17 agosto 2025

Carta a um aspirante ao sacerdócio positivo

No dia 5 de Gutenberg de 171 (17.8.2025) realizamos uma prédica extraordinária, consistindo exclusivamente na leitura da apresentação pessoal realizada no final do mês de César deste ano. 

Com as devidas alterações, essa apresentação pode ser entendida como uma "carta a um aspirante ao sacerdócio positivo", cujo texto está reproduzido abaixo.

A prédica foi transmitida no canal Positivismo (aqui: https://www.youtube.com/live/BHdxB9CeVO0?si=uWvHXJ9D6S8fs386).

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Apresentação pessoal; ou carta a um aspirante ao sacerdócio da Humanidade 

O documento abaixo foi inicialmente redigido para exposição em uma prédica positiva realizada em 28 de César de 171 (20.5.2025)[1]. Desde o início planejamos elaborar a partir delas uma separata, fosse para divulgação do texto em si, fosse como roteiro de um vídeo curto unicamente dedicado à nossa apresentação pessoal.

Entretanto, em uma conversa pessoal que mantivemos com nosso amigo Hernani Gomes da Costa logo após a prédica, ele sugeriu que tal separata fosse chamada de “Carta a um aspirante ao sacerdócio da Humanidade”, na medida em que, na generosa apreciação de Hernani, nossa exposição, para além da apresentação propriamente pessoal, reúne e resume alguns dos mais importantes elementos necessários à preparação e à atuação do sacerdócio da Humanidade.

Dessa forma, a exposição inicial foi adaptada para transformar-se neste documento. Esperamos que os comentários abaixo correspondam à gentil e simpática apreciação de nosso amigo e que possam efetivamente ser úteis a todos aqueles que desejam trilhar o importante, honroso e árduo caminho do sacerdócio da Humanidade.

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Caras amigas, caros amigos, caras irmãs, caros irmãos na Humanidade:

Escrevo estas palavras com a esperança de que, a partir da minha experiência e considerando as exigências morais, intelectuais e práticas, seja mais fácil para vocês a orientação rumo ao sacerdócio da Humanidade.

Embora eu estude, defenda, divulgue e aplique o Positivismo há algumas décadas, faz somente alguns anos que realizo prédicas, em particular na internet; essas prédicas têm sido realizadas em diferentes modelos e creio ter um reconhecimento crescente de minhas atividades.

Desde o início eu parti do pressuposto de que, mais que por meio de títulos e pompas, a minha atuação deveria legitimar-se ao longo do tempo pela qualidade dessa atuação, na medida em que eu atuasse como um verdadeiro e efetivo poder Espiritual: assim, eu procuro realizar exposições claras, honestas, competentes, úteis, informativas, elaboradas com autonomia e responsabilidade, respeitando e valorizando o público.

Após alguns anos fazendo as prédicas, eu creio que convém agora fazer uma apresentação pessoal, para expor os parâmetros que eu adoto em minhas exposições. O objetivo, no fundo, é bem simples: é ganhar, ou reforçar, a confiança do público no sacerdócio, sendo que essa confiança tem que ser ao mesmo tempo no conjunto do sacerdócio e em cada um dos sacerdotes. Estes comentários assumem, portanto, ao mesmo tempo um aspecto de apresentação pessoal e também de prestação pública de contas, dentro do que nosso mestre advogava como sendo o “viver às claras”. De qualquer maneira, em termos de prestação de contas, esta exposição é complementar às “circulares anuais” que tenho elaborado para a Igreja Positivista Virtual, dando continuidade a uma prática iniciada por Augusto Comte e continuada pelos seguintes grandes sacerdotes e apóstolos da Humanidade, embora lamentavelmente interrompida nas últimas décadas pelos vários (supostos) órgãos do poder Espiritual positivo.

Antes de passar diretamente para a carta, uma última observação preliminar. Como é natural, nas prédicas eu costumo usar a primeira pessoa do plural (o “nós”), seja na forma do plural modéstico, seja na forma do plural majestático; mas, como esta carta consiste em uma apresentação e uma justificativa pessoais, nesta exposição eu usarei a primeira pessoa do singular (o “eu”).

