importante lembrar que as maiores retrogradações, sobretudo práticas, sempre
reivindicaram para si o caráter de “modernidade”.
9)
A
morte prematura de Augusto Comte deixou a doutrina inacabada e necessitando de
uma inteira revisão. Este caráter deve distinguir a propaganda positivista
daquela que é realizada por todas as religiões teológicas. É na assunção de sua
incompletude que reside o sinal distintivo de sua perenidade.
10) Diferença sutil entre “comtiano”, “comtista”
e “positivista”.
11) As lições que podemos aproveitar do que se
chamou o “revisionismo” entre os marxistas, e do que se entende por uma “heresia”
teológica, como tentativas malogradas de aperfeiçoamento doutrinário.
12) Os assim chamados “livros didáticos”
transformados em mercadoria descartável (tanto pelo orgulho e pela vaidade do
pedantismo acadêmico quanto pela cobiça da burguesocracia) e vistos como uma
espécie de mina inesgotável; eles promovem uma idéia distorcida daquilo em que
consiste uma verdadeira atualização científica junto a quem mal começa
seus estudos.
13 junho 2022
Tradução do "Prefácio" de H. Martineau ao "Sistema de filosofia positiva"
A revista eletrônica Caos, da Universidade Federal da Paraíba, em seu v. 1, n. 28, de janeiro a junho de 2022, publicou uma tradução para o português do "Prefácio" à tradução-condensação inglesa do Sistema de filosofia positiva, de Augusto Comte. O "Prefácio" é de Harriet Martineau e a tradução para o português é de Fernanda Henrique Cupertino Alcântara.
A tradução para o português do "Prefácio" está disponível aqui: https://periodicos.ufpb.br/index.php/caos/article/view/61604/35453.
21 fevereiro 2020
Comparação entre Positivismo, direitas e esquerdas
Haja vista as confusões teóricas e práticas que reinam atualmente no Brasil - em que um governo de extrema-direita mantém o país em permanente estado de sobressalto, de polarização, de desrespeito sistemático à laicidade do Estado, à diversidade de opiniões, à liberdade de expressão e de pensamento, às minorias etc. -, o meu objetivo era esclarecer o que a "esquerda" e a "direita" consideram a respeito de vários conceitos sócio-políticos, aproveitando para expor as vistas positivistas (e demonstrar, por esse meio, que a oposição entre direita e esquerda é insatisfatória e insuficiente).
Mas é importante realçar um aspecto: esta tabela não é exaustiva nem cobre todas as possibilidades de política teórica e prática. Algumas amplas correntes e práticas foram deixadas de lado, como o populismo, o liberalismo e até o islamismo; por outro lado, no caso dos católicos, eles poderiam perfeitamente ser incluídos em outras categorias que não a centro-direita, indo desde a esquerda até a direita ou a extrema direita. O objetivo da tabela é apenas oferecer um quadro sinóptico para que se possa fazer algumas comparações básicas.
Após a tabela incluí referências bibliográficas sumárias, para quem tiver interesse e curiosidade.
