O artigo abaixo, publicado no jornal Folha de S. Paulo de 23.5.2021, é da autoria Maria Carolina Loss Leite. A autora, evidentemente feminista, erra em um sem-número de aspectos da Religião da Humanidade; ao cometer esses erros, a autora repete os preconceitos políticos e intelectuais provenientes tanto do feminismo quanto da academia.
A despeito dos preconceitos academicistas e feministas da autora, ela viu-se obrigada a admitir a justeza das perspectivas de Augusto Comte, em particular no que há de mais importante em sua obra: a afirmação do amor, a concepção de que o amor deve estar na base de tudo.
Isso é uma tripla confirmação do Positivismo e de sua capacidade de superar preconceitos e ódios: afetiva antes de mais nada, mas também intelectual e, juntando esses dois âmbitos, igualmente uma confirmação prática.
O original do artigo pode ser lido aqui.
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Antes de passar ao artigo, convém ilustrar um pouco os erros cometidos pela autora. A título de exemplo, podemos indicar dois. Como comentamos antes, são muitos mais erros originários de preconceitos intelectuais e políticos, todos eles permeados por desdém e ironia, mas não faria sentido indicar cada um deles.
O primeiro erro que queremos indicar funda-se em um preconceito academicista: a autora afirma que, para Comte, o Grão-Ser é a "sociedade"; nisso a autore atribui a Augusto Comte uma concepção metafísica de Durkheim, que é visto como o "continuador" de Comte no âmbito da Sociologia - o que, por sua vez, serve tanto para desvalorizar a obra do próprio fundador da Sociologia e do Positivismo quanto para criar e manter um esquema simplista mas útil a polêmicas academicistas.
O segundo erro, já no âmbito do feminismo, consiste em que a autora repete o ódio feminista contra a concepção ao mesmo tempo generosa e realista de que as mulheres constituem o "sexo amante", preferindo que as mulheres sejam iguais aos homens especialmente em termos de violência e agressividade. Isso, aliás, vai na direção oposta da afirmação do amor, ou seja, em última análise, a negação do "sexo amante" é a própria negação do "amor por princípio"; nisso não há nem dignidade para as mulheres nem uma base regular para o amor.
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Auguste Comte e o amor em tempos de pandemia
Precisamos resgatá-lo antes que seja tarde
Falar de amor nos tempos tristes em que vivemos é necessário. Seja ele de qualquer forma, é sempre bem-vindo: do fraternal ao carnal. Por isso invoco o francês Auguste Comte, ou melhor, Isidore Auguste Marie François Xavier Comte. Considerado por diversos autores como o “pai” da sociologia por ter sido o primeiro a falar em estudar a sociedade do seu tempo, nasceu em 1798 e veio a falecer em 1857.
Para Comte, uma sensibilidade aliada ao amor transbordava em seus estudos ao ponto de sugerir a fundação de uma religião universal, considerando tanto os vivos quanto os mortos, haja vista que estes fizeram parte do mundo e deixaram seus legados. Chamava a sociedade de “o grande ser”.
Sua sociologia se baseou em um estudo na mudança dos corpos orgânicos —porque estes são vivos— e sociais. Foi o criador do positivismo, no qual projetava um pensamento do futuro baseado no passado. Colocado em uma fórmula, o positivismo poderia ser descrito como o amor aliado à inteligência mais a ação. O símbolo positivista era uma bandeira trazendo como figura central uma mulher.
Para criar suas obras, utilizou-se de esclarecimento, romantismo, racionalismo, empirismo, naturalismo (como o natural versus a história), desenvolvimentismo, holismo e relativismo. Seu lema, imortalizado, era “o amor por princípio, a ordem como base e o progresso como fim”. Percebia uma humanidade inserida em um todo e não apenas em uma sociedade, tendo, então, uma visão totalizante desta.
E aqui abro um parêntese sobre o amoroso Comte: apesar de pregar o amor, era contra qualquer tipo de emancipação feminina. Defendia que a igualdade dos sexos era incompatível e chamava a mulher de “sexo amante”, sendo o único exemplo de amor e devoção. Rompeu relações com seu amigo John Stuart Mill por conta de discordâncias em relação ao assunto. Mas isso já é outra história...
O lema de Comte foi parar em um dos grandes emblemas nacionais, atualmente tão desacreditado: nossa bandeira. Símbolo positivista brasileiro, possui a inscrição “Ordem e Progresso”, mas sem o “amor”. E, longe da ligação com o amor e do positivismo imaginado por Comte, sua criação se deu em meio à Guerra do Paraguai, sendo recentemente aproveitada como slogan em um governo após a retirada da presidenta Dilma Rousseff (PT) da cadeira do Executivo. Imagino como estaria Comte ao ver suas belas palavras e ensinamentos sendo utilizados não da forma como criou.
Lendo Comte, em meio a tantas desgraças, devemos acreditar que, com amor, muito luto e muita luta, poderemos trabalhar para atingir uma sociedade menos desigual. A sociedade atual vive em meio a um caos social, sanitário, econômico e ambiental, onde o ódio prevalece em diferentes tipos de pessoas.
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