02 novembro 2020

Roteiro da exposição sobre o undécimo mês dos calendários positivistas (Descartes e Sacerdócio)

O vídeo da exposição encontra-se disponível aqui.


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Roteiro da exposição sobre o undécimo mês dos calendários positivistas

 

Parte I – Mês concreto: Descartes



-        11º mês do calendário positivista concreto

o   Considerando o ano júlio-gregoriano de 2020 (ano bissexto), o mês de Descartes começa em 7 de outubro e termina em 3 de novembro

o   O décimo-primeiro mês concreto representa a filosofia moderna

§  É o quarto mês da modernidade

·         Após os meses da Antigüidade e da Idade Média, a modernidade apresenta-se com seus seis meses (Dante, Gutenberg, Shakespeare, Descartes, Frederico, Bichat)

o   A filosofia moderna apresenta um caráter dúplice – na verdade, o conjunto da modernidade tem essa característica, mas na filosofia isso é mais marcante e não por acaso

§  A filosofia moderna é tanto destruidora quanto construtora: destrói a filosofia antiga e constrói a filosofia positiva

§  À primeira vista, a filosofia antiga que é destruída é a filosofia teológica, em particular a teologia católica; mas o movimento construtivo indica que se trata da filosofia absolutista

§  O movimento destruidor é realizado pela metafísica, que, como teologia degradada, também é absoluta; mas ela tende à positividade

§  O movimento construtivo é realizado principalmente pela ciência, que elabora os materiais parciais preliminares da nova síntese, basicamente a partir de uma perspectiva relativa

·         Vale notar que a ciência, quando insiste nos hábitos mentais próprios à antiga síntese, torna-se ou mantém-se absolutista: ou seja, quando pesquisa as causas e não as leis naturais

·         Esse absolutismo científico é característico da ciência acadêmica

§  Mas, ao mesmo tempo que a ciência elaborava os elementos parciais e preparatórios da nova síntese, também havia autores que propunham diretamente novas sínteses, ao mesmo tempo com preocupações científicas e morais

·         Dois ou três autores são particularmente importantes nesse esforço de novas sínteses: Bacon, Descartes e Leibnitz; essas sínteses eram metafísicas e pretendiam-se objetivas

§  Descartes é particularmente representativo do duplo movimento moderno:

·         Sua obra científica respeita plenamente os antecedentes históricos, mantendo a continuidade e a tradição científica anterior a ele

·         Sua obra filosófica, por outro lado, por definição faz tabula rasa do pensamento anterior, negando tudo o que fora feito até então; ao mesmo tempo, como se baseava estritamente no próprio indivíduo, era metafísica

§  A obra científica de Descartes concentra-se na Matemática e, nesse caso, ela é considerada muito importante e exemplar por Augusto Comte, ao criar uma geometria geral, que une e aplica a aritmética à geometria

·         Essa geometria geral é entendida por Augusto Comte como uma aplicação do abstrato (a aritmética) ao concreto (a geometria)

o   Além de ser homenageado como o titular do undécimo mês do ano no calendário concreto, Descartes também é homenageado como o titular do último dos dias das semanas, conforme esta tabela:

 

Dias portugueses

Segunda-f.

Terça-f.

Quarta-f.

Quinta-f.

Sexta-f.

Sábado

Domingo

Dias positivistas

Lunedia

Martedia

Mercuridia

Jovedia

Venerdia

Sábado

Domingo

Consagração histórica

Homero

Aristóteles

César

São Paulo

Carlos Magno

Dante

Descartes

 

o   O mês e as semanas do mês de Descartes correspondem ao seguinte:

§  Descartes – representa a filosofia moderna, ao mesmo tempo destruidora da teologia e construtora da filosofia positiva; também é o esforço de elaboração de uma nova síntese

§  Tomás de Aquino – representa a decadência da filosofia teológica católica, por meio dos metafísicos do final da Idade Média

§  Bacon – representa os pensadores que consideraram o ser humano do ponto de vista individual; também são os pensadores empiristas

§  Leibnitz – representa os pensadores que consideraram o ser humano do ponto de vista coletivo