Então, vamos lá. Eu sou Gustavo Biscaia de Lacerda; sou sacerdote da Religião da Humanidade e Diretor e fundador da Igreja Positivista Virtual. Sou sacerdote da Humanidade porque sou oficiante da Religião da Humanidade; além disso, sou apóstolo da Humanidade, pois sou difusor da Religião da Humanidade; nas duas situações, minha preocupação, minha pretensão é a de ser um órgão do poder Espiritual positivo.

Para cumprir essas atribuições, procuro seguir as orientações da Igreja e Apostolado Positivista do Brasil, conforme as disposições de 1881 (na época da fundação da IPB) e os Expedientes de 1917/1927 (estabelecidos nas transformações de Miguel Lemos e R. Teixeira Mendes), que, por sua vez, basearam-se nas orientações de Augusto Comte. Ainda assim, é claro que as disposições que adoto consideram a história do Positivismo, ou seja, as inúmeras experiências concretas do Positivismo, bem como a situação moral, social e intelectual em que vivemos atualmente.

Procuro filiar-me à tradição moral e prática estabelecida pela Igreja Positivista do Brasil: a tradição oral das práticas efetivas da IPB é importante, mas em última análise a mera repetição oral de tradições é insuficiente e tem que ser lastreada em documentos públicos, que assumem o aspecto de documentos escritos e publicados. Esses documentos, que realizam o “viver às claras”, garantem a realidade, a certeza e a clareza das informações e permitem que evitem e/ou resolvam ambiguidades, dificuldades, incertezas, além de oferecerem parâmetros para aplicação concreta do Positivismo.

Uma preocupação constante de minha atuação é com a “atualização” do Positivismo. Eu já dediquei algumas prédicas a esse tema; considero que atualizar o Positivismo consiste em adaptá-lo à realidade em que vivemos, utilizar os meios adequados e disponíveis à sua difusão e aplicá-lo à realidade concreta vivida pelos seres humanos. Há aspectos específicos da doutrina positivista que podem, e até devem, ser revistos, em face de desenvolvimentos posteriores às elaborações de Augusto Comte: entretanto, por um lado são aspectos muito pontuais (geralmente relativos a questões especificamente científicas) e, por outro lado e mais importante, o conjunto da obra de nosso mestre e a quase totalidade de suas concepções mantêm-se relativisticamente inalteradas, em particular em termos sociológico-morais, filosóficos, cultuais e de regime.

Em particular, eu rejeito a tendência, muito própria aos hábitos mentais contemporâneos – profundamente marcados pela metafísica e por sua criticidade destruidora –, segundo os quais a “atualização” do Positivismo na prática consistiria em “rever”, negar, desprezar a obra de Augusto Comte, sem nenhuma preocupação com relativismo, simpatia, organicidade e veneração. Esses hábitos mentais (mais uma vez: profundamente metafísicos) são particularmente ativos no jornalismo diário e nas academias, ambientes nos quais o novidadismo destruidor, antiorgânico e antissimpático apresenta-se como virtuoso e progressista; isso tudo com freqüência é esgrimido por pessoas que se aproximam do Positivismo mas desconhecem a doutrina e, em particular, não entendem seus sentimentos, suas idéias e suas preocupações práticas.

Voltando às diretrizes estabelecidas pela Igreja Positivista do Brasil e o respeito que tenho por elas. Eu tenho, por um lado, um respeito geral a essas diretrizes e um respeito à autoridade moral e espiritual – subjetiva – de Miguel Lemos e Teixeira Mendes; por outro lado, como órgão empírico da Religião da Humanidade, mantenho autonomia objetiva em minhas atividades e decisões. Dessa forma, em última análise, a responsabilidade por minhas ações é minha, sendo pessoal e intransferível. (O sacerdócio empírico é aquele que surge espontaneamente em algum lugar, a partir das necessidades sociais e das vocações individuais; o sacerdócio sistemático é aquele que se perpetua ao longo do tempo, que se constitui, prepara-se e legitima-se de acordo com os parâmetros positivos, especialmente os da hereditariedade sociocrática.)

