16 setembro 2019

A sociedade industrial para Augusto Comte - roteiro de uma prédica

No dia 15 de setembro de 2019 fiz uma prédica na Igreja Positivista do Rio Grande do Sul sobre a "sociedade industrial", conceito sociológico elaborado por Augusto Comte em sua Sociologia Dinâmica para entender a realidade contemporânea e orientar a ação prática.

Para essa prédica elaborei um pequeno roteiro, que foi mais ou menos seguido na ocasião - os improvisos e as digressões são parte de qualquer exposição oral. Reunindo as anotações iniciais com algumas das observações feitas de improviso, apresento o resumo abaixo, que é razoavelmente explicativo. É claro que se os leitores tiverem dúvidas ou sugestões, elas serão bem-vindas.


*   *   *


-        É um ótimo exemplo de conceito que reúne considerações sociológicas, históricas, filosóficas e morais – e também políticas
o   Assim, é um exemplo de aplicação prática dos preceitos religiosos da Religião da Humanidade
-        A “sociedade industrial” é o conceito com que Augusto Comte define a organização social, política e econômica das sociedades modernas
o   Um paralelo com “capitalismo”, de Marx, é útil: ambos os conceitos referem-se mais ou menos às mesmas coisas e ao mesmo período, igualmente com juízos de valor subjacentes; mas para Marx o “capitalismo” é um sistema totalmente impessoal que deve ser destruído por meios revolucionários em prol do comunismo; já a “sociedade industrial” é uma organização social e política vigente que deve ser aperfeiçoada, mas que permite o desenvolvimento das forças humanas
-        A melhor forma de expor a idéia da sociedade é industrial é adotando o procedimento de Comte, ou seja, por meio da contraposição com as sociedades militares
-        Na verdade, isso consiste na conjugação das leis dinâmicas do entendimento humano, que correspondem às leis VII a IX da Filosofia Primeira:

2ª série: leis dinâmicas do entendimento
1ª Cada entendimento oferece a sucessão dos três estados, fictício, abstrato e positivo, em relação às nossas concepções quaisquer, mas com uma velocidade proporcional à generalidade dos fenômenos correspondentes (VII)
2ª A atividade é primeiro conquistadora, em seguida defensiva e enfim industrial (VIII)
3ª A sociabilidade é primeiro doméstica, em seguida cívica e enfim universal, segundo a natureza peculiar a cada um dos três instintos simpáticos [apego, veneração e bondade] (IX)

-        As sociedades militares foram as características da Antigüidade e da Idade Média, em que as concepções mais amplas de sociabilidade eram a família e a pátria (Antigüidade) e a pátria e a igreja (Idade Média)
o   Como são concepções parciais, a família e a pátria tendem a gerar competições entre as várias famílias e as várias pátrias: essas competições logo se transformaram em guerras
o   É necessária uma concepção universal para que se instaure a paz: somente a Humanidade pode gerar a paz mundial e perpétua
o   O Império Romano, embora baseasse-se na idéia de pátria, tinha uma concepção tendencialmente universalista de ser humano, o que o politeísmo facilitava, ao permitir com maior ou menor facilidade a incorporação dos vários grupos sociais; os romanos diziam, acertadamente, que “faziam a guerra para levar os hábitos da paz”
§  O Império Romano extinguiu até certo ponto as guerras de conquistas, incessantes na Europa e na Ásia Menor até então e criou uma enorme área de relativa estabilidade política, jurídica, econômica (e monetária e de pesos e medidas) na Europa e ao redor do Mar Mediterrâneo; com isso, lançou as bases necessárias para a civilização católico-feudal e para o desenvolvimento posterior da sociedade industrial
o   Na Idade Média o catolicismo permitiu a conjugação da pluralidade política (feudal) com a unidade de fé (católica); mas o caráter absoluto do catolicismo impede a sua plena universalização e, de qualquer maneira, ele entra em choque com outros sistemas absolutos, em particular o Islã
-        A atividade militar, então, foi inicialmente conquistadora (Antigüidade) e depois defensiva (Idade Média)
o   A partir de meados da Idade Média – grosso modo, no século XI – começa a ocorrer um movimento importante: a emancipação das comunas, isto é, das cidades, dos burgos (os habitantes dos burgos eram os burgueses), especialmente pelos reis
o   Essa expressão – “emancipação dos burgos” – significa o seguinte: até então os burgos estavam submetidos à autoridade política e social dos nobres, dos senhores feudais; com a emancipação, os burgos passaram a submeter-se apenas à autoridade dos reis e/ou a ter grande autonomia decisória à as repúblicas italianas, do Norte da Europa e outras surgiram dessa forma
o   As comunas obtiveram essa emancipação porque seus habitantes eram ativos politicamente e pressionavam nesse sentido; da mesma forma, eram artesãos, comerciantes, banqueiros etc., isto é, eram indivíduos e grupos que trabalhavam e produziam bens, serviços e riquezas
o   A emancipação das comunas indica, portanto, a mudança na organização social, que passava de militar e rural para industrial e urbana
-        A sociedade industrial, portanto, surge como um desenvolvimento das sociedades militares
o   Embora surja do desenvolvimento das sociedades militares, a sociedade industrial não é uma continuação delas: antes de mais nada, a sociedade industrial é pacífica
o   Na sociedade industrial há geração da riqueza e não somente espólio e rapinagem, como na atividade militar
-        A sociedade industrial gera riqueza; mas essa “geração de riqueza” não é só ou principalmente o acúmulo de riquezas: é a produção de bens e serviços com vistas ao bem-estar humano
o   Importa lembrar e afirmar com todas as letras: a ação militar visa à destruição dos bens e à morte dos inimigos; se há a busca de algum bem-estar, é da sociedade que conquista, não a da que é conquistada
o   Assim, enquanto as sociedades militares buscam a glória, as sociedades industriais buscam o bem-estar e o conforto
-        Uma precondição fundamental da sociedade industrial é a valorização do trabalho
o   Nas sociedades militares o trabalho é desvalorizado, sendo reservado aos escravos e/ou aos servos da gleba
o   A valorização do trabalho resulta também na repulsa à escravidão e na valorização dos trabalhadores, cuja dignidade é afirmada
o   Aliás, em contraposição às sociedades militares, a sociedade industrial valoriza a vida humana
-        A sociedade industrial suceder as sociedades militares não é somente uma questão de antecedentes e conseqüentes históricos; é necessário ativamente aperfeiçoar a sociedade industrial
o   Antes de mais nada, é necessário ultrapassar os hábitos militares, a busca da glória, o desejo da dominação, o estímulo ao militarismo
o   A noção militar de pátria tem que ser substituída pela concepção pacífica e altruísta de mátria
o   Os trabalhadores têm que ser valorizados e suas condições de vida têm que ser dignas
o   A burguesia (mesquinha e egoísta) tem que ser substituída pelo patriciado positivo (altruísta, generoso, de vistas e ações largas)
o   Os meios violentos têm que ser substituídos radicalmente pelos meios pacíficos
o   O poder Espiritual tem que ter um ascendente sobre a sociedade, em contraposição à ação violenta do poder Temporal
o   Os positivistas devem deixar de ser militares ou, caso permaneçam sendo militares, que orientem suas ações para fins positivos à apoio decidido ao civilismo dos militares
§  Exemplos máximos no Brasil: Benjamin Constant e Marechal Rondon
§  Ensino civilista de Benjamin Constant no Exército à não é à toa que a ação de Benjamin Constant foi duramente combatida pelos militaristas (Jovens Turcos, revista A Defesa Nacional, Olavo Bilac, Missão Alemã, Missão Francesa) e pelos fascistas (Góes Monteiro)
§  Benjamin Constant e doutrina do “soldado-cidadão”: ênfase no “cidadão” e na “civilização” da caserna, ao contrário do que Olavo Bilac pregava, que era a ênfase no “soldado” e na militarização da sociedade
§  Marechal Rondon: o “Marechal da Paz”; frase característica: “morrer se for preciso, matar nunca”
o   O militarismo antigo e medieval era justificável e aceitável; o militarismo moderno é aberrante e inaceitável
§  O nazismo, o fascismo e até o comunismo são militarismos modernos
§  O nacionalismo do século XX apresenta todos os defeitos ligados ao militarismo: xenofobia, intolerância, violência, busca da glória nacional, conservadorismo; situação exemplar do caso Dreyfus (1895-1905)
·         Caso Dreyfus: Exército francês reacionário, monarquista, belicista, xenófobo e antissemita; a libertação de Dreyfus e a reversão de sua condenação uniu vitoriosamente os republicanos e os progressistas franceses contra os grupos reacionários (monarquistas, Igreja Católica, alto comando do Exército, intelectuais literários)
-        Augusto Comte propôs um conjunto de medidas com vistas à consolidação e ao aperfeiçoamento da sociedade industrial, já com vistas à sociocracia