§  Hume – compreende os pensadores que desenvolveram teorias históricas do ser humano, ou seja, são os autores de filosofias da história

 

Parte II – Mês abstrato: o sacerdócio (providência intelectual)

-        O undécimo mês do calendário positivista abstrato celebra o sacerdócio, responsável pela providência intelectual

o   A providência intelectual, corporificada nos sacerdotes, é a segunda das funções normais; as demais são: a mulher (providência moral), o patriciado (providência material), o proletariado (providência geral)

o   O sacerdócio é uma das principais funções sociais, na medida em que corresponde ao governo espiritual da sociedade

§  No que se refere à Religião da Humanidade, ele é a mais importante função

§  Em termos sociais, sua responsabilidade e sua legitimidade baseia-se neste axioma: “nenhuma sociedade pode-se desenvolver e conservar sem um sacerdócio qualquer” (Catecismo, p. 296)

§  O sacerdócio tem as mais variadas e amplas responsabilidades sociais:

·         Antes de mais nada, é o responsável pela educação – que deve ser universal e principalmente gratuita

·         Além disso, deve atuar como “juiz” em uma tríplice responsabilidade: conselheiro, consagrador e regulador

o   Essas responsabilidades baseiam-se, em última instância, na educação universal por ele ministrada

·         Sua atuação como conselheiro pode assumir um caráter mais individual; já a atuação como regulador assume características mais sociais (na família; nas relações entre classes e grupos sociais; entre países e civilizações)

·         O sacerdócio é o regulador da vida pública assim como a mulher é a reguladora da vida privada

§  O sacerdócio positivo tem, necessariamente, alguns requisitos e algumas restrições:

·         Ele é obrigado a casar-se, a fim de ele dar o exemplo ao sofrer o ascendente doméstico da mulher e cultivar os sentimentos altruístas próprios à família

·         Ele é obrigado a abrir mão do mando e da riqueza, ou seja, não pode exercer o poder político nem o poder econômico; isso garante a sua moralidade e a sua respeitabilidade em sua atuação social

§  A atuação do sacerdócio será tanto maior quanto mais positiva for a sociedade

·         Uma conseqüência da importância social do sacerdócio é a correlata menor importância do poder Temporal, isto é, da atuação repressiva do Estado

·         Uma outra conseqüência da importância social do sacerdócio é a rejeição sistemática e completa de qualquer violência na sociedade: “estigmatizar radicalmente, por tão anárquico como retrógrado, todo processo militar dos superiores ou dos inferiores” (Catecismo, p. 372)

§  O sacerdócio tem três ou quatro graus (Catecismo, p. 163, 296 e 320):

·         Sacerdotes incompletos: pensionistas do sacerdócio, caracterizam-se pelo gênio poético e filosófico, mas sem a energia moral necessária

·         Noviços ou aspirantes: grau conferido aos 28 anos de idade

·         Vigários ou suplentes: grau conferido aos 35 anos de idade, quando o noviço confirma sua intenção de tornar-se sacerdote e é reconhecido em sua capacidade para tanto; inicia seu curso científico septimal e realiza funções secundárias (ensino e prédicas); já deve estar casado na igreja positivista

·         Sacerdócio pleno: grau conferido aos 42 anos de idade, após o curso científico septimal; é o responsável pelas funções sociais de conselheiro, consagrador e regulador

o   São quatro as modalidades determinadas por nosso mestre na providência moral, com as respectivas festas semanais:

1)      Sacerdócio incompleto (Festa da Arte) – correspondente aos artistas e aos indivíduos com perspectivas sintéticas mas sem os conhecimentos e/ou a força moral e/ou a coragem própria ao sacerdócio

2)      Sacerdócio preparatório (Festa da Ciência) – também compreende os indivíduos sem a coragem e/ou a força moral característica do sacerdócio; o seu caráter “preparatório” corresponde à preparação da ciência em relação à síntese positiva e não tanto em relação ao próprio sacerdócio