A responsabilidade pessoal e intransferível pelas opiniões e ações do poder Espiritual é uma característica inerente a todos os servidores da Humanidade, quer sejam espirituais, quer sejam temporais; em qualquer caso, essa responsabilidade é condição e garantia da confiança depositada pelo público no servidor da Humanidade. Se isso é válido para qualquer servidor da Humanidade, é ainda mais válido para o sacerdócio positivo, cuja atuação baseia-se essencialmente na confiança depositada em si pelo público. Além disso, a responsabilidade pessoal e intransferível também se verifica na medida em que, conversando com outros positivistas, pedindo esclarecimentos e sugestões – em particular de nosso amigo de longa data, Hernani Gomes da Costa –, as opiniões expostas e as ações tomadas são sempre decididas e assumidas em última análise por mim. Isso não é personalismo, que seria incompatível com o altruísmo positivista, mas de responsabilização clara, consciente e pública do servidor da Humanidade por suas ações.

Nascido no ano 113 da era normal (1977), atualmente eu tenho 48 anos de idade e sou positivista desde os 16 anos; nasci e vivo em Curitiba, capital do Paraná; minha profissão é de sociólogo, que exerço na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Olhando para trás, posso dizer que, desde que conheci o Positivismo e mesmo antes, sempre me orientei para o sacerdócio da Humanidade, valorizando o conhecimento do ser humano, valorizando a moral e a moralidade, assim como valorizando o conhecimento positivo de modo geral. Em termos de carreira acadêmica e profissional, fiz graduação em Ciências Sociais (na UFPR), mestrado em Sociologia (na UFPR) e doutorado em Sociologia Política (na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)); também fiz um pós-doutorado em Teoria Política (na UFSC) e um em Filosofia das Ciências (na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)); desde 2004 sou sociólogo profissional na UFPR.

Eu sou (1) positivista (2) religioso e (3) sacerdote da Humanidade. Para mim, cada um desses aspectos significa o seguinte.

Como positivista, entendo que a obra de Augusto Comte é uma única, embora evidentemente ela tenha passado por diferentes fases, que correspondem a um longo, importante e necessário processo de amadurecimento moral e intelectual. Esse processo teve um ponto de inflexão particularmente importante durante o belo “ano sem par”, quando nosso mestre conheceu e apaixonou-se pela angélica Clotilde de Vaux, mulher de qualidades superiores, à altura do amor e da missão de nosso mestre. Isso culminou na criação da Religião da Humanidade, que, por seu turno, teve precisa e necessariamente como primeiro sacerdote – mas não único sacerdote – Augusto Comte. Em face da Religião da Humanidade, procuro ser um positivista completo, também chamado de “ortodoxo” ou, mais corretamente, de “religioso”, ao mesmo tempo em que me distancio dos positivistas incompletos, ou heterodoxos, que são meramente cientificistas e com freqüência anticlericais e/ou ateus.

Como positivista completo, ou ortodoxo, e ainda mais como sacerdote e apóstolo, procuro conhecer a obra de Augusto Comte diretamente na fonte, além de conhecer a obra de outros positivistas. É claro que “conhecer a obra” inclui não somente conhecer os livros canônicos (a Política positiva, o Catecismo positivista, a Síntese subjetiva etc.), mas também as cartas e as ações concretas (conforme expostas em relatos de discípulos, parentes e amigos) de Augusto Comte. De modo central, além de conhecer, é claro que também me esforço para aplicar essas concepções.

Sendo um positivista religioso e tendo a pretensão de ser um sacerdote e um apóstolo da Humanidade, não apenas correspondo à exigência intelectual fundamental – conhecer a obra de Augusto Comte e ser capaz de expor e explicar com autonomia e responsabilidade pessoal o Catecismo positivista e as últimas concepções de nosso mestre –, como também procuro cumprir as exigências morais, sociais e práticas correspondentes, em particular no sentido da separação entre os dois poderes. Sou (1) um apóstolo porque difundo a Religião da Humanidade e tenho conhecimento da doutrina; sou (2) um sacerdote porque atuo (ou procuro atuar) como um representante do poder Espiritual positivo e, além disso, ministro os sacramentos da Religião da Humanidade; em ambos os casos, (3) cumpro os requisitos exigidos para cada uma dessas atuações.