SUMÁRIO DAS MEDIDAS ESPECÍFICAS À TRANSIÇÃO ORGÂNICA

MEDIDAS
ÂMBITO DAS MEDIDAS
COMENTÁRIOS
Liberdade especulativa com o fim dos orçamentos teóricos
Temporal
Necessárias em todos os lugares
Substituição das Forças Armadas pela polícia
Instituição do triunvirato sistemático
Desenvolvimento do culto histórico
Espiritual
Estabelecimento das escolas positivistas
Ascendente do Positivismo sobre o comunismo
Decomposição dos grandes estados
Resume as duas séries anteriores

12 setembro 2019

Maus hábitos acadêmicos e estudos comtianos no Brasil

No início de 2011 eu fiz uma postagem neste blogue intitulada "A impossibilidade de estudos comtianos no Brasil" (disponível aqui). Nela eu observava que, no Brasil, nas universidades brasileiras (e, naquele caso em particular, na UFSC), é possível estudar-se virtualmente qualquer coisa - mas o Positivismo, as idéias de Augusto Comte, a ação dos positivistas no Brasil e no mundo, isso é vedado. Ou melhor dizendo: é vedado o estudo que se apresente de maneira favorável ao Positivismo; se for para falar mal, para ser "crítico", para acusar o Positivismo de ser a fonte de todos os males possíveis e imagináveis - bem, então, não há problema nenhum e pode-se dizer o que se quiser, por mais sem pé nem cabeça for o que se diga. Deveria ser claro para qualquer pessoa que isso é tanto censura explícita quanto censura implícita, além de hipocrisia.

De 2011 para cá a situação não mudou. Na verdade, ela piorou: em 2011 as pesquisas "críticas", ou seja, as pós-modernas, as feministas, as marxistas etc. eram hegemônicas; os liberais e os católicos (de esquerda) também participavam desse ambiente, embora de maneira acessória: em todo caso, todos esses grupos vedavam o que eu chamei de "estudos comtianos".

Hoje, em meados de 2019, além dos grupos que atuavam com grande destaque tanto na política prática quanto na vida acadêmica, há também os grupos autonomeados conservadores, que reúnem não somente os conservadores à la Edmund Burke, mas também os conservadores ultraliberais, os católicos reacionários, toda a plêiade de conservadores evangélicos e, como se não fosse pouco, também os fascistas e os filofascistas. Além da presença dessa nova "direita" - que, aliás, é raivosa -, o que mudou desde 2011 é que a hegemonia política da esquerda está temporariamente rompida e sua atuação acadêmica tem sido (violentamente) contestada.

Dito isso, o desprezo pelo Positivismo que eu indicava existir no ambiente acadêmico em 2011 mantém-se em 2019. Se antes esse desprezo manifestava-se na forma da vedação à afirmação política, filosófica, religiosa do Positivismo (e na UFSC), agora esse desprezo revela-se por um... bem, "desprezo" é a expressão correta, em que duas pesquisadoras (da USP) tratam com a mais completa sem-cerimônia, o mais completo desdém o convite para resenhar um livro sobre o Positivismo, escrito por um positivista (isto é, Laicidade na I República, de minha autoria - disponível aqui).

Fiz uma pequena descrição dos acontecimentos, postada em minha conta pessoal no Facebook, reproduzida abaixo. O estilo do texto, além de indicar a informalidade dessa rede social, também evidencia o meu sentimento de ultraje.

Antes de passar à postagem no Facebook, um último comentário. A presente situação, bem como a de 2011, evidenciam - mais uma vez! - que estar em universidades e/ou fazer discursos pomposos sobre "democracia", "respeito mútuo", "respeito à diversidade", "diálogo" etc. por si só não quer dizer nada: o que importa em última análise é sempre o comportamento concreto, a conduta mantida no dia-a-dia. As duas sociólogas de que trato abaixo demonstraram o pior comportamento possível, o mais desprezível, o mais repreensível... mas é claro que, a despeito disso tudo, seus títulos continuarão valendo. É para isso que se mantém universidades públicas?

*   *   *

Aí eu peço a uma importante socióloga, que escreve para jornais de grande circulação nacional, que faça uma resenha de um dos meus livros. Ela não pode, mas indica uma orientanda: ok, sem problema.

A orientanda põe-se à disposição, embora com uma certa cerimônia; ainda assim lhe envio, às minhas custas, um exemplar do livro. Na verdade, de dois livros, para ela ter parâmetros adicionais para poder avaliar o livro que eu quero que seja comentado.

