No dia 2 de Gutenberg de 170 (13.8.2024) fizemos nossa prédica positiva, dando continuidade à leitura comentada do Catecismo positivista (em sua duodécima conferência, dedicada à exposição histórica da evolução humana, isto é, da religião, em particular do fetichismo e do politeísmo).
No sermão abordamos as fórmulas "só se destrói o que se substitui" e "conservar melhorando".
A prédica foi transmitida no canal Igreja Positivista Virtual (aqui: https://l1nk.dev/o6uT4); devido a problemas técnicos, não foi possível transmiti-la no canal Positivismo. Ainda assim, a partir do Facebook, a prédica foi carregada no canal Positivismo (aqui: https://l1nq.com/uoBHN).
Os tempos da prédica são estes:
00 min 00 s - início da prédica
05 min 00 s - exortações
22 min 00 s - efemérides
26 min 00 s - início da leitura comentada do Catecismo positivista
1h 02 min 00 s - início do sermão
1h 58 min 00 s - término da prédica
As anotações que serviram de base para a exposição oral encontram-se reproduzidas abaixo.
* * *
Sobre as fórmulas “Só se destrói o que se
substitui” e “conservar melhorando”
(2 de
Gutenberg de 170/13.8.2024)
1. Abertura da prédica
2.
Exortações
2.1.
Sejamos altruístas!
2.2.
Façamos orações!
2.3.
Façam o Pix
da Positividade! (Chave pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)
3.
Efemérides
3.1.
1 de Gutenberg de 170: 700 anos da transformação
de Marco Polo
3.2.
3 de Gutenberg de 170: 500 anos da transformação
de Vasco da Gama
4.
Leitura comentada do Catecismo positivista
4.1.
Duodécima
conferência, sobre a evolução histórica da religião, em particular sobre o
fetichismo e o politeísmo
5.
Sermão: sobre as fórmulas “Só se destrói o que
se substitui” e “conservar melhorando”
5.1.
Essas duas fórmulas são características do Positivismo
5.1.1.
Outras filosofias e correntes políticas por
vezes até as usam, mas, não por acaso, isso é raro
5.2.
Essas duas fórmulas apresentam com clareza o
espírito construtivo do Positivismo e sua tendência antidestruidora
5.2.1.
Sendo muito claro, essas fórmulas indicam um
claro e honroso conservadorismo
positivista
5.2.2.
Como veremos adiante, o nosso conservadorismo não implica reacionarismo, nem imobilismo,
nem servidão
5.2.3.
Além disso, ele implica, exige e evidencia que
tenhamos clareza a respeito do que é a ordem, do que é o progresso e das
relações entre ambos
5.2.3.1.
Além disso, ele também se refere ao
republicanismo (embora não tratemos desse aspecto nesta prédica)
5.3.
Essas duas fórmulas eram conhecidas largamente
no século XIX e foram empregadas por Augusto Comte pelo menos no Catecismo positivista (“só se destrói o
que se substitui” – “on ne détruit que ce
qu’on remplace”, p. 3) e no Apeloaos conservadores (“conservar melhorando” – “conserver en améliorant”, p. XIII)
5.3.1.
O “só se destrói” foi tornado famoso por Luís
Napoleão Bonaparte; mas, como indica Miguel Lemos nas notas do Catecismo positivista (p. 449), podemos
com facilidade atribuí-la a alguém muito superior, ou seja, a Danton
5.3.2.
É curioso notar, além disso, que essa frase
também é atribuída a Nietzsche (atribuída a ele em 2014 por Olavo de Carvalho,
o que já dá a medida de o quanto é suspeita essa referência)
5.4.
Como trataremos do conservadorismo e do
conservar, vale a pena vermos o que Augusto Comte indicou a respeito do
adjetivo “conservador”
5.4.1.
Augusto Comte indica que a expressão
“conservador” surgiu na França, como título de um jornal hebdomadário (semanal)
mantido por Luís de Bonald e Francisco-Renato Chateaubriand, com o apoio de Lamennais,
durante a segunda metade da década de 1810; reacionários, esses autores aceitavam
todavia muito do programa da Revolução Francesa (mesmo o programa destruidor); caído
no esquecimento, depois, na chamada Monarquia de Julho (de Luís Felipe,
1830-1848), o termo foi retomado por antigos revolucionários que se tornaram
retrógrados
5.4.2.
Em 1855, já sem o parlamentarismo na França,
Augusto Comte observa que “Assim começou a fase final do título de Conservador
que, adotado de hoje em diante por republicanos libertos da atitude
revolucionária, pode indicar por toda parte a disposição de conservar
melhorando” (Apelo,
p. XIII)
5.5.
Essas duas frases têm sentidos bastante claros:
5.5.1.
