Reproduzo abaixo o roteiro da terceira sessão do Curso livre de política positiva, ocorrida no dia 22 de março, transmitida no canal Facebook.com/ApostoladoPositivista e também disponível no canal The Positivism (aqui).
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Súmula
Preliminares à Política Positiva III: Estática e Dinâmica; a síntese subjetiva; o estado normal
Sociologia Estática I: teoria da religião: concepções e regulações gerais da existência humana
Roteiro
- Preliminares à Política Positiva III:
o Estática e Dinâmica
§ São duas perspectivas complementares
· Diretamente derivadas da concepção de lei natural: relações constantes em termos de coexistência ou de sucessão
· É a constância na variedade
· Esboçadas na Biologia, essas duas perspectivas são aplicáveis a todas as ciências
§ Divisão de perspectivas
· A Estática representa os elementos fundamentais de cada sociedade, presentes em toda sociedade
· A Dinâmica representa o desenvolvimento encadeado desses elementos ao longo do tempo, com suas inter-relações
§ Elementos da Estática Social: religião, propriedade, família, linguagem, governo (temporal e espiritual); teoria das variações
· São definidos como os tipos fundamentais para os quais tendem esses elementos no estado normal
§ Elementos da Dinâmica: as três leis dos três estados; lei de classificação das ciências; marcha própria ao Ocidente (fetichismo, teocracia; Grécia, Roma, Idade Média; transição revolucionária; Positivismo)
o A síntese subjetiva:
§ Visão de conjunto (em termos de natureza humana, de concepções e de objetivos): filosofia, arte, indústria, política, ciência
· Essa visão de conjunto baseia-se no primado da moral sociológica sobre a existência humana
· Todos devem entendimentos gerais sobre tudo; em contraposição, a atuação prática é sempre parcial
§ Subordinação da inteligência à afetividade e à atividade prática
· Relações íntimas entre simpatia, síntese e sinergia
§ Concepções que explicam e regulam o conjunto das realidades humanas e cósmica
§ Afirmação da preponderância normal das ciências superiores (Sociologia e Moral) sobre as ciências inferiores (Matemática até a Biologia), ao mesmo tempo em que “os fenômenos mais nobres subordinam-se aos mais grosseiros”
· Isso naturalmente estabelece o que se chama hoje de “multi” e “transdisciplinaridade”
· O altruísmo e o egoísmo são inatos (ou seja, são naturais); mas: a maior fraqueza do altruísmo e o desenvolvimento histórico da paz, da indústria e da ciência exigem o emprego constante e permanente de todos os recursos sociais e individuais disponíveis para a afirmação do altruísmo
§ Unidade da ciência: estabelecida subjetivamente (isto é, filosoficamente); multiplicidade e autonomia das ciências; homogeneidade de método e de doutrina
§ Estabelece não apenas o que se pode conhecer e fazer, mas, acima de tudo, o que se deve fazer (ou não fazer)
§ Definição da moralidade: estímulo e prática do altruísmo (ternura), compressão do egoísmo (pureza)
o O “estado normal”
§ O estado normal consiste em uma idealização que considera equilíbrios dinâmicos da natureza humana (individual e coletivamente)
· Essa idealização é uma prescrição que, por sua vez, baseia-se nas descrições da Sociologia e da Moral por meio da síntese subjetiva
· Até certo ponto, é aceitável considerar que o estado normal é uma utopia positivista – mas convém notar que Augusto Comte reserva a palavra utopia para uma outra elaboração específica
§ Esses equilíbrios dinâmicos mantêm os três elementos da natureza humana (sentimentos, inteligência e atividade) coordenados
§ Não se trata mais de manter um equilíbrio estático (como nas teocracias iniciais) nem de desenvolver apenas um elemento da natureza humana às expensas dos outros (como na Grécia, em Roma e na Idade Média)
§ O caráter dinâmico desse equilíbrio indica que ele modifica-se continuamente ao longo do tempo e que, portanto, tem que ser restabelecido continuamente
· A permanência desses equilíbrios é um dos argumentos que justificam a existência e a permanência da Religião da Humanidade, isto é, do novo poder Espiritual adequado a tal situação
§ Na medida em que é um equilíbrio dinâmico e que é uma idealização, aproximamo-nos mais ou menos dele, sem jamais o atingir plenamente
· Augusto Comte usa a metáfora da reta assintótica: um limite para o qual tendemos continuamente, sem jamais o atingir
· Considerando a plena positividade, a noção do “estado normal” justifica a máxima segundo a qual “o ser humano torna-se cada vez mais religioso”
§ A palavra “normal”, no âmbito do Positivismo, refere-se portanto ao “estado normal”
- Estática Social: teoria da religião
o Observação preliminar: para o Positivismo, “religião” é diferente de “teologia”
o A religião é o estado de unidade humana individual e social; afetiva, intelectual e prática; por seu turno, a teologia é uma das formas de entender a religião
§ A confusão entre religião e teologia é a mesma que se dá entre os fins (a unidade humana) e os meios (as sínteses teológicas)
§ A idéia de “síntese”, portanto, sugere do ponto de vista intelectual o que a religião propõe para o conjunto da existência humana
§ Como a religião refere-se à unidade do conjunto da existência humana e como essa existência refere-se também, necessariamente, à existência prática, é necessário falar em religião para entender-se a “política positiva” (seja em termos científicos, seja em termos “políticos”)
§ Augusto Comte sugere que a religião é um consenso da alma
§ No início do cap. 1 da Política positiva, Augusto Comte faz uma belíssima retrospectiva histórica das variedades de religião: espontâneas, inspiradas, reveladas, demonstrada: fetichismo, politeísmo, monoteísmo, positivismo
o A noção de religião regular e une efetivamente as existências individual e coletiva
§ Para o Positivismo, portanto, não faz sentido a oposição absoluta entre sociedade e indivíduo
§ A ligação entre sociedade e indivíduo via religião dá-se por meio das duas funções específicas da religião: regrar e religar (em francês: regler et rallier)
· A religião regra o indivíduo e religa-o aos demais
· Para Comte, não por acaso, a etimologia de religião é o latim religare
§ Os vínculos indivíduo-sociedade são variáveis de acordo com a fase histórica considerada
o A noção de uma realidade externa, objetiva, independente da vontade humana é necessária para o desenvolvimento da religião, em particular no que se refere à parte de regrar (por meio da veneração)
§ A harmonia individual baseia-se sobre uma base dupla: na subordinação do egoísmo ao altruísmo (afetivamente) e na preponderância da realidade exterior (intelectual e praticamente)
o A ciência suprema é a Moral, mas a base da moralidade positiva é sociológica (e não individual)
§ Uma forma de entendê-lo é por meio da fórmula: “entre o homem e o mundo é necessária a Humanidade”
§ Assim, a noção de Humanidade é o centro da concepção de religião positiva
· Amor, Ordem, Progresso: aptidão afetiva, natureza intelectual, destinação ativa
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