UM MÊS DEPOIS a orientanda "lembra-se" de indicar que recebeu os livros; mais importante ainda, somente depois de ganhar dois livros, no valor total de R$ 100,00, ela "lembra-se" de avisar-me de que ACABOU DE DAR À LUZ e que, portanto, não terá condições de fazer a resenha.

Nem a socióloga famosa nem a orientanda tiveram a capacidade de considerar que um filho recém-nascido dificulta muito (ou melhor, impede) trabalhos intelectuais mais exigentes. Também não tiveram a capacidade, ou a decência, de avisar-me desse pequeno fato da vida. Mas a orientanda ganhou, com grande alegria, dois livros.

A cereja do bolo foi a afirmação final da orientanda: se ela tiver um "tempinho" ela dará uma lida no meu livro.

Infelizmente, pela minha experiência, esse tipo de comportamento é recorrente nas universidades - pelo menos, no âmbito das Ciências Humanas.

E depois ainda é necessário defender as universidades contra ataques como o projeto "Future-se". Haja republicanismo para desconsiderar esse tipo de boçalidade em benefício do futuro do país.

Negação do aperfeiçoamento humano como crítica ao Positivismo

A citação abaixo oferece uma explicação prévia para a quantidade enorme de erros e distorções de que o Positivismo é vítima. Esse comentário de Augusto Comte é verdadeiramente lapidar e resume tanto o programa do Positivismo quanto o procedimento adotado pelos "críticos"; ele foi feito por A. Comte em uma carta a seu discípulo, o médico Georges Audiffrent (1823-1909), em meados de 1855.

"On hésitera toujours à se déclarer ouvertement contre une doctrine qui perfectionne autant le sentiment que la raison et l'activité".

("Sempre se hesitará a declarar-se abertamente contra uma doutrina que aperfeiçoa tanto o sentimento quanto a razão e a atividade".)

(Carta de Augusto Comte a Georges Audiffrent, 10 de março de 1855; in: Augusto Comte, Correspondance générale et confessions, t. VIII: 1855-1857; Paris, J. Vrin, 1990, p. 34.)

De alguns anos para cá há publicistas extremamente famosos atualmente, em particular no Brasil e que se definem como "conservadores" e "direitistas" - gente como Olavo de Carvalho e Luiz Felipe Pondé -, que se comprazem em ser contra o politicamente correto e contra o altruísmo, a generosidade, o pacifismo, a racionalidade etc. A despeito da "incorreção política" de tais publicistas, o fato é que, no fundo, eles acreditam, sim, no altruísmo, no aperfeiçoamento moral e assim por diante: ocorre apenas que eles negam essa possibilidade a seus adversários, mas (mesmo que secretamente) concedem-na às suas próprias preferências filosóficas.

Ora, o Positivismo baseia-se na afirmação da perfectibilidade humana: para os positivistas, é possível ao ser humano melhorar (ser mais altruísta e menos egoísta, ser mais racional e mais sintético, ser mais convergente). Mais do que isso: para os positivistas, é necessário que nos aperfeiçoemos (e, para isso, o Positivismo indica os inúmeros meios e procedimentos adequados).

Assim, deixando de lado os retrógrados que gostam de estar na moda e de aparecer nos telejornais do horário nobre, ninguém em sã consciência é contra a possibilidade e a necessidade de aperfeiçoamento humano. Como o Positivismo é radicalmente favorável a isso, o único meio de opor-se a ele é falseando sua proposta de aperfeiçoamento - daí as mais variadas e disparatadas críticas, formuladas pelos liberais, pelos marxistas, pelos católicos, pelos conservadores, pelos autoritários.
Augusto Comte.

Georges Audiffrent.
Fonte: http://cths.fr/an/savant.php?id=120841.

28 agosto 2019

Positivismo no Chile - arquivos históricos

A Biblioteca Nacional de Chile mantém um interessante projeto intitulado "Memória Chilena". Entre os vários tópicos abordados, há uma seção inteira dedicada ao Positivismo chileno, com livros, artigos, fotos etc. - a maior parte dos quais, se não a sua totalidade, podendo ser baixada gratuitamente.

A seção dedicada ao Positivismo chileno - "La filosofía positivista en Chile (1873-1949)" - pode ser consultada aqui.

Vale notar que essa seção abrange tanto o Positivismo religioso - realizado na obra dos irmãos Lagarrigues (Jorge, Juan e Luís) - quanto o que se poderia chamar de Positivismo "político" - realizado principalmente por Valentín Letelier.

22 agosto 2019

Textos positivistas no Archive.org

Desde há muitos anos o portal Archive.org põe à disposição dos interessados uma série de documentos e arquivos, como livros, documentos, gravações de acesso público, a maior parte dos quais raríssimos e de dificílimo acesso de outra maneira.

Pois bem: na medida em que há alguns anos digitalizei quase 250 opúsculos da Igreja Positivista do Brasil, bem como artigos da Revue Occidentale (órgão internacional do Positivismo), publicados todos eles entre c. 1870 e c. 1930, aos poucos passarei a carregá-los no portal Archive.org.

Esses documentos podem ser consultados por meio das palavras-chave mais relevantes (geralmente "Positivism", "Brazilian Positivist Church" etc.) ou, então, na minha página pessoal de documentos carregados (disponível aqui).

Essa é uma forma fácil e barata de manter-se a memória do Positivismo no Brasil e no mundo e, com isso, de manter a sua ação regeneradora, pacífica e altruísta.

19 agosto 2019

Raimundo Teixeira Mendes: República pacífica, livre e convergente

Defendida pelos positivistas brasileiros e estrangeiros com clareza e desde sempre, a República é concebida pelo Positivismo como o regime ideal por excelência. Para os positivistas, o regime republicano não é somente, nem principalmente, o regime presidencialista em oposição à monarquia e ao parlamentarismo. Muito mais do que isso, a República é o regime das liberdades e da fraternidade em todos os âmbitos (doméstico, cívico, universal); é o regime que consagra o ser humano e a atividade pacífica, (portanto) convergente e esclarecido pela ciência.

Essas características tornam-se mais relevantes quando comparadas com os regimes militaristas e com as paixões demagógicas. Nesse sentido, o trecho abaixo é exemplar e instrutivo. Ao mesmo tempo ele serve para evidenciar que o Positivismo e os positivistas são e sempre foram pacifistas e que a República é o verdadeiro regime ideal da paz, da convergência e das liberdades.

Esse texto é um pequeno trecho de um opúsculo de 1908, de autoria de Raimundo Teixeira Mendes, vice-Diretor da Igreja Positivista do Brasil, em que ele opõe-se, com base no Positivismo, à lei de sorteio militar, considerando-a um instrumento disfarçado do militarismo e ao mesmo tempo contrária à República e à índole pacífica do povo brasileiro.