A minha condição de apóstolo e, principalmente, de sacerdote vincula-se também à necessidade urgente de reconstituição dos quadros positivistas, especialmente em termos práticos. A esse respeito, é necessário afirmar que a concepção de que só houve um único sacerdote da Humanidade – Augusto Comte –, sem a possibilidade de haver nenhum outro, embora em si mesma seja generosa, é uma concepção radicalmente equivocada, baseada em uma devoção mal orientada, ignorante da doutrina e daninha para a prática religiosa.

A reconstituição atual dos quadros positivistas é um objetivo real e ocorre de fato por diferentes meios. Para nossa felicidade, podemos dizer com segurança que não apenas a Igreja Positivista Virtual é uma realidade concreta como também o Templo Positivista de Porto Alegre é atuante e, além disso, há alguns anos fundou-se o Apostolado Positivista da Itália. Saímos, portanto, das angustiantes situações, vividas até algumas décadas atrás, em que não havia mais núcleos positivistas atuantes ou em que havia somente um único.

Também é fundamental lembrar e afirmar que não basta alguém querer ser líder espiritual apenas devido a uma pretensão de ser líder espiritual; a mera pretensão, se for uma pretensão vazia, baseia-se em vaidade e resulta em prepotência, enganos e equívocos. Embora a vaidade e o orgulho sejam motivadores até importantes e embora eles impressionem bastante os ignorantes e os incautos, eles são insuficientes como fundamentos para a vida sacerdotal/apostólica e, ao longo do tempo, como já tivemos inúmeras ocasiões de comprová-lo (no Brasil e em outros países), são desastrosos para o Positivismo. Para a liderança espiritual, é necessário conhecer a doutrina, praticá-la, viver conforme seus parâmetros, difundi-la e ser um exemplo dela; em outras palavras, realmente é necessário cumprir inúmeros requisitos morais, intelectuais, práticos e sociais.

Seja por temperamento, seja devido ao Positivismo, entendo os títulos e a pompa como formas que a vaidade mais tola e mais superficial tem para justificar-se e impor-se, especialmente quando essa vaidade é ignorante e sem méritos verdadeiros, ou seja, quando ela é vazia. Lembro que os sacerdotes, assim como os integrantes do poder Espiritual de modo geral, têm que ter uma certa vaidade, na medida em que a vaidade é o instinto egoísta que busca a aprovação alheia; mas as atividades sacerdotais não podem resumir-se a satisfazer essa vaidade, pois isso no final das contas tem como resultado a degradação da doutrina e do sacerdócio, muito mais que a degradação do próprio vaidoso. Da mesma forma, embora a pompa estimulada pela vaidade impressione bastante o comum das pessoas, ela resulta em apoios equívocos e equivocados. Dessa forma, nossa missão como poder Espiritual positivo consiste também em, por um lado, rejeitar a pompa, a vaidade vazia, a ignorância e, por outro lado, em valorizar a visão de conjunto, a existência real de atributos morais, intelectuais e práticos, a atuação social e individual efetiva.

Em vez de perseguir a satisfação da vaidade e/ou do orgulho, o poder Espiritual deve manter uma relação de responsabilidade, seja para com a Humanidade em geral, seja para a sociedade particular em que vive, seja para com os membros de sua igreja. Em outras palavras, em vez de o apóstolo e/ou o sacerdote buscar uma satisfação infantil ao ser ouvido e/ou obedecido pelos demais, o parâmetro que deve guiar a sua atuação é a responsabilidade decorrente da confiança depositada nele, como representante sistemático ou empírico da Humanidade, e que em termos concretos consiste em que o público que ouve o sacerdote e/ou apóstolo confia em seus conselhos e leva-os a sério.

Mudando um pouco de âmbito, passando para o da separação entre os dois poderes: não sou filiado a nenhum partido político; nunca concorri a nenhum cargo público eletivo; não pratico o jornalismo como profissão; não uso o Estado para difundir a doutrina. Essas restrições não têm nada de excepcionais e são elementares para o sacerdócio da Humanidade. Na verdade, considerando as exigências próprias a cada um dos dois poderes fundamentais (o poder Espiritual, que esclarece e aconselha, e o poder Temporal, que manda), tenho clareza de que quem pretende ser apóstolo da Humanidade (ou sacerdote de qualquer doutrina) não pode nunca concorrer a cargos e, inversamente, quem concorre não pode nunca ser apóstolo e/ou sacerdote. Além disso, não promovo outras doutrinas nem outras associações que possam concorrer, direta ou indiretamente, com o Positivismo. Na verdade, explicitamente rejeito qualquer ambigüidade a esse respeito: quando eu manifesto-me, procuro sempre deixar claro que é com base no Positivismo, quer seja em termos estritamente pessoais, quer seja quando falo em termos mais gerais.