3)      Sacerdócio definitivo secundário – correspondente aos vigários (ou suplentes), que aos 35 anos de idade comprometem-se a tornarem-se sacerdotes e assumem responsabilidades sacerdotais secundárias (ensino, prédicas)

4)      Sacerdócio definitivo principal – são os sacerdotes plenos, que assumem as funções de “juízes” com 42 anos de idade

 

Parte III – Comemorações de aniversários e feriados cívicos

-        Em termos de aniversários, comemoramos neste mês as seguintes figuras:

o   Em 1º de Descartes (7 de outubro):

§  Nascimento de João de Salisbury (1120-1180)

o   Em 6 de Descartes (12 de outubro):

§  Descoberta da América (1492)

o   Em 12 de Descartes (18 de outubro):

§  Nascimento de Benjamin Constant (1836-1891)

o   Em 18 de Descartes (24 de outubro):

§  Morte de Júlio de Castilhos (1860-1903)

o   Em 27 de Descartes (2 de novembro):

§  Dia dos Mortos

 

René Descartes

Jean de Salisbury ensinando filosofia

Placa em homenagem a Jean de Salisbury, em Chartres

Retrato de homem que se considera ser Cristóvão Colombo


Cristóvão Colombo perante os reis católicos

Benjamin Constant

Medalhão com a efígie de Benjamin Constant


Caixa do exemplar da "Síntese subjetiva" de Benjamin Constant

Júlio Prates de Castilhos

Túmulo de Júlio de Castilhos, em Porto Alegre

Cartaz de comemoração do Dia dos Mortos, de 1924

Referências bibliográficas

Augusto Comte: Sistema de filosofia positiva, Sistema de política positiva, Catecismo positivista, Síntese subjetiva

Frederic Harrison: O novo calendário dos grandes homens

Raimundo Teixeira Mendes: As últimas concepções de Augusto Comte

David Carneiro: História da Humanidade através dos seus grandes tipos, v. 6

Ângelo Torres: Calendário Filosófico

31 outubro 2020

Mensagem enviada a Federico Finchelstein sobre Augusto Comte

Federico Finchelstein é um historiador argentino, radicado nos EUA, que teve um livro recém-publicado no Brasil, Uma breve história das mentiras fascistas (Belo Horizonte, ed. Vestígio, 2020).

O livro é interessante e corresponde a uma necessidade urgente - conhecer e entender como o fascismo mente, quais são as mentiras que ele difunde, quais são os efeitos sociais e políticos disso.

Exatamente devido a essa importância foi que percebi, com tristeza e alarme uma observação casual, mas profundamente errada e mesmo venenosa, em que o autor em poucas palavras repete mitos e desinformações sobre Augusto Comte. Assim, enviei-lhe a mensagem abaixo; a importância do combate a esses mitos leva-me a publicar a mensagem enviada.

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Caro Prof. Federico:

Meu nome é Gustavo Biscaia de Lacerda; sou Doutor em Sociologia Política, Sociólogo da Universidade Federal do Paraná e especialista em história das idéias. Como você é argentino, creio que posso escrever em português sem o receio de não ser entendido.

Como cidadão brasileiro, a política recente de meu país tem sido fonte de grande apreensão desde 2018, sendo muito maior e pior neste ano de 2020, com a pandemia de covid-19, as queimadas criminosas na Amazônia e no Pantanal e vários outros crimes e loucuras cometidos pelo fascista Bolsonaro. Por esses motivos, comprei com grande interesse a edição brasileira de seu livro A Brief History of Fascist Lies, recém-lançado no país.

O seu livro é muito interessante e cumpre um importante papel político neste momento. Uma passagem dele, todavia, chamou-me a atenção, pois está totalmente errada, o que diminui um pouco o brilho de seu livro; a passagem em questão afirma que Augusto Comte (1) seria um autor “antidemocrático” e “anti-individualista” e (2) que desejaria uma “verdade absoluta na política”; além disso, ao relacioná-lo a Joseph de Maistre, você (3) sugere que Comte seria um autor reacionário e, portanto, claramente dá a entender que ele seria um ancestral dos fascistas. (Isso está no cap. 2, p. 43, da edição brasileira.)