(Como o texto é originalmente de 1908, a grafia foi atualizada.)


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"[...] Ninguém contesta que a índole do regime republicano reside no predomínio da fraternidade universal, em todas as relações sociais, quer domésticas, quer cívicas, quer planetárias. Esse predomínio conduz logo ao escrupuloso respeito pela liberdade dos homens, sem distinções de raças, de crenças, de fortunas ou de forças etc., a fim de que cada um se dedique, na função que preferir e no lugar que escolher, ao bem geral da Humanidade, servindo à Pátria que herdou dos seus pais ou adotou, graças à Família em cujo seio os seus pendores altruístas recebem o cultivo fundamental, imprescindível à existência social.

Assim, o verdadeiro regime republicano só pode realizar-se plenamente quando a inteligência se concentrar na investigação dos meios capazes de fazer prevalecer a sociabilidade sobre a personalidade e quando a atividade se consagrar exclusivamente à elaboração desses meios, já aperfeiçoando a nossa natureza, já aperfeiçoando a Terra. Em conclusão, o regime republicano supõe a livre preponderância final da poesia, da ciência e da indústria sobre o teologismo, a metafísica e a guerra, que formam a índole preparatória da Humanidade, e que a República aspira [a] substituir".

(Raimundo Teixeira Mendes, Ainda o militarismo perante a política moderna. A propósito da agitação a que está dando lugar a lei do sorteio, Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, fevereiro de 1908, p. 7; série da Igreja Positivista do Brasil, n. 249.)



(Facsímile de Raimundo Teixeira Mendes, Ainda o militarismo perante a política moderna, Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1908)


Raimundo Teixeira Mendes

15 agosto 2019

Abolição e política identitária na Ciência Hoje para Crianças

Nos últimos anos, a “discussão” sobre a abolição da escravidão no Brasil tem tomado alguns rumos inesperados mas, ao mesmo tempo, nefastos.

Antes de mais nada, é evidente (ou deveria ser evidente) que a valorização dos movimentos negros (escravos, livres ou libertos) na campanha pela abolição da escravidão é algo corretíssimo e tem que ser valorizado; todavia, isso não pode, de maneira nenhuma, corresponder a negar-se o papel desempenhado nessa campanha por outros brasileiros, que, na falta de melhor expressão, chamaríamos de “brancos” (quer fossem populares, quer fossem da elite, quer fossem de classe média).

O que importa notar, nesse sentido, é que a campanha pela abolição foi um movimento verdadeiramente nacional, no duplo sentido de que (1) ocorreu de Norte a Sul (e de Leste a Oeste) do país e, principalmente, (2) mobilizou todas as classes sociais, todos os grupos sociais. Nesse sentido, vale lembrar que a lei da abolição, antes de ser sancionada pela Princesa Isabel, fora aprovada pelo parlamento brasileiro: essa aprovação indica o quanto a sociedade como um todo mobilizara-se previamente, forçando o parlamento a aceitar o projeto.

É fundamental insistirmos em que consiste em um mito a idéia de que Princesa Isabel teria sido a “redentora”, isto é, de que a abolição teria ocorrido graças à pura vontade unilateral da regente do Império brasileiro. Aliás, esse mito foi criado já em 1888, para tentar valorizar a monarquia decadente e também para tentar legitimar um eventual terceiro reinado dos Órleans e Braganças, a ser assumido pelo casal composto pela Princesa Isabel e seu marido, o francês Conde d’Eu.

Mas se é correto desmistificar a atuação “redentora” da Princesa Isabel, assim como é importante valorizar a atuação dos movimentos negros na campanha abolicionista, por outro lado é importante não negar a atuação de toda a sociedade brasileira da época. Nesse sentido, por exemplo, vale notar que partes do próprio “movimento negro” afirmaram desde 1888 elementos do mito da “redentora”: afinal, após o 13 de maio constituiu-se sob o comando de José do Patrocínio (um dos antigos campeões negros da causa abolicionista) a “Guarda Negra”, que servia para defender a monarquia escravocrata contra a república e os republicanos, sem temer o emprego de espancamentos, linchamentos etc. Esse triste fato não costuma ser lembrado – mesmo nos dias de hoje! – nem pelos reacionários que defendem a monarquia nem pelo movimento negro.

Há outro motivo, mais profundo, para preocupação com os rumos atuais sobre os “debates” a respeito da campanha abolicionista: trata-se de que muito da historiografia revisionista das últimas duas décadas tem um fortíssimo caráter de política identitária. Ora, a política identitária baseia-se nas “identidades de grupo”, isto é, naqueles elementos que cada grupo social considera como exclusivos seus e que, portanto, separam esses grupos do conjunto da sociedade e dos demais grupos.

Referi-me a “muito da historiografia”, ou seja, muitos historiadores, mas também muitos cientistas sociais atuais adotam esses parâmetros identitários para fazerem suas análises, que se caracterizam cada vez mais pela brutal dicotomia que separa de maneira seca e dura “brancos” de “negros”, sem categorias intermediárias (os mulatos) mas com um fortíssimo elemento moral (em que, evidentemente, os “brancos” por definição não prestam). (Esse procedimento tem sido adotado por cientistas sociais independentemente da sua “raça”.)

Isso tem ocorrido graças à importação, completamente acrítica e despudorada, feita pelo movimento negro brasileiro dos esquemas mentais e sociais próprios ao racismo dos Estados Unidos e das estratégias sociopolíticas adotadas pelo movimento negro estadunidense – com todos os vícios que isso acarreta, em particular a reprodução ocorrida aqui do racismo e do divisionismo existentes lá. Sinal simples e escandaloso disso é a afirmação de que “miscigenação é genocídio” em faixas e cartazes que integrantes do movimento negro brasileiro exibem com orgulho em manifestações públicas, ainda que com isso apenas (e infelizmente) reproduzam aqui e a favor dos negros a nefanda regra da “gota única de sangue” (“one drop rule”), vigente nos EUA e que fundamenta sociologicamente o racismo lá.

Não posso deixar de observar que, muito diferente disso tudo, resultando em ações e práticas muito diversas, com efeitos sociais e políticos amplos (também diversos), foi a atuação dos positivistas. Os positivistas brasileiros celebravam no dia 13 de Maio a união da raças no Brasil, com a colaboração de cada uma delas para o progresso nacional; aliás, os positivistas brasileiros foram alguns dos mais ardorosos defensores da abolição da escravidão imediata e sem compensação financeira para os donos de escravos: aliás, nos grêmios positivistas, ser dono de escravo causava a expulsão sumária. Não é por acaso que, entre 1890 e 1930, o 13 de Maio era feriado nacional (e muita gente, mesmo nos dias de hoje, ainda se lembra disso): proposto pelos positivistas logo no início da República, esse feriado celebrava a fraternidade nacional nos termos indicados acima – mas muito diferentes da apologia reacionária que cultuava a “redentora” e também muito diferente da política identitária, segregacionista e não raro racista do dia da “consciência negra”.

