Igreja e Apostolado
Positivista do Brasil
O Amor por princípio
e a Ordem por base;
O Progresso por fim.
Viver para outrem. Viver às claras.
Exortação à Fraternidade
Aos pés de Augusto Comte, ajoelhado junto ao leito
fúnebre de Clotilde
(Ensaio de uma paráfrase
positivista do Capítulo XVI, Livro I, da Imitação
de Tomás de Kempis, segundo a
tradução em verso de Corneille: Como se deve sofrer os defeitos de outrem)
Conciliante de fato,
inflexível em princípio.
Augusto
Comte.
Gradualmente expurgado
por ti (Clotilde) de todo azedume, e espontaneamente confirmado, na minha
regeneração, mediante o exemplo contínuo de tua imortal irmã (Sofia Bliaux)...
Augusto
Comte – 11ª Santa
Clotilde.
[Transcrição
de trechos do opúsculo n. 316 da Igreja Positivista do Brasil – 5 de abril de
1911.]
Exortação à Fraternidade
Aos pés de Augusto Comte, ajoelhado junto ao leito
fúnebre de Clotilde
(Ensaio de uma
paráfrase positivista do Capítulo XVI, Livro I, da Imitação de Tomás
de Kempis, segundo a tradução em verso de Corneille: Como se
deve sofrer os defeitos de outrem)
Conciliante
de fato, inflexível em princípio.
Augusto
Comte.
Gradualmente
expurgado por ti (Clotilde) de todo azedume, e espontaneamente confirmado, na
minha regeneração, mediante o exemplo contínuo de tua imortal irmã (Sofia
Bliaux)...
Augusto
Comte – 11ª Santa
Clotilde.
I. Em
todos e em ti mesmo, aceita com humildade
Tudo o que não possas emendar;
Até que
enfim o Espaço, a Terra, e a Humanidade,
Com as
suas leis fatais e doce potestade,
Hajam, acaso, um dia de o mudar.
Para
provar-te a força inda melhor, derreia
Por ventura teus ombros essa cruz;
Teu mérito
assim melhor se patenteia;
E, si, nas provações, teu ânimo
fraqueia,
Seu peso a quase nada se reduz.
À nossa
humilde Deusa, orar, porém, fervente
Deves, nesse tenaz impedimento;
A fim que
o seu Amor o coração te isente
Das tuas
aflições, de todo, ou te sustente,
Tornando mais suave o sofrimento.
II. Se,
por conselhos teus, uma alma esclarecida,
Na sua resistência persevera,
Entrega à
Providência endireitar-lhe a vida,
E não te
obstines mais, em porfiada lida,
Perseguindo-a, a mostrar-lhe a senda
vera.
A santa
evolução por nada se transvia:
Apesar das erronias do Presente,
Que te
punge ou surpreende a pobre fantasia,
O homem só se agita, e a Humanidade
o guia,
Do mal tirando o bem frequentemente.
Sofre sem
murmurar dos outros mesmo extremos
Defeitos com que possas deparar;
E cuida
com que, também, de fato, todos temos
Os nossos
que, a seu turno, a tolerar os vemos
Inda com mais indômito pesar.
Se o
Altruísmo teu encontra óbice tanto
Sempre, em ti mesmo, ao seu melhor
desvelo,
Como
querer d’alguém o portentoso encanto
De agir a
teu sabor, por tudo, e em tudo quanto
Lhe haja d’exigir o teu anelo?
Não é
trata-lo, pois, sem mínima equidade,
Querer que outrem seja o mais
perfeito,
E não
quereres tu fugir de uma maldade,
A fim que
o exemplo teu, com mais facilidade,
Ajude-o a conseguir tamanho efeito?
III.
Queremos cada qual sujeito à disciplina,
Sofrendo a necessária correção;
Revolta-nos,
porém, se alguém nos examina,
E à
conduta nossa o seu valor assina,
Realçando qualquer imperfeição.
Exprobramos
aos mais o quanto d’indulgência
Consigo têm e o que se dão de gozos;
E é ofensa
atroz não ter-se a complacência
De nada
recusar, com suma deferência,
Aos nossos movimentos caprichosos.
Estatutos
prendendo em rigoroso laço
Severamente aos outros desejamos;
E, seja de
quem for, o mais ligeiro traço,
Ao nosso
bel-prazer, criando um embaraço
D’império absoluto, a mal levamos.
Onde se
esconde, pois, o férvido Altruísmo,
Que Viver para outrem nos sugere?
E como
então sentir que, ou seja no heroísmo,
Ou na
dedicação comum, ou no ascetismo,
Prazer algum não há que os seus
supere.
No Mundo,
a imperfeição por toda parte abunda,
A jerarquia eterna acompanhando,
Que, sob a
mais grosseira, a lei mais nobre funda;
Somente a
paciência, em méritos fecunda
Essa ordem fatal vai mitigando.
IV. É pois
na sujeição qu’ensina a Humanidade
O aperfeiçoamento basear-se;
Não há
beleza inteira, ou íntegra bondade;
Assim é
dever nosso e nossa felicidade
Uns aos outros o fardo aliviar-se.
Ninguém é
sem senão, ninguém é sem fraqueza;
Ninguém sem precisar d’algum amparo;
Ninguém
tem de ciência, em si, assaz riqueza;
Ninguém é
forte assaz com a própria fortaleza.
Para não sentir faltar-lhe apoio
caro.
Urge pois
entre-amar-se, urge pois entre-instruir-se
Urge pois, em tudo,
entre-auxiliar-se;
Urge
entre-prestar-se o olhar a dirigir-se;
Urge
entre-estender-se a mão conduzir-se;
Urge um ao outro dar co quem
curar-se.
Quanto
maior a dor, mais fácil prova of’rece
Até que ponto fora alguém perfeito;
E os
golpes mais cruéis que uma alma então padece
Não são
que a fazem fraca; apenas se conhece
Assim o que ela vale com efeito.
R. Teixeira
Mendes.
Rio, 11 de Arquimedes de 57/123 (5de Abril de 1911).
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