No que se refere a Comte, é com tristeza que noto que suas afirmações são equivocadas do início ao fim, não tanto nas expressões empregadas, mas no sentido que você empresta a elas; o problema, portanto, é semântico.

Sobre o “anti-individualismo”: esse mito, que cumpre funções de desinformação, tem origem em uma tradição intelectual radicalmente individualista e anticoletivista, que entende qualquer consideração “social”, radical e necessariamente, como sendo anti-indivíduo. Essa tradição tem origem pelo menos na Inglaterra do século XIX, com ninguém menos que Stuart Mill, e seguiu no século XX com ultraliberais como Hayek e (em uma tradição particularmente estadunidense) Ayn Rand.

Comte era contra o individualismo, mas não contra os indivíduos e as individualidades; em outras palavras, ele era contrário ao egoísmo erigido em norma político-social e em parâmetro de análise sociológica. Ao contrário de tradições sociológicas “holísticas”, em Comte a afirmação da primazia lógica e histórica da sociedade sobre o indivíduo não implica a negação da realidade política e moral do indivíduo; muito ao contrário, essa primazia permite situar social e historicamente cada indivíduo e, ao mesmo tempo, estabelece parâmetros morais para as atividades desses mesmos indivíduos. (Como eu disse antes, aqui se trata de um problema semântico.)

A “antidemocracia” de Comte refere-se ao caráter metafísico da “democracia” e da “soberania popular”, que sempre foram afirmadas como maneiras de negar a soberania divina dos reis, transferindo o capricho arbitrário dos reis para o capricho arbitrário dos “povos” (que, por sua vez, são representados pelos “líderes”). Na crítica filosófico-política que Comte faz à democracia não há nada que se refira às liberdades individuais, às liberdades de pensamento e de expressão, às garantias constitucionais de proteção aos indivíduos etc. Evidentemente, para Comte a democracia não é o regime das liberdades; em vez de falar em “democracia”, ele fala em “República”. (Como eu observei antes, trata-se aqui, mais uma vez, de um problema semântico.)

No que se refere ao desejo de uma “verdade absoluta na política”, eu fico sem saber de onde ela pode ser surgido. Comte era um autor que desde o início de sua carreira afirmava, com todas as letras, que “o único absoluto é que só existe o relativo”; a negação do absolutismo filosófico e a afirmação do relativismo foi uma das maiores constantes da carreira de Comte, ampliando-se cada vez mais à medida que o tempo passava. A referida rejeição da “democracia”, por exemplo, baseava-se exatamente nisso: tanto a “soberania divina dos reis” quanto a “soberania dos povos” eram absolutas - e, por isso mesmo, arbitrárias, caprichosas e sem o menor controle racional e/ou social -, devendo ser substituídas pelo relativismo do regime republicano, com liberdades públicas dirigidas ao bem comum. Aliás, enquanto no caso do “anti-invididualismo” e do “antidemocratismo” de Comte o problema é de manipulação semântica, no caso de uma “política absoluta” o problema é de outra ordem: trata-se da projeção aos inimigos dos defeitos próprios, isto é, os inimigos de Comte projetam nele os seus próprios desejos de uma “política absoluta”... é triste perceber que esse procedimento seja inadvertidamente adotado em um livro que combate as manipulações fascistas.

Por fim, a aproximação de Comte a De Maistre é um procedimento velho, que escamoteia totalmente a igual proximidade de Comte com Diderot, Condorcet, com os republicanos franceses de 1848, com sua oposição a Napoleão III etc.

Se tiver tempo e interesse, há vários livros que tratam dessas questões em profundidade. Há um antigo, de Jean Lacroix, La Sociologie d’Auguste Comte, assim como um mais recente, de Laurent Fedi, Comte.

Eu mesmo tenho inúmeros livros sobre essas questões, como pode ver aqui; também é possível ler a versão original da minha tese de doutorado (PhD thesis) aqui.

Saúde e Fraternidade,

Dr. Gustavo Biscaia de Lacerda.