Faço essas extensas considerações porque a revista Ciência Hoje para Crianças (CHC), em sua edição n. 299, de maio de 2019, dedicou o número a tratar da abolição da escravidão, dando ênfase aos negros envolvidos no movimento. Como observei antes, essa ênfase é histórica e politicamente necessária, mas ela não pode conduzir a negar o papel desempenhado pelo conjunto da sociedade brasileira – que, aliás, atuou como um conjunto – nessa campanha. Em particular, nesse número da CHC, a matéria “13 de Maio ainda seria data para celebrar?” (disponível aqui: http://chc.org.br/artigo/13-de-maio/) deixa entrever os problemas que comentei acima. É bastante claro o quão problemático, quando não desastroso, que, em nome de uma proposta bem intencionada, mas errada no final das contas, uma revista de divulgação científica leve adiante a “correção política” (que é a tradução correta do “politicamente correto”) e a política identitária sob a forma de conteúdo “educativo” para crianças.

Artigo "Positivism in Brazil"

Em nossa postagem "Verbetes na 'Encyclopedia of Latin American Religions': Positivismo e laicidade", de 5.8.2019, divulgamos que tivemos dois artigos (ou melhor, verbetes) na Enclyclopedia of Latin American Religions, publicada pela editora Springer.

Pois bem: seguindo os parâmetros editoriais da Springer, podemos tornar público o artigo em sua versão preliminar, isto é, sem a formatação da editora e sem a paginação.


Assim, o texto inicial está disponível abaixo.


As referências bibliográficas para consulta efetiva são estas:


Biscaia de Lacerda G. (2019) Positivism in Brazil. In: Gooren H. (eds) Encyclopedia of Latin American Religions. Religions of the World. Springer, Cham, pp 1301-1308
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Positivism in Brazil


Gustavo Biscaia de Lacerda
Setor de Ciências Exatas, Universidade Federal do Paraná
Curitiba
Brazil

Keywords

Religion of Humanity, religion, humanism, political action, civic and pious cults

Definition

Positivism is the philosophical system created by Auguste Comte (1798-1857), which comprises not only a social-historical philosophy or a philosophy of sciences, but also and mainly a secular religion, the Religion of Humanity. Constituted in three main parts (cult, dogma and regime), Positivism as a religion in practical terms can be broadly understood as a set of pious oeuvres (“religious” ones) and political interventions. From mid-XIX century on, many forms of Positivism spread all along Latin America, specially in Brazil, where the Brazilian Positivist Church has been founded in the city of Rio de Janeiro, in 1881, by Miguel Lemos (1854-1917) and seconded by Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927). Despite the fact that there were many varieties of positivists in Brazil (many of them not affiliated to Brazilian Positivist Church), it remains the fact that, from 1881 to 1927, both Lemos and Teixeira Mendes developed an intense set of actions, with “religious” and political characters. Pursuing a pacific, altruistic and positive society, Lemos and Teixeira Mendes championed the causes of freedom of consciousness and expression, the separation of church and State, the end of black slavery, the dignity of proletarians and Brazilian indigenous peoples, the international fraternity and so on. The most visible aspect of their work is the Brazilian national flag, with the Positivist motto, “Order and Progress”, authored by the Positivists Teixeira Mendes and Décio Villares.

Introduction

In a state-of-the-art-article written some years ago, Alonso (1996) has pointed out the existence of three broad phases in the dealing with Positivism in Brazil. The first generation was that when the Brazilian Positivist movements were strong and really active, between 1870 and 1930, comprehending the last phase of the Brazilian Empire (1822-1889) and the whole Brazilian I Republic (1889-1930). During this phase, the debates pro and against Positivism were ferocious; there were many branches of the Positivist movement (orthodox, unorthodox, political, religious, journalistic, military) and even the critics of the positivists may agree with one or another of their ideas. The second generation occurred from the “Vargas Era” (1930-1945) to the end of the military regime (1964-1985), passing through the Brazilian II Republic (or “Populist Republic”) (1946-1964): during this phase, Positivism was in general very much criticized, either because it was identified with authoritarian ideas (for example, by supposedly inspiring Getúlio Vargas’ coup d’état in 1937), in the Catholic and/or Liberal accounts, or because Positivism was seen as a conservative-bourgeois ideology, in the Marxist account. The third phase is the current one, and it has began in the late 1980s, with fairest visions of Positivism and of the Brazilian Positivist movements. For sure, the simple criticism doesn’t prevent good interpretations, as we can see in some of the works published during the second phase identified by Alonso, as the books written by João Cruz Costa (1967) and, specially, by Ivan Lins (2009), although some of worst interpretations are of that period, just like the unduly successful work of Sérgio Buarque de Hollanda (1985). So, Alonso’s third phase give us the possibility of studying Positivism in more comprehensive and varied ways, as shown by researches like Carvalho’s (2000), Alonso’s (2002), Ribeiro’s (2012), Maestri’s (2013), and Lacerda’s (2016). This article will present some characteristics of the Brazilian Positivist movements based in such researches; but, before, it is necessary to expose some traits of the Comtean political doctrine, in order to illuminate the practical actions of Brazilians Positivists.

