No dia 5 de setembro comemora-se
o aniversário de falecimento de Augusto Comte (1798-1857), o grande fundador do
Positivismo e da Religião da Humanidade. Isso exige pelo menos duas ordens de
considerações: sobre comemorar a morte e sobre a Religião da Humanidade.
Fará sentido comemorar a morte?
Por certo que não celebramos o fato de alguém morrer; o desaparecimento de uma
pessoa costuma ser motivo de profunda tristeza, tanto para aqueles que o cercam
quanto aqueles que o admiram e respeitam. Mas a morte faz parte do ciclo da
vida; embora não saibamos disso ao nascer, à medida que crescemos e
amadurecemos, vamos descobrindo que nossa vida é finita e que importa torná-la significativa;
na verdade, bem vistas as coisas, muito do amadurecimento consiste nessa lenta
constatação e resignação.
Ao mesmo tempo, não vivemos sozinhos:
nem para nós, nem por nós; vivemos em sociedade e apenas em sociedade – em
família, entre amigos, em clubes, em escolas, entre livros – é que podemos ser
felizes. Se amadurecer significa, em parte, resignar-se que um dia morreremos
(ou morrerei), em parte significa também perceber que a felicidade consiste em
viver entre e para os demais, isto é, sendo altruísta, cooperando, melhorando
as condições de vida da sociedade, desenvolvendo novas tecnologias, sugerindo
novas idéias, participando da vida em sociedade – ou, simplesmente, realizando
o trabalho humilde do cotidiano.
Assim como vivemos e somos
felizes entre e para os demais, nossa vida permanece entre os demais: quando
morremos, a memória de nossas ações perdura; com freqüência, podemos dizer que até
aumenta, pois as imperfeições dos nossos defeitos vão esvanecendo-se e nossas
qualidades vão destacando-se.
Nesses termos, não comemoramos a
morte: comemoramos uma vida plena de sentido, dedicada aos demais; celebramos a
memória de alguém e, com isso, embora objetivamente esse alguém não exista
mais, subjetivamente ele – ou ela – encontra-se entre nós.
Augusto Comte foi o fundador da
Religião da Humanidade, isto é, do grande sistema que afirma o ser humano, o
altruísmo e a ação social, política, industrial e ambiental esclarecida e cuidadosa.
A religião para Comte consiste nas diversas formas que o ser humano elabora, ao
longo do tempo, para entender e regular sua realidade cósmica, social e
individual; dessa forma, como o ser humano em sua totalidade já foi um dia
fetichista e muitas populações ainda são monoteístas, ele tende cada vez mais a
ser plenamente positivo, ou seja, a reconhecer apenas as verdades relativas, a
recusar o absoluto, a afirmar apenas o humano, a celebrar a liberdade, a buscar
a paz e o amor.
É por esses motivos – e muitos
outros mais – que neste dia 5 de setembro faço esta pequena mas sincera homenagem
a esse grande homem, Augusto Comte.
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