O texto
abaixo corresponde a uma versão editada de um diálogo que ocorreu no dia 6 de
maio de 2025, em um grupo do Whattsapp que trata do Positivismo e da Religião
da Humanidade. Esse diálogo foi motivado por um participante do grupo, um jovem
estudante interessado no Positivismo, que, em meio às conversas do grupo, teve
uma dúvida sobre o sincretismo religioso. As respostas foram dadas por Hernani
Gomes da Costa. Esse diálogo foi tão esclarecedor que julgamos valer a pena
publicá-lo.
O diálogo foi
editado com dois objetivos principais: por um lado, adequar a conversa a uma
versão publicada; por outro lado, preservar a privacidade do estudante.
* * *
Estudante
Uma pergunta,
que pode parecer bobagem. Nas religiões afro-brasileiras é comum o sincretismo
dos santos católicos com os orixás (São Jorge = Ogum etc.) por questões
históricas. No Positivismo em algum momento houve o sincretismo da Humanidade
com a Virgem Maria? Os positivistas podem associar os dois símbolos (Humanidade
e Maria) nos cultos? Seja em particular, seja em público – por exemplo, fazendo
um altar positivista com a imagem de Maria.
Hernani
Excelente
pergunta! O Positivismo procura antes de tudo compreender qual foi o processo
de construção dos símbolos, bem como as razões pelas quais eles se tornam
populares durante um tempo e são em seguida substituídos por outros.
Nesse
sentido, interpretamos a Virgem Mãe como representando o ideal humano que
consiste no máximo de pureza e de ternura juntos. A pureza significa a
compressão do egoísmo e é representada pela idéia da Virgem; a ternura é a
expansão do altruísmo, representada, no caso, pela idéia da mãe. A necessidade
sociológica e moral que criou esse símbolo obedeceu inconscientemente a uma
tentativa de conjugar a pureza e a ternura numa só imagem.
O sincretismo
operou-se em todas as religiões de modo inconsciente e espontâneo, mediante as
associações formadas entre as idéias de vários deuses que se assemelhavam em
seus papéis e personalidade. A proposta do Positivismo é a de tornar esse
processo sincrético algo consciente e deliberado, de modo a assim
sistematizá-lo.
Augusto Comte
manifestou o desejo de que as futuras representações de imagens da Humanidade
tivessem os traços de Clotilde de Vaux. Mas ele também elegeu uma imagem
católica de sua preferência.
Tudo quanto
importa no caso, portanto, é que não haja confusão entre as crenças. Qualquer
símbolo que estimule o amor pode integrar o altar. Seja de que religião for. Mas
esse culto se tornará de fato sobrenatural se os símbolos que adotarmos ainda
se referirem às crenças originais correspondentes aos mitos, tais como eles
foram a princípio imaginados.
Estudante
Compreendo. Então
o sincretismo dentro do positivismo pode ser benéfico se não misturamos os
significados. É necessário ressignificar o símbolo.
Hernani
Sim! O
símbolo pode ser ressignificado de pelo menos duas formas. Mantendo sua identidade original e mudando seu modo de sua existência; de objetiva para
subjetiva. Ou então cultuando-o segundo uma interpretação
nova. Vejamos um exemplo. Podemos historicamente cultuar Prometeu na
qualidade de uma criação mítica da Humanidade que veio a compor certa religião.
Nesse caso mantivemos o conteúdo original da idéia de Prometeu, e apenas
mudamos sua existência, de objetiva para subjetiva. Mas podemos também ver
Prometeu como símbolo que representa o primeiro ser humano a obter fogo através
de fricção. Nesse último caso o símbolo de Prometeu sofreu uma mudança de
significado, passando a representar uma outra idéia. (Citei Prometeu pelo fato
de ele representar o primeiro dia do ano no Calendário Positivista concreto).
Nenhum comentário:
Postar um comentário