08 dezembro 2009

"Julie & Julia", uma história positivista

O filme Julie & Julia é uma belíssima história real de duas mulheres e é uma história... positivista. Julia Child e Julie Powell eram duas mulheres que estavam sem rumo na vida e conseguiram objetivos por meio da culinária, uma nos anos 1950, a outra nos anos 2000.

Essa história pode ser vista como positivista, especialmente para Julie, a personagem dos anos 2000. Ela resolve fazer todas as receitas do livro de culinária francesa que Julia escreveu; são 524 receitas em 365 dias, cujos resultados Julie põe em um blogue que criou especificamente para isso. Enquanto faz as receitas, Julie conversa com Julia - é claro que essa conversa é subjetiva e isso fica dito e subentendido durante todo o filme.

No final do filme, Julie dialoga com seu marido: as conversas que manteve com Julia e o esforço de fazer todas as receitas fizeram dela (Julie) uma pessoa melhor. Mas Julia não gostara muito do blogue de Julie, o que entristeceu a última - ao que o marido comenta que a Julia perfeita existe apenas na cabeça de Julie e é essa Julia perfeita, idealizada, que torna Julie melhor.

Por que esse filme pode ser positivista? Por dois motivos.

Em primeiro lugar, porque é uma história puramente humana, de seres humanos que procuram solucionar seus problemas e, ao procurarem satisfazer algumas necessidades pessoais, melhoram a vida dos outros e encontram nisso sua satisfação. Isso é desenvolver o altruísmo, seja diretamente, seja por meio da regulação do egoísmo.

Em segundo lugar, porque vemos claramente, em particular no diálogo que esbocei acima, que os seres humanos vivos sofrem o tempo todo a influência subjetiva de quem está distante e de quem já morreu. Essa influência subjetiva está em nossas cabeças - objetivamente, não existem "espíritos" -, mas ela é fundamental para fazer de nós quem somos. Essas idealizações ocorrem necessariamente: seja porque elas ocorrem naturalmente, seja porque nós precisamos delas. Além disso, em particular, essas influências subjetivas são idealizadas por nós e, ao idealizarmos, nós procuramos melhorar, aperfeiçoarmo- nos, procurando seguir o exemplo subjetivo.

O Positivismo não é um grande sistema científico e cientificista: ele é, sim, um grande sistema de aperfeiçoamento do ser humano, por meio do desenvolvimento do altruísmo e da compressão do egoísmo: é isso que o filme apresenta. É por isso que ele é positivista.

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