28 setembro 2020

Roteiro da exposição sobre o décimo mês dos calendários positivistas (Shakespeare e Mulher (providência moral))

Roteiro da exposição sobre o décimo mês dos calendários positivistas


As anotações abaixo consistem no roteiro da celebração gravada do nono mês dos calendários positivistas, que abordam Shakespeare (o drama moderno, no calendário concreto) e a mulher, ou providência moral (no calendário abstrato).

A gravação encontra-se disponível aqui.

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Parte I – Mês concreto: Shakespeare




 -        10º mês do calendário positivista concreto

o   Considerando o ano júlio-gregoriano de 2020 (ano bissexto), o mês de Shakespeare começa em 9 de setembro e termina em 6 de outubro

o   O oitavo mês concreto representa o drama moderno

§  É o terceiro mês da modernidade

·         Após os meses da Antigüidade e da Idade Média, a modernidade apresenta-se com seus seis meses (Dante, Gutenberg, Shakespeare, Descartes, Frederico, Bichat)

§  Augusto Comte dedica dois meses à arte moderna, Dante (epopéia moderna) e Shakespeare (drama moderno)

·         De acordo com Frederic Harrison, esses dois meses devem ser entendidos em conjunto, representando a poesia (incluídas aí a literatura em prosa e o teatro), a música, a pintura, a arquitetura e a escultura

o   Eles constituem um total de 49 nomes, que vão do século XII ao XIX

·         Essa grande quantidade de tipos artísticos deve-se à ampliação das possibilidades e dos temas passíveis de serem tratados pela arte, na modernidade

·         A arte na Antigüidade referia-se a valores e a uma estrutura social mais aceitas, de modo que ela atingiu formas mais perfeitas

·         Em contraposição, a modernidade apresenta um movimento mais contraditório, mais conflitos e valores menos aceitos, o que torna a sua arte menos capaz de idealizar a realidade; mas, ao mesmo tempo, torna-a mais variada e mais audaciosa

o   O mês e as semanas correspondem ao seguinte:

§  Shakespeare – representa as obras literárias que retratam a variedade de costumes e de tipos humanos, com diferentes graus de idealização e de profundidade

§  Calderón – reúne os dramaturgos moralistas

§  Corneille – reúne os dramaturgos  históricos

§  Molière – representa as obras em prosa (isto é, os romances), especialmente aqueles que expõem os costumes, além de obras satíricas e de comédia

§  Mozart – as grandes composições de música orquestral, que se aliam ao drama (óperas, sinfonias, músicas sacras)

-        Shakespeare integra o triângulo dos 13 grandes poetas ocidentais:

 


Parte II – Mês abstrato: a mulher (providência moral)

-        O décimo mês do calendário positivista abstrato celebra a mulher, responsável pela providência moral

o   A providência moral, corporificada nas mulheres, é a primeira das funções normais; as demais são: o sacerdócio (providência intelectual), o patriciado (providência material), o proletariado (providência geral)

o   A “providência moral” consiste no grupo e nas pessoas que continuamente nos lembram de que o ser humano é afetivo e que devemos sempre “viver para outrem”; em outras palavras, a providência moral lembra-nos continuamente que devemos sempre ser altruístas

§  Há uma correspondência entre a providência moral, das mulheres, e a providência intelectual, do sacerdócio: ambos direcionam-nos para o “viver para outrem” à mas enquanto o sacerdócio realiza essa função no âmbito público, as mulheres fazem-no no âmbito privado (isto é, doméstico)

o   Entre homens e mulheres há igualdades, superioridade e inferioridade:

§  Homens e mulheres têm igualmente sentimentos, inteligência e atividade

§  As mulheres são mais afetivas que os homens; isso não quer dizer que elas são menos inteligentes que os homens, mas quer dizer, sim, que elas são mais clara, direta e facilmente altruístas que os homens;

·         Como a origem e o objetivo da vida humana – que constituem a felicidade – são os sentimentos altruístas, torna-se claro que as mulheres são superiores aos homens nesse sentido

