A infância
(Clotilde de Vaux; tradução de Raimundo Teixeira Mendes)[1]
Vem, criança gentil, mais perto... que m’encanta
Ver-te a
madeixa loura, o meigo olhar formoso,
As graças
naturais que têm tanto invejoso,
A fonte onde
arde a inocência o templo seu levanta.
Vem, qu’eu gosto de ver-te o velho pai prezando
Mais que o
ledo brincar que os anos seus molesta;
Gosto de ver
fugir, dos beijos teus à festa,
A nuvem que,
no olhar materno, ia assomando.
Gosto de ver o
ancião que vai, a lento passo,
O humilde lar
buscando, apoiado ao teu braço;
Gosto de
ver-te a mão encheres, com carinho,
Do pobre que
se senta à borda do caminho.
Por que se hão
de ir embora encantos dessa idade,
Graças que as
nossas mães com tanto amor afagam?
Os sonhos do
porvir, por que se nos apagam?
Ah! Sim! É que
é preciso um dia de saudade!
[1] Carta de Clotilde a Comte, de 5.12.1845 (113ª carta do epistolário).
Fonte: Raimundo Teixeira Mendes, Comte e Clotilde, Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1903, p. 60. Edição eletrônica em francês de 1916: https://bibdig.biblioteca.unesp.br/items/f3d104ea-4350-4a3d-a58a-63ec4a10fc54.
Nenhum comentário:
Postar um comentário