Resumo das perspectivas do Positivismo em face das correntes político-intelectuais contemporâneas
Conceito
|
Positivismo
|
Extrema-esquerda
(comunismo)
|
Esquerda
(socialismo)
|
Centro-esquerda
(social-democracia)
|
Centro
|
Centro-direita
(conservadores “britânicos”, católicos)
|
Direita (neoliberais,
evangélicos)
|
Extrema-direita
(nazismo, fascismo)
|
1)
Ordem
|
Fundamento e
garantia do progresso
Não tem valor por si
só (deve ser mantida com vistas ao progresso)
Elementos comuns a
todas as sociedades (família, propriedade, linguagem, religião, governo)
|
A ordem burguesa,
como é opressora, deve ser destruída
A exploração
econômica gera a dominação política
A ordem comunista é
redentora da humanidade
|
A ordem burguesa,
como é opressora, deve ser destruída
A exploração
econômica gera a dominação política
O Estado exerce um
papel central ao regular a economia e prover serviços sócio-econômicos
Supostamente há
espaço para liberdades individuais
|
A ordem é um
equilíbrio entre a dinâmica social e a ação político-econômica estatal
A sociedade é
capitalista (propriedade privada) e as liberdades são valorizadas
O Estado exerce um
papel central ao regular a economia e prover serviços sócio-econômicos
|
Entendida como estabilidade política e social
Valor importante,
mas não é sagrado: pode ser modificada, dependendo dos acertos políticos, na
direção da direita ou da esquerda
|
Valor fundamental e
central
A ordem é
estabelecida pela tradição e, por isso, é sagrada
Tem um caráter
histórico e, eventualmente, transcendental
|
É um valor sagrado
Evangélicos: é um
arranjo divino e deve satisfazer imperativos teológicos (bíblicos)
Neoliberais: a
economia deve ser entregue a si mesma; a política (e o Estado) atrapalha e
corrompe a ordem
|
É um valor sagrado
O capitalismo e o
comunismo são inimigos
A nação é o valor
supremo
O Estado é o
responsável pela criação e manutenção de uma ordem pura em termos raciais,
sociais e políticos
Imigrantes, outras
raças, outras ideologias devem ser combatidos e/ou dizimados
|
2)
Progresso
|
Desenvolvimento da
ordem fundamental
Baseia-se na ordem
Realização da
harmonia humana (social e individual)
Desenvolvimento
(harmônico) das forças humanas (individuais e sociais; afetivas, intelectuais
e práticas)
|
Aprofundamento da
igualdade
Fortalecimento das
pátrias comunistas
Enfraquecimento e
extinção das pátrias não-comunistas
|
Aprofundamento da
igualdade
Valor central
|
Aprofundamento da
igualdade
Valor central
Combate à dinâmica
social própria ao capitalismo
|
Basicamente,
indefinido
Desenvolvimento da
ordem
Realizado conforme
os desígnios do grupo no poder
|
Valor a ser
combatido se for na direção da igualdade
Católicos: o
progresso é real e legítimo se for a realização da ordem divina e tradicional
“Britânicos”: em
pequenas doses, é aceitável (entendido como mudanças sócio-institucionais);
de modo geral rejeita mudanças planejadas
|
Neoliberais: é um
valor legítimo, se for o desenvolvimento da ordem capitalista (às vezes é a
“destruição criadora”); vêem com grande desconfiança as mudanças planejadas
Evangélicos: é a
realização da teocracia (em moldes calvinistas)
|
Afirmação da nação
Se o progresso for o
conceito esquerdista, deve ser combatido ferozmente
|
3)
Tradição
|
Não tem valor em si
mesma
O mais das vezes, é
uma concepção absoluta da historicidade e da ordem
Concepção positiva
da tradição: legado moral e material do passado para o presente, que deve ser
respeitado e, na medida do possível, preservado, mas que não é imodificável e
que sofre alterações de acordo com as leis dos três estados
|
Obstáculo ao
progresso
Ideologia burguesa
ou feudal com vistas à dominação e à exploração do proletariado
|
Obstáculo ao
progresso
Ideologia burguesa
ou feudal com vistas à dominação e à exploração do proletariado
|
Basicamente, obstáculo
ao progresso
Redes sociais
tradicionais podem apoiar a ordem social-democrata