Elements of Comte’s Doctrine

Although Auguste Comte (1798-1857) is best known for his scientific-philosophical work (mainly his Course in Positive Philosophy, 1830-1842), since his early writings his ambitions was on political and social subjects; as a matter of fact, the objective of the comprehensive revision of the sciences of his times he developed in the three first volumes of the Course was to consider the conditions of scientificity of each of the fundamental sciences he distinguished (Mathematics, Astronomy, Physics, Chemistry, Biology), so he could set the foundations of a brand new science, Sociology. This new science has been founded not only for intellectual purposes, but also for practical needs: as Comte has lived during the post-French Revolution, post-Napoleon and Restauration Era, social order was passing by a permanent turmoil, with the recent end of the Ancient Regime (the catholic-feudal order) and the beginnings of the modern, “capitalistic” society (or, in the Comte’s words, the beginnings of the “industrial society”, which was supposed to be pacific, positive and altruistic); so, the theoretical understanding of the social realities was urgent, as well as the proposal of ways to direct the new forces.
Johan Heilbron (1990) has noted that the revision of sciences that Comte undertook was not in order to reduce the new social science to the natural sciences, but, instead, based on a relational conception, to understand the specificity of each science and to propose the elements of Sociology. So, to Comte Sociology must base itself in history, considering the changes societies passes through time; his inspiration for it was Condorcet’s and Turgot’s conceptions: his three “laws of three stages” reflects that idea and constitute the spinal cord of his “Social Dynamics”. On the other hand, Comte considered that every society has some institutions that structured it and constitute the basis of the developments through time: property, family, government, language and religion are the elements of the “Social Statics”. Both Statics and Dynamics, taken together, allow Comte to propose a policy of “order and progress”.
From 1848 onwards, with the publication of his A General View of Positivism – or, better, since 1845, when Comte met Clotilde de Vaux (1815-1846), sister of one of his students, and developed a strong, Platonic passion for her –, Comte has begun what has been called (even by himself) his “second career”. Presented in his System of Positive Policy (1851-1854) and many accessory books (A General View of Positivism, 1848; Positivist Catechism, 1854; Appeal to Conservatives, 1855; Subjective Synthesis, 1856, and hundreds of letters), such “second career” was devoted to propose practical measures for the social troubles French and, more broadly, European societies were facing. More specifically, Comte create a human religion, the “Religion of Humanity”; leaving aside many details of its project that are easily, but unfairly, seen just like eccentricities or anecdotic traits (e. g., the “historical calendar”), the Religion of Humanity was considered by Comte the proper means to create a new “spiritual power”, i. e., the means to regulate, through counseling, the values, the ideas and the actions of the industrial society. That spiritual power must create, regulate and develop a new public opinion, based on the conceptions of pacifism, relativism, historicism, freedoms of conscience, exposure and association, and respect for all individuals, social classes and cultures.
It is important to consider that, to Comte, “religion” is different from “theology”: while theology is an interpretation of reality based on the assumption of the existence of supernatural beings that regulate reality – generally speaking, the “gods” –, religion is the social institution that regulate the three aspects of human nature (feelings, intelligence and practical actions), at the same time constituting a personal, individual unity and a social, shared unity (and, thus, realizing the “religare” Latin ethimology of the word religion). According to Comtean law of three intellectual stages, as religion can be based on theological grounds, it can also be a metaphysical institution and, more importantly, it can be a positive, human one: so, the “Religion of Humanity”.
As we have seen above, another element of Social Statics was government. For Comte there is not only the material, temporal government, which is generally called “State”; it also exists the moral, spiritual government. While temporal government is based in force – in the sense proposed by Thomas Hobbes and, later, restated by Max Weber –, the spiritual power is based in counseling. Both powers can be either united or separated; while in earlier times of Humanity and, in general, in periods in which theology prevails temporal and spiritual powers are together, in positive society for Comte both powers must be carefully apart one from another. The principle underneath such a separation is to preserve the autonomy and the dignity of both powers, specially spiritual power, which must not use the force to prevail; remaining separated, spiritual power gains influence only through counseling and, besides that, is autonomous to criticize freely temporal power, without prejudicial commitments. On the other hand, remaining separated, temporal power does not become despotic and it is prevented the creation of official hypocrisies, by avoiding the institution of State-imposed doctrines.

Many Brazilian Positivist Movements

In Brazil – just like in Latin America, in general terms (cf. Zea 1980) – there weren’t only one Positivist movement, but many of them. For sure it can be said that there were a large “wave” of Positivism, but we can analytically establish many specific kinds of positivists, depending on their fields.
The best known of all are those assembled in the Brazilian Positivist Church and Apostolate (IPB), which was leaded by Miguel Lemos (1854-1917), its first Director (1881-1904), and specially by Raimundo Teixeira Mendes (1855-1927), its second and more important Director (1904-1927) – although Teixeira Mendes always insisted that he was only the “vice-Director” of IPB. Both Lemos and Teixeira Mendes developed an intense activity of publicizing Positivism, as well as applying to Brazilian issues what they considered that were the positivistic solutions to them. During nearly half a century (1881-1927), they both maintained a constant worship of Humanity in the huge Temple of Humanity, in the city of Rio de Janeiro (then capital of Brazil), and intervened in a number of political, social, philosophical and religious issues. Organized in a church, those positivists were considered by themselves and by other positivists as “orthodoxes” – because they followed the integrity of Comte’s oeuvres, specially the last ones (such as the System of Positive Policy[1]).
Despite being the most important Positivist group in Brazil, those assembled around IPB were neither the only nor chronologically the first ones. Knowing Positivism a few years before Lemos and Teixeira Mendes, and applying it to public issues, the physician of São Paulo Luís Pereira Barreto (1840-1923) was another prominent Positivist. However, the majority of his career was based in the philosophical account of Comte’s works, rejecting its religious version; so, Pereira Barreto was an unorthodox positivist, as he preferred to apply Positivism to Brazilian society as a method, as a way of thinking, as well as a set of general principles and ideas, instead of a broader system of organizing social and individual lives. Anyway, Pereira Barreto not only has written books and journalistic articles on philosophy, but also texts of political intervention, proposing changes in political life, in agricultural policies etc. (cf. Lins 2009).
We can also identify journalistic-practical and military Positivistic groups in Brazil. Both branches considered more the practical aspects of Comte’s doctrine, in the sense of regime change – mainly from the unitary monarchy to a proposal of a republican regime, to be installed in federative basis –; furthermore, they saw in Positivism the way to conduct Brazil to a modern society, that is, an urban, industrial, rich, socially integrated one – in a word, to conduct Brazil into progress. Just like IPB (and even Luís Pereira Barreto), these groups acted mainly during the last phase of Brazilian monarchy (1870-1889) and the Brazilian I Republic (1889-1930).
There were those Positivistic journalists all over Brazil; their action in the press occurred mainly during the Brazilian Empire[2], precisely against monarchy and unitarism and for republic and federalism. Some of the most active of them were those in the Southern Brazilian state of Rio Grande do Sul (the “gaúchos”), led by the journalist and lawyer Júlio de Castilhos. As we just have said, they were more concerned with the social-political aspects of Positivism, although they haven’t stood against the religious ones; they even worked together later with the group of IPB, as for the laws of separation between church and State, of public holidays and Brazilian national flag, in the months after the proclamation of Republic prove. After the fall of monarchy in the end of 1889, through elections the Positivist gaúchos took power in Rio Grande do Sul and, despite many political turmoils in the initial years, they conserved it until 1930 (cf. Soares 1998).
There were also military Positivists. This group has develop around the figure of the teacher of Mathematics, the Major Benjamin Constant Botelho de Magalhães (1836-1891)[3]. Adept of religious Positivism since young adult (cf. Teixeira Mendes 1936), Benjamin Constant, took part of Paraguayan War (1864-1870)[4] and, after that, developed a career as a Mathematic teacher in the Military School. Adopting Comte’s ideas for society in general and for Mathematics itself, he became a symbol and a focus of convergence for the students, who were looking for progress of Brazil. Since he was considered a leader of old and young militaries and the military as a corporation felt itself devaluated after the Paraguayan War, in the late 1880s Benjamin Constant vocalized their discontentments (including there the opposition of militaries to be hunters of fugitive slaves), although he rejected revolution-like solutions to their problems. However, in 1889, as the prestige of Brazilian monarchy fell and the campaign for the Republic rose, Benjamin Constant was put ahead of a movement that in the first hours of November 15 proclaimed the new regime, which, subsequently, promoted the separation between church and State, the federalization of Brazilian political organization and many other important measures.
Those young military assembled around Benjamin Constant espoused different branches of Positivism; some, like Gomes de Castro, were looking for a means for radical political action (even if it was against a more rigorous interpretation of Positivism – cf. Teixeira Mendes 1906); others, like Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958), became religious positivists and developed a public action following Positivist parameters. Of course, others young militaries were just involved in the milieu of political exaltation, activism and patriotism (and, for sure, also republicanism), not following Positivism later: that was the case of Euclides da Cunha (1866-1909), who developed an important career as a journalist and a writer, becoming one of the most important Brazilian authors (specially due to his masterpiece Os sertões (Rebellion in the Backlands), 1902).
A few more words on the military positivists are necessary. For a long time, the role Benjamin Constant developed both as a teacher of young, radical(ized) students and as the éminence grise in the Proclamation of Republic was considered an important, if not the most important, factor that led to the politization of Brazilian military, which resulted, in the following decades, to many, systematic political interventions and coups d’État – namely, that of 1930, which ended Brazilian I Republic and between 1937 and 1945 assumed the form of a civilian dictatorship runned by Getúlio Vargas; and that of 1964, which endured until 1985 as a military-civilian dictatorship. The thesis of Positivist influence in the formation of an authoritarian mind, specially among the military, although still repeated today, was very famous during the 1964’s authoritarian regime; such a thesis was sustained by authors like Sérgio Buarque de Holanda (1985)[5].
The teaching of Benjamin Constant, despite held to the military youth, in the Military School, had a civilian orientation; at the same time, despite being a teacher of Mathematics, he was a true intellectual leader, based in Comtean ideas (specially in Comte 1856 work Subjective Synthesis). As we have seen earlier, for Comte the positive society must be pacific and “industrial”, a pair of words which must be understood in positivistic philosophy of history, in opposition to military-conquering societies. If the positive society must be a pacific one, the Armed Forces and the military will lose importance and, so, they will change their social roles into pacific, productive ones. That was the orientation of Benjamin Constant’s teaching at Military School; a generation later, military instructors and theoreticians, dissatisfied with such orientation, called it in very negative terms such as a “bookish” teaching.

