Em meio às terríveis tragédias por que o estado do Rio Grande do Sul e, em particular, a cidade de Porto Alegre estão passando, temos visto algumas cenas belíssimas de auxílio às vítimas humanas e não humanas disso tudo.
A imagem acima, de autoria de Benett e publicada em 14.5.2024 na Folha de S. Paulo, baseia-se em um trecho de uma crônica de Ruy Castro, publicada na véspera também na Folha de S. Paulo ("Vidas e memórias na correnteza"). O trecho do cronista é este: "As cenas do cavalo Caramelo sendo retirado do telhado e
muitas outras estão correndo o mundo. Mas uma que me tocou particularmente foi
a que vi, de relance, num jornal de televisão: uma senhora anônima, estendendo
suas fotos num barranco para que secassem. Fotos de um passado feliz, anterior
ao dilúvio, mostrando pessoas queridas, que talvez se tenham ido nas águas e
que ela nunca mais verá. Minto: verá, sim, nas fotos que tenta salvar".
Pois bem: a imagem de Benett, parece-me, lembra-nos de que a Humanidade existe concretamente e que tem que ser salva, mas também que a Humanidade é feita da memória: salvar fotos, salvar lembranças é tão importante, é tão humano quanto salvar os seres vivos que atualmente lutam tão desesperadamente para sobreviver.
Em suma, manter a memória é preservar a Humanidade, é realizar a imortalidade subjetiva, é dar sentido às nossas vidas. Mesmo sem saber, a moça da imagem de Bennet realizou da melhor maneira possível o ideal positivista, da Religião da Humanidade.
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