|
Em linhas gerais, é
favorável à tradição
As relações políticas tradicionais são valorizadas
Em termos
sócio-econômicos, depende do grupo que está no poder
|
Valor fundamental,
quase indistinguível da ordem
Católicos: a
tradição é o resultado da ação multissecular da igreja
“Britânicos”: é o
resultado do “tribunal da história” e, por tentativa e erro, junta
empiricamente o que é “bom” e “correto”
|
Neoliberais: a
tradição de valores e estruturas sociais é inimiga do progresso capitalista
Neoliberais: as
relações tradicionais de confiança são a base da sociedade e do progresso
Evangélicos: se
referir-se à própria seita, é sempre sagrada; se referir-se a qualquer outra
coisa, é detestável e deve ser combatida
|
É encarada de
maneira romântica e saudosista
A tradição criada e
idealizada é o fundamento ideológico da ordem social
|
4)
Passado
|
Conjunto dos
antecedentes sociais, morais, intelectuais e afetivos
O passado é a base e
o guia para o futuro, mas o futuro não se resume nem se limita ao passado
|
Conjunto das
condições sociais que permitem a realização do comunismo
“Peso que oprime o
cérebro dos vivos” (Marx)
Conjunto dos
antecedentes próprios ao comunismo
|
Conjunto das
condições sociais que permitem a realização do socialismo
“Peso que oprime o
cérebro dos vivos” (Marx)
Conjunto dos
antecedentes próprios ao socialismo
|
Conjunto das
condições sociais que permitem a realização do Welfare
Conjunto dos
antecedentes próprios ao Welfare
|
Conjunto da história
social e individual
Mobilizável de
acordo com o grupo que está no poder
|
É o fundamento da
tradição
|
Neoliberais:
conjunto das condições que conduzem ao capitalismo; fora isso, deve ser
constantemente revolucionado
Evangélicos: se for
da própria seita, é sempre glorioso; se for dos outros, é detestável
|
É romantizado e,
assim, glorificado
Apresenta a história
da nação, passando pelas quedas e pelas ascensões
|
5)
Liberdade de pensamento
|
Fundamento
inescapável da política positiva
A liberdade absoluta
de pensamento é um conceito metafísico, que rejeita qualquer disciplina
mental
Deve ocorrer a
rigorosa separação entre igrejas e Estado
|
Não existe, exceto
para o que o Estado permite
Nos países
não-comunistas: deve ser incentivada ao máximo, para que ocorra a revolução
do proletariado (Lênin, Stálin)
A cultura deve ser
instrumentalizada para difusão do comunismo (Gramsci)
|
Existe e é garantida
pelas leis
|
Existe e é garantida
pelas leis
|
Existe e é garantida
pelas leis
|
Católicos: é
limitada ao que se considera tradicional e, portanto, aceitável
“Britânicos”: valor
sócio-político fundamental
|
Neoliberais: existe
e é garantida pelas leis (eventuais exceções quanto ao comunismo e ao
nazismo)
Evangélicos: se
referir-se ao próprio dogma, é válida; qualquer outra forma de pensamento
deve ser combatida ou convertida
|
Não existe, exceto
para o que o Estado permite
A cultura deve ser
instrumentalizada para difusão do fascismo (Goebbels, Mussolini)
|
6)
Liberdade de expressão
|
Fundamento da
política positiva e conseqüência da liberdade de pensamento
Deve-se garantir a
liberdade de expressão a todas as concepções
|
Não existe, exceto
para o que o Estado permite
Nos países
não-comunistas: deve ser incentivada ao máximo, para que ocorra a revolução
do proletariado (Lênin, Stálin)
A cultura deve ser
instrumentalizada para difusão do comunismo (Gramsci)
O Estado impõe o
ateísmo
|
Existe e é garantida
pelas leis
|
Existe e é garantida
pelas leis
|
Existe e é garantida
pelas leis
|
Católicos: é
limitada ao que se considera tradicional e, portanto, aceitável
“Britânicos”: valor
sócio-político fundamental
|
Neoliberais: existe
e é garantida pelas leis (eventuais exceções quanto ao comunismo e ao
nazismo)
Evangélicos: se
referir-se ao próprio dogma, é válida; qualquer outra forma de pensamento
deve ser combatida ou convertida
|
Não existe, exceto
para o que o Estado permite