O “conservar melhorando” indica (1) que devemos
adotar como comportamento geral a conservação das instituições; mas (2) que
essa conservação (2.1) não pode ser estática (2.2) mas esse movimento não é qualquer movimento, (2.3) não pode ser
retrógrado, ou seja, (2.4) tem que ser progressista
5.5.2.
No que se refere ao “só se destrói”: (1) a
destruição, por si só, não tem valor; (2) a destruição deve subordinar-se a
objetivos construtivos, construidores; (3) não é correto nem útil, dos pontos
de vista moral e prático, destruir algo sem ter algum substituto para esse
algo: sem o substituto, o ser humano fica à deriva (para Augusto Comte, tem-se
então a anarquia)
5.5.3.
O sentido de ambas as fórmulas é e tem que ser complementar; isso
significa que tomadas isoladamente elas podem ser entendidas como
contraditórias
5.5.3.1.
Na verdade, a complementaridade dessas fórmulas significa
que elas têm sentidos que se sobrepõem, mas que há detalhes específicos de cada
uma delas
5.5.4.
O sentido
geral dessas frases, então, é que de modo geral temos que ser conservadores e
procurar o melhoramento das instituições e das práticas; mas há situações em
que a destruição tem que ocorrer
5.5.4.1.
A necessidade de destruição – ou de supressão,
ou de mudanças mais pronunciadas – apresenta-se quando o progresso impõe-se
5.5.4.2.
Exemplos bastante claros: a substituição do
absolutismo pelo relativismo, com as substituições correlatas das monarquias
pelas repúblicas, da teologia pela positividade, da teocracia pela separação
entre os dois poderes
5.6.
O sentido dessas frases tem um aspecto
evidentemente político, mas esse aspecto pressupõe e implica sentidos
filosóficos e morais
5.6.1.
Assim é que essas fórmulas afirmam a
positividade e levam em consideração a teologia e a metafísica
5.6.2.
O aspecto construtivo dessas frases deixa claro
que a metafísica é particularmente visada, devido ao caráter essencialmente
crítico, ou seja, destruidor da
metafísica
5.6.3.
Inversamente, o aspecto orgânico e “conservador”
(devido à dinâmica social e política vigente desde a Revolução Francesa, em que
a teologia perdeu a liderança social) da teologia conduz a que se conceda a ela
um certo respeito
5.6.4.
Algumas observações específicas sobre a teologia
e a metafísica antes de seguirmos adiante:
5.6.4.1.
A teologia e a metafísica são ambas absolutas:
esse absolutismo tem inúmeras características e conseqüências, mas, aqui,
podemos simplificar e entendê-lo como sendo a mentalidade do “tudo ou nada”
5.6.4.1.1.
Além disso, como sabemos, a metafísica é a
degradação da teologia (donde, aliás, o comum absolutismo de ambas), o que às
vezes resulta em que a metafísica é uma teologia
disfarçada e em outras ocasiões ela é a antiteologia
5.6.4.1.2.
Em todo caso, enquanto a teologia muitas vezes –
mas não sempre! – apresenta um caráter orgânico, a metafísica é sempre crítica,
destruidora
5.6.4.2.
Dito isso, vale notar que o relativo respeito
dado à teologia não implica que ela em si deva ser seguida e/ou que suas
concepções sejam corretas: significa apenas que ela, com freqüência (mas não
sempre), tornou-se “conservadora”, ou seja, não revolucionária, não destruidora
5.6.4.2.1.
Esse
respeito, então, não é ao conteúdo da teologia, mas a aspectos da sua prática
social e política
5.6.4.3.
Por outro lado, devido à escandalosa e
degradante importância social, política, moral e intelectual que a metafísica
apresenta atualmente, é importante afirmar e reafirmar com clareza: recusar a
metafísica e seu espírito destruidor não equivale, de maneira nenhuma, a
“aceitar as coisas como elas estão” ou o “statu
quo” ou, o que é equivalente para essa mentalidade, não equivale a aceitar
e/ou a justificar injustiças
5.6.4.3.1.
Assim, ao contrário do que o senso comum pressupõe
e que a mentalidade metafísica afirma, criticar
a metafísica não implica, de maneira nenhuma, ser a favor das injustiças nem
ser a favor da retrogradação
5.6.4.3.2.
A rejeição à metafísica e à criticidade
metafísica consiste em recusar o espírito destruidor sistemático e a noção
altamente equivocada e infantil de que o progresso consiste em destruir as
coisas, buscando situações de terra arrasada
5.6.4.3.3.
De maneira conexa, a rejeição à metafísica
consiste em rejeitar o espírito forte e violentamente anti-histórico próprio à
metafísica
5.6.4.3.4.
