O vídeo do roteiro abaixo encontra-se disponível aqui.
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Roteiro da exposição sobre o quinto mês dos
calendários positivistas
Parte I – Mês concreto: César
-
5º mês do calendário positivista concreto
o Considerando
o ano júlio-gregoriano de 2021, o mês de César começa em 23 de abril e termina em
20 de maio
o O
quinto mês concreto representa a civilização
militar
§ É
o quinto mês da Antigüidade
§ Ele
é antecedido por Moisés (a teocracia inicial), Homero (a poesia antiga), Aristóteles
(a filosofia antiga) e Arquimedes (a ciência antiga), sendo o derradeiro mês da
Antigüidade
-
César é referido duas vezes nos calendários positivistas:
o Sendo
o titular do quinto mês do calendário concreto;
o Sendo
celebrado na quarta semana do oitavo mês do calendário abstrato, dedicada ao politeísmo
social (Catecismo, p. 477); César está associado a Cipião, o Africano, e
a Trajano
o Além
de ser homenageado como o titular do quinto mês do ano no calendário concreto, César
também é homenageado como o titular do terceiro dos dias das semanas, conforme esta
tabela:
Dias portugueses
|
Segunda-f.
|
Terça-f.
|
Quarta-f.
|
Quinta-f.
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Sexta-f.
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Sábado
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Domingo
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Dias positivistas
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Lunedia
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Martedia
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Mercuridia
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Jovedia
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Venerdia
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Sábado
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Domingo
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Consagração histórica
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Homero
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Aristóteles
|
César
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São Paulo
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Carlos Magno
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Dante
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Descartes
|
Nota:
os “dias positivistas” correspondem à proposta de Miguel Lemos de tradução para
o português das palavras correspondentes aos nomes dos dias da semana em espanhol
(lunes, martes...), italiano (lunedi,
martedì...) e francês (lundi, mardi...) (e mesmo em romeno: luni,
martì...).
-
Evidentemente todos os meses dos calendários
positivistas apresentam aspectos históricos e sociológicos bem claros, mas no
caso do mês de César isso é bastante marcado
o
Em primeiro lugar, tanto a Grécia quanto Roma
são caracterizadas como “politeísmos progressivos”
(em contraposição às teocracias, que eram “politeísmos conservadores”) (Catecismo,
p. 406-407)
§ Esses
politeísmos greco-romanos viram a afirmação dos guerreiros ocorrer bastante
cedo, de tal sorte que foram “teocracias abortadas”, na medida em que os
sacerdócios não conseguiram verdadeiramente se sobrepor aos guerreiros
§ Ainda
assim, todo o conjunto das sociedades gregas e romana apresentam claramente as
heranças sociais, políticas, intelectuais de teocracias anteriores, em uma
evidente demonstração de continuidade histórica
o
Embora o mês de César seja dedicado à
“civilização militar”, notavelmente o
que menos importa aí é a celebração das guerras em si e mais o caráter social
que as guerras de conquista, especialmente as empreendidas por Roma, assumiram:
a frase de ninguém menos que Júlio César ilustra com perfeição esse programa:
“fazemos a guerra para levar os hábitos da paz”
o
As guerras de Roma constituíram paulatinamente
uma grande região de paz ao redor do Mar Mediterrâneo; assim, embora as guerras
por definição sejam atividades violentas e destruidoras, a atividade romana
ultrapassou largamente esse aspecto daninho e permitiu o desenvolvimento da
atividade pacífica, com a produção da riqueza em bases industriais (embora, sem
dúvida, o trabalho escravo e a falta de conhecimentos técnico-científicos
tenham entravado muito isso)
§ as
guerras de conquista de Roma permitiram a disseminação e a manutenção do
conhecimento grego, regularizaram a atividade cívica e criaram as condições
sociais e intelectuais para um esforço de disciplinamento moral (por meio do
monoteísmo católico)
o
Se dividimos a existência de Roma em duas
metades, uma vinculada à República e outra ao Império, vemos com facilidade que
a primeira corresponde às guerras de conquista, ou seja, à expansão do
território, enquanto a segunda metade corresponde à manutenção do território e
a guerras que cada vez mais foram defensivas:
§ vale