O sofrimento não é mérito, mas às vezes ele pode evidenciar compromissos íntimos, especialmente por meio do martírio. Nesse sentido, a minha vinculação, a minha identificação e a minha vida conforme o Positivismo são suficientemente grandes e são atestadas por dificuldades e exclusões que sofri ao longo dos anos exatamente porque sou positivista. Um exemplo claro é a censura sofrida em concurso público para professor de Ciência Política na UFSC, em 2011, quando a banca, presidida por um liberal católico, proibiu-me de lecionar lá porque sou positivista – embora, em contraposição, feministas, marxistas, liberais, anarquistas etc. etc. tenham permissão para lecionar nas universidades públicas e para usar essas instituições como púlpitos em vez de cátedras. Vale notar que o uso que se faz das universidades como púlpitos e não como cátedras (1) despreza a separação entre o poder Espiritual e o poder Temporal, (2) confunde e degrada o poder Espiritual, (3) atrapalha, dificulta e, no limite, impede a reorganização espiritual e (4) justifica, mais uma vez, muitas das críticas de Augusto Comte às instituições acadêmicas. Além disso, com freqüência comento nas prédicas que o ambiente metafísico atualmente reinante na sociedade (ocidental) e na universidade gera equívocos e u’a mentalidade contrária ao Positivismo, que nos impede de falar, ao mesmo tempo em que se mente a nosso respeito e difundem-se doutrinas e “ideologias” daninhas à sociedade e ao ser humano.

Como é natural, os caminhos que levam ao Positivismo são muito variados; há quem chegue a ele pela filosofia, há quem chegue pela política, há quem chegue pelo coração, ou seja, pela inteligência, pela atividade prática e/ou pelos sentimentos. Conforme eu entendo a Religião da Humanidade, ela satisfaz e deve satisfazer cada um desses caminhos, ou melhor, cada um desses aspectos, ao mesmo tempo em que a Religião da Humanidade evidencia que os outros aspectos da vida humana também devem ser, necessariamente, satisfeitos.

O meu caminho foi basicamente intelectual e moral: adolescente, eu procurava uma orientação na vida, mas também me preocupava com a política. Chegando ao Positivismo, obtive essa orientação moral, intelectual e prática de que precisava; mas, para mim muito mais importante que isso, eu descobri e reconheci cada vez mais a importância do coração, que no fundo é o aspecto principal da Religião da Humanidade. Além disso, outros aspectos fundamentais do Positivismo – a afirmação da visão de conjunto e da realidade da totalidade humana – são concepções que cada vez mais aplico no conjunto da minha vida.

Como sacerdote e como apóstolo da Humanidade, entendo o aspecto de aconselhador do poder Espiritual: isso implica não somente que devo rejeitar a imposição das minhas crenças pelo Estado – bem como de qualquer outra crença –, mas que também devo ser um bom conselheiro para quem precisa de conselhos. Ora, o aconselhamento próprio ao poder Espiritual é coletivo – em termos políticos, sociais e morais – e também individual – em termos igualmente políticos, sociais e morais.

O aconselhamento coletivo dá-se por meio da apreciação de temas de interesse público e realiza-se na leitura comentada das obras de Augusto Comte, nos sermões das prédicas e quando elaboramos “manifestos” políticos e sociais. Já o aconselhamento privado ocorre tanto por meio das prédicas em geral – que, afinal, são vistas e acompanhadas por indivíduos – quanto por meio de aconselhamentos especificamente pessoais.