O espírito destruidor e anti-histórico próprio à
metafísica é fácil e exemplarmente visto no marxismo e no feminismo identitário:
ambos rejeitam a história, adotam uma perspectiva “tudo ou nada”, criam
entidades (o “capitalismo”, o “patriarcado”), não propõem de verdade nada de
real etc.
5.6.4.4.
Inversamente, é central lembrar que a
caracterização que Augusto Comte faz do Positivismo no Apelo aos conservadores, de 1855, como sendo conservador é
complementar à caracterização feita em 1848-1851 no Discurso preliminar sobre o conjunto do Positivismo como o
Positivismo sendo o “socialismo sistemático”
5.6.4.4.1.
Evidentemente, essa necessária compatibilidade
exige a rejeição dos absolutos filosóficos (e, daí, a harmonia da ordem com o
progresso)
5.7.
O entendimento adequado – ou seja, o
entendimento positivo: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e
simpático – do “conservar melhorando” e do “só se destrói” implica conjugar a ordem com o progresso
5.7.1.
Isso, por sua vez, implica sabermos o que são a
ordem e o progresso
5.7.1.1.
As concepções parciais da ordem e do progresso
adotam perspectivas que opõem uma à outra e que, portanto, negam-se mutuamente
5.7.1.2.
É importante dizê-lo com clareza: apenas o Positivismo
afirma a necessidade de compatibilizar a ordem e o progresso e, portanto, de
ultrapassar as vistas e as práticas parciais próprias à ordem sem progresso e
ao progresso sem ordem
5.7.2.
A verdadeira concepção de ordem, que é a concepção apresentada apenas pelo Positivismo, não é
o retorno à Idade Média, aos tempos bíblicos ou, mais recentemente, à violência
político-militar do regime de 1964 (como querem os retrógrados/reacionários, ou
a “direita”); a ordem também não é a aceitação das injustiças sociais ou a paz
de cemitério (como querem os revolucionários, ou a “esquerda”)
5.7.3.
A verdadeira concepção de progresso, que é a concepção
apresentada apenas pelo Positivismo, não é a rejeição da ordem social, não é a
anarquia institucionalizada, não é a ausência de parâmetros, não é a destruição
sistemática e sistematizada, não é o espírito anti-histórico (como querem ao
mesmo tempo os retrógrados/reacionários e os revolucionários)
5.7.4.
A ordem é o respeito pelas instituições humanas
fundamentais, respeito que contemple e permita ao mesmo tempo o desenvolvimento
da natureza humana; inversamente, o progresso é esse desenvolvimento da
natureza humana, que ao mesmo tempo modifica e consolida a ordem
5.7.5.
Como definiu Augusto Comte: “a ordem é a
consolidação do progresso; o progresso é o desenvolvimento da ordem”
5.7.5.1.
Em outras palavras, a ordem deve ser entendida
como ordenamento, como arranjo, ao passo que o progresso deve ser entendido
como desenvolvimento, como aperfeiçoamento
5.7.5.2.
Isso significa que toda ordem tem aspectos
fundamentais que, com o passar do tempo, naturalmente se modificam e evoluem
conforme as características próprias a essa ordem (ou a esse sistema); o
progresso, que está implicado nessa concepção de ordem, consolida as
instituições da ordem
5.7.6.
Deveria ser evidente, mas cumpre afirmar e
reafirmar, mesmo sob o risco de repetirmos algumas idéias que já expusemos
aqui: essas concepções de ordem e de progresso estão muito, muito, muito
distantes do que se tem vulgarmente por “ordem” e “progresso”, seja porque
afirmamos com clareza a realidade e a correção de ambas as noções, seja porque
nossos conceitos de ordem e progresso afastam-se radicalmente das concepções
retrógradas/reacionárias e revolucionárias
5.8.
Em
suma:
5.8.1. As fórmulas “só se destrói o que se
substitui” e “conservar melhorando” são caraterísticas do Positivismo
5.8.2. Elas indicam a importância da conservação
das instituições, das práticas, dos sentimentos
5.8.2.1.
Essa
conservação tem um sentido contrário à destruição sistemática proposta pela
metafísica política (ou seja, pelo espírito revolucionário)
5.8.2.2.
Inversamente,
essa conservação não implica o reacionarismo, nem a retrogradação, nem a
aceitação das injustiças, nem a paz de cemitério
5.8.3. Esse conservadorismo implica a união da
ordem com o progresso, o que só é possível no e com o Positivismo
5.8.3.1.
“A
ordem é a consolidação do progresso, o progresso é o desenvolvimento da ordem” –
ou seja:
5.8.3.2.
A
ordem deve ser entendida como arranjo, ou seja, como instituições fundamentais
que evoluem com o passar do tempo
5.8.3.3.
O progresso deve ser entendido como o
desenvolvimento e o aperfeiçoamento das instituições, além da consolidação
dessas instituições
6. Término da prédica
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