Em sua vida mais que centenária, sua produção intelectual foi gigantesca, como indica a página dedicada a ela no portal da Academia Brasileira de Letras, disponível aqui.
Além de dedicar-se ao Direito do Trabalho, foi um importante autor no âmbito da Sociologia e da História das Idéias. Aliás, sua importância como jurista deve-se, acima de tudo e antes de mais nada, ao seu profundo conhecimento de Sociologia e de Filosofia.
Nesse sentido, foi o responsável por publicar alguns importantes livros sobre o pensamento social e político de Augusto Comte: o volume dedicado ao pai da Sociologia na coleção "Os grandes cientistas sociais" (ver aqui) e o livro intitulado "Augusto Comte e o pensamento sociológico contemporâneo" (ver aqui). Em tais obras, Evaristo de Morais Filho revelou conhecimento do Positivismo e, a partir disso, grande simpatia por esse sistema filosófico, político e religioso.
A Religião da Humanidade, no Brasil, deve-lhe bastante: por esse motivo, lamento aqui a suprema fatalidade.
Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/morre-jurista-evaristo-de-moraes-filho-19771776?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar |
O original da matéria encontra-se disponível aqui.
* * *
Morre jurista Evaristo de Moraes Filho
Referência de justiça social no país, especialista em
direito trabalhista também foi sociólogo e, com cerca de 70 livros publicados,
ocupava a cadeira número 40 da Academia Brasileira de Letras
POR O GLOBO 22/07/2016 23:07
Moraes Filho morreu aos 102 anos - Reprodução
PUBLICIDADE
RIO - Quinto ocupante da cadeira nº 40 da Academia
Brasileira de Letras (ABL), o jurista, sociólogo e acadêmico Evaristo de Moraes
Filho se tornou um dos mais famosos advogados trabalhistas do Brasil. Eleito
para a instituição em 15 de março de 1984, na sucessão de Alceu Amoroso Lima,
ele completou 102 anos no último dia 5.
Considerado um intelectual humanista, Moraes Filho era
aberto ao debate e comprometido com mudanças sociais. Apoiado no domínio do
conhecimento em sociologia e direito, tornou-se, nas palavras de seus colegas
da ABL, “um mestre inesquecível”, “um pesquisador sensível” e “um autor
fundamental”.
Moraes Filho publicou cerca de 70 livros. Entre suas obras
estão “Oração de paraninfo” (1958), “O ensino da filosofia no Brasil” (1959),
“O problema de uma sociologia de direito” (1996), “Criminalidade violenta —
Aspectos socioeconômicos” (1980), “Trabalho a domicílio e contrato de trabalho”
(1998) e “Justiça social e direito do trabalho” (1982). Ele escreveu ainda
quase 300 artigos sobre diversos temas, passando por áreas como sociologia,
direito do trabalho, psicologia, filosofia e música.
Nascido no Rio, na época em que a cidade era a capital
federal, Moraes Filho ingressou na Faculdade de Direito da UFRJ em 1933, onde
chegou a chefiar a seção de filosofia da revista oficial do corpo discente.
Seis anos depois, ingressou na Faculdade Nacional de Filosofia. Tornou-se
doutor em direito e ciências sociais em 1953 e 1955, respectivamente.
Em 1996, foi nomeado membro da Comissão Permanente de Filosofia
do Direito do Instituto dos Advogados Brasileiros. Décadas antes, foi
procurador regional da Justiça do Trabalho, em Salvador. Em 1983, recebeu o
título de professor emérito da UFRJ. Vinte anos mais tarde, outro título:
professor honoris causa da UFF. Aposentou-se voluntariamente em 1966 do cargo
de procurador da Justiça do Trabalho.
CONSELHO PARA PROCURADORES
Em 2004, à Revista da Associação Nacional dos Procuradores
do Trabalho, Moraes Filho falou sobre o papel dos procuradores da Justiça do
Trabalho, a quem chamava de “magistrados de pé”.
— Magistrados de pé, como denominam os franceses, seu papel
é de velar pelo fiel cumprimento da legislação do trabalho, não se deixando
ficar inerte diante dos fatos concretos da vida social. Representam os fracos e
hipossuficientes, embora sem cometer injustiça. Seu papel é progressista,
renovador e ativo, não se limitando a opinar passivamente nos autos.
O escritor imortal virou uma referência para aqueles que
defendem relações de trabalho mais justas e democráticas. Em sua atuação no
Ministério do Trabalho e no Ministério Público do Trabalho, construiu um
direito trabalhista mais comprometido com a democracia e a humanização.
Em 2014, o jurista recebeu homenagens pelo seu centenário.
Naquele ano, concedeu uma entrevista para a revista “Anamatra”, especializada
em direito trabalhista:
— Cito uma frase de Lutero que diz: “Quem é simplesmente um
jurista é uma pobre coisa”. O direito não vive perdido no espaço social, ele
regula o espaço social e está no meio de todos os fenômenos sociais, da
economia, da religião, antropologia, tudo isso. Quem não tem uma visão de
conjunto da vida social, de modo global, torna-se simplesmente um formalista,
um positivista, no sentido de reduzir todo o direito a normas jurídicas.
Em seu discurso de posse na ABL, em 4 de outubro de 1984,
data em que se comemora o Dia de São Francisco de Assis, Moraes Filho lembrou o
santo:
— Por escolha ocasional, vejo que não poderia ter sido mais
feliz ao marcar a data desta minha posse na vaga deixada pelo maior de todos
nós — a quem simplesmente sucedo, mas que não o substituo. No ensaio que
escreveu sobre o santo quando do sétimo centenário de sua morte, retomado na
última década de sua vida, mostra Alceu que os dias de hoje assemelham-se aos
do século XIII, nos quais viveu Francesco Bernardone, pelo luxo e pela
violência. Se por milagre voltasse à vida, teria de recomeçar a mesma luta pela
simplicidade das coisas, contra o desenfreado espírito de ganho, pela paz e
pela fraternidade, contra as rígidas hierarquias, pela justiça e pela
igualdade. Só a fé de uma criança, como a sua, poderia renovar a alma do mundo
moderno, como renovou a do seu tempo.
Casado com Hileda Flores de Moraes, o acadêmico teve dois
filhos, seis netos e dois bisnetos. Possuía uma memória privilegiada, e vivia
cercado pela família e por amigos. Moraes Filho morreu ontem à noite de
infarto, em sua casa. Ele será velado hoje no Salão dos Poetas Românticos da
ABL. O enterro será realizado no Mausoléu dos Acadêmicos, às 16h.
Nenhum comentário:
Postar um comentário