No dia 2 de São Paulo de 170 (21.5.2024) realizamos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista, em sua undécima conferência (dedicada ao regime público).
No sermão abordamos uma deriva do Positivismo, ou seja, uma tendência possível e negativa que, assim, não corresponde aos impulsos profundos e verdadeiros do Positivismo: trata-se do "positivismo leninista".
A prédica foi transmitida nos canais Positivismo (aqui (versão interrompida): https://encr.pw/qMIpB e aqui (versão completa): https://acesse.dev/tLYLY) e Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/7vequ). O sermão começou aos 54 min 45 s.
Tivemos problemas na transmissão da prédica: o Facebook travou em diversos momentos e, por algum motivo desconhecido, o Youtube encerrou a transmissão pouco antes de 47 min.
As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.
* * *
O que seria um “positivismo leninista”?
- O tema desta semana é um pouco inusitado: queremos comentar o que seria um “positivismo leninista”
o Antes de mais nada: por que tratar disso?
o Por vezes alguns aderentes do Positivismo – sejam neófitos (novos na doutrina), sejam mais conhecedores da doutrina com mais tempo – tendem a apresentar alguns traços de comportamento que podemos chamar de “leninista”
§ Esse comportamento apresenta-se com freqüência de maneira irrefletida, ingênua, de boa fé
§ Ainda assim, embora possa surgir de boa fé, esse comportamento é problemático, seja porque não segue o Positivismo em termos morais, intelectuais e práticos (ao propor interpretações não positivas e/ou sentimentos não altruístas), seja porque suas conseqüências efetivas são daninhas (em particular, ao produzir sistematicamente atritos)
§ Esse é um perigo que muitos podem correr
o Em outras palavras, este sermão é menos uma admoestação e mais um alerta
- A referência inicial aqui é a Vladimir Ilich Ulianov (1870-1924), vulgarmente conhecido por “Lênin”
o Lênin foi um teórico político mas, acima de tudo, foi um “revolucionário profissional” e um líder político prático
§ Sua capacidade de trabalho era realmente espantosa e ele, bem ou mal, dedicou sua vida inteira à consecução dos seus projetos sociais e políticos
§ Ele dedicou sua vida a realizar a revolução comunista na Rússia; seus esforços intelectuais foram sempre envidados nesse sentido e subordinados à atividade prática
o Nascido na Rússia, suas atividades políticas tornaram-no objeto de perseguição oficial do Estado, o que o levou a exilar-se na Suíça; isso, contudo, não diminuiu suas atividades; durante a I Guerra Mundial, durante o ano de 1917, que foi de exaustão de todos os exércitos europeus (e, a bem da verdade, de exaustão dos países beligerantes e das respectivas sociedades civis), ele aproveitou-se do colapso do exército russo, da liderança russa e também do apoio alemão para voltar à Rússia e, em outubro, dar um golpe de Estado na república russa que fora pouco antes proclamada (em fevereiro)
o Com isso, ele tornou-se líder da nova Rússia comunista e, a partir de 1922, também da União Soviética
- Sobre as características do que chamamos aqui de “positivismo leninista”:
o Para evitar querelas desnecessárias: as características que indicaremos baseiam-se em uma idealização, ou seja, baseando-se na realidade (do comportamento efetivo de Lênin), identificamos alguns traços salientes que, em seu conjunto, podem (e devem) ser identificados como próprios ao revolucionário russo
o As características que veremos e que nos interessam são negativas e devem, portanto, ser evitadas ou até combatidas
- Eis os traços que podemos indicar como integrando o “positivismo leninista”:
o (Tendência à) intolerância
o (Tendência ao) dogmatismo
o Cientificismo (donde: intelectualismo)
o Tecnocratismo
o Rigidez política
o (Tendência ao) autoritarismo/concepção hierárquica das organizações
o Organizações entendidas como tropas
- Como se percebe com facilidade, as características do “positivismo leninista” giram em torno de uma dureza mental e prática e da falta de ternura (ou seja, uma falta de altruísmo)
o Em suma: o “positivismo leninista” consiste
na tendência a ignorar, em termos morais, intelectuais e práticos, a Religião
da Humanidade
- Devemos notar que as características do “positivismo leninista” são muito próprias ao marxismo
o O marxismo tem uma concepção dura e agressiva da vida
§ Como já indicamos inúmeras vezes, a idéia da “luta de classes”, por exemplo, é bastante literal: trata-se afinal de guerra de classes
o Mas esses traços não são apenas próprios ao marxismo e ao leninismo; eles integram algumas concepções muito disseminadas sobre as relações sociais: são as concepções que cinicamente reduzem a vida em sociedade a meras disputas incessantes de poder
§ Essas concepções cínicas, autodenominadas de “realistas”, não por acaso chamam concepções como a Positivista de “ingênuas”, “idealistas”, até mesmo “românticas”
§ É claro que, no final das contas, deve-se determinar qual concepção respeita e valoriza mais o ser humano; qual concepção reconhece o que o ser humano faz com, além e/ou apesar das disputas de poder; qual concepção evita mais as guerras; qual concepção valoriza a dignidade humana e a justiça social etc.: certamente é o Positivismo e não esse cínico “realismo” (marxista ou não)
- Todas as características indicadas do “positivismo leninista” são evitadas ou impedidas no Positivismo de maneira muito clara; de modo geral, os remédios são estes:
o Afirmação clara do altruísmo, em particular da ternura
o Relativismo filosófico
o Separação dos dois poderes
o Respeito à dignidade humana, ou seja, à autonomia individual
o Compreensão da tríplice natureza humana e das relações entre sentimentos, idéias e atividade prática
o Em suma: deve-se levar a sério a Religião da
Humanidade
- Além das características acima, que constituem o que chamamos de “positivismo leninista”, é claro que também podemos identificar inúmeras outras características de Lênin:
o Essas outras características – mais uma vez: em particular as negativas – não nos parecem corresponder ao “positivismo leninista”
§ Evidentemente, o problema está com os traços negativos; considerando o relativismo positivista, os traços positivos até podem ser motivo de admiração e emulação
o Negativas:
§ Crueldade
§ Maquiavelismo (“os fins justificam os meios”)
§ Amoralismo/imoralismo
§ Ódio mortal à burguesia e ao feudalismo, chegando ao ponto de não temer matar sumariamente burgueses e senhores feudais
§ Golpismo político profissional
o Positivas:
§ Pragmatismo político
§ Habilidade intelectual
§ Capacidade organizativa
§ Intensa dedicação ao trabalho
§ Abnegação profunda pela causa esposada
§ Subordinação da inteligência à atividade prática
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