Brazilian Positivism as a religious movement

Despite the fact that, as we have said above, there were many Positivists movements in Brazil, there is no doubt that the actions of Brazilian Positivist Church were the most important ones[6]. Following closely the ideas and proposals of Auguste Comte, both Miguel Lemos and, later, Teixeira Mendes have had an intense activity during 1881 (foundation of IPB by Lemos) and 1927 (death of Teixeira Mendes – Lemos died in 1917). According to Comtean doctrine, an orthodox Positivist develops activities that are at the same time religious and political; in rigorous terms, to that doctrine every action is, or may be, religious, despite the fact that it can have a more obvious political visage.
Those considerations are important because, being a church, IPB had its own ceremonies, following the seven sacraments of Religion of Humanity (presentation, initiation, admission, destination, marriage, retirement, transformation, incorporation)[7] and, more generally, the cult of Humanity, including the explication of the Positivist Catechism and the celebration of both abstract and concrete calendars, as well as the civic and the religious holidays. Lacerda (2016), analyzing the themes of 355 of the more than 500 publications of IPB between 1881 and 1927, reached the value of 27,32% of books and publications that can be categorized under the label of “religious texts”, i. e., texts regarding ecclesiastical themes, historical commemorations, pious texts and so on. Many of them present history of Positivist movement in Brazil; others are beautiful and touching tributes to Auguste Comte and Clotilde de Vaux (see, for example, Teixeira Mendes 1899, 1916); on the other hand, there are books or pamphlets concerning the history of religions (mainly of Catholicism) and/or their relations with Positivism (e. g., Teixeira Mendes 1903, 1907).
The ceremonies of public cults as well as books concerning historical figures present some of the most interesting aspects of Positivism, linking “religious” and “political” actions of IPB. One conspicuous example is the biography of Benjamin Constant (Teixeira Mendes 1936), where Teixeira Mendes at the same time inserts the history of Brazil in the world’s history (more precisely, in Europe’s history), explains the dynamics of Brazilian history and exposes how Benjamin Constant – supported by Positivism – acted first as a military (during the Paraguayan War), then as a Mathematics teacher, as a political leader and as a spouse and father.
The sense of actions of IPB were at the same time to develop the milieu for the gradual triumph of Positivism and to follow Comtean doctrine. To fulfill both aims, Lemos and Teixeira Mendes were very careful to distinguish Temporal and Spiritual powers; so, in the early 1880s they resign to their public functions (despite the fact that both had been approved in public contests) in order to become, and to remain, morally and intellectually independent. Considering that, at the time, the divulgation of ideas and doctrines occurred mainly through public speeches, lectures and texts, they have written about a huge list of subjects: putting aside those already mentioned “religious themes” (ecclesiastical and pious ones; Positivist cult; religious doctrines), they wrote about the end of black slavery; religious alliance; civil marriage; immigration; historical commemorations; sanitarian despotism; obligatory education; protection to indigenous peoples; freedoms of commerce, of testaments, spiritual, of professions; militarism; organization and proclamation of Republic; conditions of live of proletarians; separation between church and State; international relations; orthographic reform; Historical Sociology of Brazil; political theory; medical and psychological theories.
As we just have noted, the search for a pacific, altruistic and rational milieu was at the same time the means, the objective and the fulfillment of Positivism; in this sense, IPB many times fought against what they considered despotism of the State, as in the violent obligation to vaccine (at a time when vaccine was not fully proven), or, in more conspicuous cases, in the defense of many priests, let them be sorcerers oppressed by the State in behalf of the Catholic Church, or be Catholic priests oppressed by the State (cf. Teixeira Mendes 1912a). The defense of a pacific society was another constant subject of the public interventions of IPB, against the systematic use of insurrections to solve socio-political crisis, against militarism in Brazil or against World War I, or for the right of proletarians to make strikes (cf. Teixeira Mendes 1906, 1910, 1912b, 1914).
The republican regime was seen as a more developed regime than monarchy; so, all positivists were republicans. As the de facto leader of the Proclamation of Republic in November 15, 1889 was, despite himself, the Positivist Benjamin Constant, both Miguel Lemos and Teixeira Mendes proposed many suggestions to the provisory government – and, one year later, to the Constitutional Assembly –, in order to structure the young republic following Positivist lines. Since the beginning, some of their most successful suggestions were the law of separation between church and State (Decree n. 117-A, of January 7, 1890), the law of national holidays (Decree n. 155-B, of January 14, 1890), and – maybe the most visible sign of the Positivist influence – the Republican Brazilian national flag (of November 19, 1889).
The law of separation of church and State was intended to end the existence of an official religion and to preserve the freedom of consciousness and expression (not only of the Catholic Church, but also of every religion, cult and doctrine). The national holidays celebrated many dates important to Brazil in particular and to Brazil as a part of the West and Humanity: universal fraternity (January 1), fraternity of all Brazilian (May 13 – day of the end of black slavery), Republic, Liberty and the independence of American peoples (July 14) – and so on.
The flag was idealized by Teixeira Mendes and painted by the Positivist painter Décio Villares; based on the Brazilian Empire flag (the green rectangle and the yellow lozenge), the Republican one substituted the central imperial arms by a blue circle with an idealized version of the sky of November 15, 1889, as well as by a white stripe with the motto “Ordem e Progresso” (“Order and Progress”) in green letters[8].

