No dia 24 de Dante de 169 (8.8.2023) retomamos nossas prédicas positivas, após as férias de meio de ano. Nessa prédica começamos a leitura comentada da oitava conferência do Catecismo Positivista (dedicada à filosofia das chamdas ciências humanas); em seguida, expusemos no sermão alguns elementos da teoria sociológico-moral do sacerdócio.
Essa prédica também marcou o aniversário de um ano de realização das nossas prédicas. Assim, aproveitando o ensejo da retomada das atividades, de primeiro aniversário e também as reflexões sobre o sacerdócio, anunciamos a fundação da Igreja Positivista Virtual, que será o novo âmbito e o novo nome do Apostolado Positivista.
A prédica foi transmitida em nossos canais Positivismo (aqui: https://urx1.com/2KvR2) e Apostolado Positivista (aqui: https://l1nk.dev/j5BXl). O sermão pode ser visto a partir de 43' 45".
(Postado em 9.8.2023; atualizado em 9.9.2023.)
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Sobre o sacerdócio
- O sacerdócio é um dos principais órgãos de qualquer sociedade e, ao mesmo tempo, sua importância no Positivismo é enorme
o Na sociedade, o sacerdócio é o responsável pela sistematização, pela difusão e pela aplicação dos valores e das opiniões públicas
o Na Positivismo, o sacerdócio é o responsável direto pela manutenção e difusão da Religião da Humanidade, o que inclui, mas não se limita a, a realização do culto positivo, pelo ensino do dogma positivo, pela orientação do regime
o É claro que esses dois âmbitos estão intimamente relacionados – o que, aliás, já indica que as propostas positivistas são ao mesmo tempo generalizáveis para toda a sociedade e que o Positivismo é uma religião cívica (o que não significa que seja uma “religião civil”)
- Estas reflexões surgiram a partir de algumas fontes dispersas, que valem a pena ser indicadas:
o A criação do Centro Positivista do Lavradio, nos dias 14 e 15 de julho de 2023
o A leitura do livro O culto católico, de Raimundo Teixeira Mendes
o Conversas com muitos positivistas, em particular Hernani Gomes da Costa, Gabriel de Henrique e Sebastiano Fontanari, além das conversas com simpatizantes que nos honram com sua participação nas prédicas
o O fato de realizarmos nossas prédicas positivas há exatamente um ano – ou seja, começamos as prédicas no dia 9.8.2022 (mas o nosso apostolado começou muito antes, já em meados dos anos 2000)
- Esta prédica serve, portanto, para (1) revermos publicamente os fundamentos e as exigências da nossa atuação e (2) indicarmos ao público os critérios que, de acordo com o Positivismo, devem ser aplicados na avaliação de nosso sacerdócio
o Da mesma forma, com esta prédica queremos lançar a Igreja Positivista Virtual, sob nossa responsabilidade
§ Com o lançamento oficial da Igreja Positivista Virtual, assumimos o título de sacerdote da Humanidade e passaremos a administrar os sacramentos positivistas (mesmo que à distância, pela internet)
- Antes de mais nada, devemos insistir em que todas as orientações e reflexões religiosas de Augusto Comte são aplicáveis às sociedades modernas, especialmente as ocidentais
o Essas prescrições baseiam-se na reflexão moral, histórica e científica e – ao contrário do que os críticos habituais sugerem – não podem ser entendidas como regras absolutas obtidas por inspiração divina, como os críticos vulgares costumam dar a entender
o O sacerdócio é um exemplo excelente dessas prescrições baseadas na moral, na história e na ciência: referindo-se ao sacerdócio positivista, Augusto Comte evidencia e afirma as enormes responsabilidades e as inúmeras exigências morais, intelectuais e práticas que cabem a qualquer sacerdócio vigente nas sociedades normais
§ Assim, as atribuições e as exigências sacerdotais devem ser entendidas não como próprias apenas à Religião da Humanidade, mas, seguindo o caráter religioso, humano e universal do Positivismo, próprias a todos aqueles que têm pretensões, ambições e/ou vocação pedagógica, moral ou filosófica – em uma palavra, teórica
- Qual o fundamento sociológico do sacerdócio? É este: ao considerar os elementos fundamentais de toda sociedade (a Estática Social), Augusto Comte estabeleceu, a partir de Aristóteles, que toda sociedade constitui-se pela separação dos ofícios e pela convergência dos esforços
o O governo é ao mesmo tempo um resultado da separação dos ofícios e o responsável pela convergência dos esforços
o Na verdade, como sabemos, há dois tipos de governos, ou de poderes: o governo temporal e o governo espiritual
§ “Não há sociedade sem governo”; “Nenhuma sociedade pode desenvolver-se e conservar-se sem um sacerdócio qualquer”
o Os fundamentos morais e intelectuais de cada um dos poderes são diferentes entre si:
§ O sacerdócio, ao basear-se no aconselhamento, deve inspirar a confiança e, portanto, tem na vaidade um certo fundamento