Se é verdade que os indivíduos só existem como abstrações, também é verdade que a Humanidade é um ser composto, que existe em última análise pelos indivíduos; da mesma forma, a ação sacerdotal modifica a sociedade também pela modificação dos indivíduos: não podemos deixar de lado o aconselhamento, o apoio, a valorização dos membros individuais de nossa igreja e, de modo mais amplo, da Humanidade. É importante eu notar que, enquanto eu preparei-me de modo especial ao longo de minha carreira em particular para o aconselhamento coletivo, o sacerdócio da Humanidade não pode nunca descuidar do aconselhamento individual: por esses motivos, e por muitos outros ainda, tenho-me dedicado cada vez mais a conhecer como lidar e como auxiliar de fato os indivíduos que acorrem ao Positivismo. A preocupação com o aconselhamento individual tem-se desenvolvido ao longo das prédicas, como resultado das interações ocorridas nas prédicas e também como resultado do amadurecimento de minhas atividades como sacerdote e apóstolo.

O último aspecto que quero comentar é que as prédicas têm evoluído ao longo do tempo. Minha atuação na Igreja Positivista Virtual dá-se basicamente pelas prédicas, que realizo toda terça-feira a partir das 19h, nos canais Positivismo (Youtube.com/ThePositivism) e Igreja Positivista Virtual (Facebook.com/IgrejaPositivistaVirtual e Instagram.com/IgrejaPositivistaVirtual).

Quando eu iniciei as minhas prédicas à distância, já ocorriam nas manhãs de domingo as reuniões realizadas pelo Guardião do Templo Positivista de Porto Alegre, Érlon Jacques de Oliveira: com a especial e consciente preocupação de não o atrapalhar nem criar uma concorrência com ele – concorrência que seria desnecessária, desleal, contraproducente e antipositivista –, decidi realizar as minhas prédicas no meio da semana e à noite.

Sendo o progresso o desenvolvimento da ordem correspondente, creio que, aos poucos e cada vez mais, modifiquei e incrementei as prédicas, no sentido de torná-las mais sintéticas, mais orgânicas e mais simpáticas, ou seja, mais úteis, mais claras, mais interessantes, mais responsáveis e mais abertas ao diálogo. Esse progresso paulatino e incremental dá-se por meio de ajustes em meus procedimentos; no aumento de atividades; na diversificação das atividades; na mudanças de canais para transmissão; no estudo e no aperfeiçoamento das condições e das práticas de aconselhamento. O progresso paulatino e incremental também se dá, na medida de minhas possibilidades, por meio do estudo e da pesquisa sobre tudo quanto é dito e comentado nas prédicas, especialmente em termos de observações e dúvidas manifestadas pelo público; esse estudo é feito para que eu possa responder e comentar satisfatoriamente o que é dito pelo público e possa, portanto, aconselhar e orientar adequadamente.

Assim, sem pretender que o formato atual das prédicas seja excelente ou final, tenho certeza de que elas são hoje muito melhores do que eram no início – e isso não porque tenho agora maior desenvoltura na exposição, mas porque as prédicas estão melhor estruturadas, com mais elementos que indicam melhor o seu aspecto religioso e que satisfazem melhor as necessidades coletivas e as individuais.

Nesta carta eu comentei vários aspectos; a respeito de alguns eu aprofundei-me um pouco, a respeito de outros eu só fiz breves comentários; além disso, muitas outras questões não foram abordadas. O que eu abordei foi o que me pareceu – no momento em que redigi esta carta – mais relevante para apresentar as principais características e diretrizes da minha atuação como sacerdote e apóstolo da Religião da Humanidade. Alguns aspectos eu expus explicitamente, mas muitos outros eu deixo para que vocês, que têm interesse no sacerdócio positivo, procurem por si mesmos as indicações; é claro que as melhores exposições doutrinárias a respeito estão nas obras de Augusto Comte e de vários apóstolos da Humanidade (a começar pelos nossos Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes).

No final das contas, espero que esta carta tenha sido clara, útil e estimulante. 

Saúde e fraternidade, 

Gustavo Biscaia de Lacerda 

Curitiba, 5 de Gutenberg de 171 (17.8.2025).



[1] As anotações originais da prédica estão disponíveis aqui: https://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com/2025/05/apresentacao-pessoal-formula-destinacao.html; já o vídeo dessa prédica pode ser visto aqui: https://www.youtube.com/live/wE5V1Z59bV8?si=Pn5x9RyN69sYKKCx. Acesso em 21.5.2025.

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