A cultura deve ser instrumentalizada
para difusão do fascismo (Goebbels, Mussolini)
|
7)
Família
|
Célula da sociedade
Núcleo do
desenvolvimento afetivo
Deve ser consagrada
para ser regulada pela pátria (associação prática) e pela Humanidade
(associação intelectual)
|
Foco de conservadorismo,
reacionarismo e tradicionalismo
Permanece sob
estreita vigilância do Estado e da sua polícia política
Os laços familiares
não são respeitados
Em determinadas
conjunturas pode ser valorizada (formação de mão de obra)
|
Célula da sociedade
Núcleo do desenvolvimento
afetivo
|
Célula da sociedade
Núcleo do
desenvolvimento afetivo
|
Célula da sociedade
Núcleo do
desenvolvimento afetivo
As relações
familiares constituem parte importante da sociabilidade política de centro
(clientelismo, filhotismo, apadrinhamento)
|
Célula da sociedade
Núcleo do
desenvolvimento afetivo
Eventualmente, tem
que ser defendida da ação do Estado
|
Neoliberais: é a
formadora de indivíduos, que são os “agentes econômicos” por definição
Evangélicos: é o
âmbito social sagrado e inamovível, lugar da autoridade (“despótica”) do
pai/marido sobre filhos/esposa
|
É o âmbito social
sagrado, lugar da autoridade (“despótica”) do pai/marido sobre filhos/esposa
É a relação social
que existe logo abaixo da nação, isto é, do Estado
|
8)
Pátria
|
Associação prática
dos seres humanos
Realidade política
básica; exerce a autoridade em um determinado território
Devem ser de tamanho
reduzido, para que os vínculos morais desenvolvam-se
A soberania absoluta
é uma ficção metafísica
Deve ser consagrada
para ser regulada
O multilateralismo,
o internacionalismo respeitador das pátrias e as mediações devem ser
incentivados
|
Sede da revolução
comunista
Devem ser abolidas
quando o comunismo triunfar no mundo todo
Em países
não-comunistas: grau máximo de associação humana e entendidas como sede da
xenofobia, do imperialismo e do nacionalismo
|
Realidade política
básica; nela o Estado exerce a autoridade em um determinado território
O multilateralismo,
o internacionalismo respeitador das pátrias e as mediações devem ser
incentivados
Eventualmente, podem
ser abolidas quando o socialismo triunfar no mundo todo
|
Realidade política
básica; exerce a autoridade em um determinado território
O multilateralismo,
o internacionalismo respeitador das pátrias e as mediações devem ser
incentivados
|
Realidade política
básica; exerce a autoridade em um determinado território
|
Realidade política
básica; exerce a autoridade em um determinado território
Católicos: o poder
político deve submeter-se ao poder (espiritual, quando não material) da
igreja e do papa
|
Realidade política
básica; exerce a autoridade em um determinado território
Neoliberais: o
Estado é um estorvo, um mal tristemente necessário
Evangélicos: o poder
político deve submeter-se ao poder da igreja
|
Valor supremo
O internacionalismo
e o multilateralismo são vistos como crimes de lesa-pátria e como
conspirações dos “inimigos”
|
9)
Humanidade
|
Resumo da Religião
da Humanidade
Como sinônimo de
igreja: associação de caráter intelectual, de âmbito mundial
Conjunto dos seres
humanos convergentes, passados, futuros e presentes
Concepção resultante
de uma longa evolução histórica
Concepção relativa,
altruísta e includente
|
Outro nome dado ao
conjunto do proletariado, após a revolução comunista e a extinção (física e
social) da burguesia
Associação de
indivíduos atomizados, sem a existência de pátrias nem de igrejas
Fora do âmbito do
comunismo: ideologia burguesa e/ou concepção nefelibata
|
Outro nome dado ao
conjunto do proletariado, às vezes se estendendo ao conjunto das sociedades
(e das classes)
|
Outro nome dado ao
conjunto do proletariado, às vezes se estendendo ao conjunto das sociedades
(e das classes)
|
Designação genérica
do conjunto de seres humanos e de países
Eventualmente
apresenta caráter histórico
|
Designação genérica