notar que, herdeiro das tradições populares das guerras sociais de Roma,
ocorridas no século II aec, a figura pessoal de Júlio César estabelece o
vínculo e a transição entre as duas etapas, com a conclusão das guerras de
conquista (no caso, a Gália transalpina) e o estabelecimento de facto do império e a submissão do
Senado
§ em
outras palavras, a ação romana corresponde à realização ou ao vislumbre de
realização de duas das três leis dos três estados:
·
a lei dos sentimentos: após os sentimentos
humanos mais amplos limitarem-se às famílias e às cidades, com Roma aponta-se
com clareza para a concepção de Humanidade
·
a lei da atividade: após as guerras de conquista
concluírem-se passou-se às guerras de defesa e ao estímulo da atividade
pacífica e industrial
§ apesar
de Roma ser o maior prenunciador da sociocracia, na evolução humana
faltavam-lhe, todavia, alguns aspectos centrais: (1) o desenvolvimento direto
da regulação moral (reservada à Idade Média), (2) a extensão da lei intelectual
dos três estados a todas as ciências (limitada então à Matemática, à Astronomia
e a rudimentos das demais ciências – e tudo isso apenas no âmbito estático e
não no dinâmico), (3) a emancipação dos trabalhadores e das mulheres (também
reservadas à Idade Média) e (4) a elaboração final da síntese subjetiva
(reservada ao Positivismo, após todos os passos anteriores realizarem-se)
·
César e Trajano deixaram claro o pressentimento
que os romanos tinham da atividade plenamente pacífica e da fé demonstrável (Catecismo, p. 429)
§ O
desenvolvimento parcial dos elementos da natureza humana foi necessário; caso
ele ocorresse todo ao mesmo tempo, ou caso houvesse então a regulação total da
natureza humana (sem o desenvolvimento prévio de seus elementos), ter-se-ia o
(r)estabelecimento das teocracias (Catecismo,
p. 409)
·
A inteligência tinha que ser o primeiro elemento
a desenvolver-se e os sentimentos, o último: caso a atividade prática
desenvolvesse-se antes da inteligência, a convergência forçada da guerra conquistadora
constrangeria a liberdade intelectual; por outro lado, como os sentimentos têm
seus contatos com a realidade externa por meio da inteligência e da atividade,
eles tinham que ser desenvolvidos após o desenvolvimento preliminar da
inteligência e da atividade
·
Além disso, com a cessação das guerras de
conquista, os destinos coletivos perderam sua orientação, o que evidenciou a
possibilidade e a necessidade de uma regulação mais ampla, abrindo então o
caminho para o surgimento do catolicismo como proposta de religião universal
o Também
é digno de nota que o civismo e o bom senso romanos consideraram durante muitos
séculos o catolicismo como retrógrado e imoral, com sua crença irracional, seu
culto da morte, sua negação da vida em sociedade, seu fortíssimo egoísmo (Catecismo, p. 417)
o
As guerras e as atividades de Roma foram em tudo
superiores às da Grécia:
§ subordinavam
a inteligência à ação e valorizavam a vida ativa, em vez de subordinar a ação à
inteligência e valorizar a inação
§ exigiam
o concurso de todos os cidadãos e de todas as famílias (em uma ação socialmente
homogênea), permitindo que a condução das guerras de conquista corrigisse
espontaneamente os defeitos teocrático-aristocráticos do Senado e afirmando, no
Império, o vínculo entre os líderes e o povo; já a Grécia apresentou o
espetáculo de massas sociais submetidas a relativamente poucos indivíduos
realmente notáveis e responsáveis pelo progresso humano (no máximo 100 nomes
dignos de recordação)
§ foram
guerras verdadeiramente de conquista, após momentos de conflito concentrado em um
adversário temível (Cartago) e hesitações no papel de árbitro do Mediterrâneo
(na Grécia), em vez de serem guerras intestinas que serviram apenas para
enfraquecer as cidades e expô-las à dominação estrangeira
§ apesar
de serem os conquistadores da Grécia, os romanos sempre valorizaram a herança
grega, isto é, o conquistador político-militar submeteu-se intelectualmente ao
vencido; de modo geral, os romanos eram muito abertos a influências
convergentes e assimiláveis dos povos vencidos
§ embora
sem ser vinculada às guerras em si, em Roma foi criada a hereditariedade
sociocrática, em vez da hereditariedade teocrática (vinculada ao sangue) e das
eleições democrático-metafísicas
-
A atividade guerreira é mais facilmente
disciplinável que a atividade industrial, pois os chefes são mais claramente
identificáveis, a disciplina é mais clara e mais direta e os objetivos também
são mais facilmente determináveis; além disso, a subordinação do egoísmo
individual aos objetivos coletivos também é mais clara, fácil e direta
o
Em contraposição, a atividade industrial é mais
indireta e menos evidente, permitindo que chefes medíocres e/ou mesquinhos
tenham o poder, os objetivos coletivos da ação individual são disfarçados pela
