Comentários sobre PEC da Blindagem e Leandro Karnal
(14.Shakespeare.171/23.9.2025)
1. Invocação inicial
2. Datas e celebrações:
2.1. Dia 12 de Shakespeare (21.9):
nascimento de Luís Lagarrigue (1854 – 171 anos)
2.2. Dia 13 de Shakespeare (22.9):
equinócio da primavera
3. Comentário sobre a “PEC da
Blindagem”
3.1. No dia 16 de setembro, a Câmara dos
Deputados aprovou em regime de urgência, em uma tramitação excepcionalíssima e
extremamente suspeita, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n. 3/2021, a “PEC das Prerrogativas”
3.1.1. Embora proposta em 2021, essa PEC
foi retomada e, na Câmara dos Deputados, foi estabelecida para blindar os
parlamentares contra quaisquer tentativas de investigação criminal; não por
acaso, ela foi retomada e aprovada na semana imediatamente posterior à condenação do núcleo duro dos golpistas fascistas pelo Supremo Tribunal Federal, em
11.9.2025
3.1.2. O Deputado Federal Nikolas Ferreira
não teve pudor e assumiu que o objetivo dessa PEC é mesmo blindar os deputados contra investigações
criminais
3.2. Como sacerdote da Religião da
Humanidade – que é uma religião cívica (embora não uma religião civil) –, manifestamo-nos
completamente contrários à PEC da Blindagem, lembrando a observação decisiva de
nosso mestre Augusto Comte (Sistema de política positiva, v. IV, 1854, p. 312):
“Malgrado as precauções interessadas dos legisladores
metafísicos, o instinto ocidental não tardará a ver a publicidade normal dos
atos privados como a garantia necessária do verdadeiro civismo. [...] Todos os
que se recusarem a viver às claras tornar-se-ão justamente suspeitos não quererem
realmente viver para os outros”
4. Comentário sobre Leandro Karnal
como propagandista de banco
4.1. Desde há algumas semanas o
ex-historiador e atual autor de livros de auto-ajuda Leandro Karnal estrela
propaganda de banco comercial (Bradesco: “Auto-ajude-se”)
4.1.1. Essa propaganda gerou diversas
reações, ao criar a forte impressão de que o ex-historiador vendeu a sua credibilidade
4.2. Criticado publicamente por degradar
a sua atuação como intelectual pela colunista Tati Bernardi, da Folha de S. Paulo (“Karnal pode fazer campanha pra banco?”, 18.9.2025), o propagandista respondeu (1) que se trata de inveja de quem não foi convidado para fazer
propagandas e (2) que tais pessoas devem insistir no “desafio do
autoconhecimento” (Adrielly Souza, “‘Ressentimento’, diz Leandro Karnal sobre
críticas por ter feito propaganda para banco”, Folha de S. Paulo, 21.9.2025)
4.3. Concordamos com as críticas feitas
ao ex-historiador:
4.3.1. O comum das pessoas pode vender sua
imagem em propagandas comerciais; mas isso é totalmente inadequado para pessoas
que ganham a vida oferecendo conselhos, ao ser incompatível com os fundamentos
de suas atividades
4.3.2. Em vez de o ex-historiador assumir honestamente
que se cansou de ser um intelectual e que quer ganhar (muito) dinheiro – seja
com livros de auto-ajuda, seja com a venda de seu prestígio –, ele resolveu
xingar e menosprezar seus críticos
4.3.3. A réplica do ex-historiador é uma
tergiversação grosseira do problema; ele foge da crítica atribuindo o problema
aos seus críticos, por meio de variadas formas do sofisma ad hominem (seus críticos não teriam razão e seriam apenas
motivados pela inveja; dessa forma, deveriam calar-se e examinar suas
motivações)
4.4. A referência ao “desafio do
autoconhecimento” é uma referência canhestra à fórmula do oráculo de Delfos celebrizada
por Sócrates, o “conhece-te a ti mesmo”
4.4.1. Mas mesmo o procedimento moral e
intelectual desonesto do ex-historiador indica a grave limitação do preceito
socrático: como indicou Augusto Comte, não basta conhecer a si mesmo, pois é
necessário usar esse conhecimento para o aperfeiçoamento (“conhece-te a ti
mesmo a fim de te melhorares”) –
coisa que evidentemente o ex-historiador não
fez
4.5. A cínica resposta do ex-historiador
e seu desprezo tanto pelos críticos quanto pelos motivos que originaram as
críticas tornam-se mais claros ao sabermos que, não por acaso, quando era
professor da USP, o propagandista esmerava-se com orgulho em empregar bravatas
tipicamente academicistas para os positivistas
4.5.1. Um desses xingamentos foi o de que os positivistas seríamos “idólatras de Clotilde de Vaux” (Leandro Karnal, Teatro da fé, São Paulo, Hucitec, 1998)
4.6. Com essa bravata contra o
Positivismo e seu desprezo pelos críticos à propaganda comercial, o
ex-historiador cometeu de uma única vez uma quantidade enorme de graves
defeitos:
4.6.1. Desprezou o Positivismo
4.6.2. Desprezou um culto humanista
4.6.3. Desprezou um culto apenas porque
esse culto não é o que ele pessoalmente respeita (ou seja, cometeu o crime
moral e jurídico da intolerância religiosa)
4.6.4. Baseou sua moralidade ao
academicismo
4.6.5. Atuando de maneira exemplarmente
