Reproduzo abaixo o roteiro da primeira sessão do Curso livre de política positiva, ocorrida no dia 15 de março, transmitida no canal Facebook.com/ApostoladoPositivista e também disponível no canal The Positivism (aqui).
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Súmula
Preliminares à Política Positiva II: historicismo; visão de conjunto e visão de detalhe; objetividade e subjetividade; descrições e prescrições; escala enciclopédica e graus de generalidade
Roteiro
- Preliminares à Política Positiva II
o Historicismo:
§ O ser humano é um ser social e histórico:
· Se há um traço específico do ser humano, esse traço é a historicidade, ou seja, a sucessão de gerações e o acúmulo de materiais ao longo do tempo
§ Afirmação da solidariedade e, ainda mais, da continuidade
· O rompimento da continuidade humana é o principal sintoma da doença moral-intelectual moderna
· Essa tendência, que já era percebida e criticada na época de Augusto Comte, é cada vez mais e radicalmente constituinte do mundo – evidentemente, para nosso prejuízo
§ A experiência histórica não ser desperdiçada: os contextos mudam, mas há grandes continuidades (e mesmo essas continuidades mudam)
· Desenvolvimento de atributos ao longo do tempo
· Em particular: desenvolvimento da paz, da indústria, do trabalho livre, da ciência; do relativismo e da própria historicidade
§ A história não é passado-presente-futuro, mas passado-futuro-presente
§ Essas concepções são o fundamento último da Sociologia (cujo método específico é a “filiação histórica”)
o Visão de conjunto, visão de detalhe
§ Afirmação constante da visão de conjunto filosófica, histórico-sociológica e moral sobre a visão de detalhe científica, industrial e política
· Prevalência da visão de conjunto sobre a visão de detalhe; mas, ao mesmo tempo, diálogo constante entre ambas as visões à relações entre síntese e análise
· Em termos histórico-sociológicos: continuidade sobre solidariedade; Humanidade sobre pátrias; pátrias sobre famílias; famílias sobre indivíduos
o Sociologicamente, a “célula social” é a família, não o indivíduo; não existem “indivíduos” abstratos, apenas sociedades; do ponto de vista filosófico e sociológico, o indivíduo é uma abstração perniciosa e imoral à isso não quer dizer que os indivíduos não ajam, não atuem, não tenham sentimentos, nem que não tenham responsabilidades
§ Espírito positivo versus ciência
§ ciência: conhecimento analítico da realidade, por meio das leis naturais abstratas; conjunto mais ou menos homogêneo de doutrinas e métodos empregados na exploração de um determinado âmbito da realidade
§ espírito positivo: compreensão sintética da realidade, elaborada pela filosofia, abrangendo a ciência, a atividade prática (que deve ser sinergética) e os sentimentos (que devem ser simpáticos)
§ enquanto a ciência tende a secar e a isolar o ser humano (em termos intelectuais, afetivos e práticos), o espírito positivo busca desenvolver o espírito e a integrar o ser humano
§ o objetivo da ciência é auxiliar o ser humano em seu desenvolvimento à antes de mais nada moral e, depois, material à é assim que se deve julgar e avaliar a ciência
o Objetividade e subjetividade:
§ Toda concepção humana consiste de diferentes porções de objetividade e de subjetividade
§ Existe uma realidade objetiva, independente da vontade dos seres humanos, a que temos acesso por meio da subjetividade à assim, em certo sentido a oposição objetividade-subjetividade reflete a oposição mundo-homem
§ A relação entre objetividade e subjetividade é, ela mesma, histórica:
· Todas as concepções do ser humano são subjetivas; a teologia é radicalmente subjetiva, mas pretende-se objetiva
· A ciência assume a objetividade da realidade; começando pelas ciências mais gerais, mais abstratas e mais fáceis, estabelece o relativismo; daí, subindo até a Biologia, disciplina a subjetividade, por meio dos diversos métodos particulares
· A Sociologia aplica a objetividade à sociedade, ao mesmo tempo que reconhece e revaloriza a subjetividade; esse movimento é aprofundado na Moral, que então pode fundar o método subjetivo
§ O Positivismo respeita a objetividade mas rejeita o servilismo em face dela
· O servilismo em face da objetividade – ou, dito de outra maneira, o excesso de objetividade – constitui a idiotia
· O Positivismo institui uma nova subjetividade – daí a “síntese subjetiva”, que é um novo antropocentrismo
o Descrições e prescrições
§ O Positivismo estuda o que é a fim de saber o que será a fim de estipular como agir: “saber para prever a fim de prover”
§ As descrições seguem o diálogo entre objetividade e subjetividade
· As descrições, portanto, são sempre e necessariamente “interpretativas”
§ As prescrições são a sequência natural das descrições: afinal, a ciência tem que ser útil
· O fundamento das prescrições é a combinação do conhecimento da realidade (incluindo aí da natureza humana) com a moral (pacífica, relativa, positiva)
§ “Para completar as leis são necessárias vontades”: essa fórmula aplica-se tanto na fase das descrições quanto na das prescrições
· A subjetividade humana está em operação ao querer conhecer as leis naturais, ao formular as leis e ao aplicar na prática as leis
o Escala enciclopédica e graus de generalidade
§ Lei explicativa da lei intelectual dos três estados
· A lei intelectual dos três estados, como sabemos, é esta: “os conhecimentos humanos passam sucessivamente por três estados – teológico, metafísico e positivo –, com uma velocidade proporcional à generalidade dos fenômenos correspondentes”
· A escala enciclopédica esclarece quais os fenômenos são mais gerais e, portanto, quais concepções tornam-se positivas mais rapidamente
§ A escala enciclopédica afirma a multiplicidade das ciências: daí, portanto, ela estabelece a multiplicidade das leis naturais; por sua vez, isso estabelece a autonomia das várias ciências fundamentais entre si
· “Os fenômenos mais nobres modificam os mais grosseiros subordinando-se a eles”
o Relações entre subordinação e dignidade
o Esse é o fundamento da diferença entre as “ciências superiores” e as “ciências inferiores” e, por extensão, do “método subjetivo”
· Anti-reducionismo
o A unidade da ciência é dada subjetivamente (por meio da síntese subjetiva), nunca doutrinariamente (por meio das teorias próprias a cada ciência)
· Mudanças ao longo do tempo: fundação da Moral como ciência suprema; Sociologia como preparatória da Moral (v. II-III da Política)
§ Critérios:
§ Lógicos e históricos
§ Generalidade decrescente e especificidade (complexidade) crescente
§ Dedutibilidade decrescente e empiricidade crescente
§ Quanto mais elevada a ciência, mais complexa e nobre ela é; assim, mais modificável ela é; daí, maior a capacidade de intervenção humana
§ Classificação das ciências (abstratas) e respectivos métodos:
· Matemática: dedução
· Astronomia: observação
· Física: experimentação
· Química: nomenclatura
· Biologia: comparação
·
Sociologia: filiação histórica
· Moral: construção
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