29 março 2022

Curso livre de política positiva: roteiro da 2ª sessão

Reproduzo abaixo o roteiro da primeira sessão do Curso livre de política positiva, ocorrida no dia 15 de março, transmitida no canal Facebook.com/ApostoladoPositivista e também disponível no canal The Positivism (aqui).

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Súmula

Preliminares à Política Positiva II: historicismo; visão de conjunto e visão de detalhe; objetividade e subjetividade; descrições e prescrições; escala enciclopédica e graus de generalidade

 

Roteiro

-        Preliminares à Política Positiva II

o   Historicismo:

§  O ser humano é um ser social e histórico:

·         Se há um traço específico do ser humano, esse traço é a historicidade, ou seja, a sucessão de gerações e o acúmulo de materiais ao longo do tempo

§  Afirmação da solidariedade e, ainda mais, da continuidade

·         O rompimento da continuidade humana é o principal sintoma da doença moral-intelectual moderna

·         Essa tendência, que já era percebida e criticada na época de Augusto Comte, é cada vez mais e radicalmente constituinte do mundo – evidentemente, para nosso prejuízo

§  A experiência histórica não ser desperdiçada: os contextos mudam, mas há grandes continuidades (e mesmo essas continuidades mudam)

·         Desenvolvimento de atributos ao longo do tempo

·         Em particular: desenvolvimento da paz, da indústria, do trabalho livre, da ciência; do relativismo e da própria historicidade

§  A história não é passado-presente-futuro, mas passado-futuro-presente

§  Essas concepções são o fundamento último da Sociologia (cujo método específico é a “filiação histórica”)

o   Visão de conjunto, visão de detalhe

§  Afirmação constante da visão de conjunto filosófica, histórico-sociológica e moral sobre a visão de detalhe científica, industrial e política

·         Prevalência da visão de conjunto sobre a visão de detalhe; mas, ao mesmo tempo, diálogo constante entre ambas as visões à relações entre síntese e análise

·         Em termos histórico-sociológicos: continuidade sobre solidariedade; Humanidade sobre pátrias; pátrias sobre famílias; famílias sobre indivíduos

o   Sociologicamente, a “célula social” é a família, não o indivíduo; não existem “indivíduos” abstratos, apenas sociedades; do ponto de vista filosófico e sociológico, o indivíduo é uma abstração perniciosa e imoral à isso não quer dizer que os indivíduos não ajam, não atuem, não tenham sentimentos, nem que não tenham responsabilidades

§  Espírito positivo versus ciência

§  ciência: conhecimento analítico da realidade, por meio das leis naturais abstratas; conjunto mais ou menos homogêneo de doutrinas e métodos empregados na exploração de um determinado âmbito da realidade

§  espírito positivo: compreensão sintética da realidade, elaborada pela filosofia, abrangendo a ciência, a atividade prática (que deve ser sinergética) e os sentimentos (que devem ser simpáticos)

§  enquanto a ciência tende a secar e a isolar o ser humano (em termos intelectuais, afetivos e práticos), o espírito positivo busca desenvolver o espírito e a integrar o ser humano

§  o objetivo da ciência é auxiliar o ser humano em seu desenvolvimento à antes de mais nada moral e, depois, material à é assim que se deve julgar e avaliar a ciência

o   Objetividade e subjetividade:

§  Toda concepção humana consiste de diferentes porções de objetividade e de subjetividade

§  Existe uma realidade objetiva, independente da vontade dos seres humanos, a que temos acesso por meio da subjetividade à assim, em certo sentido a oposição objetividade-subjetividade reflete a oposição mundo-homem

§  A relação entre objetividade e subjetividade é, ela mesma, histórica:

·         Todas as concepções do ser humano são subjetivas; a teologia é radicalmente subjetiva, mas pretende-se objetiva

·         A ciência assume a objetividade da realidade; começando pelas ciências mais gerais, mais abstratas e mais fáceis, estabelece o relativismo; daí, subindo até a Biologia, disciplina a subjetividade, por meio dos diversos métodos particulares

·         A Sociologia aplica a objetividade à sociedade, ao mesmo tempo que reconhece e revaloriza a subjetividade; esse movimento é aprofundado na Moral, que então pode fundar o método subjetivo

§  O Positivismo respeita a objetividade mas rejeita o servilismo em face dela

·         O servilismo em face da objetividade – ou, dito de outra maneira, o excesso de objetividade – constitui a idiotia

·         O Positivismo institui uma nova subjetividade – daí a “síntese subjetiva”, que é um novo antropocentrismo

o   Descrições e prescrições

§  O Positivismo estuda o que é a fim de saber o que será a fim de estipular como agir: “saber para prever a fim de prover”

§  As descrições seguem o diálogo entre objetividade e subjetividade

·         As descrições, portanto, são sempre e necessariamente “interpretativas”

§  As prescrições são a sequência natural das descrições: afinal, a ciência tem que ser útil

·         O fundamento das prescrições é a combinação do conhecimento da realidade (incluindo aí da natureza humana) com a moral (pacífica, relativa, positiva)

§  “Para completar as leis são necessárias vontades”: essa fórmula aplica-se tanto na fase das descrições quanto na das prescrições

·         A subjetividade humana está em operação ao querer conhecer as leis naturais, ao formular as leis e ao aplicar na prática as leis

o   Escala enciclopédica e graus de generalidade

§  Lei explicativa da lei intelectual dos três estados

·         A lei intelectual dos três estados, como sabemos, é esta: “os conhecimentos humanos passam sucessivamente por três estados – teológico, metafísico e positivo –, com uma velocidade proporcional à generalidade dos fenômenos correspondentes”

·         A escala enciclopédica esclarece quais os fenômenos são mais gerais e, portanto, quais concepções tornam-se positivas mais rapidamente

§  A escala enciclopédica afirma a multiplicidade das ciências: daí, portanto, ela estabelece a multiplicidade das leis naturais; por sua vez, isso estabelece a autonomia das várias ciências fundamentais entre si

·         “Os fenômenos mais nobres modificam os mais grosseiros subordinando-se a eles”

o   Relações entre subordinação e dignidade

o   Esse é o fundamento da diferença entre as “ciências superiores” e as “ciências inferiores” e, por extensão, do “método subjetivo”

·         Anti-reducionismo

o   A unidade da ciência é dada subjetivamente (por meio da síntese subjetiva), nunca doutrinariamente (por meio das teorias próprias a cada ciência)

·         Mudanças ao longo do tempo: fundação da Moral como ciência suprema; Sociologia como preparatória da Moral (v. II-III da Política)

§  Critérios:

§  Lógicos e históricos

§  Generalidade decrescente e especificidade (complexidade) crescente

§  Dedutibilidade decrescente e empiricidade crescente

§  Quanto mais elevada a ciência, mais complexa e nobre ela é; assim, mais modificável ela é; daí, maior a capacidade de intervenção humana

§  Classificação das ciências (abstratas) e respectivos métodos:

·         Matemática: dedução

·         Astronomia: observação

·         Física: experimentação

·         Química: nomenclatura

·         Biologia: comparação

·         Sociologia: filiação histórica

·         Moral: construção

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