21 agosto 2025

Teixeira Mendes: Exortação à Fraternidade





Igreja e Apostolado Positivista do Brasil

 

O Amor por princípio e a Ordem por base;

O Progresso por fim.

 

Viver para outrem.                              Viver às claras.

 

Exortação à Fraternidade

Aos pés de Augusto Comte, ajoelhado junto ao leito fúnebre de Clotilde

 

(Ensaio de uma paráfrase positivista do Capítulo XVI, Livro I, da Imitação de Tomás de Kempis, segundo a tradução em verso de Corneille: Como se deve sofrer os defeitos de outrem)

 

Conciliante de fato, inflexível em princípio.

Augusto Comte.       

Gradualmente expurgado por ti (Clotilde) de todo azedume, e espontaneamente confirmado, na minha regeneração, mediante o exemplo contínuo de tua imortal irmã (Sofia Bliaux)...

Augusto Comte – 11ª Santa Clotilde.

 

[Transcrição de trechos do opúsculo n. 316 da Igreja Positivista do Brasil – 5 de abril de 1911.]

 


Exortação à Fraternidade

Aos pés de Augusto Comte, ajoelhado junto ao leito fúnebre de Clotilde

 

(Ensaio de uma paráfrase positivista do Capítulo XVI, Livro I, da Imitação de Tomás de Kempis, segundo a tradução em verso de Corneille: Como se deve sofrer os defeitos de outrem)

 

Conciliante de fato, inflexível em princípio.

Augusto Comte.       

Gradualmente expurgado por ti (Clotilde) de todo azedume, e espontaneamente confirmado, na minha regeneração, mediante o exemplo contínuo de tua imortal irmã (Sofia Bliaux)...

Augusto Comte – 11ª Santa Clotilde.

 

I. Em todos e em ti mesmo, aceita com humildade

            Tudo o que não possas emendar;

Até que enfim o Espaço, a Terra, e a Humanidade,

Com as suas leis fatais e doce potestade,

            Hajam, acaso, um dia de o mudar.

 

Para provar-te a força inda melhor, derreia

            Por ventura teus ombros essa cruz;

Teu mérito assim melhor se patenteia;

            E, si, nas provações, teu ânimo fraqueia,

            Seu peso a quase nada se reduz.

 

À nossa humilde Deusa, orar, porém, fervente

            Deves, nesse tenaz impedimento;

A fim que o seu Amor o coração te isente

Das tuas aflições, de todo, ou te sustente,

            Tornando mais suave o sofrimento.

 

II. Se, por conselhos teus, uma alma esclarecida,

            Na sua resistência persevera,

Entrega à Providência endireitar-lhe a vida,

E não te obstines mais, em porfiada lida,

            Perseguindo-a, a mostrar-lhe a senda vera.

 

A santa evolução por nada se transvia:

            Apesar das erronias do Presente,

Que te punge ou surpreende a pobre fantasia,

O homem só se agita, e a Humanidade o guia,

            Do mal tirando o bem frequentemente.

 

Sofre sem murmurar dos outros mesmo extremos

            Defeitos com que possas deparar;

E cuida com que, também, de fato, todos temos

Os nossos que, a seu turno, a tolerar os vemos

            Inda com mais indômito pesar.

 

Se o Altruísmo teu encontra óbice tanto

            Sempre, em ti mesmo, ao seu melhor desvelo,

Como querer d’alguém o portentoso encanto

De agir a teu sabor, por tudo, e em tudo quanto

            Lhe haja d’exigir o teu anelo?

 

Não é trata-lo, pois, sem mínima equidade,

            Querer que outrem seja o mais perfeito,

E não quereres tu fugir de uma maldade,

A fim que o exemplo teu, com mais facilidade,

            Ajude-o a conseguir tamanho efeito?

 

III. Queremos cada qual sujeito à disciplina,

            Sofrendo a necessária correção;

Revolta-nos, porém, se alguém nos examina,

E à conduta nossa o seu valor assina,

            Realçando qualquer imperfeição.

 

Exprobramos aos mais o quanto d’indulgência

            Consigo têm e o que se dão de gozos;

E é ofensa atroz não ter-se a complacência

De nada recusar, com suma deferência,

            Aos nossos movimentos caprichosos.

 

Estatutos prendendo em rigoroso laço

            Severamente aos outros desejamos;

E, seja de quem for, o mais ligeiro traço,

Ao nosso bel-prazer, criando um embaraço

            D’império absoluto, a mal levamos.

 

Onde se esconde, pois, o férvido Altruísmo,

            Que Viver para outrem nos sugere?

E como então sentir que, ou seja no heroísmo,

Ou na dedicação comum, ou no ascetismo,

            Prazer algum não há que os seus supere.

 

No Mundo, a imperfeição por toda parte abunda,

            A jerarquia eterna acompanhando,

Que, sob a mais grosseira, a lei mais nobre funda;

Somente a paciência, em méritos fecunda

            Essa ordem fatal vai mitigando.

 

IV. É pois na sujeição qu’ensina a Humanidade

            O aperfeiçoamento basear-se;

Não há beleza inteira, ou íntegra bondade;

Assim é dever nosso e nossa felicidade

            Uns aos outros o fardo aliviar-se.

 

Ninguém é sem senão, ninguém é sem fraqueza;

            Ninguém sem precisar d’algum amparo;

Ninguém tem de ciência, em si, assaz riqueza;

Ninguém é forte assaz com a própria fortaleza.

            Para não sentir faltar-lhe apoio caro.

 

Urge pois entre-amar-se, urge pois entre-instruir-se

            Urge pois, em tudo, entre-auxiliar-se;

Urge entre-prestar-se o olhar a dirigir-se;

Urge entre-estender-se a mão conduzir-se;

            Urge um ao outro dar co quem curar-se.

 

Quanto maior a dor, mais fácil prova of’rece

            Até que ponto fora alguém perfeito;

E os golpes mais cruéis que uma alma então padece

Não são que a fazem fraca; apenas se conhece

            Assim o que ela vale com efeito.

 

R. Teixeira Mendes.

 

Rio, 11 de Arquimedes de 57/123 (5de Abril de 1911). 


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