do conjunto de seres humanos e de países
Eventualmente
apresenta caráter histórico
|
Designação genérica
do conjunto de seres humanos e de países
Eventualmente
apresenta caráter histórico
Neoliberais:
conjunto de agentes econômicos
Evangélicos:
conjunto de crentes e de pessoas a serem convertidas
|
Refere-se
exclusivamente à população do próprio país
|
10)
Religião
|
Conjunto de
concepções e práticas que visam a regular a vida humana, com vistas à
harmonia social e individual
Como qualquer
concepção humana, passa pelos três estágios (teológico, metafísico e
positivo)
A Religião da
Humanidade é uma religião positiva
|
Sinônimo de teologia
e, por derivação, de igreja
“A religião é o ópio
do povo” (Marx)
Deve ser combatida
A prevalência de
religiões em países é justificativa para guerras com esses países
|
Sinônimo de teologia
e, por derivação, de igreja
“A religião é o ópio
do povo” (Marx)
Em princípio,
deve-se respeitar as crenças individuais e, se for o caso, as institucionais
Pode resultar,
devido a questões institucionais e dogmáticas, em conflitos entre o Estado e
a(s) igreja(s)
|
Sinônimo de teologia
e, por derivação, de igreja
Deve-se respeitar as
crenças individuais e, se for o caso, as institucionais
Acomodação com as
igrejas
É importante apenas
como fundamento do Welfare (e,
portanto, submete-se a considerações utilitário-político-econômicas)
|
Sinônimo de teologia
e, por derivação, de igreja
Acomodação com as
igrejas
Dependendo da
relação com quem está no poder: apoio às igrejas e suas doutrinas
|
Sinônimo de teologia
e, por derivação, de igreja
“Britânicos”:
acomodação com as igrejas; aceitação de religião de Estado
Católicos: igreja
separada do mas superior ao Estado
|
Sinônimo de teologia
e, por derivação, de igreja
Acomodação com as
igrejas
Estímulo à “teologia
da prosperidade”
Evangélicos: valor
sagrado e supremo
|
Sinônimo de teologia
e, por derivação, de igreja
Transformação do
culto à pátria em um rival institucional e dogmático às igrejas tradicionais
|
11)
Propriedade
|
A propriedade
privada é um dos fundamentos da ordem social
Para surtir seus
efeitos, a riqueza deve ser concentrada até o limite da responsabilidade
individual
A função da riqueza
é alimentar o conjunto da sociedade
Os proletários devem
ser “pobres” (isto é, não ricos); devem ter casa própria e ser capazes de
alimentar esposa, filhos e avós
Os proletários devem
ser donos dos instrumentos individuais de trabalho
Assim, a propriedade
privada não é um conceito absoluto
Deve ser consagrada
para ser regulada
A origem da
propriedade é social e sua destinação tem que ser social
A riqueza é entendida
como força social concentrada (o trabalho é a força dispersa)
A solução dos
problemas da riqueza consiste em sua regulação social, não em sua destruição
e/ou extinção
|
A propriedade
privada é vista como absoluta, com vistas à dominação e à exploração burguesa
Para combater a
propriedade privada, o Estado comunista deve instituir a propriedade “coletiva”
(estatal) dos “meios de produção”
A via para tal
mudança é violenta, pela força, de cima para baixo
As famílias podem
ter objetos de uso pessoal
A riqueza é vista
como o fundamento das desigualdades humanas
|
A propriedade
privada é vista como absoluta, com vistas à dominação e à exploração burguesa
Para combater a
propriedade privada, o Estado comunista deve instituir a propriedade “coletiva”
(estatal) dos “meios de produção”
A via para tal
mudança é pacífica e eleitoral
As empresas
privadas, todavia, continuam existindo
A riqueza é vista
como o fundamento das desigualdades humanas
Os impostos são
altos
|
A propriedade
privada é vista como relativa e submetida à regulação estatal
Para combater a
propriedade privada, o Estado comunista deve instituir a propriedade “coletiva”
(estatal) dos “meios de produção”
Muitos serviços e
bens são fabricados e providos pelo Estado
A via para tal