academicista, demonstrou a característica coragem de gabinete própria aos
literatos
4.6.6. Desprezou a separação entre o poder
temporal e o poder espiritual
4.6.7. Desprezou também as inúmeras e
importantíssimas exigências morais e sociais da atuação do sacerdócio (isto é,
dos “intelectuais”)
4.7. O problema com a propaganda
estrelada pelo ex-historiador que se comprazia em evidenciar coragem de
gabinete não é que ele ganhou dinheiro com um banco comercial; o problema é
que, de fato, ele vendeu sua credibilidade
4.7.1. A resposta dada aos críticos
evidencia que o ex-historiador não assume seu erro e que faz questão de
desprezar sua condição de “intelectual”
4.7.2. Antes ainda, o desprezo academicista
pelo Positivismo manifestado pelo ex-historiador evidencia que ele despreza
igualmente a separação entre os dois poderes e, daí, as exigências morais,
intelectuais e práticas específicas ao poder Espiritual
4.7.3. O poder Espiritual muda o
comportamento humano a partir do aconselhamento; o aconselhamento, por sua vez,
baseia-se na confiança depositada nele pelo público; isso implica que os
membros do poder Espiritual não podem mandar (daí o que se chama vulgarmente de
“laicidade do Estado”) e não podem vender sua imagem
4.7.4. O verdadeiro problema da propaganda
estrelada pelo ex-historiador não é que ele, em particular, vendeu sua
credibilidade: o problema é que, agindo assim, ele prejudica o poder Espiritual
em geral; em outras palavras, não é um problema pessoal, mas um problema geral
4.7.5. Em face desse problema geral, há
apenas duas possibilidades para o comportamento do ex-historiador:
4.7.5.1.
Ou
ele sabe que esse problema existe, mas escolhe desprezá-lo
4.7.5.2.
Ou
ele não sabe que esse problema existe, e escolhe ignorá-lo
4.7.5.3.
A
imagem pública do ex-historiador, nos últimos anos, é o de uma pessoa “sábia”;
é esse o fundamento dos seus livros de autoajuda; assim, ele supostamente deve
conhecer o problema: mas se conhece, ele decidiu desprezá-lo
4.7.6. Em suma, é inaceitável – por ser
imoral e antissocial – o comportamento do ex-historiador
5. Leitura comentada do Apelo aos conservadores
5.1. Antes de mais nada, devemos
recordar algumas considerações sobre o Apelo:
5.1.1. O Apelo é um manifesto político e dirige-se não a quaisquer pessoas
ou grupos, mas a um grupo específico:
são os líderes políticos e industriais que tendem para a defesa da ordem (e que
tendem para a defesa da ordem até mesmo devido à sua atuação como líderes
políticos e industriais), mas que, ao mesmo tempo, reconhecem a necessidade do
progresso (a começar pela república): são esses os “conservadores” a que
Augusto Comte apela
5.1.1.1.
O
Apelo, portanto, adota uma linguagem
e um formato adequados ao público a que se dirige
5.1.1.2.
Empregamos
a expressão “líderes industriais” no lugar de “líderes econômicos”, por ser
mais específica e mais adequada ao Positivismo: a “sociedade industrial” não se
refere às manufaturas, mas à atividade pacífica, construtiva, colaborativa,
oposta à guerra
5.2. Outras observações:
5.2.1. Uma versão digitalizada da tradução
brasileira desse livro, feita por Miguel Lemos e publicada em 1899, está
disponível no Internet Archive: https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores
5.2.2. O capítulo em que estamos é a “Primeira
Parte”, cujo subtítulo é “Doutrina apropriada aos verdadeiros conservadores”
5.3. Passemos, então, à leitura
comentada do Apelo aos conservadores!
6. Exortações
6.1. Sejamos altruístas!
6.2. Façamos orações!
6.3. Como Igreja Positivista Virtual,
ministramos os sacramentos positivos a quem tem interesse
6.4. Para apoiar as atividades dos nossos canais e da Igreja Positivista Virtual: façam o Pix da Positividade! (Chave Pix: ApostoladoPositivista@gmail.com)
7. Invocação final
Referências
- Augusto Comte (franc.), Sistema de filosofia positiva (Paris,
Société Positiviste, 5e ed., 1893)
- Augusto Comte (franc.), Sistema de política positiva (Paris, L.
Mathias, 1851-1854)
- Augusto Comte (port.), Apelo aos conservadores (Rio de Janeiro,
Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/augustocomteapeloaosconservadores.
- Augusto Comte (port.), Catecismo positivista (Rio de Janeiro,
Igreja Positivista do Brasil, 4ª ed., 1934).
- Raimundo Teixeira Mendes (port.), As últimas concepções de Augusto Comte (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1898): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-i e https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-ultimas-concepcoes-de-augusto-comte-ii.
- Raimundo Teixeira Mendes (port.), O ano sem par (Rio de Janeiro, Igreja Positivista do Brasil, 1900): https://archive.org/details/raimundo-teixeira-mendes-o-ano-sem-par-portug._202312/page/n7/mode/2up.
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