06 janeiro 2013

Justificativa positivista da ciência – contra o cientificismo e o academicismo


Uma das observações mais impressionantes de Augusto Comte é relativa à justificativa social da ciência. Muito longe de defender um “cientificismo”, isto é, uma prática da ciência pela ciência, para ele a ciência justifica-se por seus serviços intelectuais e práticos – ou seja, antes de mais nada, por fornecer uma visão realista e relativa da realidade e, depois, devido às suas aplicações tecnológicas. Convém lembrar que, na economia geral do ser humano proposta por A. Comte, a inteligência tem um caráter instrumental (embora não servil) em relação aos sentimentos e à atividade prática.
Uma outra conseqüência importante da justificativa apresentada por A. Comte para a ciência é de especial importância contemporânea: como a ciência não se justifica por si mesma, devendo ter utilidades específicas, o produtivismo acadêmico (literário, científico, tecnológico) não se justifica: para o Positivismo, a prática do produtivismo conduz apenas a uma acumulação infinita – e inútil e injustificável – de fatos e verdades, da mesma forma que a produção econômica encarada como um fim em si mesmo conduz a uma acumulação infinita (e igualmente inútil e injustificável) de riquezas.
É fácil ver que, com tais idéias, Comte não é, não pode ser, um autor “academicista” – e que, mais do que isso, ele torna-se um inimigo de todos os cultores do academicismo.

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“Cet état normal de la culture scientifique sera solidement fondé sur le système complet d’éducation universelle, déjà indique au discours préliminaire. Il fait preceder et diriger l’initiation théorique par un essor affectif et une évolution esthétique dont l’irrésistible ascendant y rappellera toujours la raison au service ou du sentiment ou de l’activité. La culture scientifique n’est moralement justifiable que par sa nécessité théorique et pratique” (Comte, Système de politique positive, v. I, p. 474). 

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