mudança é pacífica e eleitoral
As empresas
privadas, todavia, continuam existindo
A riqueza é vista
como o fundamento das desigualdades humanas
Os impostos são
altos
|
A propriedade
privada é vista como absoluta
Todavia, dependendo
de quem está no poder, pode-se considerar a propriedade como relativa (em
particular a propriedade alheia)
O nível de impostos
varia de acordo com o grupo que está no poder
|
“Britânicos”: a
propriedade privada é vista como absoluta e constituinte da natureza íntima
de cada indivíduo (juntamente com a liberdade)
Católicos: a
propriedade privada é vista como relativa, dependendo da ordem eclesiástica e
do papa reinante; os bens da igreja são sagrados
Os impostos são os
mais baixos possíveis
|
A propriedade
privada é vista como absoluta
Evangélicos: a
riqueza é a prova da eleição divina, no neocalvinismo da “teologia da
prosperidade”
Neoliberais: a
riqueza é um valor fundamental e deve ser perseguida (“vícios privados,
virtudes públicas”)
|
Ambigüidade a
respeito da propriedade e da riqueza: em princípio são absolutas, mas o
Estado pode interferir e regulá-las, além de ter empresas estatais
A riqueza
“capitalista” (ou comunista) é opressora; a riqueza “nacionalista” é
libertadora
|
12)
Governo temporal
|
Gestor dos conflitos
de classe
Responsável pela
manutenção da ordem social, com vistas à realização do progresso
Deve abster-se
rigorosamente de ser um governo espiritual
Deve garantir as
liberdades públicas, especialmente as de pensamento, expressão e associação
Deve ser consagrado
para ser regulado
|
Nos países
capitalistas: mantenedor da dominação burguesa e da exploração do
proletariado
Responsável pela
realização e pela manutenção da revolução comunista
Gestor da
propriedade coletiva
Quando a revolução
comunista ocorrer em nível mundial, os estados devem ser extintos
Órgão do proletariado
como classe (contra a burguesia)
Impõe o ateísmo como
doutrina de Estado
|
Gestor dos conflitos
de classe
Gestor de
determinadas produções de bens e serviços
Regulador das
relações sociais
Regulado pelo Estado
de Direito
|
Gestor dos conflitos
de classe
Gestor de
determinadas produções de bens e serviços
Regulador das
relações sociais
Regulado pelo Estado
de Direito
|
Gestor dos conflitos
de classe
Regulador das
relações sociais
Regulado pelo Estado
de Direito
|
Gestor dos conflitos
de classe
Regulador das
relações sociais
Regulado pelo Estado
de Direito
“Britânicos”:
garantidor das liberdades e da propriedade; respeitador das tradições
Católicos: deve
submeter-se moral e politicamente à igreja e ao papa
|
Neoliberais:
provedor de bens e serviços mínimos (polícia, moeda, justiça, padrões de
pesos e medidas; em casos de pobreza extrema: auxílio financeiro)
Evangélicos: órgão
de promoção da crença de cada seita; promotor da censura e da polícia de
costumes
|
Órgão por excelência
da vontade nacional
Deve ser entendido
como sendo, em si, uma instituição moral
O desrespeito ao
Estado é um desrespeito à nação
A vontade do Estado
está acima do comum dos indivíduos
|
13)
Governo espiritual
|
Responsável pela
constituição e expressão da opinião pública
Organizado em
igrejas, com sacerdócios
Regulador das idéias
e dos valores
Responsável pela
consagração e pela regulação das famílias, das pátrias, dos indivíduos, do
poder político e da riqueza
Deve manter-se
escrupulosamente separado do governo temporal
Sua importância em
face do poder temporal dá a medida da moralidade, do altruísmo e do pacifismo
de uma sociedade e, portanto, de seu progresso
Constituído em um
sacerdócio transnacional
O primado político
cabe ao poder Temporal, não ao Espiritual
|
Ambigüidade: por um
lado, as crenças são derivações das relações de produção; por outro lado, são
instrumentos de dominação (da burguesia) ou de afirmação (do proletariado)
Nos países
capitalistas, as igrejas são os órgãos de manutenção da religião, que é o