Final thoughts

Brazilian Positivism shows us a very interesting spectacle, as it is not a single movement, but a manifold one. In this sense, the most important branch was the religious one, represented in particular by the Brazilian Positivist Church, led between 1881 and 1927 by its two most important leaders, Miguel Lemos and Raimundo Teixeira Mendes.
Two final thoughts to end this article. First, a historical one. Ralph Della Cava (1975) has pointed out that, from 1916 onwards, but specially after 1931 – i. e., after the Revolution of 1930 –, both the new political regime (led by Getúlio Vargas) and the Catholic Church (led by cardinal Sebastião Leme) supported each other. So, Brazilian Catholicism (re)gained political and educational privileges, at the same time that the new regime obtained legitimacy, in a period when both politics in Europe and Catholic Church tended to right-wing authoritarianism. Such a renewed alliance between Catholicism and State in Brazil worked directly and consciously against Positivism (although not only against it), and in many ways, but mainly against the set of values and practices tending to a pacific and humane society, with liberties of consciousness and expression: the long period between 1930 and 1945 saw militarism, authoritarianism, (para-)official religions, thought police being affirmed in Brazil.
Second, a sociological remark. Religious Positivism is a non-theological religion; despite the facts of being, in rigorous philosophical terms, an agnosticism (Comte always rejected both atheism and the label of Positivism as an atheism) and, concerning theology, Positivism is a very powerful source of secularization, it remains clear that the Religion of Humanity is, after all, a religion. In this sense, in one hand, it gives to every individual a personal unity and, at the same time, bides them to each other: it is the primary sense of “religion” for Comte. On the other hand, it provides a set of practices, ideas, values in order to structure society, inspire (good) feelings, provide common images and purposes and so on, in a continuum that goes from the more intellectual accounts to the most pious, almost mystic feelings – in humane, non-theological terms.


Cross References

Secularism; Roman Catholicism in Latin America; Vargas, Getúlio; Brazil; Agnosticism; Atheism; Secular Humanism; Modernity.


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[1] It is important to observe that the subtitle of the System of Positive Policy was “Treaty of Sociology instituting the Religion of Humanity”). So, it is clear that those who accepted that work was considered a “religious” positivist.

[2] From 1500 (year of discovery of Brazil by Portugal) until 1815, Brazil was a Portuguese colony; from 1815 until 1822, Brazil has been elevated to United Kingdom with Portugal; in 1822 Brazil declared its independence, as a monarchy and, more specifically, as an “empire”. Finally, in 1889 the republic was proclaimed, being the political regime in Brazil since then.

[3] Sometimes there is some confusion around the name of the Brazilian political leader called just “Benjamin Constant”. His name was an homage made by his father to the Franco-Swiss writer Henri-Benjamin Constant de Rebecque (1767-1830), also known just like “Benjamin Constant”. For sure, they were two different people; in this text, obviously, we are concerned only with the Brazilian leader.

[4] That conflict, also known as “War of Triple Alliance”, involved Brazil, Uruguay and Argentina together against Paraguay. Leaving aside the consequences for the other countries (despite it has devastated Paraguay), its end marked the beginning of the final phase of Brazilian monarchy and, so, of a number of social-political campaigns, which culminated all by the same period: the end of black slavery, the proclamation of Republic and the diffusion of “new, modern ideas” (Evolutionism, Socialism, Social Darwinism – and, for sure, Positivism). About the Paraguayan War, cf. Maestri (2013); on the “new ideas”, cf. Cruz Costa (1967).

[5] Since his masterpiece of 1936, Raízes do Brazil (Roots of Brazil), Sérgio Buarque showed bad will against Positivists – despite the fact that his bad will was generally targeted against all thinkers of Brazilian I Republic (1889-1930). But in the long article titled “From Freemasonry to Positivism” (Holanda 1985), in order to sustain his argument that the Positivists created the authoritarian mind in Brazil, Sérgio Buarque proposed daring interpretations of Positivism, such as that the members of IPB didn’t know the letters and the spirit of Comtean works. For a complete discussion of Sérgio Buarque’s arguments, cf. Lacerda (2016).

[6] Only the gaúchos can, at some degree, be paralleled in importance to the Positivists of IPB. It is important to notice that such an importance is due to their practical action in Rio Grande do Sul between 1891 and 1930 and, later, in much more indirect lines, to some aspects of the labor regulation during the Vargas’ governments (mainly between 1930 and 1932). Anyway, in 1912 it has been founded the Positivist Church of Porto Alegre, which maintain its activities until today.

[7] Based on periods of seven or seven-multiple years, those sacraments intend to mark the most important phases of individual life, attaching it to the social institutions and acknowledgment. Their description can be found in Comte (1929, v. IV). Miguel Lemos himself received the sacrament of destination by the hands of Pierre Laffitte, the not so much orthodox successor of Auguste Comte (cf. Laffitte 1881); after that, IPB delivered those sacraments in public ceremonies, as we can see in Lemos (1934).

[8] From some years to now, many public figures have insisted to change the motto by adding the word “Amor” (“Love”) before “Order”; it is said that Teixeira Mendes have forgotten or despised love, as the original, complete phrase by Comte is: “Love as principle and Order as basis; Progress as end”). But, for Comte, there were two different mottos: a properly religious one (the complete motto) and a more political one (just “Order and Progress”). About that, cf. Teixeira Mendes (1889) and Lacerda (2013).