divisão do trabalho, a subordinação é mais complicada e, devido a uma herança
degradada da tradição militar, o mando é exercido inicialmente de maneira
despótica
o
Importa notar que o elogio que Augusto Comte faz
da atividade militar ao tratar de Roma não
equivale, de maneira nenhuma, ao elogio dessa atividade nos dias atuais, como
afirmou com má-fé indescritível o historiador paulista Sérgio Buarque de
Hollanda (cf. os meus livros Laicidade
na I República e Comtianas
brasileiras, ambos publicados pela editora Appris)
-
O mês e as semanas do mês de César correspondem ao
seguinte:
o
César – corresponde à guerra sistematizada e em
seu estágio conquistador final, que encerra o ciclo de conquistas e estabelece
a paz universal (na medida do possível); também indica a preeminência das
preocupações sociais (e populares) e a subordinação da inteligência às
preocupações sociais
o
Temístocles – representa os esforços ocidentais,
principalmente gregos, para manter a independência política do politeísmo
progressivo em relação a uma teocracia conservadora já retrógrada (a persa),
como condição da liberdade intelectual ocidental
o
Alexandre – corresponde a uma tentativa,
ocorrida no seio da própria Grécia, de estabelecer um império grande o
suficiente capaz de encerrar o ciclo de conquistas militares; adicionalmente, Alexandre
corresponde à vitória grega final sobre os persas; além disso, o efêmero
império alexandrino teve o mérito de disseminar pelo Mediterrâneo oriental,
pela Ásia Menor e por partes da Ásia Central a cultura grega, no chamado
“helenismo”
o
Cipião, o Africano – corresponde aos esforços
romanos para constituir, exitosamente, o seu império, desde o início da
República (século VI aec) até o início das crises sociais (século II aec), em
que as guerras púnicas (isto é, contra Cartago) ocupam um papel de destaque; as
virtudes cívicas mais proeminentes estão representadas aí, bem como há espaço
mesmo para cartagineses (Aníbal) e para líderes populares nas disputas sociais
(Mário e os irmãos Gracos)
o
Trajano – apresenta os grandes imperadores do
século II, que, escolhidos de acordo com a hereditariedade sociocrática,
indicam o apogeu do império, com sua máxima extensão, seu máximo brilho e sua
máxima força (na chamada “dinastia” nervo-antonina, que compreende os
imperadores que vão de Nerva até Cômodo), além de auxiliares, juristas e alguns
outros imperadores
Parte II – Mês abstrato: a fraternidade
-
O quinto mês do calendário positivista abstrato
celebra a fraternidade
o É
o quarto mês que celebra os laços fundamentais, em número de cinco: casamento,
paternidade, filiação, fraternidade e domesticidade
o A
fraternidade corresponde ao laço que liga no âmbito doméstico os filhos entre
si, em que se desenvolvem e sistematizam os vínculos entre os iguais em força,
os da mesma geração e os iguais em relações hierárquicas
o Enquanto
os meses da paternidade e da filiação referem-se a relações entre antepassados
e descendentes, instituindo a continuidade
humana, a fraternidade estabelece a relação entre indivíduos de uma mesma
geração (ou, de modo geral, da mesma época), instituindo a solidariedade humana
-
São quatro as modalidades determinadas por nosso
mestre na filiação, com as respectivas festas semanais; elas vão das mais completas,
fortes e íntimas para as mais incompletas e fracas:
1)
Natural – são os laços completos e por vezes involuntários
que ligam entre si os irmãos, mas em todo caso sendo laços de origem biológica
2)
Artificial – são os laços criados pelos pais entre
seus filhos, por meio das adoções
3)
Espiritual – são os laços de apoio principalmente
moral, mas também intelectual e artístico
4)
Temporal – são os laços de apoio material
(econômico e político)
Parte III – Comemorações de aniversários e feriados cívicos
-
Em termos de aniversários, comemoramos neste mês
as seguintes figuras:
o
Fundação da Igreja Positivista do Brasil (1881)
(19.César – 11.maio)
o
Jean-François E. Robinet (1825-1899) – nascimento (2.César
– 24.abr.)
o
Jorge Lagarrigue (1854-1894) – morte (12.César –
4.maio)
o
Cândido Rondon (1865-1958) – nascimento (13.César
– 5.maio)
o
Luís Lagarrigue (1864-1949) – nascimento (24.César
– 16.maio)
o
Marco Aurélio (121-180) – 1900 anos de
nascimento (25.César – 17.maio)
o
Dia do Trabalho (9.César – 1° de maio)
o
União das Raças (1888) (21.César – 13.maio)
Referências bibliográficas
Augusto Comte: Sistema de
filosofia positiva, Sistema de política
positiva, Catecismo positivista,
Síntese subjetiva
Frederic Harrison: O novo calendário
dos grandes homens
Raimundo Teixeira Mendes: As últimas concepções de Augusto Comte
Pierre Laffitte: Les Grands types de
l’Humanité, v. II
David Carneiro: História da Humanidade através dos seus grandes tipos, v. 3
Ângelo Torres: Calendário Filosófico
Gustavo Biscaia de Lacerda: Comtianas
brasileiras e Laicidade
na I República