“ópio do povo” (ideologia da exploração e da dominação do proletariado)
Nos países
comunistas, o governo espiritual confunde-se e realiza-se por meio do Estado
e do partido comunista
|
Deve realizar-se por
meio de professores e filósofos
As igrejas
(teológicas) eventualmente podem ser obstáculos ao socialismo e, por isso,
são combatidas politicamente
|
Pode apoiar o
governo em termos políticos, sociais e morais
|
Com frequência
baseia-se no poder Espiritual e/ou extrai dele seus quadros
Tem uma tradição de
apoio, estímulo, submissão
|
Aceitam e promovem a
religião de Estado
Católicos: o Estado
deve submeter-se à igreja e ao papa; seu sacerdócio tem caráter transnacional
|
Neoliberais: não
reconhecem poder Espiritual, na medida em que são rigorosamente
materialistas; entretanto, é necessário haver valores de respeito, confiança
mútua, individualismo
Evangélicos: o único
poder Espiritual é o da própria seita; todos os demais devem ser combatidos
e/ou convertidos; o Estado deve estar a serviço da seita
|
O único poder
Espiritual aceitável é o originário do Estado e por ele legitimado
Fontes independentes
de poder Espiritual são vistas com desconfiança e como (potenciais) inimigos
|
14)
Paz
|
Resultado e condição
da harmonia social e individual
Resultado da
evolução histórica das sociedades
Internamente: os
conflitos sociais devem ser evitados, controlados, dirigidos e aproveitados
Externamente: os
conflitos entre países devem ser solucionados sempre via mediação
Os governos temporal
e espiritual devem empenhar-se ativamente em manter e em obter a paz
O poder Espiritual
deve ser o grande regulador e mediador dos conflitos sociais
|
A verdadeira paz só
é possível quando o comunismo triunfar em nível mundial
Entre os países
capitalistas, é sempre um equilíbrio temporário entre as potências
imperialistas
Os países capitalistas
querem sempre destruir os países comunistas
Fora do comunismo,
todos os indivíduos e países são egoístas; apenas no comunismo existe um
verdadeiro altruísmo
O multilateralismo e
o internacionalismo são estratégias a serem empregadas se e enquanto forem
úteis
|
A paz internacional
é um objetivo verdadeiro, a ser atingido por meio do multilateralismo e do
internacionalimso
|
A paz internacional
é um objetivo verdadeiro, a ser atingido por meio do multilateralismo e do
internacionalimso
|
Utiliza o equilíbrio
de poder para obter a paz
|
“Britânicos”:
utilizam o equilíbrio de poder para obter a paz; a paz é sempre instável,
portanto
Católicos: a
verdadeira paz é a instituída e regulada pela igreja e pelo papa
|
Neoliberais: a paz é
uma conseqüência natural da diminuição radical do Estado e da substituição da
política pela economia
Evangélicos: a única
paz possível é a criada pela própria seita; em relação a todos os demais a
postura é de confronto ou, pelo menos, reprovação e rejeição
|
A paz é sempre a
morte do “espírito”; a nação revela-se e afirma-se por meio da guerra
O equilíbrio de
poder é aceito apenas temporariamente; a única paz aceitável é a que
subordina todas as demais nações à nação do político
O multilateralismo e
o internacionalismo são recusados e vistos como defendidos por traidores e
conspiradores
|
15)
Igualdade
|
Basicamente, um mito
metafísico destinado a abolir estruturas sociais
Utilizada por
juristas e propagandistas para obter o poder
Conceito que
legitima os despotismos
O desenvolvimento
social gera diferenças e desigualdades
Mas: do ponto de
vista jurídico, deve ocorrer a
igualdade perante a lei
Nas escolas, as
classes sociais devem assistir em conjunto às aulas para terem a mesma
formação e compartilharem valores e ideias (permitindo assim a fraternidade e
a atuação do poder Espiritual)
|
É o objetivo maior
do comunismo
Entendida em todos
os sentidos possíveis: de classe, de status,
de riqueza, de sucesso individual
Na busca da
igualdade não se hesita em cometer crimes (expurgos, “revoluções culturais”
etc.)