§  Em contraposição os homens são mais fortes e mais ativos que as mulheres

§  Outra dupla de contraposições entre homens e mulheres, que corresponde à anterior, dá-se nos tipos de inteligência preponderantes em cada um: os homens são mais analíticos, as mulheres são mais sintéticas

·         A conseqüência dessa variedade de tipos de inteligência preponderante em cada um dos sexos é que os homens tendem a preferir as ciências naturais (que são mais analíticas) e as mulheres, as ciências humanas e as artes (que são mais sintéticas)

§  As diferenças entre homens e mulheres não deve ser vista em termos de competição entre ambos, mas em termos de complementaridades

§  O resultado das diferenças complementares entre homens e mulheres é que o papel da providência moral é, antes e acima de tudo, um papel de educação – para maridos, filhos e parentes, que atuarão na vida pública

·         Assim, quando Augusto Comte afirma que as mulheres devem atuar no âmbito doméstico, ele não está escravizando-as sob o rótulo de “rainhas do lar”: ele está afirmando sua importância e sua dignidade intelectual, social e, acima de tudo, moral

§  De modo geral, a teologia sempre encarou a mulher como inferior ao homem em todos os sentidos, sendo mesmo culpada pelos sofrimentos humanos (como no mito de Eva e da maçã); já a metafísica afirma ou que as mulheres são superiores ao homem em tudo ou, então, afirma pura e simplesmente que homens e mulheres são iguais em tudo: em ambos os casos, o resultado é opressão e/ou disputas sem fim

§  Como se viu, o Positivismo afirma diferenças complementares, em que a dignidade de homens e mulheres é afirmada e, em particular, a mulher tem que ser ouvida e respeitada

o   A afirmação da mulher como providência moral lembra-nos de que a família é a célula da sociedade à mas, ao mesmo tempo, a destinação pública da família é o melhor e mais importante corretivo para os desvios da família (em particular, a opressão masculina e marital)

§  A mulher como providência moral também indica que relações sociais mais fraternas exigem um órgão contínuo que atue precisamente nesse sentido, que seja respeitado e preservado das pressões e das agressões externas da vida

o   São quatro as modalidades determinadas por nosso mestre na providência moral, com as respectivas festas semanais:

1)      Mãe (a veneração)

2)      Esposa (o apego)

3)      Filha (a bondade)

4)      Irmã (o apego)

-        Vale lembrar que as mulheres são celebradas em duas outras ocasiões, de maneiras diretas e indiretas:

o   O primeiro mês do ano é dedicado à Humanidade, a nossa deusa, que é representada por uma mulher (com as feições de nossa cofundadora, Clotilde de Vaux), tendo em seus braços um bebê, isto é, o futuro

o   Além disso, nos anos bissextos, o último dia do ano, após a festa geral dos mortos, é dedicado às mulheres santas

-        É importante ressaltar: o Grande Ser do Positivismo é um tipo feminino

o   A representação feminina do Grande Ser é uma clara afirmação do altruísmo

o   Clotilde de Vaux era inicialmente percebida por Augusto Comte como esposa (subjetiva), mas, somando-se a diferença inicial de idade entre ambos (17 anos) e o tempo que transcorreu após a morte de Clotilde (em 1846), o próprio Comte observou que, paulatinamente, ela era vista como filha

o   Na vida de Comte, ele passou a celebrar os seguintes tipos femininos:

§  Mãe (a veneração): Rosália Boyer

§  Esposa (o apego): Clotilde

§  Filha (a bondade): Clotilde e Sofia Thomas

 

Parte III – Comemorações de aniversários

-        Em termos de aniversários, neste ano lamentavelmente não temos nenhuma comemoração














Referências bibliográficas

Augusto Comte: Sistema de filosofia positiva, Sistema de política positiva, Catecismo positivista, Síntese subjetiva

Frederic Harrison: O novo calendário dos grandes homens

Raimundo Teixeira Mendes: As últimas concepções de Augusto Comte

Raimundo Teixeira Mendes: A mulher (3ª ed.: 1958)

David Carneiro: História da Humanidade através dos seus grandes tipos, v. 6

Ângelo Torres: Calendário Filosófico