§ O poder Temporal, ao modificar objetivamente o comportamento humano, e considerando as exigências próprias ao poder prático, tem no orgulho o seu fundamento
- Os atributos do sacerdócio, a partir da sua atuação educadora fundamental, são estes: aconselhar, consagrar, regular
o Isso equivale a elaborar e ministrar a educação; elaborar e disseminar as idéias e os valores gerais da sociedade; organizar e ministrar os sacramentos; consagrar e fiscalizar os poderes e os grupos sociais; regular e disciplinar as relações entre os poderes e os grupos sociais
§ Como o próprio Comte afirma, basicamente os sacerdotes atuam como professores; mas é evidente que, considerando algumas atribuições desenvolvidas no século XX, eles têm também atuações como terapeutas, além de atuarem como agentes políticos
§ A amplitude da atuação dos sacerdotes já evidencia que eles não são, e não podem ser, meros pesquisadores; nem jornalistas; nem apresentadores de programas de TV; nem meros artistas
o Ao sacerdócio cabe manter e difundir o tesouro espiritual da Humanidade, tendo a linguagem como seu instrumento específico
§ A difusão do conhecimento é parte integrante da atuação do sacerdócio, sendo fundamento e conseqüência de suas atribuições educativas e consultivas
§ A linguagem é uma produção coletiva, mas sua conservação é responsabilidade sacerdotal
o Qualidades requeridas para o sacerdote:
§ “Este grande ministério exige um raro concurso das qualidades morais, tanto ativas como afetivas, com os talentos intelectuais, estéticos e científicos. Se, pois, estes forem os únicos salientes, seus possuidores, após uma cultura conveniente, terão de permanecer, talvez para sempre, simples pensionistas do poder Espiritual, sem aspirarem nunca a ser nele incorporados. Em tais casos, felizmente excepcionais, o maior gênio poético ou filosófico não pode dispensar de ternura e de energia um funcionário que deve estar habitualmente animado de simpatias íntimas e destinado amiúde a lutas difíceis” (Catecismo, 5ª Conferência (Culto público); p. 162-163)
§ afetivas: altruísmo, sentimento de fraternidade; apego, veneração, bondade
§ intelectuais: visão de conjunto, relativismo; conhecimentos filosóficos, científicos, históricos
§ práticas: coragem, prudência, perseverança; viver às claras
§ “morais”: nesta categoria vestigial cujo nome que propusemos não é o mais adequado, incluímos qualidades mais dispersas: sensibilidade altruística; empatia, capacidade de ouvir, capacidade de agregar, capacidade de ensinar
o Assim, o indivíduo mesquinho; o indivíduo ignorante; o indivíduo covarde; o indivíduo afetado: nenhum deles pode ser, efetivamente, um sacerdote da Humanidade
§ Esse conjunto de atributos explica e justifica a idade mínima para a atribuição do grau de sacerdote pleno no Positivismo, que é de 42 anos
o “Nosso sacerdócio compõe-se, em geral, de três ordens sucessivas: os aspirantes, admitidos aos vinte e oito anos; os vigários ou suplentes, aos trinta e cinco; os sacerdotes propriamente ditos, aos quarenta e dois” (Catecismo, 9ª Conferência (Conjunto do regime); p. 320)
- A separação dos dois poderes implica necessariamente que o sacerdócio deve sempre, irrevogavelmente, recusar o poder político (além do poder econômico)
o Isso tem duas conseqüências imediatas para o sacerdócio:
§ Por um lado, sacerdotes devem ser proibidos de disputar/ocupar cargos
§ Por outro lado, sacerdotes que tenham a pretensão de disputar/ocupar cargos devem ser vistos com desconfiança e/ou deve ser recusada sua atuação como sacerdotes
o “As vistas gerais e os sentimentos generosos que devem sempre distinguir o sacerdócio são profundamente incompatíveis com as idéias de detalhe e com as disposições orgulhosas inerentes a todo domínio prático. Para que alguém se limite a aconselhar, é necessário que não possa nunca mandar, nem pela riqueza: de outro modo nossa miserável natureza fica disposta a substituir amiúde a força às demonstrações” (Catecismo, 9ª Conferência (Conjunto do regime), p. 318-319)
- A concentração de inúmeras funções teóricas no sacerdócio positivo pode parecer, à primeira vista, um exagero da parte de Augusto Comte; mas não é: trata-se de reconhecer com clareza todas as atribuições morais, intelectuais e práticas que cabem ao poder Espiritual
- A inspiração de nomes, categorias e/ou estruturas do sacerdócio positivo em formas de outras sacerdócios (especialmente os teológicos) não tem nada de retrógrado:
o Por um lado, todas as religiões e todos os sistemas de pensamento basearam-se sempre em formas anteriores: esse é necessariamente o procedimento adotado por todas as religiões, em todas as épocas
o Por outro lado, ao também agir da mesma forma, o Positivismo age assim de maneira explícita e, reconhecendo esse procedimento, presta também de maneira explícita a maior homenagem possível à sabedoria teórica e prática de nossos antecessores humanos
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