A despeito do
discurso, estabelece uma distinção brutal entre governantes e governados
|
É o objetivo maior
do socialismo
Entendida
basicamente como igualdade de riqueza e de status, aceita a todavia a igualdade de condições
Igualdade perante a
lei
Igualdade na escola
|
É o objetivo maior
do Welfare
Entendida
basicamente como igualdade de riqueza e de status, aceita a todavia a igualdade de condições
Igualdade perante a
lei
Igualdade na escola
Eventualmente pode
aceitar “ações afirmativas”
|
É indiferente às
noções econômicas de igualdade;
depende do grupo que está no poder
Igualdade perante a
lei
|
“Britânicos”: não se
incomodam com as diferenças de status,
mas exigem a igualdade perante a lei
Católicos: em sua
teologia, todos são iguais perante a divindade, mas na prática aceita as mais
variadas desigualdades (poder, status,
riqueza)
|
Neoliberais:
rejeitam a igualdade econômica e exigem a igualdade perante a lei
Evangélicos: aceitam
a igualdade nas próprias seitas e, reconhecendo a diferença em relação a todos
os demais, desprezam-nos
|
Reconhecem as
diferenças inarredáveis entre povos e nações
Na nação, todos são
iguais; fora da nação, todos são diferentes e inferiores
|
16)
Indivíduos e individualidades
|
O individualismo é
um erro intelectual, moralmente injustificável
O individualismo é a
secularização e a transposição para a Sociologia da igualdade dos crentes
perante a divindade protestante
O individualismo
consagra o egoísmo, a secura afetiva, a esterilidade intelectual, o
absolutismo filosófico, as concepções parciais
Mas: a Humanidade é
um ser composto, cujos elementos são seres separados – em última instância,
os indivíduos
Assim, da mesma
forma que as famílias, as pátrias, o poder político e a riqueza, devem os
indivíduos ser consagrados e regulados, ou seja, responsabilizados
Os indivíduos são os
agentes da Humanidade e realizam o presente
As crenças
individuais devem sempre ser respeitadas
|
Os indivíduos não
existem, exceto os grandes líderes comunistas
Os indivíduos são
uma elaboração ideológica burguesa
No comunismo, quem
afirma-se como individualidade comete o crime de lesa-revolução
No comunismo ideal,
na ausência de classes e de Estado, haverá apenas indivíduos; eles serão
alegres diletantes de tudo e não haverá obrigações nem responsabilidades
|
A perspectiva social
deve prevalecer, mas os indivíduos são largamente respeitados
|
A perspectiva social
deve prevalecer, mas os indivíduos são respeitados
A lógica própria ao Welfare tende a desconsiderar as
motivações individuais e a tirar a responsabilidade individual por suas ações
|
Basicamente o centro
constitui-se de indivíduos e individualidades renomados
|
“Britânicos”: os
indivíduos são o valor político por excelência; não há sociedade, embora a
tradição confira um caráter social aos indivíduos
Católicos: na medida
em que são católicos, os indivíduos são respeitados; suas diferenças são
acomodadas nas diversas vocações e ordens eclesiásticas
|
Estimulam o
individualismo e egoísmo (sejam hedonistas ou não)
Não há “sociedade”,
apenas agregados de indivíduos
Neoliberais:
juntamente com as empresas, os indivíduos são as únicas unidades existentes
Evangélicos: perante
a divindade há apenas indivíduos e ambos comunicam-se direta e pessoalmente
|
Ambigüidade: perante
a nação, os indivíduos não existem, exceto os grandes líderes; mas
retoricamente há o respeito às individualidades
|